Terça, 30 Dezembro 2014 09:37

Aulas trazem a Europa para dentro das escolas do Paraná

As escolas estaduais do Paraná oferecem gratuitamente cursos de línguas estrangeiras a alunos, professores, funcionários e também para a comunidade. A oferta de cursos é extracurricular dentro do Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (Celem). São nove idiomas disponíveis: alemão, francês, italiano, mandarim, ucraniano, espanhol, inglês, japonês e polonês. 

 

Os cursos são oferecidos em 1.197 escolas e estão presentes em todas as regiões do Paraná. (Saiba quais escolas oferecem os cursos www.lem.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=350) Algumas línguas são mais presentes em determinadas cidades, fruto da colonização destes locais. Em Prudentópolis, no Centro Sul do Estado, cidade de 49 mil habitantes, o ucraniano é muito forte entre a população e nas escolas. 

 

COLÔNIA ALEMÃ - Também são oferecidos idiomas estrangeiros dentro da grade escolar da rede estadual. No Colégio Estadual do Campo Fritz Kliewer a língua mais falada é o alemão. O colégio fica na Colônia Witmarsum, no município de Palmeira (Campos Gerais). 

 

Na década de 1950, quando a região foi colonizada, todas as conversas eram feitas em alemão. Os colonizadores nasceram na Holanda, Polônia e norte da Alemanha e imigraram para a Rússia no século XVIII, de onde fugiram da revolução comunista em 1929. 

 

Quando chegaram ao Brasil, o grupo foi para Santa Catarina. Em 1951 alguns vieram para o Paraná e fundaram a Colônia Witmarsum. Atualmente, cerca de 1.700 pessoas moram na região. As tradições alemãs ainda são bem presentes na colônia, principalmente dentro do Colégio Estadual do Campo Fritz Kliewer. 

 

O colégio oferece aulas de alemão em todas as séries, desde o início do ensino fundamental até o final do ensino médio. São quatro aulas semanais de alemão e as turmas são divididas em dois níveis: língua materna, para os alunos que dominam o idioma e conversam em casa com os pais, e língua estrangeira, para os estudantes que só aprenderam o alemão na escola. 

 

A escola tem 210 alunos e recebe estudantes de outras cidades também, como Porto Amazonas e Palmeira. A diretora Monika Penner Pauls explica que qualquer aluno pode estudar na escola e não somente os moradores da Colônia Witmarsum. As aulas de alemão já abriram várias portas para ex-alunos da escola. “Nós temos muitos alunos que conseguem empregos pelo diferencial da língua alemã. Temos vários ex-alunos que saíram daqui e estão estudando fora do Brasil”, disse a diretora Monika. 

 

Ao se mudar de Piraquara (Região Metropolitana de Curitiba), para morar na Colônia Witmarsum, a aluna Ana Flávia dos Reis Moreira, de 16 anos, viu uma grande oportunidade para aprender uma língua estrangeira. Ela estuda desde o 6º ano do ensino fundamental e hoje está no 3º do ensino médio no Colégio Fritz Kliewer. “Eu não sabia falar alemão antes, aprendi só aqui na escola e nunca fiz aula particular. Acho que isso faz muita diferença, é uma oportunidade muita boa que temos aqui”, afirmou Ana Flávia, que já passou em uma prova de proficiência em alemão que a escola oferece. 

 

CONVÊNIO INTERNACIONAL - O Colégio Fritz Kliewer é a única escola pública do Paraná que tem convênio com o órgão Zentralstelle für das Auslandsschulwesen – ZfA (Central Alemã para Escolas no Exterior). As outras três escolas paranaenses que têm o convênio são particulares. Uma em Curitiba, uma em Pinhais (região metropolitana) e outra no município de Entre Rios do Oeste (Oeste). 

 

Pelo convênio, o colégio de Witmarsum recebe material didático sobre a língua alemã e os alunos têm a oportunidade de passar um mês na Alemanha. Para conseguir a bolsa, os estudantes passam por uma seleção para ver se dominam a língua. Por ano é apenas uma vaga para as quatro escolas do Paraná. Cinco alunos do Colégio Fritz Kliewer já participaram do programa. 

 

Uma vez por ano, entre os meses de junho e julho, alunos do Brasil e de outros países, que também mantêm convênio com a ZfA, passam um mês na Alemanha para frequentar as escolas de ensino médio de lá. Tudo é custeado pelo órgão do governo alemão. Os estudantes passam duas semanas em casas de famílias locais e frequentando uma escola da região. Nas outras duas semanas os alunos fazem um turismo direcionado com programações culturais. 

