“o presídio onde ficamos não tem a menor condição de atendimento se alguém passar mal. São várias às noites em que presos gritam sem sucesso por atendimento médico e não são ouvidos pelos poucos agentes que lá passam a noite”, disse o ex-deputado, afirmando ainda estar diante de um processo político, em que as empresas nacionais estão sendo punidas e as estrangeiras, apesar da confissão de crimes, poupadas.
Durante a audiência, Cunha explicou, com riqueza de detalhes, as acusações que lhe são imputadas, de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Cunha mostrou conhecimento de todo o seu processo, citando, com precisão, datas e valores de atos a ele atribuídos na denúncia do Ministério Público Federal. O ex-deputado admitiu manter recursos no exterior desde 1987, disse que optou pelo uso de trusts após a legislação determinar que recursos mantidos em offshores precisariam ser declarados à Receita Federal, em 2001, e negou que tenha mentido na CPI da Petrobras, quando disse não ter contas no exterior. “A pergunta que me foi feita não foi no sentido de que eu tivesse que revelar essa resposta. Se tivessem feito a pergunta completa eu teria respondido a verdade completa. Eu falei a verdade conforme a pergunta que me foi feita. Eu não tinha razão para mentir, até porque eu não minto. Se eu dissesse que tinha conta, eu estaria mentido, pois trust não é conta. Não me perguntaram se eu tinha empresa ou trust, nem se minha mulher tinha conta, que eu responderia”.
Ele disse que todo o recurso que mantinha no exterior era fruto de sua atividade de revendedor de produtos alimentícios em países africanos antes de ingressar na vida pública e de aplicações financeiras feitas a partir destes recursos. “Eu comprava produtos no Brasil e de outros países, levava para África, vendia por minha conta e aplicava. Trabalhei com comércio exterior e fazia aplicações financeiras de mercado. Basta ver que o patrimônio cresceu e diminuiu a partir de variações de valores de ativos”, disse, para depois criticar o MPF pela condução da investigação. “Se o inquérito fosse feito corretamente e não de forma política eu já teria apresentado essas provas. Mas eu nunca fui chamado para depor. Ninguém me perguntou. A denúncia foi oferecida sem o direito ao contraditório”.
Ao final da audiência, a defesa de Cunha apresentou pedido de liberdade a Sérgio Moro, mas, segundo os advogados, o pedido não tem relação com a doença do ex-deputado, mas sim pelo excesso de prazo processual. (Com Paraná Portal)