Mas será que tudo isso é verdade? Para solucionar algumas destas questões, uma avaliação das últimas provas a favor do chocolate e como os efeitos desse doce tão cultuado podem ser comparados ao de algumas drogas malignas.
O tipo importa?
"Atribuo todo meu sucesso essencialmente à grande quantidade de chocolate que consumo. Pessoalmente eu acho que chocolate ao leite te deixa estúpido... chocolate amargo é a chave.. É algo que, se você quer um prêmio Nobel de medicina ou de química, tudo bem, mas se você quer um prêmio Nobel de física, tem que ser chocolate amargo mesmo", já disse Eric Cornell, vencedor do Nobel de física em 2001.
Infelizmente a escolha de chocolate provavelmente não fará muita diferença quando se trata do prêmio Nobel, mas fica a questão: o chocolate amargo é mesmo o melhor?
Os supostos benefícios do chocolate para a saúde e o cérebro são atribuídos, principalmente, aos antioxidantes encontrados no cacau. No entanto, pelo fato de o cacau ser amargo, frequentemente se adiciona leite e açúcar para fazer o chocolate, diluindo o conteúdo de antioxidantes.
Também é preciso lembrar dos problemas causados pelo consumo de grandes quantidades de calorias e açúcar. Então a mensagem é: se você come chocolate, escolha o amargo, escuro. O ideal seria o que tem 85% de cacau ou mais, que possui menos gordura e açúcar do que o chocolate ao leite.
Quais drogas o chocolate imita?
O cacau tem pequenas quantidades de alguns estimulantes que são encontrados em várias drogas legais e ilegais. O "chocolatier" belga Dominique Persoone criou um um dispositivo que disparava cacau diretamente no nariz do usuário. Ele afirma ter vendido 25 mil unidades do dispositivo, que não era barato (45 euros, cerca de R$ 185), e a embalagem vinha com alerta sobre riscos do uso excessivo.
Parece pouco provável que o chocolate realmente imite os efeitos das drogas, mas ele possui algumas substâncias químicas presentes em algumas drogas.
1.Ópio
O chocolate pode afetar o cérebro de uma forma parecida com o ópio, reduzindo a dor e produzindo prazer, apesar de ser bem mais fraco. Isso ocorre graças ao neurotransmissor encefalina. Estudos em ratos indicam que a quantidade de encefalina produzida quando se come chocolate é o bastante para criar um efeito suave e levar ao vício.
Apesar de especialistas acreditarem que isso também se aplique a humanos, ainda não há provas.
2.Amor
O cacau pode imitar o efeito do amor, segundo alguns especialistas, pois contém a substância química feniletilamina, liberada nos primeiros meses de um relacionamento. Isso faz com que a pessoa se sinta excitada e nervosa e pode funcionar como um antidepressivo.
Existem apenas pequenas quantidades da substância no chocolate e há dúvidas se ela permanece ativa quando o chocolate é ingerido. Portanto ainda não se sabe com certeza se a pessoa sente mesmo esse efeito.
3.Maconha
O chocolate tem pequenas quantidades de anandamida, conhecida como a "molécula da felicidade". Este neurotransmissor atinge as mesmas estruturas cerebrais acionadas pelo THC, o ingrediente ativo da maconha.
No entanto, para ter um impacto substancial no cérebro, a pessoa precisaria comer vários quilos de chocolate, então não é provavel que o chocolate afete o humor da pessoa.
4.Álcool
O chocolate tem um grupo de alcaloides neuroativos conhecidos como tetrahidro-beta-carbolinas, que também podem ser encontrados na cerveja, vinho e outras bebidas.
Essas substâncias elevam nossos níveis de dopamina e serotonina - têm, portanto, um efeito no humor. E podem explicar o poder viciante do chocolate.
O chocolate, contudo, possui quantidades reduzidas de tetrahidro-beta-carbolinas e são necessárias mais pesquisas antes de concluir que há impacto no humor.
5.Café
O cacau tem cafeína e é possível encontrar um pouco deste estimulante no chocolate. Quanto mais amargo o chocolate, maior a quantidade de cafeína.
Mas as quantidades de cafeína são mais baixas em todos os tipos de chocolate, incluindo o amargo, do que no café.
O cacau também tem teobromina, que produz um efeito estimulante quando combinada com cafeína.
Melhora o desempenho do cérebro?
Estudo publicado recentemente envolvendo cerca de mil pessoas descobriu a ligação entre comer chocolate - não importando o tipo - pelo menos uma vez por semana e uma melhora na memória e raciocínio abstrato. Há razões para otimismo, mas a pesquisa não apontou categoricamente se comer chocolate foi a causa da melhora.
Em outra pesquisa recente, descobriu-se que uma substância química encontrada no cacau e no chocolate reduz a perda de memória relacionada à idade em adultos de 50 e 69 anos.
O estudo apontou que o antioxidante flavonol (uma classe de flavonoides) aumenta o fluxo sanguíneo para uma região do cérebro que promove a memória. Cientistas estão animados com a descoberta, pois é o primeiro indicador de que a dieta pode reverter o declínio na memória e também reduzir a perda da memória.
Depois de consumir bebidas enriquecidas com estes flavonois por três meses, o desempenho das pessoas neste grupo de idade em um teste de memória foi equivalente ao desempenho de pessoas várias décadas mais jovens.
No entanto, apenas comer mais chocolate não vai proteger a memória, pois métodos usados para processar o chocolate costumam remover a maior parte dos flavonois.
Uma barra de chocolate típica tem 40 mg destes flavonois, e a bebida usada na pesquisa continha 900 mg. Seria necessário comer quantidades enormes de chocolate para obter algum benefício.
E a saúde?
Acredita-se que os antioxidantes encontrados no cacau possam ter efeitos antiinflamatórios, melhorando o fluxo sanguíneo e diminuindo o risco de doenças cardiovasculares.
Algumas pessoas também afirmam que o cacau protege contra o câncer e reduz o estresse.
Mas há a questão da validade de estudos que ligam o cacau à diminuição da pressão sanguínea, e se há algum efeito para a saúde depois que o cacau é transformado em chocolate.
Em 2012, uma análise das melhores provas dos efeitos do cacau na pressão sanguínea concluiu que alguns produtos do cacau, incluindo chocolate amargo, diminuem levemente a pressão. A análise apontou, porém, a necessidade de mais comprovações.
"Se você está com um peso saudável, comer chocolate com moderação não aumenta o risco de doença cardíaca de forma detectável, e pode até ter algum benefício. Eu não aconselharia meus pacientes a aumentar o consumo de chocolate com base nesta pesquisa, particularmente se estiverem acima do peso", disse à BBC o especialista independente Tim Chico. (com BBC)