Doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, chamadas arboviroses, representam uma preocupação crescente para a saúde materno-infantil no Brasil.

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) - publicado recentemente sobre saúde pública na revista Nature Communications - analisou mais de 6,9 milhões de nascidos vivos no país entre 2015 e 2020. Ele revelou que a infecção por esses vírus durante a gravidez está associada a maiores riscos de complicações no parto e para os recém-nascidos, incluindo parto prematuro, baixo peso ao nascer e até morte neonatal.
A pesquisa - conduzida por cientistas do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Fiocruz Bahia) - indica que a infecção por arboviroses durante a gestação elevou o risco de parto prematuro, baixo escore de Apgar (avaliação rápida realizada após o nascimento para verificar a adaptação à vida fora do útero) e óbito neonatal.
Anomalias
A dengue, além de estar ligada ao parto antes do tempo e ao baixo peso, também mostrou associação com alterações estruturais e funcionais no desenvolvimento do feto, chamadas de anomalias congênitas.
No caso da zika, os efeitos adversos foram ainda mais amplos, com destaque para a má-formação congênita, cujo risco foi mais que duplicado entre bebês de mães infectadas.
O pesquisador Thiago Cerqueira-Silva avaliou, no entanto, que os padrões de risco variam entre o vírus e o período da infecção.
Risco de morte
“O estudo fornece evidências robustas e detalhadas que desmistificam a ideia de que apenas a zika é uma grande ameaça na gravidez. Demonstramos que a chikungunya e a dengue também têm consequências graves, como o aumento do risco de morte neonatal e anomalias congênitas. Essa informação é crucial para direcionar a atenção clínica e de saúde pública”, explicou.
O pesquisador esclareceu que o estudo traz novas evidências sobre os impactos das infecções por arbovírus na gestação, indicando períodos de maior vulnerabilidade em cada trimestre. A variação do risco sugere que diferentes mecanismos biológicos atuam em cada fase, o que reforça a importância da vigilância e da prevenção ao longo de toda a gravidez.
Prevenção
Para Thiago, os resultados do estudo deixam claro que é preciso fortalecer as medidas de prevenção durante a gestação. Isso não apenas protege a saúde das mães, mas também ajuda a evitar consequências que podem marcar a vida dessas crianças por muitos anos.
Em comunidades vulnerabilizadas, a maior exposição ao mosquito transmissor aumenta o risco de infecção e os efeitos durante a gravidez tendem a ser mais severos. Além disso, o peso financeiro no cuidado de crianças com anomalias congênitas ou complicações neonatais recai de forma desigual sobre famílias com baixa renda.
Diante desse cenário, o pesquisador defende a urgência de ampliar a cobertura vacinal contra dengue, e adicionar a vacinação contra chikungunya na política nacional de imunização.
Deve-se “garantir que as vacinas existentes (dengue e chikungunya) sejam oferecidas gratuitamente e com ampla cobertura, independentemente de sua condição socioeconômica. Além disso, campanhas educacionais informando sobre os riscos associados à dengue e à chikungunya durante a gestação são necessárias, uma vez que atualmente apenas os impactos negativos da zika são bem difundidos”, finalizou.
por - Agência Brasil
Desde 2003, Fernando Henrique dos Santos, 42 anos, sofre com fortes dores, principalmente na coluna.
Em 2018, após receber um diagnóstico de artrite reumatoide - uma doença inflamatória crônica que pode afetar várias articulações – ele foi afastado do trabalho. Em uma de suas últimas consultas médicas realizadas neste ano, no entanto, seu diagnóstico foi alterado para espondilite anquilosante, uma forma de artrite inflamatória que afeta principalmente a coluna vertebral.

Por causa desses diagnósticos, Santos precisa tomar um medicamento chamado infliximabe, que é aplicado a cada oito semanas por meio de uma infusão - e que é de alto custo. O medicamento ele consegue de forma gratuita na cidade onde mora. Porém, o tratamento é mais complicado.
