Embora muitos casais possam sem dúvida se identificar com este estado de coisas nem boas nem ruins, uma nova pesquisa mostra que essa ambivalência num relacionamento a sensação de que o apoio ou a negatividade do parceiro podem ser imprevisíveis pode aos poucos afetar a saúde de um indivíduo.
Os resultados, publicados este mês por pesquisadores da Universidade Brigham Young, fazem parte de um crescente corpo de pesquisa que tenta analisar o chamado "benefício do casamento", a ideia corrente de que as pessoas casadas são, em geral, muito mais saudáveis e vivem mais do que as solteiras. Mas cada vez mais os pesquisadores estão tentando entender os efeitos mais sutis do casamento sobre a saúde. Para sentir os benefícios do casamento para a saúde, não basta apenas estar casado? Ou, quanto a qualidade do casamento, como o nível de apoio, carinho, negatividade ou comportamento controlador, afeta a saúde de casais aparentemente estáveis?
"Infelizmente, muitas das pesquisas sobre os benefícios do casamento medem a qualidade do relacionamento numa escala unidimensional", disse Wendy C. Birmingham, que liderou o estudo, publicado na revista Annals of Behavioral Medicine. "Eles avaliam se você está feliz ou não, se você se sente apoiado ou não. Mas nem todos os relacionamentos são unidimensionais."
Em um estudo cuidadosamente controlado feito com 94 casais heterossexuais em Salt Lake City, os pesquisadores entrevistaram cada parceiro individualmente sobre o nível de interações positivas e negativas no casamento. Os casais estavam casados em média há 5,4 anos, mas a duração dos casamentos variava de um ano até 41 anos. Cerca de 15% eram casados há uma década ou mais. Ambos os parceiros trabalhavam em tempo parcial ou integral, e nenhum casal tinha filhos ou qualquer outra pessoa vivendo em casa.
"Queríamos observar os efeitos do que acontecia entre o casal, e não porque outra pessoa estava morando na casa", disse Birmingham.
Os pesquisadores perguntaram sobre a quantidade de apoio positivo que homens e mulheres recebiam de seus parceiros ou davam aos seus parceiros quando um deles precisava de conselhos ou compreensão. Eles também perguntaram sobre o nível de negatividade entre os parceiros no cotidiano, ou quando eles ficavam animados ou felizes com alguma coisa.
Com base nas respostas, os pesquisadores determinaram que 23% dos casais estavam em casamentos de apoio, com níveis baixos de negatividade. Os 77% restantes deram respostas mistas, sugerindo que seus casamentos eram mais ambivalentes em termos de sentimentos positivos e negativos.
Em seguida, foi medida a pressão arterial basal dos homens e as mulheres, e eles usaram um monitor de pressão arterial durante um dia inteiro, de manhã até a hora de dormir. Após leituras de pressão arterial aleatórias durante o dia, duas por hora, os indivíduos registravam exatamente o que estavam fazendo no momento em que a pressão era medida comendo, trabalhando, descansando, interagindo com o parceiro. Eles eram questionados sobre seu humor em geral e sobre seus sentimentos em relação ao parceiro naquele momento.
Para garantir a precisão, os entrevistados tinham apenas cinco minutos após a medição da pressão para preencher o diário; de outro modo os dados não seriam incluídos. (No fim, apenas 7% dos registros do diário foram descartados, menos de um por participante, sugerindo que os casais foram atentos ao cumprir o protocolo do estudo.)
Os resultados revelam a natureza complexa das relações conjugais e os efeitos sutis que os momentos positivos e negativos de um casamento podem ter sobre a saúde física. Quando os pesquisadores analisaram as leituras de pressão arterial, descobriram que os homens e mulheres que tinham relações ambivalentes apresentaram leituras de pressão arterial sistólica mais alta durante um determinado dia.
Isso sugere que um dos benefícios assumidos do casamento uma melhor saúde cardiovascular pode não ser tão grande para casais com casamentos ambivalentes.(Com Bonde)