A empresa já obteve uma liminar com mandado de reintegração de posse, mas que ainda não foi cumprido. Na próxima quarta, dia 23, uma reunião no Ministério do Desenvolvimento Agrário, em Brasília, vai discutir a questão.
A Araupel havia informado que a partir desta segunda, dia 21, os cerca de 1.050 funcionários cruzariam os braços porque seu maquinário estava retido na área invadida. Durante o final de semana, um acordo entre a PM (Polícia Militar) e os sem-terra resultou na liberação das máquinas e da ponte sobre o rio das Cobras, que estava bloqueada pelo MST. Os sem-terra afirmam que nunca apreenderam os maquinários. Segundo a empresa, com a liberação do maquinário foi possível retirar madeira de outra região da área que não está ocupada.
O acampamento é controlado por um sistema rigoroso de segurança. Em uma guarita que dá acesso ao local, vários “seguranças” – integrantes do movimento - abordam todos os que se aproximam para entrar no espaço onde estão. Sacolas, bolsas e carros são vistoriados pelos seguranças. Segundo Mônica Macedo, da liderança estadual do movimento, a medida é para garantir segurança e evitar que armas e bebidas sejam levadas para o acampamento.
“Independente de quem passar por aqui, seja sem terra ou a presidenta nós vamos revistar, de forma educada”, diz.
Assim que terminarem de estruturar o acampamento com os barracos, os sem-terra prometem iniciar o plantio na área.
“Agora é plantar, produzir e mostrar a que viemos enquanto movimento sem terra. A expectativa é muito grande de todas as famílias que estão aqui, de poder de sobreviver da terra”, afirma Mônica.
Juramento
Um dos assentados da ocupação de 1996 e que está auxiliando os integrantes do novo assentamento e que se identificou apenas como Kiko disse que a luta só vai parar após o MST assumir o comando de toda a área da Araupel. Ele lembra o assassinato dos jovens José Alves dos Santos e Vanderlei das Neves e do dia em que todos os integrantes do movimento fizeram a promessa de ocupar a área.
“A gente tirou como objetivo de, enquanto existir área nesse latifúndio, a gente vai ocupar, resistir e produzir. A gente tomou isso como um juramento”, conta.
Quatro filhos de Kiko estão no novo acampamento reivindicando um espaço de terra.
João Xester, um dos acampados, conta que é filho de pequenos agricultores, já se aventurou na cidade para tentar ganhar a vida, mas retornou ao campo, onde está sua vocação.
“Eu quero ver o progresso da agricultura e pelo movimento é a única maneira de se conseguir um pedaço de terra”, afirma.
Convite
Enquanto o MST invade as terras em Rio Bonito do Iguaçu, na cidade de Quedas do Iguaçu a preocupação é com as consequências do ato. Em maio, quando começaram as ameaças de invasão, a Araupel informou que a ocupação poderia inviabilizar os trabalhos de reflorestamento e beneficiamento de madeira colocando em risco 1.050 empregos.
Segundo Mônica Macedo, uma das líderes da ocupação, os funcionários da Araupel serão convidados a integrar o acampamento.
“Os trabalhadores da Araupel estão convidados a virem acampar com a gente. Acho que são classes trabalhadoras também, são oprimidos assim como nós somos e, então, nada mais justo do que a gente convidar eles a acampar”, afirma.
Com CGN