Na semana passada, o Ministério do Turismo regulamentou a chamada Nova Lei Geral do Turismo, que estabelece as principais regras do setor.
Segundo a pasta, a regulamentação das normas de entrada (check-in) e saída (check-out); de limpeza das acomodações e de registro de hóspedes busca padronizar e agilizar a prestação de serviços em todo o país.
Confira a seguir, os principais pontos da iniciativa.
Vigência
Publicadas no Diário Oficial da União do último dia 16, as novas regras para hospedagens no Brasil só entrarão em vigor no dia 16 de dezembro, 90 dias após a publicação.
Plataformas
Segundo o Ministério do Turismo, as novas regras de hospedagem não se aplicam aos imóveis mobiliados residenciais alugados para curta estadia por meio de plataformas e aplicativos digitais (Airbnb, Booking etc).
Hospedagens
As regras estabelecidas na Portaria MTur nº 28/2025 deverão ser cumpridas pelos estabelecimentos registrados na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae) como meios de hospedagem: hotéis, pousadas, resorts, flats, apart-hoteis, albergues, hostels e alojamentos de floresta.
Diárias
O valor cobrado por diária deve cobrir o período de 24 horas, das quais até três horas estão destinadas à limpeza e arrumação do quarto ou apartamento. Com isso, na prática, o estabelecimento precisa garantir ao hóspede, no mínimo, 21 horas de hospedagem.
Entrada
Cada hospedagem estabelecerá seu horário regular de check-in e de check-out e deverá passar essa informação com clareza ao hóspede.
Ao fixar os horários de entrada e saída, o estabelecimento deve considerar o período o máximo de três horas para garantir a limpeza do quarto.
Limpeza
A partir do horário estabelecido para a saída, o responsável pela hospedagem deve providenciar a higienização e a arrumação dos aposentos em até três horas. Por exemplo, se a diária de uma pousada termina ao meio-dia (12h), a acomodação deve estar pronta para o próximo hóspede até as 15h.
Os estabelecimentos também devem cumprir as normas sanitárias e regulamentações federais, estaduais e municipais que determinam parâmetros mínimos de higiene, limpeza e segurança.
Antecipação
Havendo disponibilidade, o responsável pela hospedagem pode autorizar tanto a entrada antecipada quanto a permanência dos hóspedes para além do horário regular de saída.
Nos dois casos, o estabelecimento também pode, com a anuência do hóspede, cobrar tarifa diferenciada adicional. A condição é que a taxa e as regras sejam comunicadas previamente ao hóspede e de forma clara.
A cobrança deste adicional deve, contudo, respeitar os princípios do Código de Defesa do Consumidor e garantir que o arranjo não prejudique o cumprimento das normas de arrumação e limpeza da unidade.
Irregularidades
Em caso de descumprimento da legislação, o hóspede pode acionar os órgãos de defesa do consumidor (Procon; Delegacia do Consumidor, Polícia Civil; promotoria de justiça especializadas do Ministério Público; associações civis de proteção e a plataforma digital Consumidor.gov.br.
Caso se comprove a irregularidade denunciada, o estabelecimento sofrerá as penalidades previstas em lei.
Registro do hóspede
A partir de 16 de dezembro, os estabelecimentos deverão usar o novo modelo digital da Ficha Nacional de Registro de Hóspedes para repassar as informações de identificação de seus clientes. O novo modelo substituirá o atual (feito em papel) exigindo as mesmas informações pessoais.
Segundo o Ministério do Turismo, os dados pessoais não serão divulgados ao público em geral, ficando acessíveis apenas para fins oficiais, como a produção de estatísticas e a formulação de políticas para o setor de turismo.
A proposta é que, futuramente, os próprios hóspedes possam realizar o pré-preenchimento desta ficha de forma remota (online) com a finalidade de reduzir filas nas recepções.
