"Em algumas oportunidades, eu me reuni com o ex-presidente Lula e com outras pessoas no sentido de buscar, vamos dizer, criar obstáculos à evolução da Lava Jato. Posso citar casos se o senhor [juiz Sergio Moro] desejar", respondeu a Moro.
O juiz disse que não era necessário naquele momento. "Vamos deixar isso. Não é do objeto específico desse processo. Vamos deixar então para outra oportunidade essa questão", afirmou o juiz antes de encerrar o interrogatório.
Nesta quarta, a PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff por obstrução de Justiça à Lava Jato, no caso da nomeação de Lula a ministro da Casa Civil do governo Dilma. A nomeação, de março de 2016, foi barrada liminarmente pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Questionado pela defesa de Lula durante o interrogatório sobre por que havia mudado a versão de alguns fatos narrados por ele em outras ocasiões, Palocci disse que achava que antes era necessário barrar as investigações, mas que agora pensava diferente.
"Tenho tratativas [para um acordo de delação premiada]. Isso é um assunto que está a cargo dos meus advogados. Eu confio no trabalho deles. São advogados de alta qualificação, com experiência no setor e confio que eles estejam fazendo o melhor dentro da lei, olhando maneiras de contribuir com a Justiça, que é a minha vontade, e maneira de obter benefício, que também é a minha vontade", disse Palocci.
"Há um conjunto de situações que a Operação Lava Jato identificou que, eu confesso para o senhor, doutor, por um tempo eu tentei ajudar que essas investigações não andassem. Hoje eu acho melhor que elas se esclareçam e a gente tente com isso melhorar as coisas", completou o ex-ministro.
Em nota, a defesa de Lula afirmou que Palocci, "preso e sob pressão, negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula."
"Como Léo Pinheiro e Delcídio do Amaral, Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena. Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito, como 'pacto de sangue', esta última anotada em papéis por ele usados na audiência. Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo MP", diz a nota.
Réus
Lula, Palocci e outras seis pessoas são réus na ação penal que acusa o petista de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por suposta doação de um terreno pela empreiteira Odebrecht, com recursos da Petrobras, para a construção da nova sede do Instituto Lula.
Palocci depôs por cerca de duas horas ao juiz Sergio Moro, em Curitiba. Ele está preso desde setembro do ano passado em razão de desdobramentos da operação e já foi condenado a mais de 12 anos de prisão por ordenar repasses da Odebrecht ao marqueteiro João Santana por meio de depósitos no exterior.
O ex-ministro afirmou que havia um "pacto de sangue" entre o PT e a Odebrecht criado na transição entre o governo dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, no fim de 2010.
Segundo Palocci, a Odebrecht ofereceu um "pacote de propinas" que incluía R$ 300 milhões para o PT e Lula. A defesa do ex-presidente afirmou que o ex-ministro fez acusações falsas para garantir um acordo de delação premiada.
"Quando a presidente Dilma foi tomar posse, a empresa entrou num certo pânico. E foi nesse momento que o doutor Emílio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula", disse Palocci, citando o presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht. Segundo o ex-ministro, Emílio levou a Lula, no fim do mandato, um "pacote de propinas".
O pacote envolveria um terreno para o Instituto Lula --o imóvel é um dos assuntos do processo no qual Palocci depôs hoje--; um sítio em Atibaia (SP) para uso da família de Lula; e R$ 300 milhões à disposição do ex-presidente "para o próximo período, para as atividades políticas dele" --uma "conta corrente" do PT com a Odebrecht. (Com UOL)