Morador de Guarulhos, na Grande São Paulo, Santos precisava ir até a cidade de Mogi das Cruzes, também na região metropolitana de São Paulo, para que o medicamento pudesse ser aplicado com segurança. Esse serviço era oferecido pelo laboratório que fabricava o remédio e que tinha um acordo com o governo estadual.
“É feito uma infusão que tem que ser [aplicada] com a equipe especializada”, contou. Quando o contrato entre o laboratório e o governo foi rompido, ele teve que passar a fazer o procedimento em uma clínica na zona leste da capital paulista, por meio de seu convênio médico, já que o serviço não estava disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Eu estou afastado do serviço, então eu tenho essa possibilidade de estar me deslocando [entre Guarulhos e a capital paulista]. Para mim, isso não é problema. A minha maior dificuldade é o tratamento em si: pelo SUS eu não consigo [fazer o tratamento]”, disse.
Para a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a falta de centros de infusão no SUS e de protocolos para a aplicação de medicamentos coloca em risco o tratamento de doenças crônicas autoimunes e raras e a perda de medicamentos de alto custo.
Em entrevista à Agência Brasil durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado entre os dias 17 e 20 de setembro em Salvador (BA), o reumatologista Vander Fernandes, coordenador da Comissão de Centros de Terapia Assistida da entidade afirmou que, embora muitos desses medicamentos sejam ofertados gratuitamente pelo sistema público, existe hoje “um vazio entre o doente pegar o remédio e ir a algum lugar que vá atendê-lo e fazer isso com segurança”.
Muitas dessas medicações advindas de biotecnologia são de alto custo e, apesar do fornecimento pelo SUS, não há protocolos que determinem a rede de cuidados para a administração dos medicamentos, que exige atenção especial na manipulação, manutenção, armazenamento e aplicação.
“Há mais de 25 anos que o SUS incorporou esta tecnologia no seu hall de atenção farmacêutica, mas qual foi o erro desde o início? Desde que essa tecnologia de tratamento foi incorporada no SUS, entendeu-se que se tratava apenas de um remédio e colocou-se [esse medicamento] no componente especializado da assistência farmacêutica que atende os pacientes do SUS, fornecendo remédio diretamente aos pacientes. Cada um pega o seu, leva para casa e o usa. Mas isso não está certo. Estes são medicamentos que, às vezes, precisa de um soro, de uma equipe de pré-medicação para observar se não vai dar reação adversa. Alguns desses medicamentos necessitam de infusão longa, de duas a seis horas. E isso não foi contemplado em nenhum momento até hoje na história do SUS”, reforçou.
Um dos prejuízos provocados pela falta desses centros, esclareceu o reumatologista, é que alguns dos remédios exigem assistência no momento da aplicação e de um local adequado para diluição e até armazenamento, já que alguns deles necessitam permanecer em temperaturas específicas. Sem essas condições, o medicamento perde a eficácia.
“Há medicamentos que tem que ser armazenados numa determinada temperatura, em uma cadeia de frio, e que fora da temperatura, ele pode perder a sua qualidade, comprometendo então a sua eficácia e segurança”, ressaltou.
Além disso, destacou o médico, esses centros seriam fundamentais para se observar possíveis intercorrências ou reações alérgicas do paciente.
“Nossa luta é para que o Ministério da Saúde solte esse regramento [sobre os centros de terapia assistida], crie um financiamento para isso e para que os estados e municípios possam aderir a essa política, credenciar serviços e aí sim, pleitear junto ao Ministério um recurso para pagar esses prestadores porque seria necessário ter isso em todas as cidades [do país]”, disse Fernandes.
"Tem pessoas que estão com remédio na mão e não tem onde fazer [a aplicação]. Isso não tem cabimento”, reforçou.