Por - Agência Brasil
O Governo Federal vem reforçando sua atuação para preservar a integridade do esporte e reduzir o espaço de atuação de plataformas de apostas não autorizadas. O executivo instituiu um Grupo de Trabalho interministerial, envolvendo os ministérios da Fazenda, do Esporte e da Justiça e Segurança Pública, com o objetivo de propor uma Política Nacional de Combate à Manipulação de Resultados Esportivos.
A criação do grupo responde ao aumento de denúncias sobre manipulação de competições e tem como foco estabelecer um fluxo integrado de recebimento e tratamento de casos, alinhado às melhores práticas internacionais. Também busca fortalecer a cooperação entre órgãos públicos, federações esportivas e autoridades policiais.
Esse movimento se soma à adesão do Brasil à Convenção de Macolin, tratado internacional do Conselho da Europa que promove a cooperação global contra a manipulação de resultados esportivos. O Ministério do Esporte classificou a adesão como estratégica, destacando que o crime tem caráter transnacional e exige colaboração internacional.
No campo regulatório, a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), vinculada ao Ministério da Fazenda, ampliou frentes de fiscalização. Entre as medidas estão a derrubada de sites ilegais, mais de 18 mil desde 2024, o monitoramento de publicidade em parceria com grandes empresas de tecnologia e a interrupção do fluxo financeiro de operadores irregulares.
Para isso, a SPA tem mapeado bancos e fintechs utilizados por essas plataformas, chamadas de “contas-bolsão”, a fim de bloquear transações suspeitas e comunicar irregularidades ao Banco Central e à Polícia Federal.
Ainda assim, o mercado paralelo segue expressivo. Pesquisa do Instituto Locomotiva apontou que seis em cada dez apostadores utilizaram sites ilegais em 2025, muitas vezes sem perceber a irregularidade. O levantamento também estimou perdas fiscais que podem chegar a R$ 10,8 bilhões ao ano.
No cenário legal, 78 operadoras já estão autorizadas a atuar no país, movimentando cerca de R$ 17,4 bilhões apenas no primeiro semestre deste ano. O governo também tem implementado mecanismos de proteção, como a criação de um sistema de autoexclusão centralizada para apostadores e testes de propensão à ludopatia, além de parcerias com a Fiocruz para atendimento especializado no Sistema Único de Saúde.
Entre os sites regulamentados, dados recentes mostram as preferências dos apostadores brasileiros. Em agosto, por exemplo, o futebol respondeu por 88,17% das bets na casa de apostas KTO, seguido de tênis (7,02%) e basquete (3,37%). Modalidades como vôlei, beisebol e UFC/MMA têm participação menor, todas abaixo de 1%.
As iniciativas revelam a tentativa de equilibrar dois eixos: fortalecer o ambiente regulado, com maior segurança para apostadores, e reduzir o espaço de operação de plataformas clandestinas, que seguem oferecendo riscos financeiros e esportivos. O próximo desafio será consolidar a Política Nacional contra a Manipulação de Resultados e alinhar a legislação brasileira aos padrões internacionais de integridade esportiva.
A Federação Internacional de Futebol (Fifa) revelou hoje (25) os três mascotes da Copa do Mundo de 2026. A competição será realizada em três países (Estados Unidos, Canadá e México) e cada um dos mascotes homenageia uma nação-sede.
"Maple, o alce (Canadá), Zayu, a onça-pintada (México) e Clutch, a águia-americana (Estados Unidos) foram cuidadosamente desenvolvidos para refletir a vibrante cultura, a herança e o espírito de seus respectivos países, unindo-se para simbolizar a unidade, a diversidade e a paixão compartilhada pelo esporte", informou a federação, em nota.
A Copa do Mundo de 2026 será a 16ª edição consecutiva a contar com um mascote, um símbolo do torneio que já teve inspirações humanas, artísticas, em animais e frutas e até etéreas ao longo da história.
Esta será a primeira vez que um Mundial vai contar com três sedes – até então, com a exceção de Japão e Coreia do Sul em 2002, todas foram disputadas em apenas um país.
