O que se pretende com o projeto é entender, por exemplo, porque determinados tipos de cânceres são mais comuns em certas regiões e como os comportamentos considerados de risco, como os hábitos de fumar e beber, podem levar ao desenvolvimento da doença.
Para que isso seja possível, os pesquisadores vão analisar e traçar o perfil epidemiológico e as assinaturas genéticas de 5 mil pacientes de cinco continentes, que desenvolveram tumores de rim, pâncreas, esôfago ou intestino.
No Brasil, a pesquisa será desenvolvida com o apoio do Hospital do Câncer de Barretos, do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e do A.C. Camargo Cancer Center.
“O câncer não é mais um problema de São Paulo, do Brasil ou dos Estados Unidos. É um problema mundial, existem vários fatores que podem estar relacionados ao processo tumoral e temos que conhecer todos esses fatores para conseguir resolver o problema mundialmente”, disse Vilma Regina Martins, cientista e superintendente de Pesquisa do A.C.Camargo, em entrevista à Agência Brasil. “Quanto mais dados você tiver, tanto em amostras quanto em diversidade de amostras e de cérebros pensando a respeito do problema, aumenta a chance de se fazer alguma coisa relevante”, ressaltou.
Sete principais linhas de pesquisa ou questionamentos serão feitos dentro do projeto. O A.C. Camargo Cancer Center, por exemplo, fará a parte da pesquisa chamada Mutographs of câncer: discovering the causes of câncer through mutational signatures, liderado pelo professor Mike Stratton, diretor de um campus de pesquisa do genoma do Wellcome Trust Sanger Institute, no Reino Unido. Essa linha de trabalho busca entender como a interação de determinada pessoa com o meio ambiente e o tabaco, por exemplo, pode levar ao desenvolvimento da doença.
A pesquisa também pretende identificar que outros fatores, ainda desconhecidos, estão causando alterações na leitura do código genético do DNA e influenciando o desenvolvimento do câncer. Todos esses fatores provocam algum tipo de alteração na leitura do código genético do DNA. Alguns, como os que são provocados pelo tabaco, já foram identificados. Mas, segundo a cientista, há dezenas de outros que provocam alterações no código genético e que ainda não foram identificados. “Conhecemos alguns desses agentes [tabaco, álcool, benzeno, vírus, produtos químicos, entre outros] que são os mais clássicos e que já foram estudados, mas o ponto é: e quando há um perfil que não está associado a nenhum desses agentes que conheço. Qual é esse agente?”, perguntou Vilma.
“Quando se olha para a população mundial, vemos que alguns tumores são mais incidentes em algumas regiões. Pode ser por um fator ambiental como também por um fato genômico ou da genética daquela população, que pode ter algumas alterações que aumentam ou diminuem o risco de desenvolver determinado tumor. Provavelmente o que temos é uma combinação dos dois: do ambiente e da genética dessas pessoas”, disse a cientista.
Outras linhas de pesquisa
Outros questionamentos buscam respostas para o desenvolvimento de vacinas destinadas a prevenir os cânceres não virais e o desenvolvimento de abordagens inovadoras para tornar a doença controlável e não letal, ou abordam a erradicação dos tumores induzidos pelo Epstein-Barr vírus (EBV) e a distinção entre os tumores letais e que precisam de tratamento dos não letais. Também está previsto um mapeamento dos tumores em níveis molecular e celular e uma pesquisa sobre a entrega de macromoléculas biologicamente ativas a qualquer célula do corpo.
A expectativa é de que sejam coletadas amostras de 900 pessoas no Brasil, que serão sequenciadas por meio de um exame de DNA. Essas pessoas terão também que responder a um questionário padronizado que irá ajudar a entender o seu perfil e os hábitos alimentares ou sua exposição a agentes carcinogênicos.
“Ao final de cinco anos [tempo de duração do projeto], a gente imagina que conseguirá identificar outros agentes etiológicos [causadores de doença] que estão associados com o câncer. E, talvez, algumas características populacionais. E aí conseguiremos mapear, no genoma, onde estão essas alterações ou essas diferenças entre as populações e entender porque elas estão em maior risco que outras. Isso será muito importante porque quando se conhece o agente etiológico, de forma geral você consegue fazer a prevenção”, afirmou a cientista. (Com Agência Brasil)