Um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Reumatologia revelou que no Brasil existe apenas 61 centros de terapia assistida, sendo que a maioria é privada e está concentrada na Região Sudeste, principalmente em capitais e grandes cidades.
Apesar de fazerem atendimentos tanto privados quanto públicos, por meio dos programas de apoio da indústria, somente 11 deles têm algum contrato com o SUS. A estimativa é que cerca de 20 mil pacientes realizem tratamentos fornecidos pelo SUS com medicamentos imunobiológicos de aplicação infusional endovenosa, o que necessitaria de assistência especializada para o seu uso.
Em julho de 2023, a Biored Brasil, uma rede de associações de pacientes, realizou uma pesquisa com 761 pacientes que recebem medicamentos de alto custo do SUS. Esse estudo indicou que 10% desses pacientes estavam sem acesso a aplicação e 46% afirmavam que não havia centro de terapia assistida próximo ao local de residência onde poderiam fazer esta aplicação.
Mais da metade desses pacientes (55% do total) declararam pagar entre R$ 150 e R$ 200 por aplicação o que, segundo eles, causava um grande impacto à renda familiar.
Do total de pacientes entrevistados pela rede, apenas 20% declararam realizar a aplicação dos medicamentos em centros de terapia assistidas do SUS.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou que está analisando a criação de pontos para se tornarem centros de terapia intensiva. Esse processo se encontra na fase de estudos técnicos.
Por - Agência Brasil
O Ministério da Saúde lançou nesta quinta-feira (25), em São Paulo, uma campanha para estimular a doação de órgãos no país. O objetivo, diz a pasta, é tentar reverter a recusa de doação, que ainda atinge 45% das famílias brasileiras.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, esclareceu que a principal mensagem que o governo quer trazer para essas famílias é sobre a segurança e sobre a seriedade do Programa Nacional de Transplantes, que é reconhecido mundialmente. Padilha participou do lançamento da campanha no Hospital do Rim, na capital paulista.
"Quando um profissional de saúde vier conversar com a família para fazer essa doação, saiba que esse profissional de saúde tem todo o reconhecimento não só nacional, mas internacional de um programa extremamente seguro”, disse o ministro da Saúde.
“O sistema de saúde brasileiro não tem venda de órgãos, não tem tráfico de órgãos. A gente conseguiu consolidar, ao longo desses anos, um programa extremamente sólido, que faz com que essa família possa ter a absoluta segurança em nossa obra”, acrescentou ele.
Em 2019, uma reportagem da Agência Brasil já alertava que o principal motivo para a não doação de um órgão era a negativa familiar. Segundo o médico José Medina Pestana, superintendente do Hospital do Rim, isso decorre do fato de que as famílias ficam inseguras em fazer a doação quando desconhecem se essa era a vontade do ente querido que morreu.
“Não tem mais nenhuma família que desconfie de morte encefálica, isso está bem claro, já faz parte da cultura do brasileiro, que já entendeu o que é a morte encefálica. Também não tem barreira religiosa: mesmo Testemunhas de Jeová, que não aceitam a transfusão de sangue, aceitam ser doadores e aceitam ser receptores de órgãos. Também não temos nenhuma barreira cultural aqui: por alguma razão cultural, a população brasileira é bastante solidária", descartou.
"A principal razão [para a negativa da doação] – e é por isso que a campanha do Ministério da Saúde reforça isso - é que é preciso avisar à família [que você é um doador]. Quando a família nega, é porque a pessoa nunca falou em vida que queria ser doadora ou não”, acrescentou.
Política nacional
Durante o evento de lançamento da campanha que pretende estimular que as pessoas conversem com suas famílias em vida e se reconheçam como doadoras, o ministro da Saúde também assinou uma portaria que cria a Política Nacional de Doação e Transplantes. Essa foi a primeira vez que a política foi descrita em portaria específica, desde 1997, quando o sistema de doações foi criado.