Conheça cada um dos mascotes:
Maple, o alce, é um goleiro dedicado. Nasceu para viajar, passando por todas as províncias e territórios do Canadá, conectando-se com as pessoas e abraçando a rica cultura do país. Com um talento especial para fazer defesas lendárias e um coração cheio de força, Maple combina histórias sem fim com um talento inabalável.
Zayu, a onça-pintada, é um atacante engenhoso e ágil que intimida os defensores. Nasceu das selvas do sul do México e personifica a rica herança e o espírito vibrante do país. Fora de campo, Zayu abraça a cultura mexicana por meio da dança, da comida e da tradição, unindo pessoas através das fronteiras com paixão.
Clutch, a águia-americana, é um grande meio-campista. Possui uma sede insaciável por aventura, voando pelos Estados Unidos e abraçando cada cultura e momento com curiosidade e otimismo. Destemido em campo e inspirador fora dele, Clutch lidera pela ação — mobilizando companheiros de equipe, elevando o ânimo e transformando desafios em oportunidades de ascensão.
Por - Agência Brasil
O aumento do trabalho infantil entre crianças de 5 a 9 anos, na passagem de 2023 para 2024, chamou a atenção da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, organização da sociedade civil voltada para o bem-estar na primeira infância.
Depois de ter caído 24% de 2022 para 2023, números divulgados na última sexta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relevaram que, no ano passado, o país registrou aumento de 22%, chegando a 122 mil crianças de 5 a 9 anos em situação de trabalho infantil.
Com base nos dados do IBGE, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal constatou que, entre os mais novos, o percentual de crianças submetidas ao trabalho infantil foi o maior já registrado na série histórica, iniciada em 2016.
Em 2016, as 110 mil crianças de 5 a 9 anos nessa situação eram 5,24% da população dentro dessa faixa etária. Em 2022, eram 132 mil pessoas, que representavam 6,97% da faixa etária. O número caiu para 100 mil crianças (6,19%) em 2023, mas voltou a subir no ano passado: 122 mil ─ 7,39% das que tinham entre 5 e 9 anos.
A CEO (diretora-executiva) da Fundação, Mariana Luz, considera “inaceitável” que, em 2024, o Brasil registre a maior proporção já vista da série histórica de crianças de 5 a 9 anos em trabalho infantil.
“Quando crianças nessa faixa de 5 a 9 anos trabalham, estamos negando a elas o direito primordial de experimentar a infância: brincar, aprender, crescer em segurança. Estamos comprometendo seu futuro, reforçando desigualdades raciais, perpetuando um ciclo de exclusão que se inicia precocemente”, disse à Agência Brasil.
Ainda segundo ela, a inserção de famílias de baixa renda no trabalho doméstico ou informal “ajuda a explicar, em parte, esse salto entre crianças tão jovens”.
A educadora social e advogada Patrícia Félix, integrante do Conselho Tutelar no Rio de Janeiro, acrescenta que o trabalho infantil aumenta em períodos como as férias escolares, quando os pais não têm com quem deixar os filhos. Por isso, ela defende que hajam mais vagas em colégios de ensino integral.
“A gente vê que essas mães realmente precisam de um ponto de apoio”, disse em entrevista à TV Brasil.
5 a 17 anos
Em um universo mais amplo, a pesquisa do IBGE revelou que, em oito anos, o número de pessoas de 5 a 17 anos envolvidas com o trabalho infantil recuou 21,4%. Mas, de 2023 para 2024, o contingente cresceu 2%.
Mariana Luz lembra que os dados recém divulgados revelam que o Brasil não alcançou ainda a meta 8.7 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata de “até 2025, acabar com o trabalho infantil em todas as suas formas”.
“Precisamos de políticas públicas reais, financiamento adequado, fiscalização rigorosa, intervenções direcionadas às populações mais afetadas. Especialmente crianças pretas e pardas, nas regiões mais vulneráveis”, declarou.
