A explicação para uma mudança tão grande é simples, dizem líderes que acompanham os movimentos do MST: “Como muitos deles têm casas na cidade e até propriedades rurais, nem todos optam em permanecer à mercê das difíceis condições impostas no local”.
Apesar de invadirem áreas comprovadamente produtivas e de desrespeitar a lei, os invasores que se propõem a enfrentar a espera do acampamento precisam estar preparados. “Aqui não é fácil, não. A lona costuma esquentar muito, não protege adequadamente da chuva, não temos energia elétrica e muito menos água potável”, conta um dos membros do movimento, que prefere não informar sua identidade. O moroso processo que envolve a questão fundiária no Brasil é outro desafio no processo de perseverança no movimento. “Só quem suporta a pressão dos líderes se submete a longas jornadas nesses ambientes”, diz a mesma fonte.
Um dos consensos entre moradores e líderes da região de Quedas do Iguaçu, que por questão de segurança não serão aqui identificados, é que, enquanto as eleições e a reintegração não chegam, o furto de madeira prossegue. A área de 206 hectares ocupada em julho foi cuidadosamente escolhida pelos líderes do movimento, segundo o sócio-proprietário da Araupel, Tarso Giacomet. “Lá, estão árvores prontas para corte”. Há informações de que uma árvore, que em condições normais de mercado seria comercializada por R$ 200, é vendida por apenas R$ 10 pelos sem-terra.
O diretor do Sindicato Rural Patronal de Cascavel, Paulo César Vallini, entende que a reforma agrária, como se quer atualmente no Brasil, não passa de utopia. “Sem planejamento, sem condições para que as famílias produzam, o programa não tem qualquer viabilidade”. A agricultura familiar é importante, mas é preciso criar instrumentos práticos para que ela possa ocorrer adequadamente e dentro da lei, segundo o presidente do Sinduscon/Oeste, Edson de Vasconcelos. “Somos contra invasões e desrespeito às leis, porém a favor do trabalho e da produção”, afirma Edson.
Por Jean Paterno