O hemangioendotelioma epitelióide hepático (heh) é um tipo raríssimo de tumor e atinge um em cada um milhão de pessoas.
Para se livrar do tumor, Maria passou por uma cirurgia longa e delicada e teve que retirar 70% do fígado. A ex-BBB disse que o uso de anabolizantes pode ter contribuído para o desenvolvimento do câncer. "Eu tomei porque eu pensava na saúde por fora, naquela estética. Com uns 20, 21 anos de idade comecei a tomar anabolizante, e aí não parei. Acho que foram sete anos ao todo", contou em entrevista ao programa dominical.
E completou: "Anabolizante é um vício. Você toma e cada vez quer chegar a perfeição, cada vez você vai vendo o resultado, cada vez quer tomar mais e mais e mais. E aí você começa a tomar coisas mais fortes, e quando vê já está tomando várias coisas... Depois para largar eu tive que passar por essa doença", lamentou.
Dr. Alexandre Hohl, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), comenta que a associação do uso de esteróides anabolizantes com câncer fígado, incluindo o tumor hepático que acometeu Maria Melilo, apesar de rara, está descrita na literatura médica. Como o fígado é modulado funcional e morfologicamente pelos hormônios sexuais, o uso de esteróides anabolizantes pode induzir tumores benignos e malignos neste órgão.
Mas o especialista esclarece que existem vários tipos de anabolizantes. Em geral, quando se fala em anabolizantes estão se referindo aos esteróides androgênicos anabolizantes, ou seja, substâncias derivadas do hormônio masculino (testosterona). Entretanto, existem várias substâncias anabolizantes fora deste grupo, como o hormônio de crescimento e a insulina.
"Levando em consideração os derivados da testosterona, temos que separar homens de mulheres. O uso destes esteróides em doses acima do normal, com o objetivo de obter resultados estéticos, tem efeitos colaterais diferentes em cada sexo. E as mulheres estão sujeitas a um maior número de efeitos adversos", alerta.
O médico explica ainda que o uso oral dos anabolizantes é diferente das injeções. Por via oral a pessoa tem uma maior chance de causar lesão no fígado, inclusive hepatite medicamentosa e adenoma hepático gigante. Além desses problemas o uso dessas substâncias pode causar acne, aumento de pelos na face e no corpo, mudança da voz (fica mais grave), pele oleosa, queda de cabelo, mudança da menstruação, risco de infertilidade, aumento do clitóris, irritabilidade, insônia e alterações no coração.
As formas injetáveis têm o risco de abscesso na região de aplicação, podendo chegar até a necrose da musculatura quando são aplicados grandes volumes na região intramuscular. "Quanto maiores as doses e o tempo de uso, maior o risco dos efeitos adversos. Como estes ‘ciclos de anabolizantes’ acabam sendo repetidos uma ou duas vezes ao ano por estes usuários, os riscos vão se acumulando", conta. "Os efeitos colaterais são inevitáveis e variam para cada mulher. Mas o preço deste ‘pedágio’ a ser pago para conseguir um corpo escultural é muito alto!"
Mulheres recorrem aos anabolizantes com os objetivos de diminuir massa gorda, aumentar massa magra e definir o corpo. E, segundo Dr. Alexandre, os principais esteróides anabolizantes usados por elas são os derivados da testosterona, como cipionato e enantato de testosterona, nandrolona, oxandrolona e estanozolol. Alguns destes hormônios não são liberados no Brasil, outros são comprados pela internet ilegalmente e outros, ainda, são derivados de uso veterinário que não poderiam ser usados em seres humanos.
E todos os derivados da testosterona são mais perigosos para a mulher. "Muitas vezes, ouvimos: ‘pode tomar a oxandrolona, pois ela é mais fraca e é oral’. Isso não é verdade, o risco é o mesmo. Não existem estudos de segurança com estas doses extremamente altas. Estamos falando de 20 a 50 vezes a mais do que o corpo humano normal produz. Isso é antifisiológico!", afirma o especialista.
Os derivados liberados no Brasil, como o cipionato de testosterona, são usados apenas em homens que não têm testosterona de maneira adequada ou em mulheres que sofrem da ‘Síndrome da Insuficiência Androgênica da Mulher’. Neste caso, ela não produz testosterona de maneira adequada e se repõe doses muito baixas desse hormônio. "Isto é uma situação de exceção. Essas substâncias não deveriam ser usadas em quaisquer mulheres, muito menos nas altas doses que são relatadas pelas usuárias que buscam um corpo perfeito do ponto de vista estético, mas pouco saudável", diz Dr. Alexandre.
Por Juliana Falcão (MBPress)