Mariana Luz nota que, enquanto crianças pretas e pardas são 66% da faixa etária de 5 a 9 anos, elas representam 67,8% das submetidas ao trabalho infantil, ou seja, proporcionalmente essas sofrem mais com a situação. “Isso revela, de forma cristalina, uma falha estrutural gravíssima do país: onde existe pobreza, invisibilidade social e racismo, as crianças negras são as que mais sofrem”, aponta.
Para a CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, “cada criança retirada de sua infância é uma falha coletiva”. Para ela, é preciso agir com urgência para garantir que nenhuma criança esteja trabalhando quando deveria estar brincar e estudar. “Porque criança não trabalha, criança vive a infância", diz.
Redução recorde
O ODS da ONU determina também a redução das piores formas de trabalho infantil. Nesse campo, o Brasil apresentou redução recorde na lista das Piores Formas de Trabalho Infantil, conhecida como Lista TIP.
Em 2024, o país tinha 560 mil pessoas de 5 a 17 anos na Lista TIP. Esse resultado representa queda de 39% em relação a 2016, quando o Brasil tinha quase 1 milhão (919 mil) de crianças e adolescentes nessas atividades. Em comparação a 2023 (590 mil), o recuo foi de 5%.
A Lista TIP é uma relação regulamentada pelo Decreto 6.481 da Presidência da República, de acordo com a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A relação reúne atividades desempenhadas em locais como serralherias, indústria extrativa, esgoto, matadouros e manguezais, entre outros. São ocupações relacionadas a intenso esforço físico, calor, insalubridade e outras características que podem causar fraturas, mutilações, envenenamento e outros danos aos menores de idade.
Bolsa Família
Outro avanço no Brasil foi a redução mais acentuada do trabalho infantil entre crianças que moram em lares beneficiados pelo programa Bolsa Família.
Nos domicílios que contam com a assistência, o percentual de pessoas de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil era de 5,2%, o que representa 717 mil pessoas. No país como um todo, ou seja, sem separar quem recebe o Bolsa Família, a proporção é de 4,3%, o que engloba 1,65 milhão de pessoas.
Ao observar a evolução histórica desse dado, percebe-se que tem diminuído a diferença entre os dois grupos.
Em 2016, a distância era de 2,1 pontos percentuais. Entre os beneficiários do Bolsa Família, a proporção era de 7,3% das pessoas de 5 a 17 anos. No Brasil como um todo, de 5,2%. O menor ponto dessa distância é justamente em 2024: 0,9 ponto percentual.
O que é trabalho infantil
Para classificar o trabalho infantil, o IBGE segue orientações da OIT, que o conceitua como “aquele que é perigoso e prejudicial à saúde e o desenvolvimento mental, físico, social ou moral das crianças e que interfere na sua escolarização”. Acrescentam-se à classificação atividades informais e com jornadas excessivas.
Dessa forma, nem todas as atividades laborais de crianças e adolescentes são consideradas trabalho infantil. A legislação brasileira impõe delimitações:
- até os 13 anos, é proibida qualquer forma de trabalho.
- de 14 a 15 anos, trabalho é permitido apenas na forma de aprendiz.
- aos 16 e 17 anos, há restrições ao trabalho sem carteira assinada, noturno, insalubre e perigoso
A população pode denunciar casos de trabalho infantil pelo Disque Direitos Humanos (Disque 100), canal gratuito.
Ministério do Trabalho
Procurado pela Agência Brasil, o coordenador-geral de Trabalho Infantil do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Roberto Padilha, informou que os dados recém-divulgados estão em análise na pasta.
“Em uma análise preliminar, observamos que os microdados revelam diferentes aspectos, entre eles a redução das piores formas de trabalho infantil, em 4,4%, mas ao mesmo aumento revelam aumento em de 1% no trabalho infantil em atividades econômicas e de 7% em atividades para o próprio consumo”, cita.
“Os números também mostram que não houve uniformidade no aumento do trabalho infantil no Brasil”.
Ministério dos Direitos Humanos
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) informou à Agência Brasil que “ao ratificar a Convenção 182 da OIT, o país reafirmou o compromisso de eliminar as piores formas de trabalho infantil”.
