Afinal, este sentimento está presente em praticamente todas as culturas há milhares de anos.
"Ciúme é uma reação a uma ameaça real ou imaginária que, de alguma forma, coloque em risco a relação a dois", explica a psicóloga Cláudia Razente Cantero, do Núcleo Evoluir - Psicoterapia, Neuropsicologia e Ciência do Comportamento. É um comportamento privado, ou seja, somente a própria pessoa que se comporta tem acesso, podendo gerar desconforto, incômodo, sentimento de frustração e impotência, aperto no peito e raiva.
A psicóloga destaca que o ciúme pode ser classificado como "normal" ou "patológico" e, na sociedade atual, está relacionado à demonstração de cuidado, de zelo e de amar o outro. O discurso mais disseminado, embora não seja totalmente correlacionado, é que não sentir ciúmes, ao contrário, está relacionado a não amar. "Estes comportamentos fazem parte da nossa evolução, pois o ciúme é um sentimento que pode ‘manter’ a relação a dois", complementa.
O sentimento extrapola o limite do saudável quando, mesmo na ausência de uma ameaça real, a relação gira em torno das cobranças excessivas e da restrição da vida social do outro, como por exemplo impedir que o parceiro mantenha contato com amigos. "A pessoa deve considerar buscar ajuda quando o sentimento de vigilância, cobrança e sensação constante de estar sendo traído pelo parceiro ocorre em grande intensidade, frequência e duração", explica.
São diversas as consequências do ciúme exagerado para um casal. Brigas excessivas, cobranças intermináveis, desconfianças e o afastamento físico e emocional da dupla que antes vivia em harmonia são algumas consequências do ciúme patológico. "Não é saudável quando o casal se comporta mutuamente em função do controle e da cobrança, sem espaço na relação para o cultivo do amor, da admiração, do respeito e da vontade de crescerem juntos", avalia Claudia.
O parceiro que está envolvido com uma pessoa ciumenta pode, de certa maneira, incentivar esta classe de comportamentos "ciumentos" ao reforçar seu amor e fidelidade diante da desconfiança do outro. "Esta relação coercitiva não é benéfica para o casal: enquanto há o parceiro controlador, há o outro que faz de tudo para evitar futuras brigas", diz.
Claudia lembra que o ciúme é inerente à condição humana e não é possível evitá-lo, pois trata-se de um sentimento. A mudança deve ocorrer na maneira como o ciumento age e como demostra este sentimento, avaliando a médio e a longo prazo as consequências da reação exacerbada. "No momento em que a pessoa estiver sob efeito de muita raiva, ao invés de verbalizar o ciúme durante a situação em que o sentimento ocorre, vale a pena repensar e quem sabe tocar no assunto em outro momento", aconselha.(Com Bonde)