Três dias depois do assassinato do casal de policiais militares Luis Marcelo Pesseghini e Andreia Bovo Pesseghini e de outros dois familiares, a polícia afirma estar cada vez mais convencida de que o filho do casal, Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, de 13 anos, foi o autor dos homicídios. De acordo com essa linha de investigação, o garoto teria apanhado a pistola .40 da mãe e disparado contra os familiares, um a um. Em seguida, ele pegou o carro da mãe e foi para a escola. Ao voltar para casa, teria se matado com a mesma pistola. A hipótese foi atacada pelo restante da família, que custa a acreditar que Marcelo, descrito como um menino doente e dócil, tenha provocado a matança.
Embora a polícia sustente essa versão, o caso ainda tem perguntas em aberto.
- Quem ensinou Marcelo a atirar? A pergunta parece ter uma resposta fácil: seus pais, que eram policiais militares. Ainda assim, não foram apresentadas testemunhas para afirmar que os pais ensinaram o filho de 13 anos a manejar uma arma. Também chama a atenção no caso o grau de precisão dos tiros e a quantidade de disparos: cada vítima foi morta com uma bala na cabeça. Peritos só encontraram cinco cartuchos na casa (um para cada vítima e um para Marcelo), o que demonstra que o atirador acertou 100% dos disparos.
A polícia afirma que o crime parece ter sido premeditado. Como um adolescente de 13 anos consegue planejar tantos detalhes? Aqui dois perfis entram em choque. Parentes descrevem Marcelo Pesseghini como um menino protegido pelos pais, tranquilo, que queria ser policial como o pai e que sofria diversas enfermidades, sendo incapaz de cometer atos tão bárbaros. A polícia, embora aposte no depoimento de um amigo do menino, segundo quem Marcelo tinha fantasias constantes de matar os pais, não esclareceu como ele conseguiu planejar tantos detalhes e dissimular o crime antes de morrer. O computador do menino ainda está sendo periciado.
- O que o menino pegou no carro da mãe quando deixou a escola? Segundo depoimento do pai do amigo de Marcelo, o adolescente pegou uma carona com ele na volta para casa. No caminho, ele teria apontado para o carro da mãe, que estava estacionado próximo e pedido para que o pai do amigo estacionasse. Segundo o depoimento, Marcelo foi até o carro, pegou um objeto e voltou para o carro do pai do amigo, que não estranhou nada. Mais tarde, a polícia encontrou na mochila de Marcelo, já na casa dos pais, um revólver calibre 32.
- Por que ninguém parece ter reagido aos tiros dentro da casa? De acordo com as investigações, três das quatro vítimas assassinadas na casa parecem ter sido atingidas enquanto dormiam – os corpos estavam deitados e não havia muito sangue espalhado. Uma das hipóteses levantadas pela perícia é que o adolescente tenha matado primeiro o pai, que estava deitado na sala, e, em seguida, a mãe, ambos no mesmo ambiente. Depois, ele teria seguido para casa no mesmo terreno onde estavam a tia avó e avó e voltou a atirar. Dos quatro, apenas a mãe não estava deitada - o corpo estava de joelhos, como se, nas palavras do delegado Itagiba Franco, ela tivesse tentado acudir o marido ou fosse forçada pelo atirador. Resta a pergunta de por que a avó e a tia avó não reagiram ou ouviram os tiros? Há hipóteses de que elas podem ter sido dopadas ou tenham ingerido medicação controlada, o que induziu ao sono. Um exame toxicológico para determinar essas possibilidades só deve ficar pronto em vinte ou trinta dias.
- O que o menino fez durante as quase cinco horas em que teria permanecido no carro próximo à escola? Uma das provas apontadas na versão da polícia é o fato de Marcelo ter saído de casa levando o carro da mãe e estacionado o veículo próximo à escola. Uma câmera de segurança mostrou o carro seguindo por uma rua à 1:15, embora a polícia admita que as imagens não deixem claro se é mesmo Marcelo quem estava dirigindo. Às 6:22, outras imagens mostram Marcelo deixando o carro e seguindo a pé para a escola. A polícia ainda não sabe o que ele fez no veículo nessas cinco horas.
- Por que Marcelo foi para a aula e depois voltou para casa? De acordo com o depoimento do amigo de Marcelo, o adolescente falava constantemente de um plano para matar os pais, pegar o carro e fugir. De acordo com a polícia, as duas primeiras partes do suposto plano foram cumpridas. Já a ideia de fugir acabou, de acordo com essa versão, se limitando ao percurso normal que ele fazia até a escola diariamente. Ele assistiu normalmente às aulas do dia e voltou de carona para casa, onde depois teria se matado. O motivo de ele ter adotado tal comportamento depois da matança ainda é um mistério. (Com informações da revista Veja)