"O maldito fugiu das minha mão... Eu pensei que...", diz ele, que é logo cortado pelo coronel: "Quem manda aqui sô eu... Tá me ouvindo: sô eu! Serviçal obedece! Não tem licença de pensá, seu imbecil! Eu fui claro?".
O jagunço controla a raiva que pulsa dentro de si. "Foi sim sinhô...", sussura ele. "A ordê era botá fim naqueles maldito documento e dá um susto nesses cooperado! Num tinha nada que fazê sebaça na cidade nem ir atrás de caçá infeliz nenhum!", fala Afrânio. "Quando entrêmo o maladiçoado fugiu pela janela. Ele viu tudo, coroné...", explica o filho de Doninha (Suely Bispo). Afrânio é grosseiro com ele: "Tô cagando pra onde ele tava e pro que ele viu ou dexô de vê!". "Coroné mêmo disse pra num dêxa rastro...", justifica ele.
Afrânio suspende o dedo na direção de Cícero, imponente: "No dia que eu quisé esse infeliz morto faço eu mesmo o serviço ou mando alguém competente fazê! Mas ordem dessa eu não dou pr’um cabra burro e metido a valente que nem você!". É uma ofensa grave que Afrânio lhe faz. Cícero escuta, sustentando a cabeça baixa. "Inconsequente! Você só tá nessa casa pelo respeito que eu tinha pelo seu pai... Mas você não é, nem nunca vai sê sombra do que ele me foi!", continua o coronel.
Nessa hora o jagunço sobe apenas o negro dos olhos na direção do coronel, sem mexer a cabeça. "Patrão grite comigo, não. Se quisé junto minhas tralha e me toco das suas terra!", fala ele. Os dois se encaram. Por um instante Saruê cogita a possibilidade. Cícero sustenta o olhar na sua direção até ele desviar. "Não foi bem feito, mais tá feito! Por bem ou por mal o corretivo serve pr’essa gente num se botá mais em meu caminho.
Por agora você vai sair das vista", diz ele. "E despois?", pergunta o jagunço. "Depois volta! É dívida que tenho com meu amigo Clemente (Julio Machado), e num morro sem pagá! Você pode num sê como ele ainda, mas tem a coragem dele aí dentro... E pro futuro eu posso precisar. Num quero sabê de você solto pela cidade muito menos envolvido com esse maldito retirante!", ordena Saruê.
Cícero veste outra vez o chapéu, pronto para seguir seu caminho quando o coronel estende a mão até ele pedir sua arma. Cícero não gosta da ordem. Afrânio não se importa. "Tá surdo, Cícero!?! A arma!", fala de novo. O jagunço entrega a arma para o patrão, humilhado. "E não me abuse de novo nem ouse me contestá, que a próxima num vai tê ôtra!", ameaça Saruê. (Com Extra Globo)