“Nesse contexto, o ministério atua na prevenção dessa prática e na proteção de crianças e adolescentes trabalhadores”, completa a pasta.
O ministério citou que integra a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (Conaeti), coordenada pelo MTE, que revisa o Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e orienta fluxos de atendimento em todo o país.
O Ministério também informou que contribui na formação de profissionais do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente por meio de 17 Escolas de Conselho e participa do Observatório da Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (SmartLab de Trabalho Decente), que disponibiliza dados sobre denúncias, fiscalizações e áreas mais afetadas.
A pasta destaca, entre as políticas de prevenção, as cotas de contratação de jovens aprendizes e os programas de aprendizagem profissional, que garantem profissionalização, proteção no trabalho e capacitação adequada, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“O cumprimento da legislação assegura oportunidades de trabalho qualificado, remuneração justa, direitos assegurados e contribui para a renda familiar, auxiliando na quebra do ciclo de pobreza e vulnerabilidade”, afirma.
O MDHC acrescenta que realiza estudos, capacitação de profissionais e campanhas de sensibilização, como a #InfânciaSemTrabalho, para fortalecer a proteção integral de crianças e adolescentes.
Por - Agência Brasil
Sete em cada dez estudantes brasileiros do ensino médio usuários da internet utilizam ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa, como o ChatGPT e o Gemini, para realizar pesquisas escolares. Apesar disso, poucos deles (apenas 32% do total) receberam alguma orientação nas escolas sobre como utilizar de forma segura e responsável essa tecnologia.
As informações fazem parte da 15ª edição da pesquisa TIC Educação, que foi divulgada na manhã de hoje (16) pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). O núcleo foi criado para implementar projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), que é o responsável por coordenar e integrar as iniciativas e serviços da internet no país.
Nesta primeira coleta de dados, 37% dos estudantes de ensino fundamental e médio disseram usar esse tipo de ferramenta na busca de informações. Entre os alunos dos anos finais do ensino fundamental, a proporção sobe para 39% e entre os estudantes do ensino médio chega a 70%.
"O dado evidencia novas práticas de aprendizagem adotadas pelos adolescentes”, explicou Daniela Costa, coordenadora do estudo.
“Tais recursos requerem novas formas de lidar com a linguagem, de pensar a curadoria de conteúdos e de compreender a informação e o conhecimento”, ressaltou.
Segundo ela, as escolas já estão se adaptando a esse novo uso e passando a debater com os pais o uso de IA Generativa pelos alunos.
De acordo com dados da pesquisa, as regras sobre o uso de IA generativa por alunos e professores nas atividades escolares já é pauta de reuniões dos gestores com professores, pais, mães e responsáveis.
"68% dos gestores escolares dizem que realizaram reunião com professores e outros funcionários e 60% com pais, mães e responsáveis sobre o uso de tecnologias digitais nas escolas. Regras sobre o uso de celulares nas instituições foram uma das principais pautas desses encontros, mas regras sobre o uso de ferramentas de IA pelos alunos ou pelos professores são citadas por 40% dos gestores”, explicou.
Apesar de a maioria dos estudantes brasileiros de ensino médio já usar ferramentas de IA Generativa em seus trabalhos escolares, poucos deles (apenas 32% do total) receberam alguma orientação nas escolas sobre como utilizar essa tecnologia, o que seria extremamente importante, defendeu a coordenadora do estudo.
“O principal ponto é que essas práticas de busca de informações baseadas em IA trazem novas demandas para as escolas no que diz respeito a orientar os alunos sobre a integridade da informação, a autoria e sobre como avaliar fontes de informação", destacou a coordenadora.
"Além disso, é importante também que os alunos saibam como se valer desses recursos para construir o próprio conhecimento e ampliar as suas estratégias de aprendizagem, além de receber uma resposta pronta e considerá-la como única resposta possível, a mais adequada ou a verdadeira”, disse, em entrevista à Agência Brasil.
