"Todo vício é de difícil manejo e a extinção do comportamento é um processo. O mais importante é identificar as motivações da criança e se os hábitos de sucção não estão substituindo necessidades emocionais e carências", explica a psicóloga Triana Portal, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia. Quando esses forem os motivos do vício, é possível observar que a criança intensifica o uso em momentos de maior ansiedade e tensão.
Por isso, segundo Triana, o primeiro passo na hora de tentar 'tirar' alguma coisa é melhorar as condições emocionais do ambiente. "Quando você tira algo que traz conforto emocional à criança ela vai buscar um substituto, portanto, esse processo exige paciência, delicadeza e planejamento", explica a especialista.
Veja dicas para lidar com cada um dos vícios infantis.
Chupeta
Para o pediatra e neonatologista Jorge Huberman, o melhor jeito para conseguir brecar o uso da chupeta é investir nos artifícios lúdicos. "Use de seres imaginários, por exemplo. Converse com a criança e explique que ele(a) já está um pouco acima da idade e diga que o Coelho da Páscoa ou Fada vão levar a chupeta para uma criança menor ainda", explica.
O expert conta que se a resistência for grande com relação à chupeta é melhor investir em longas conversas e dicas caseiras. "Diga que, com o tempo, aquilo vai se desgastar e não será mais útil. Caso não resolva, corte - sem dó - a ponta da chupeta que o desinteresse aumentará. Passar babosa na ponta do acessório não faz mal para a saúde dos filhos e deixa a chupeta com gosto ruim", aconselha.
A chupeta tem o objetivo de relaxar a criança e acalmá-la em algum momento de choro ou estresse. "Em inglês, o acessório leva o nome de ‘pacifier’, ou seja, ‘pacificador’. Deixe o objeto no berço ou carrinho, evitando colocar nas roupas ou muito próximo do bebê", indica o neonatologista.
A idade máxima para o uso da chupeta é 2 anos. "As crianças têm necessidades orais, e quanto mais novos, mais sugam. Usar a chupeta, nesse caso, substitui o contato materno e causa carências afetivas e nutricionais nos filhos. O ideal seria que a mãe lidasse com a ansiedade sem recorrer à chupeta", afirma Huberman. Mas lembre-se: melhor a chupeta do que o dedo, pois a chupeta você tira, o dedo não.
Mamadeira
A mamadeira é o item que ajuda a inserir sucos na dieta e dar continuidade à amamentação, após o bebê completar 6 meses. "A sucção feita na mamadeira é um reflexo inerente ao ser humano, que existe na nossa vida desde quando estamos no útero das mães. É o primeiro contato com o mundo exterior e satisfaz também as necessidades afetivas do bebê", explica o expert no assunto.
De acordo com o especialista, a mamadeira só deverá ser substituída quando a criança tomar, por dia, 500 ml de líquido no copo. O processo pode durar de 2 a 6 meses e iniciado antes dos 2 anos de idade. "Incentive o seu filho a ir tomando líquidos no copo que logo ele irá largar a mamadeira", aconselha o neonatologista.
É indicado retirar o acessório da rotina, a cada período de mamada, iniciando pela da tarde: "A mamadeira pode ser trocada por um lanche, normalmente um iogurte ou uma vitamina com leite batido com frutas que deve ser servido em copo, caneca ou com canudinho", indica Huberman.
A segunda mamada que pode ser suspensa é a feita no período da manhã. "Troque por leite com cereais, servido de colher, ou vitamina com frutas, sempre em copo, caneca ou canudinho", explica o especialista. A última - e mais difícil - a ser retirada é a mamada noturna, que deve seguir o mesmo processo: "Converse com a criança a respeito do que está fazendo, explique o quê e quando irá acontecer".
Após iniciar o processo, não retorne ao zero! "A mãe não deve recuar e voltar a fornecer a mamadeira à criança, pois pode trazer transtornos emocionais, dificultando a futura retirada dos objetos", alerta o neonatologista. Caso a criança demore muito para largar o vício, poderá desenvolver problemas respiratórios e orais também.
Dedo
O vício não traz benefícios às crianças. De acordo com Huberman, o bebê faz movimentos de sucção nos dedos, como um jeito de autoconhecer o corpo, além de ser uma diminuição da ansiedade. "O hábito também é reconhecido como a substituição da chupeta", informa.
O dedo deve ser cortado o quanto antes e não tem idade mínima para a tolerância, por isso use de artifícios externos e criatividade para acabar com o vício. "Coloque tatuagens removíveis na unha da criança e diga que, se chupar o dedo, a tatuagem sai. Outro exemplo é fazer uma troca, dar algum prêmio à criança que conseguir vetar o uso dos dedos", informa. Alguns clássicos que também funcionam: passar babosa ou alho no dedo; colocar esparadrapo do personagem favorito no dedão.
A sucção do dedo leva a alterações da arcada dentária, como mordida aberta, cruzada ou profunda, dependendo da posição em que o dedo é levado à boca. "As alterações levam a criança a respirar pela boca, pois deixam a musculatura oral flácida", afirma Huberman.
A respiração oral pode resultar em roncos, irritabilidade, cansaço em atividades físicas, bruxismo, alterações da postura, apetite diminuído, respiração e mastigação com ruídos. "A fala da criança também fica alterada - pois trocará os sons na hora de falar e, se não corrigido antes da criança entrar na escola, pode criar problemas na alfabetização", alerta o neonatologista.
Por Caroline Sarmento e Helena Dias (Vila Mulher).