No dia 15, quando a delegada Ana Karine Palodetto encaminhou o inquérito policial ao MP-PR – que conduz uma investigação paralela, a exemplo da Polícia Militar e da Polícia Federal -, ela já havia adiantado que estava incompleto, entre outros, por não ter conseguido ouvir alguns dos sem-terra chamados para depor.
Devido à falta de aproximadamente dez depoimentos, a Polícia Civil não conseguiu verificar de quem foi a responsabilidade pelo início do confronto. Já a Polícia Militar defende que os sem-terra atiraram primeiro, versão confirmada por um dos trabalhadores ouvidos. Já o movimento e outro dos sem-terra feridos dizem que apenas revidaram. Ambos os lados falam em emboscada.
O promotor Marcelo Salomão Czelusnak explicou que o prazo para a conclusão do inquérito foi estendido porque na semana passada a Justiça concedeu liberdade provisória aos dois sem-terra feridos no confronto. Desde que deixaram o hospital, ambos estavam presos em regime domiciliar em função do tratamento pelo qual estão passando.
O advogado do MST, Claudemir Torrente de Lima, afirmou que após a divulgação do laudo do Instituto Médico-Legal (IML) de Cascavel sobre a morte dos dois sem-terra deve pedir a exumação dos corpos. Ele ainda criticou o inquérito da Polícia Civil.
“A delegada apenas ouviu os policiais, não fez a reconstituição do crime, o inquérito ficou muito superficial e acabou incorporando a tese dos policiais. Ela intimou três pessoas do movimento que não estavam no fato e as demais optaram por prestar depoimento à Polícia Federal e ao Gaeco por receio. Eles acharam que ia acontecer a mesma coisa que aconteceu com as duas vítimas internadas nos hospitais e autuadas em flagrante”, comentou.
Por meio de nota, a Polícia Militar (PM) informou que uma investigação interna vai detalhar e esclarecer o número de tiros realizados no dia do confronto. A PM ainda informou que uma reconstituição do caso será realizada em breve com a presença do Oficial encarregado do inquérito, pelo delegado da Polícia Federal, pelo Ministério Público do Paraná e também pela Polícia Civil.
Os policiais militares envolvidos continuam trabalhando, mas, conforme a PM, em outras unidades distantes da região conflitada. A Polícia Militar ainda esclarece que os policiais também foram submetidos ao programa de tratamento psicológico para ocorrências de alto risco.
Invasões
O conflito por terras na região se acirrou depois da invasão de áreas da Araupel, empresa de reflorestamento e beneficiamento de maneira, em julho de 2014. Desde então, vários títulos de propriedade vêm sendo questionados na Justiça pela União e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Na semana passada, o Incra anunciou a criação de um assentamento na região para abrigar cerca de 80 famílias. O órgão também aguarda a resposta do MST sobre a proposta apresentada pela Araupel, que aceitou que os sem-terra permaneçam na área ocupada desde que permitam o acesso de funcionários à produção, além de repassar 190 hectares para um novo assentamento. (Com G1)