"O calor recorde do ano passado resultou da influência do aquecimento global de longo prazo combinada com um forte El Niño no início do ano", afirmou o relatório.
"Os principais indicadores das mudanças climáticas continuaram a refletir tendências consistentes com um planeta aquecido", acrescentou, observando que vários marcadores - como as temperaturas da terra e do oceano, o nível do mar e as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera - bateram recordes estabelecidos apenas um ano antes.
A notícia preocupante chega dois meses depois que o presidente Donald Trump anunciou que os Estados Unidos se retirariam do Acordo de Paris sobre o clima, assinado em 2015 por 195 países, uma decisão que provocou críticas internacionais generalizadas.
Conforme a humanidade continua dependendo da energia dos combustíveis fósseis, níveis sem precedentes de gases de efeito estufa estão poluindo a atmosfera, agindo como um cobertor para reter o calor na Terra, ressaltou o relatório.
Todos os principais gases de efeito estufa que provocam o aquecimento, incluindo o dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso, atingiram novos recordes, afirmou o relatório.
A concentração atmosférica de CO2 atingiu 402,9 partes por milhão (ppm), ultrapassando 400 ppm pela primeira vez no registro moderno e em registros de núcleos de gelo que remontam a 800.000 anos atrás.
"As mudanças climáticas são uma das questões mais urgentes que a humanidade e a vida enfrentam na Terra", disse a publicação revisada por pares, preparada por quase 500 cientistas de todo o mundo e divulgada anualmente pela Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) e a Sociedade Meteorológica Americana.
- Ano mais quente -
O relatório confirmou anúncios anteriores de que 2016 foi o ano mais quente desde que os registros contemporâneos começaram, marcando o terceiro ano consecutivo que os recordes globais foram quebrados em todo o planeta. As temperaturas tanto da superfície terrestre como da superfície do mar atingiram novos índices máximos.
O derretimento das geleiras e calotas polares aumentou os oceanos do mundo, e o nível médio global do mar alcançou um novo recorde em 2016 - cerca de 82 milímetros acima da média de 1993.
O nível global do mar aumentou por seis anos consecutivos, com as maiores taxas de aumento tendo sido observadas nos oceanos Pacífico Ocidental e Índico.
Nas regiões polares, o gelo do mar, tanto no Ártico como na Antártica, atingiu mínimos históricos.
As temperaturas da terra também aumentaram: a temperatura média da superfície terrestre do Ártico foi 2 graus Celsius acima da média de 1981-2010.
Isso representa um aumento de 3,5ºC desde que os registros começaram, em 1900.
- Calor, inundações e seca -
Alguns eventos climáticos extremos aumentaram, como uma atividade ciclônica tropical excepcionalmente alta. Um total de 93 ciclones tropicais nomeados foram observados em todo o mundo em 2016, bem acima da média de 1981-2010, de 82.
O México e a Índia registraram recordes anuais de temperatura.
No norte e leste da península indiana, uma onda de calor de uma semana no final de abril levou as temperaturas a excederem 44ºC, contribuiu para uma crise de água que atingiu 330 milhões de pessoas e provocou 300 mortes, segundo o relatório.
Enquanto isso, a seca foi excepcionalmente generalizada. Pelo menos 12% das superfícies terrestres experimentaram condições de seca severa todos os meses do ano.
"A seca em 2016 foi uma das mais extensas no registro pós-1950", afirmou o relatório.
O nordeste do Brasil teve seu quinto ano consecutivo de seca, o período mais longo registrado na região.
Enquanto isso, o fenômeno meteorológico conhecido como El Niño, que aquece as águas da linha do Equador em partes do Pacífico, foi forte no primeiro semestre de 2016, levando a condições cada vez mais úmidas em alguns lugares.
A Argentina, o Paraguai e o Uruguai registraram repetidas inundações, enquanto partes do leste da Europa e da Ásia central também estiveram mais úmidas do que o habitual.
O estado americano da Califórnia teve seu primeiro ano mais úmido que a média desde 2012, quebrando uma seca que durou vários anos. (Com AFP)