Esta foi a primeira vez que a TIC Educação investigou os recursos adotados pelos estudantes na realização de pesquisas escolares. O levantamento foi feito entre agosto do ano passado e março deste ano por meio de entrevistas realizadas com 945 gestores e 864 coordenadores em 1.023 escolas públicas e privadas. A pesquisa também ouviu 1.462 professores e 7.476 alunos, tanto de escolas rurais quanto urbanas de todo o país. Os resultados estão disponíveis no site do levantamento.
Celulares
A pesquisa TIC Educação foi realizada enquanto estava sendo promulgada a Lei 15.100, de janeiro deste ano, que passou a restringir o uso de dispositivos móveis, como celulares nas escolas.
Apesar disso, a pesquisa já começou a demonstrar a mudança de uso nas regras de aparelhos celulares dentro das escolas. Em 2023, por exemplo, 28% das instituições proibiam o uso do telefone celular pelos alunos e 64% permitiam o uso apenas em alguns espaços e horários. Em 2024, a proporção de escolas que não permitem o uso do dispositivo aumentou para 39%, enquanto a permissão em alguns espaços e horários diminuiu para 56%.
"Os indicadores confirmam a tendência de redução de uso de telefones celulares pelos alunos, especialmente entre os estudantes de escolas localizadas em áreas rurais (de 47% para 30%), de escolas municipais (de 32% para 20%) e particulares (de 64% para 46%)”, explicou a coordenadora da pesquisa TIC Educação.
Segundo ela, essa mesma tendência é observada nas escolas particulares, que vêm diminuindo o uso de tecnologias digitais, inclusive nos espaços escolares. “A proporção de escolas particulares com disponibilidade de acesso à internet na sala de aula passou de 70% em 2020 para 52% em 2024”, disse Daniela à Agência Brasil.
Conectividade nas escolas
A pesquisa também apontou que quase a totalidade das escolas brasileiras (96% do total) possui acesso à internet. Esse acesso cresceu principalmente nas instituições municipais (que passaram de 71% de acesso em 2020 para 94% em 2024) e nas escolas rurais (que passou de 52% para 89% nesse mesmo período).
No entanto, embora a conectividade tenha crescido, as desigualdades nesse acesso permanecem presentes. Se nas escolas estaduais, 67% dos alunos utilizam a internet para fazer atividades solicitadas pelos professores, na rede municipal, a proporção é de apenas 27%.
No caso das instituições de educação básica municipais, por exemplo, 75% dispõem de, pelo menos, um espaço com conexão à Internet para uso dos alunos, mas apenas 51% delas têm computadores para atividades educacionais e 47% contam com acesso à Internet e dispositivos para os estudantes.
“O acesso à internet tem se disseminado entre as escolas de ensino fundamental e médio”, diz a coordenadora do estudo.
Em 2020, 52% das escolas rurais contavam com acesso à rede, proporção que passou para 89% na edição 2024.
"No entanto, a disponibilidade de dispositivos digitais, como computadores, ainda é um grande desafio para as instituições, especialmente nas escolas rurais e municipais de pequeno porte. Entre 2022 e 2024, a presença de ao menos um computador para uso dos alunos nas escolas rurais diminuiu, passando de 46% para 33%”, explicou.
Para ela, essas desigualdades só poderão ser reduzidas a partir de “melhor entendimento sobre o papel das tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem” e também com “iniciativas que permitam a equalização de oportunidades entre os estudantes de diferentes contextos”.
Formação docente
Além disso, a pesquisa revelou que, nos últimos anos, caiu o número de professores que participaram de formação voltada ao uso de tecnologia digital nos processos de ensino e de aprendizagem. Se em 2021, cerca de 65% dos professores dizia ter feito algum curso de formação sobre tecnologia digital, em 2024 esse número caiu para 54%. A queda foi ainda maior entre os professores da rede pública municipal, que passou de 62% em 2021 para apenas 43% no ano passado.
Para a coordenadora do estudo, o acesso dos professores a cursos de formação, apoio e atualização seria essencial, “especialmente em um contexto de mudanças nas formas de lidar com a aprendizagem, como a inserção de tecnologias emergentes – entre elas a IA, nas práticas pedagógicas”.
