Domingo, 04 Dezembro 2016 16:54

Chapecoense encara árduo trabalho de reconstrução após tragédia

A partir desta segunda dia 05, uma nova página começa a ser escrita na história da Chapecoense.

 

A ordem no clube é enxugar as lágrimas e iniciar o árduo trabalho de reerguer o time catarinense para, quem sabe, recolocá-lo no patamar onde estava até a tragédia da última terça-feira ou acima disso. Mas será necessário muita ajuda e trabalho.

 

Clubes de todo o mundo prometeram auxiliar a equipe de Chapecó a se reerguer. Financeiramente, o clube vivia situação invejável para a maioria dos times de futebol brasileiro e nos últimos anos vinha fechando as contas no azul, sem que os dirigentes colocassem qualquer centavo do próprio bolso - como, por exemplo, fez o presidente Paulo Nobre, do campeão Palmeiras, ao emprestar dinheiro para quitar dívidas.

 

No total, a Chapecoense teve neste ano uma renda de R$ 45 milhões, sendo R$ 25 milhões oriundos da cota de TV, R$ 9 milhões dos patrocínios da Caixa e Aurora e mais R$ 9 milhões de outras fontes (venda de produtos, sócio-torcedor, ingressos, etc). Entretanto, em nenhum ano foi preciso montar um novo time como agora.

 

Por isso, a diretoria está propensa a aceitar que jogadores cheguem por empréstimo. Clubes da Série A se comprometeram a ceder gratuitamente atletas para o clube catarinense na próxima temporada. Até times do exterior também querem ajudar. O Libertad-PAR, o Racing-ARG e o Benfica-POR prometeram dar alguns reforços.

 

A diretoria vai promover diversos garotos das categorias de base e analisará a situação de todos os atletas do atual elenco. Eles têm contrato até o fim do ano, mas avisaram que querem ficar para ajudar na reconstrução. No total, são 11 jogadores, entre eles o goleiro Marcelo Boeck e o meia Martinuccio.

 

Quem comanda

 

Além de clubes, empresários também estão dispostos a ajudar. O agente Jorge Machado, que cuidava da carreira de Matheus Biteco, Dener Assunção e Tiaguinho, todos mortos na tragédia, avisou a diretoria que pretende ajudar levando atletas para o clube.

 

Existe ainda um grupo de empresários dispostos a investir cerca de R$ 30 milhões em contratações. A Chapecoense diz não saber de tal disposição, mas afirma que a ajuda seria bem-vinda.

 

Existem dois pontos que mais preocupam a diretoria no momento. O primeiro é definir quem será o técnico, já que a quase toda a comissão técnica - inclusive o técnico Caio Júnior - faleceu. Existe a possibilidade de recorrerem a algum treinador que já tenha dirigido o time, para facilitar na questão da adaptação e ter maior apoio das arquibancadas.

 

Outra situação que faz todos na Chapecoense ficarem atentos é com possíveis aproveitadores. Os dirigentes sabem que o clube catarinense pode ser usado por clubes, empresários e atletas para se promover. Por isso, já avisaram que não pretendem contar com nenhum grande nome do futebol para ajudar na reconstrução. Exceto, se sentirem que pode ser útil.

 

Fundador pede ajuda

 

"Perdi um filho que coloquei no mundo, vi crescer, me dar orgulho e agora morreu de forma trágica." Assim Altair Zanella resume a tragédia envolvendo o elenco da Chapecoense. Um dos fundadores do clube catarinense, o fanático torcedor ainda tenta entender o que aconteceu e não consegue se recordar dos seus "meninos" sem chorar.

 

"Eles não eram daqueles jogadores que vinham para a Chapecoense só pensando em dinheiro. Eles tinham mesmo amor à camisa, assim como a diretoria. Ainda bem que faço tratamento no coração, caso contrário, acho que não aguentaria", contou o senhor de 75 anos que, ao lado de Alvadir Pelisser, Heitor Pasqualotto, Lotário Immich e Vicente Delai, formou o simpático clube de Chapecó no dia 10 de maio de 1973.

 

A equipe teve origem em uma fusão do Independente com o Clube Atlético de Chapecó, dois times de várzea do interior catarinense. A ideia inicial era que apenas disputasse torneios amadores. Não havia menor pretensão em transformá-lo no clube com o tamanho que tem atualmente.

 

Simpático e querido pelos funcionários da Chapecoense, Altair Zanella se emociona ao ver a forma carinhosa com que todo o mundo tem tratado seu "filho". "Saber que tanta gente tem dado força para nos reerguer dá uma satisfação e um orgulho de dever cumprido muito grande. Só peço para que não abandonem a Chapecoense. Precisamos de todas as forças possíveis para nos reerguer", pediu o fundador, com voz embargada.

