Como não existe sangue sintético produzido em laboratórios, quem precisa de transfusão tem de contar com a boa vontade de doadores, uma vez que nada substitui o sangue verdadeiro retirado das veias de outro ser humano.
Todos sabemos que é importante doar sangue. Mas, quando chega a nossa vez, sempre encontramos uma desculpa – Hoje está frio ou não estou disposto; nesses últimos dias tenho trabalhado muito e ando cansado; será que esse sangue não me vai fazer falta… – e vamos adiando a doação que poderia salvar a vida de uma pessoa.
Sempre é bom repetir que o sangue doado não faz a menor falta para o doador.
Consequentemente, nada justifica que as pessoas deixem de doálo. O processo é simples, rápido e seguro.
PRÉ-REQUISITOS PARA A DOAÇÃO
A pessoa precisa levar um documento de identificação e preencher um cadastro. Depois, faz um teste para ver se está com anemia.
Basta um furinho no dedo para determinar o hematócrito (quantidade de hemácias no volume total de sangue) e saber se está em condições de doar sangue. Às vezes, não está anêmica, mas o meio litro de sangue que será retirado poderá fazer lhe falta. Em seguida, mede se a pressão arterial, o pulso e a temperatura.
O próximo passo é uma entrevista chamada triagem clínica cuja finalidade é avaliar os antecedentes patológicos e os possíveis fatores de risco daquele candidato à doação.
Essa entrevista é baseada numa portaria, numa legislação que rege a doação de sangue no Brasil. Não é um interrogatório para investigar a vida das pessoas. São perguntas para proteger quem está doando e para conscientizar o doador de que a pessoa que vai receber o sangue precisa ficar bem e não ter problemas depois.
É importante lembrar que, apesar de feita a sorologia (testes para as doenças infecciosas), existem ainda doenças, como certos tipos de hepatite, para as quais não há triagem e que podem representar risco para o receptor. Há, ainda, janelas imunológicas – o teste demora algum tempo depois da infecção para ficar alterado – que precisam ser respeitadas, por menores que sejam elas.
No Brasil, existe ainda um procedimento que se chama autoexclusão. A pessoa passou pela entrevista e vai doar o sangue. Se não conseguiu ou não quis ser totalmente sincera na entrevista e achar que seu sangue não deve ser utilizado para transfusão porque oferece algum risco, tem a oportunidade de fazêlo de maneira sigilosa naquele momento.
Basta assinalar num papel ou registrar eletronicamente que aquela bolsa deve ser excluída. É uma oportunidade que a pessoa tem de voltar atrás sem se expor ao profissional que a está entrevistando.
COLETA DO SANGUE
Uma das exigências para a doação de sangue é o doador pesar pelo menos 50 kg, porque está estabelecido que se pode retirar no máximo 9ml de sangue por quilo de peso.
Portanto, com 50 kg, ele pode doar uma bolsa com 450 ml sem nenhuma repercussão negativa para o organismo.
Na triagem inicial, são observados critérios excludentes como peso, pressão arterial, hematócritos para identificar casos de anemia.
Não podem doar sangue as pessoas:
1) que tiveram hepatite depois dos 10 anos de idade. Antes dessa idade, a doença não é empecilho, porque provavelmente se trata de hepatite A, cujo vírus é eliminado por completo do organismo;
2)que tiveram hepatite B ou C, os portadores do vírus da AIDS ou de outra doença infecciosa transmitida pelo sangue;
3)com diabetes que usam insulina ou antihipoglicemiantes por via oral; mulheres grávidas ou que estão amamentando;
4)com febre, peso abaixo de 50kg, com mais de 65 anos ou que tiveram perda inexplicada de 10% do peso em um mês;
5)com epilepsia ou crises de asma;
6)que tenham se submetido a grandes cirurgias, recebido transfusão, feito tatuagem ou colocado piercing há menos de um ano. Pessoas que estão fazendo regimes violentos para emagrecer, com problemas de tireoide ou quadros clínicos graves não devem doar sangue.
O intervalo mínimo entre uma doação e outra, para os homens é de dois meses; para as mulheres, três meses e dos 60 até os 65 anos, seis meses. (Com Drauzio Varella)