Viver a dois é uma arte. Saber lidar com os desafios de estar casado hoje em dia é o que o psicólogo Luiz Alberto Hanns propõe no livro “A Equação do Casamento - O Que Pode (ou Não) Ser Mudado na Sua Relação” (Editora Paralela), uma coletânea dos temas de conflito e convergências do casamento compilados ao longo de seus 20 anos de experiência clínica.
Luiz sugere que cada um monte a sua própria equação do casamento, com base em negociações e ajustes de desejos próprios e do(a) companheiro(a). Enxergar as fortalezas e vulnerabilidades da relação e entender o que pode ou não fazer você feliz no casamento depende de seis fatores.
Parcial na maioria dos casamentos, a compatibilidade psicológica é o primeiro deles. “É muito raro existir um casal totalmente compatível”, analisa Luiz. Um tipo de desencontro muito comum é um cônjuge ser perfeccionista e o outro, bagunceiro. “Diferentemente das uniões do século 20, em que as pessoas se conformavam com seus status, no casamento contemporâneo as pessoas se incomodam mais e precisam aprender a negociar com suas diferenças”, avalia.
Saber lidar com divergências sem ter de brigar é do que trata o segundo fator, que são as competências do convívio a dois. Daí a importância de seguir uma etiqueta de casamento e convívio, que preserva o casal e estabelece a conexão com o parceiro. Hanns acredita que manter boas maneiras propicia o aumento da taxa de satisfação e, consequentemente, a redução na de divórcio.
A varinha de condão de uma relação moderna, que ajuda a ajustar as complementaridades, são os graus de consenso, o terceiro fator. “A maioria dos casais tem um grau médio de consenso. A principal divergência diz respeito a direitos e deveres de gênero e educação de filhos”, aponta. Aliás, este é o grande motivo dos conflitos matrimoniais, pois a maioria dos casais tem altas expectativas em relação a gostos e interesses em comum.
De novo, na época dos nossos avós não era bem assim. No casamento patriarcal os casais eram mestres em se conformar com seus modelos de vida. “Eles não eram mais felizes do que nós, apenas eram mais satisfeitos com o modo que viviam”, explica. Os usos e costumes eram mais claramente estabelecidos e o casamento era indissolúvel. “Hoje qualquer briguinha é motivo para pedir a separação. Isso porque as pessoas se incomodam muito mais”.
O ponto quatro é a vida sexual, que pode ser incrementada para não se tornar uma tumba matrimonial. “As competências do convívio a dois não garantem o tesão, mas ajudam a manter o que existe e não destruí-lo”, relaciona o terapeuta. A conexão emocional pode ajudar muito com as assimetrias sexuais. Talvez porque ao longo do casamento as pessoas não vivam na cama: há filhos, zeladorias domésticas, lazer. Portanto, não basta que apenas a cama seja boa.
O quinto fator é o estresse. São os filhos problemáticos, desemprego, problemas financeiros e até parentes invasivos. Como frustrações externas são comuns na vida moderna, Hanns alerta que as pessoas estão mais e mais nervosas. “Elas tendem a se tornar agressivas, intolerantes e associar o parceiro a zeladorias chatas e o amante a momentos gostosos e leves”.
Logo, quanto mais o casal tiver fontes de gratificações externas, como vida social divertida, sucesso no trabalho, vida familiar gratificante, melhores são as chances de não sobrecarregar a relação com as frustrações. “Casais harmônicos que têm tudo podem sucumbir e se separar se forem submetidos a um excesso de estresse”, diz.
O sexto fator tende a manter o casal mais unido. Trata-se das vantagens de estar casado. “Este ajuda o casal a tolerar mais, em prol do valor que se atribui a estar casado”, explica. As razões são diversas: seja porque são dependentes do cônjuge ou porque têm medo de viver sozinhos. Para avaliar seu casamento e descobrir se ele é ótimo, médio ou insuportável, some todos os fatores. Ao descobrir o peso de cada um deles, o casal saberá o que poderá ou não ser mudado em sua relação, desde resgatar uma união em crise a lidar com um caso de infidelidade, passando pelo ajuste da sintonia sexual.
Erros e soluções
Para superar as divergências, Hanns aconselha ouvir o outro e construir um caminho junto ao cônjuge, aquele que contemple o consenso. “É preciso entrar no conflito de maneira leal”, recomenda.
Portanto, não se pode usar uma comunicação destrutiva, atribuindo intenções negativas ao outro. “É importante ser específico ao dizer como se sente e ater-se ao mérito da questão”.
Um grande erro que pode marcar o resto do casamento é antipatizar, fazer intrigas ou falar mal de parentes e amigos do cônjuge. “Tem que ser agregador nas relações familiares e sociais”, Hanns pontua.
Zombar do parceiro e fazer comparações com outras pessoas em público também é um dos pecados do casamento. “Faça piadas sobre si mesmo e fale sempre a partir da própria experiência”, recomenda.
Não há problema em errar. Mas é fundamental aprender a pedir desculpas, manter a conexão emocional e a empatia com o parceiro. De tempos em tempos, o especialista aconselha o casal a instituir uma conversa em que cada um possa dizer ao outro do que sente falta, puxando sempre pelo lado positivo. “Manter o contato e a abertura para entender as necessidades do companheiro é importantíssimo”, diz Hanns, que finaliza: “Acima de tudo, não se pode querer do outro o que ele não pode dar”.
Por Renata Reif (IG, Delas)