 

Conhecedor de toda a história da Chapecoense, Altair não pensa duas vezes quando questionado sobre o momento mais feliz nos 43 anos de vida do clube. "Ver o time subir para a Série A foi o momento mais marcante. Ficou uma satisfação e vi que havia participado da construção de uma família, que hoje está abalada, mas não podemos deixar morrer", disse, lembrando que a Chape ascendeu para a Série A do Campeonato Brasileiro em 2013, após sucessivos acessos - que tiveram início com o clube saindo da Série D.

 

Além de Altair, outro que participou da fundação do clube e que de vez em quando frequenta a Arena Condá é Alvadir Pelisser, um dos responsáveis pela escolha das cores verdes do uniforme.

 

"Eu era torcedor do Palmeiras, Juventude e Caxias, então pensamos em fazer outro time de verde e deu certo", contou o ex-dirigente, que atualmente tem 80 anos e está se recuperando de um AVC sofrido recentemente. Por causa de sua saúde debilitada, ele não foi à arena nos últimos dias.

 

Ver a Chapecoense chegar a uma decisão de um torneio continental e com chances de sagrar-se campeã foi algo surpreendente e grandioso demais para seu Altair, que, ao fundar o clube, tinha planos muito menos ambiciosos.

 

"Nunca pensei que a Chapecoense iria crescer como cresceu. Evoluiu muito e acredito que podemos nos reerguer e evoluir mais. Tomara que a nova diretoria tenha força e ânimo para continuar e refazer um time forte e que possa chegar mais alto", deseja.

 

Altair acredita que a tragédia pode mexer também com o crescimento da cidade de Chapecó. "Nosso objetivo era montar um time de amigos, mas a Chapecoense ajudou muito no crescimento da cidade. Basta ver como falam do clube e da cidade nos programas de TV e nos jornais. Já falavam antes mesmo da tragédia", dá como exemplo.

 

Base

 

Os meninos da base da Chapecoense rezam pelos que partiram, mas também para que todo o trabalho feito pelo clube nas divisões interiores não seja jogado fora. A morte do presidente do clube, Sandro Pallaoro, pode frustrar a ascensão dos garotos, já que o dirigente tinha um carinho especial pela base.

 

"Ele falava que era o orgulho dele ter uma base forte", lembra Giovanni Rigotti, coordenador das categorias de base. Por conta da tragédia, os meninos foram liberados dos treinos por tempo indeterminado e até a disputa na Copa São Paulo do ano que vem está sob risco.

 

Enquanto isso, os meninos do time sub-17 ainda lembram do treino que tinham feito contra o profissional, na preparação para o jogo contra o São Paulo. "O nosso técnico pediu para eles não marcarem tão forte, para jogarem mais leve. Era um jeito de a gente conseguir equilibrar um pouco a partida", lembra o volante Paulo Ricardo, de 16 anos.

 

Curiosamente, nenhum dos garotos da base é natural de Chapecó, mas eles são promessas garimpadas em outras cidades. O clube oferece alojamento para os meninos e exige que eles continuem os estudos. Na escola, são admirados por colegas de classe e convidados para disputar peladas de fim de semana. "A gente nem pode jogar bola com o pessoal da escola. No turno da noite, só tem pingue-pongue", brinca outro Paulo Ricardo, também de 16 anos, mas atacante.

 

Quando se reúnem no alojamento do clube, o clima tem sido mais silencioso do que de costume. Contam que, às vezes, falta força até pra conversar e que, nos últimos dias, a sensação mais comum é de que o time vai voltar e ainda disputar a final da Copa Sul-Americana.

 

Cada atleta do sub-17 tem uma história com um dos jogadores ou um sentimento relacionado ao momento do clube. O Paulo Ricardo volante é de Ibirama, em Santa Catarina. Ele conta que o atleta com quem ele tinha mais amizade era o lateral-esquerdo Dener. "Ele me deu quatro chuteiras. Eu nem precisei pedir. Ele era muito gente fina. Isso parece um sonho ruim, cara", comenta.

 

O respeito e o companheirismo era tão grande que o lateral-esquerdo Renan Gimenes, de 16 anos, conta que o atacante Tiaguinho foi falar com ele quando soube que seria pai. "Ele veio me contar. Estava todo feliz. Acho que ele queria ser um bom exemplo pra mim também.".

 

É o lateral-direito Jean Wunsch, 16 anos, de Santa Cruz do Sul, quem resume o sentimento do grupo. "A gente sabe da responsabilidade. A gente precisa honrar esse time e os jogadores que se foram." (Com Agência Estado)

 

 

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