Na decisão, foi determinado que a criança, que tinha três anos na época da disputa judicial, deveria ser "protegida, mas não deve ser afastada totalmente do convívio paterno". Desde então, Araújo tinha autorização para visitar o filho em domingos alternados, na casa de Isamara, entre 9h e 12h. O pai tentava reverter o regime de visitação determinado pela Justiça, sem sucesso, de acordo com consultas a decisões judiciais no Diário de Justiça Eletrônico.
A decisão de 2012 cita que um vídeo foi juntado aos autos, mas foi incompatível com o equipamento disponibilizado ao juiz e não foi assistido para a tomada da decisão. Foi determinada ainda, na ocasião, a avaliação do serviço social para a dinâmica do processo familiar.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados que atuaram no processo.
Na escola, havia a orientação de que somente a mãe, detentora da guarda, poderia buscá-lo. Segundo uma das professoras, o menino dizia que não gostava do pai e que o mataria quando crescesse.
Isamara Filier, 41, e o filho, João Victor Filier de Araujo, 8, foram mortos em uma chacina durante as confraternizações da virada do ano em Campinas, no interior de São Paulo. O autor do crime foi o pai da criança, Sidnei Ramis de Araújo, 46, que se matou após matar a ex-mulher, o filho e outras dez pessoas na festa
Carta
Em uma carta enviada para amigos antes do crime, ele faz críticas à ex-mulher e a acusa de tê-lo afastado do filho. Ele nasceu e morava atualmente em Campinas.
"Ela não merece ser chamada de mãe, mas infelizmente muitas vadias fazem de tudo que é errado para distanciar os filhos dos pais e elas conseguem, pois as leis deste paizeco são para os bandidos e bandidas", diz um trecho da carta (mantido na grafia e com os termos originais).
"Sei que me achava um frouxo em não dar uns tapas na cara dela, más eu não podia te dizer as minhas pretensões em acabar com ela! Tinha que ser no momento certo. Quero pegar o máximo de vadias da família juntas. A injustiça campineira me condenou por algo que não fiz! Espero que eles sejam punidos de alguma forma."
Araújo era técnico de laboratório do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) e trabalhava no órgão desde 1991. Segundo o currículo acadêmico, ele tinha certificações emitidas por empresas do Reino Unido, da Holanda e dos EUA.
De acordo com uma testemunha que estava na casa no momento do ataque, Sidnei pulou o muro, entrou na casa por volta da meia-noite e começou a disparar contra os presentes. Essa mesma testemunha, ao ouvir os primeiros disparos, pensou se tratar de fogos de artifício. Mas viu o tio cair no chão e percebeu o que ocorria. Correu para o banheiro e ligou para a polícia e para unidades de resgate. (Com UOL)