 

Doris Warkentin, 17 anos, do 3º ano, participou do programa e conheceu a Alemanha no ano passado. Ela ficou na casa de uma família na cidade de Bonn e também conheceu as cidades de Berlim e Munique. “A realidade lá é bem diferente do Brasil. Foi uma experiência única, aprendi muitas coisas, conheci outros jovens da minha idade de outras partes do mundo. O que eu mais gostei foi de conhecer outras pessoas e compartilhar experiências”, disse Doris. Ela contou que fez brigadeiro para os colegas da Alemanha e foi um sucesso. “Eles não conheciam, gostaram muito. As referências que eles têm do Brasil são o futebol e o samba”, contou. 

 

“Aprendi o alemão como língua materna, em casa. Na escola vim para aprender o português. Acho uma ótima oportunidade para os alunos as aulas aqui na escola, uma amiga não sabia nada de alemão e hoje já ganhou um certificado de fluência na língua. As aulas na escola fazem muita diferença”, afirmou Doris. 

 

OPORTUNIDADES - O convênio com o órgão do governo alemão também possibilita aos alunos do Colégio Fritz Kliewer fazer provas de proficiência na língua e com isso, futuramente, podem cursar faculdades na Alemanha. “Normalmente nossa porcentagem de alunos que passam na prova de proficiência é de 80% a 90%. Temos vários ex-alunos, que graças ao nível de alemão que tinham, conseguiram vagas em empresas multinacionais aqui no Brasil. Alguns estão morando fora e trabalhando no exterior”, disse a professora Annele Pauls Penner, coordenadora de alemão na escola. 

 

Com apenas 13 anos, Pauline Warkentin, do 8º ano, já é fluente em alemão. Essa é a língua materna dela, apesar de ter nascido no Brasil. O que ela ouviu em casa desde que nasceu foi dito em alemão. “A minha família desde sempre fala alemão, então desde pequenininha eu falo alemão fluentemente. Eu tive que aprender o português na escola”, disse Pauline, com um forte sotaque de estrangeira. 

 

A família dela é descendente dos europeus que saíram da Rússia. “As aulas de alemão aqui na escola são muito boas, estão me ajudando muito a melhorar na língua. Acho muito importante e é uma oportunidade dos alunos que não podem aprender em casa o alemão”, afirmou Pauline. 

 

O domínio da língua alemã foi fundamental para Tiago Augusto Scherer, 29 anos, conseguir o primeiro emprego na multinacional Volkswagen. “As aulas de alemão no colégio foram um grande diferencial para minha contratação. Em casa eu e minha irmã não falávamos alemão, depois que entramos no colégio, com as aulas, pegamos o hábito de falar em casa. Uma língua estrangeira se não é praticada você acaba perdendo e esquecendo. As aulas de alemão no colégio são um grande diferencial e uma grande oportunidade para os alunos”, disse Tiago. 

 

Ele entrou na 5ª série no Colégio Fritz Kliewer e terminou o ensino médio em 2003. Formado em engenharia de materiais, hoje o ex-aluno trabalha na multinacional Trutzschler Indústria e Comércio de Máquinas. “Meus filhos tinham praticamente perdido todo o alemão, principalmente o Tiago. Lá na escola eles reforçaram muito a língua”, disse Ivoni Waldow Scherer, mãe do ex-aluno. 

 

UCRANIANO - Em Prudentópolis, o idioma mais falado nas escolas é o ucraniano. A cidade tem a maior colônia de ucranianos do Brasil e, se depender dos alunos do Colégio Estadual José Orestes Preima, as tradições trazidas pelos primeiros colonizadores serão mantidas por muito tempo. 

 

O Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (Celem) de ucraniano é o curso de línguas mais procurado do colégio. São três turmas no contraturno. A escola também tem a opção do inglês e espanhol. A maioria dos alunos já fala o ucraniano em casa com os pais, mas quer aprender mais sobre a língua que os bisavôs falavam na Ucrânia. 

 

Maria Josiani Lachovicz, 13, do 9º ano, participa das aulas de ucraniano. “Meus pais são descendentes de ucranianos e eu não dominava bem a língua, queria me aperfeiçoar. Antes eu entendia só algumas palavras, agora com o curso consigo escrever também. Pretendo terminar o curso e posso usar esse conhecimento para ser professora, trabalhar com o ucraniano”, disse Maria. 

 

 

 

 

Com AEN

 

 

 

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