Essa formação também é importante porque permitiria que os professores orientassem melhor seus alunos para o uso seguro, crítico, responsável e criativo das tecnologias digitais. Segundo Daniela, esse foi um dado comprovado pela pesquisa: a maior parte dos docentes que realizaram desenvolvimento profissional (67% do total) mencionou que a atividade contribuiu para melhor orientar os alunos sobre o uso dessas tecnologias.
Por - Agência Brasil
Um romance, a redação de escola, uma poesia, uma carta de amor, um aviso simples deixado na porta da geladeira. Estariam todos esses textos ameaçados pelas ferramentas de inteligência artificial (IA)? Na avaliação do escritor Sérgio Rodrigues, jornalista e romancista, a perda da prática pode resultar em um retrocesso imensurável para a sociedade.
No seu mais recente livro, “Escrever é humano: como dar vida à sua escrita em tempo de robôs”, o autor defende a necessidade de atenção e estímulo à prática. Rodrigues, que lança a obra em Brasília na próxima quinta-feira (18), defende que os robôs não conseguem se igualar às características humanas, embora haja o perigoso aprimoramento permanente das tecnologias generativas.
Ele diz que a IA ameaça atividades profissionais, mas o alerta está também em outra esfera de atenção. “Mais do que pelo mercado de trabalho, eu temo um retrocesso civilizatório e intelectual”.
Abaixo, confira entrevista com o escritor.
Agência Brasil - Como surgiu a ideia de tratar sobre humanização da escrita?
Sérgio Rodrigues - A ideia era fazer um manual, um guia que ajudasse as pessoas que estão começando, principalmente na escrita da ficção. Sou jornalista, mas sou romancista e contista. Essa era a parte que me interessava explorar. Eu tinha um blog chamado Todoprosa, que ficou no ar entre 2006 e 2016. Algumas das ideias desse livro nasceram lá. Eu aprofundei e retrabalhei. Quando apareceu essa inteligência artificial generativa, causou uma urgência maior. O livro ganhou também um foco diferente. A criatividade é o contrário do que a inteligência artificial faz.
Eu entendo que [escrever com criatividade] é tudo o que o robô não sabe fazer. O que o robô sabe fazer é uma imitação incrível, impressionante, da linguagem humana, mas sem nenhuma das dimensões que estão por trás da escrita criativa verdadeira. Não tem nenhuma perspectiva das tecnologias terem acesso a isso tão cedo, pelo menos enquanto não tiver uma consciência de si.
O livro trata sobre o que é escrever com ambição artística de fazer da linguagem o próprio espetáculo. Escrever é exclusivamente humano, assim como a arte é exclusivamente humana.
A imitação da IA fica cada vez melhor. Daqui a pouco vai ser muito difícil distinguir. O fato é que não consigo conceber arte sem uma subjetividade por trás. Escrita tem que ter uma subjetividade de quem escreveu. Todo o resto é uma aparência, uma falsidade, mas que não é a essência do negócio.
Agência Brasil - Isso gera consequências imediatas no mercado de trabalho.
Sérgio Rodrigues - Algumas áreas estão muito ameaçadas em termos trabalhistas. A IA consegue executar tarefas que eram exclusivas dos seres humanos com uma velocidade incomparável, com custo muito mais baixo. O ser humano é caro.
Agência Brasil - Quais as maiores ameaças?
Sérgio Rodrigues - A gente está passando por uma revolução mesmo. A maior ameaça que estou vendo é o ser humano, como espécie, desaprender a escrever. É um risco. Você pode terceirizar tudo, todos os textos. Da lista de compras ao e-mail. No momento em que você terceiriza e não usa mais essa medida, se esquece. A gente é assim.
Um exemplo é que, antes, sabíamos os números de telefone. Hoje não sabemos mais. A gente terceirizou para o celular. Quando as pessoas terceirizarem para a IA a escrita mínima do dia a dia, vai esquecer como se escreve. Escrever é uma tecnologia de pensamento. Mais do que pelo mercado de trabalho, eu temo um retrocesso civilizatório e intelectual.
