Claro que é compreensível querer saber se o que está chacoalhando seus dias e até tirando o seu sono é mesmo amor ou somente uma paixão. Talvez uma “paixonite aguda” que logo vai passar? É verdade: quando a gente consegue ter essa noção, fica muito mais fácil fazer escolhas e não se arrepender depois.
O fato é que, para descobrir a resposta, em geral é preciso dar tempo ao tempo e observar, manter-se conectado. Porém, para algumas pessoas, parece que obter certezas sobre o que estão sentindo é o que vai garantir o sucesso ou o fracasso do encontro. Ledo engano. Equívoco primário. Certezas não existem, para começo de conversa. E depois, a questão se trata mais de fases possíveis, a começar pela paixão e evoluir para o amor, do que de diferenças propriamente.
Quando não é saudável, a paixão é capaz de transtornar, desviar a rota, fazer perder o rumo de casa. Como semente ruim em terra boa, ou semente boa em terra ruim. Ou ainda, semente ruim em terra não preparada. Pode tornar o apaixonado passível de atos passionais. Impensados, insanos, perigosos. Nestes casos, o melhor é procurar ajuda, tratamento, cura. Porque a paixão pode virar doença.
Mas quando é saudável, paixão é deslumbramento. É projeção sobre o outro do melhor que conseguimos enxergar no mundo e nas pessoas. Paixão, mesmo avassaladora, quando sã é sinônimo de potência – força para fazer nascer o amor. Isto é, paixão é vida. Desarma. Dá coragem para a entrega, para a aposta, para uma das tentativas mais desafiantes as quais somos submetidos durante a vida.
E assim, amadurece. Ganha forma e força. Rompe os obstáculos, cresce e floresce. Torna-se amor. Mas o que atormenta muitas pessoas é a dúvida: e daí? Nunca mais paixão? Nunca mais fogo que arde, consome e faz pulsar? Nunca mais o frio na barriga, o aceleramento cardíaco, o suor que é, ao mesmo tempo, inoportuno e essencial?
Eu diria que nunca mais do mesmo jeito. Mas muitas vezes de jeitos novos. E isso não é demagogia! A grande magia do amor é sua capacidade de se mover, de dançar, de provocar ritmos e convidar ao desconhecido de si mesmo. Amar inclui um sem fim de sensações. Diria até que, ao contrário do que os inocentes ou desavisados supõem, inclui dor, raiva, medo, vontade de ir embora, irritação e saco cheio da rotina. Mas depois de tudo, se for mesmo amor, a incrível e inexplicável capacidade de renascer, refazer-se!
Amar é se ver no outro. É ver o outro em si. É descobrir que o outro nem sempre é príncipe ou princesa. Muitas vezes, torna-se sapo, perereca e até lobos e bruxas. Amar é a mais incrível experiência humana. Portanto, uma experiência lindamente cheia de furos, imperfeições e remendos.
Quem espera um amor perfeito, feito teorias cor-de-rosa sobre almas gêmeas e felicidade eterna; quem espera o “para sempre” assim, feito conto de fadas que “dá para sempre certo” depois de lutar contra dragões e serpentes, não conseguirá vivenciar o grande encontro. Mas quem acredita que o amor exclui a paixão, o riso bobo e gratuito, a poesia brega e a música que não sai da cabeça, o bilhete inesperado, a flor roubada, os beijos demorados e as lágrimas que suplicam pelo outro, também não conseguirá vivenciar o grande encontro.
Paixão pode nascer e nunca se tornar amor. Amor pode nascer sem ter tido tempo de experimentar a paixão. Mas o que importa mesmo é ter coragem de apostar, recomeçar, arriscar, persistir e, a despeito de todas as provações, resistir e manter-se dedicando. Amor de verdade, com o vai-e-vem da paixão, é refazer as escolhas e relembrar-se do que é bom. É olhar nos olhos do outro e ainda se encontrar aqui e aí!
Por Dra. Rosana Braga, consultora de relacionamento e comunicação, palestrante, jornalista e autora do livro Faça o Amor Valer a Pena, entre outros.
Fonte - Par Perfeito