A maioria dos que estão lá são filhos de assentados de outros assentamentos por esse Brasil a fora. E é nas antigas terras da empresa em Rio Bonito do Iguaçu que estão instalados os assentamento. A Araupel informou que já obteve na Justiça um interdito proibitório, decisão que proíbe o MST de invadir suas terras em Rio Bonito do Iguaçu, porque uma nova invasão de sem terra, colocaria em risco não só os empregos e a economia na região, mas a fauna e a flora.
A empresa, uma das maiores exportadoras brasileira de molduras, painéis e componentes para móveis, teve 52 mil hectares de terras desapropriados para assentamentos nos últimos anos. É nas antigas terras da empresa em Rio Bonito do Iguaçu que estão instalados os assentamentos Ireno Alves e Marcos Freire.
A área da Fazenda Giacometi Marodin, de propriedade da Araupel em Rio Bonito do Iguaçu, foi ocupada por 3 mil famílias em 1996 e se transformou no maior assentamento da América Latina. A empresa diz ter sofrido três grandes invasões e dois terços de sua área foram desapropriados. No terço remanescente, a Araupel mantém seus reflorestamentos e cobertura natural nativa.
Diferentemente do que aconteceu há 18 anos, quando o acampamento foi formado às margens da rodovia antes da invasão às terras pertencentes à empresa Araupel, desta vez a mobilização é feita dentro do assentamento Ireno Alves, em um espaço cedido por um agricultor assentado.
Apesar de o grupo estar acampado praticamente na divisa das terras da Araupel, o MST nega que tenha discutido ocupar áreas da empresa. Na semana passada o prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, Írio Rosso (PMDB), visitou o acampamento e prometeu dar o “apoio que for necessário, dentro das possibilidades” aos acampados. A prefeitura de Rio Bonito chegou a anunciar em seu site que os sem-terra pretendem ocupar 31 mil hectares da fazenda da Araupel.
Na quinta-feira, a Gazeta do Povo esteve no acampamento, onde a equipe foi recebida por duas jovens, Mônica Macedo e Ana Paula dos Santos, ambas de 18 anos, destacadas previamente pela diretoria estadual do MST para falar em nome do movimento. Um rapaz que se identificou como Joílson acompanhou a entrevista ao lado de outra líder do movimento. O MST não permitiu imagens fechadas dos barracos, nem entrevistas com as famílias.
Mônica e Ana Paula negaram que haja definição pelas terras da Araupel. “Não foi discutido, enquanto movimento sem terra, a área que a gente vai ocupar”, diz Mônica. Segundo ela, o momento é de organização e a ocupação pode ocorrer em qualquer lugar da região.
O acampamento é vigiado por todos os lados por integrantes do movimento responsáveis em fazer a segurança no local. Logo na entrada foi montada uma guarita para identificação de quem chega e, a partir dali, o acesso para estranhos é permitido apenas a pé.
A ocupação de um novo espaço no Paraná faz parte das chamadas “grandes ocupações” programadas pelo MST e foi decidida no 6.º Congresso Nacional do movimento, realizado em fevereiro. “Para isso é necessário massificar e organizar grandes acampamentos”, diz Mônica.
Critério
Diariamente novas famílias da região central do Paraná chegam ao acampamento. Para ser selecionado é necessário apresentar certidões comprovando que não possui antecedentes criminais. Sem dar detalhes, Ana Paula diz que essa exigência é para evitar “erros históricos” de seleção. Ana Paula é uma das “sem-terrinha” que passou a vida em acampamentos, participou de várias ocupações, foi despejada várias vezes, e agora busca um espaço só para ela. “Eu não tenho condições de continuar vivendo no lote do meu pai e quero continuar no campo”. Segundo ela, os lotes da reforma agrária possuem cinco ou seis alqueires, insuficientes para o sustento de três famílias.
“Invasão seria o caos para Quedas do Iguaçu”, diz líder classista
A possível ocupação de uma área de reflorestamento da Araupel, em Rio Bonito do Iguaçu, preocupa Quedas do Iguaçu, cidade vizinha. É que a empresa está instalada na cidade, onde gera 1.050 empregos diretos e praticamente o mesmo número de indiretos. Anualmente, a Araupel injeta na economia local R$ 50 milhões com pagamentos de salários e fornecedores.
“Se houver uma invasão e inviabilizar a empresa, será o caos. Vai afetar 50% da economia da cidade”, diz Reni Fernande Felipe, presidente da Associação Comercial e Industrial de Quedas do Iguaçu (Aciqi). Ele defende que os órgãos ligados à reforma agrária busquem alternativas para melhorar a qualidade de vida dos moradores de assentamentos e evitar novas ocupações.
Na última terça dia 13, o senador Alvaro Dias disse, no Senado, que recebeu do prefeito Edson Prado, de Quedas do Iguaçu, indícios de que o MST pretende invadir áreas da Araupel. “A Araupel já contribuiu de forma expressiva com a reforma agrária formando o maior assentamento da América Latina”, disse o senador, citando os mais de 50 mil hectares desapropriados para a criação dos assentamentos em Rio Bonito do Iguaçu.
O que pensa Beto Richa
Em sua passagem por Cascavel o governador Beto Richa disse que o governo está bastante otimista para resolver os conflitos que atingem as regiões de Capanema com a construção da Usina do Baixo Iguaçu (com o impasse que surgiu entre a Neoenergia e os agricultores em relação ao valor das indenizações das terras atingidas pela barragem) e de Quedas do Iguaçu onde existe a ameaça de uma nova ocupação de terra na Araupel por parte do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), que montou um acampamento em Rio Bonito do Iguaçu, com mais de mil famílias.
Ao ser questionado sobre a tensão agrária em Quedas do Iguaçu, ele disse que durante o seu Governo não houve nenhum conflito, nenhuma invasão de terra ou desocupação de terreno, porém se for preciso intervir, faremos isso, mas com diálogo.
Por Carlos Lins com Gaxeta do Povo