A pesquisa foi publicada na última segunda, dia 11 pela prestigiada revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
A chave para o potencial medicinal do LSD apareceu com clareza na pesquisa que acabou de ser publicada. Conforme esperado, os cientistas observaram que a droga tem o poder de enfraquecer a chamada "rede de modo padrão", uma série de conexões do cérebro que alguns cientistas comparam a um "gerente-geral". "A rede de modo padrão é quem estrutura aquilo que consideramos o nosso estado 'ordinário' de consciência. É ela que nos diz o que é adequado, o que é normal", explica Eduardo Schenberg, da Unifesp, o único brasileiro entre os 26 autores do estudo.
Pois então: a rede de modo-padrão é pouco ativa em crianças, mas funciona cada vez mais intensamente enquanto envelhecemos - e ela é fortíssima em indivíduos que tiveram grandes traumas ou que sofrem de depressão. Os cientistas envolvidos na pesquisa, liderados pelo britânico Robin Carhart-Harris, do Imperial College, de Londres, acreditam que a tal rede tem tudo a ver com a chamada "plasticidade do cérebro" - a capacidade de refazer conexões e mudar funcionalmente. Quanto mais forte a rede, mais rígido é nosso sistema nervoso - menos plástico, portanto. Na infância, temos uma capacidade quase infinita de aprender coisas novas e de mudar. A ideia básica da terapia com LSD, portanto, seria a de desligar a rede de modo-padrão, de maneira a aumentar temporariamente a plasticidade do cérebro, tornando possível moldar a mente para resolver definitivamente problemas psiquiátricos sérios. "Parece ser um pouco como uma regressão: o paciente volta a ter uma mente de criança para curar distúrbios psiquiátricos", diz Schenberg.
Essa abordagem é completamente diferente daquela utilizada nos anti-depressivos e ansiolíticos atualmente disponíveis nas farmácias. Esses remédios buscam regular o ambiente químico do cérebro. Por exemplo, a estratégia dos anti-depressivos é aumentar a quantidade de serotonina no cérebro - o que até faz sentido, já que a depressão está associada a níveis baixos de serotonina.
"O problema é que essa abordagem parte do princípio de que o cérebro é uma coisa fixa. E hoje sabemos que ele é muito plástico", diz Schenberg. Isso pode ajudar a entender os problemas que têm surgido envolvendo remédios psiquiátricos, após anos de uso. Aparentemente, o cérebro vai se modificando por causa dos remédios e, com o tempo, eles vão deixando de funcionar. Por exemplo, os anti-depressivos, se por um lado aumentam a quantidade de serotonina, por outro parecem causar uma redução gradual da sensibilidade à serotonina.
Por isso, eles causam dependência: fica cada vez mais difícil viver bem sem doses artificialmente altas da substância. E, o pior: eles podem até piorar o problema, em vez de ajudar. Alguns médicos acreditam que tomar anti-depressivo durante um surto de tristeza pode acabar levando à depressão: aquilo que passaria naturalmente acaba virando um problema crônico. (com Super Interessante)