Agência Brasil - Esse escrever que você trata tem relação com todas as fases da vida, certo? A redação da escola, por exemplo.
Sérgio Rodrigues - Eu acho que a escola tem um problema sério. Se ela não tomar cuidado, todos os alunos vão passar a entregar trabalhos feitos por inteligência artificial. Se a escola não criar um ambiente em que isso seja severamente controlado, a própria habilidade da escrita não vai ser desenvolvida por aquelas crianças mais. A gente está diante de uma mudança muito grande de parâmetros gerais em relação à escrita. E é preciso cultivar isso pelo prazer de escrever.
Agência Brasil - De alguma forma, o ser humano não estava em um caminho de se robotizar com fórmulas prévias de escrita?
Sérgio Rodrigues - Você tem razão. Eu acho que a inteligência artificial dá um passo gigante à frente nesse sentido. Mas a gente já vinha nesse caminho. Mas a IA é uma ferramenta que a gente inventou. Ela dá continuidade a um caminho que a gente já vinha trilhando, de uma certa superficialidade total das formas de ler o mundo.
Não só o texto. Um monte de ideias prontas, de clichês, de fórmulas. O clichê não é inventado pela máquina. A IA é um simulacro da gente. Uma forma de clichê, de ideias prontas e feitas. O nosso espírito crítico já vinha definhando. A escola não vinha dando conta. Acho que, em parte, é uma espécie preguiçosa.
Uma população com espírito crítico é mais difícil de manipular. Pessoas críticas ficam menos suscetíveis a virarem consumistas na internet, por exemplo.
Agência Brasil - Como a gente pode convencer os mais jovens a escrever?
Sérgio Rodrigues - Esse livro é uma tentativa de abrir o olho das pessoas para isso que está acontecendo. Acho que a escola vai ter que se repensar a fim de criar espaços seguros para o pensamento e a escrita. Espaços em que a máquina não possa entrar. A Finlândia, por exemplo, levou computadores para dentro da sala de aula. Agora, o país baniu todos os computadores.
Agência Brasil - Essa decisão de tirar o celular das crianças foi importante, não é?
Sérgio Rodrigues - Muito boa. Acho que a escola é o lugar para isso. Mas vai exigir uma reviravolta em termos de pensamento. Eu não vejo outra saída.
Agência Brasil - A falta de leitura significa dificuldade com a escrita diretamente?
Sérgio Rodrigues - Tem impacto no interesse de leitura. Um resumo do "Dom Casmurro" (obra de Machado de Assis, em 1.899) não é o mesmo que ler o livro. É como ver uma adaptação para a TV. Você tem uma ideia da história, mas a experiência de leitura de literatura é vertical. É preciso mergulhar naquelas palavras. Talvez a gente perca mesmo a capacidade de ler coisas é até muito mais simples.
Agência Brasil - De escrever uma carta de amor, por exemplo?
Sérgio Rodrigues - A pessoa vai se questionar sobre o que fazer. Diante do que a pessoa amada falar, vai se perguntar sobre o que fazer. A falta de escrita e leitura faz com que a pessoa perca as ferramentas que tinha para lidar com o outro.
Agência Brasil - Além do papel da escola, como as famílias podem convencer os mais jovens de que escrever é humano?
Sérgio Rodrigues - As famílias têm um papel nisso. É preciso que a família leia e também valorize isso. Espero que não seja tarde demais. As pessoas que estão empolgadas. A IA pode ser uma ferramenta, mas não pode ser a mestre ou dona da pessoa.
Agência Brasil - O que podem fazer os gestores que possam se sentir responsáveis por tentar gerar políticas públicas?
Sérgio Rodrigues - O desafio de política pública hoje nesse mundo da IA é a regulamentação, que é onde tem os lobbies mais pesados do capital. E as big techs estão muito determinadas a não deixar que nenhum tipo de regulamentação seja feita.
Por - Agência Brasil