A política, informa o ministério, organiza os princípios e diretrizes do Sistema Nacional de Transplantes, “reforçando a ética, a transparência, o respeito ao anonimato e a gratuidade no acesso pelo SUS”.
Um dos grandes avanços dessa política, destaca a pasta, é a regulamentação dos transplantes de intestino delgado e multivisceral, que agora foram incluídos no SUS. Com isso, pacientes que tenham falência intestinal poderão ser tratados totalmente na rede pública de saúde, desde a reabilitação intestinal até os procedimentos de pré e pós-transplante.
Outra inovação dessa política é a incorporação do uso rotineiro da membrana amniótica, tecido obtido da placenta após o parto, para pacientes queimados, em especial crianças. Esse procedimento, diz o ministério, favorece a cicatrização e reduz as dores e o risco de infecções.
“A nova política e o regulamento técnico representam um avanço importante para o Sistema Nacional de Transplantes. A redistribuição macrorregional garante que os órgãos sejam direcionados de forma mais eficiente, respeitando as malhas aéreas e assegurando que cheguem mais rapidamente aos hospitais. Isso amplia a possibilidade de transplantes em regiões que hoje realizam menos procedimentos e fortalece a equidade no acesso”, disse o ministro.
Outro lançamento realizado durante o evento foi o do Programa Nacional de Qualidade na Doação de Òrgãos e Tecidos para Transplantes, chamado de Prodot. Esse programa tem o objetivo de reconhecer e valorizar as equipes que atuam dentro dos hospitais e que são as responsáveis pela identificação dos potenciais doadores. Esses profissionais terão incentivos financeiros conforme o volume de atendimento e indicadores de desempenho, incluindo o aumento das doações.
SUS é campeão em transplantes
Atualmente, o Brasil ocupa a terceira posição mundial em número absoluto de procedimentos de transplantes de órgãos, atrás apenas de Estados Unidos e China. No entanto, o país lidera em transplantes realizados integralmente por um sistema público. Só no primeiro semestre deste ano, foram realizados 14,9 mil transplantes, o maior número da série histórica. Mas esse valor poderia ser ainda maior se a recusa não fosse ainda tão grande.
Mais de 80 mil pessoas aguardam por um transplante no Brasil. Por isso, o Ministério da Saúde considera essencial sensibilizar as famílias do país sobre a importância da doação de órgãos, já que são elas que decidem pela doação ainda no hospital.
Com o mote, Doação de Órgãos. Você diz sim, o Brasil inteiro agradece. Converse com a sua família, seja um doador, a campanha começará a ser veiculada ainda neste mês de setembro, quando é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, no dia 27.
Por - Agência Brasil
O Brasil não tem registros que relacionem o uso de paracetamol durante a gravidez com casos de autismo. É o que afirmou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta quarta-feira (24), depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, citou a existência de ligação entre o uso de analgésico na gravidez e o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O caso ganhou repercussão no Brasil, sobretudo entre as mães de crianças com o diagnóstico de autismo. Pelas redes sociais ou em grupos de maternidade, relatos de preocupação e sentimento de culpa.
Para Rayanne Rodrigues, a preocupação maior foi com a “desinformação”. Estudante de Farmácia e mãe de uma criança com autismo nível dois de suporte, ela relata a empatia pelas mulheres que carregam o sentimento de culpa.
"Nós, como mães atípicas, ficamos preocupadas com o tamanho da desinformação que é repassada para frente. Uma mulher grávida já não tem um leque assim muito grande de medicamentos que pode ser tomado durante a gestação", afirmou
"Não é o meu caso, mas tem muitas mães que se culpam pelo filho ter o transtorno, ficam se perguntando o que elas fizeram de errado na gestação. E aí vem uma situação dessa e acaba culpabilizando mais ainda a mãe, sendo que nós não temos culpa. Vários fatores podem ocasionar o autismo", completou Rayanne.
Para tranquilizar a população, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, publicou nas redes sociais um recado sobre a falta de comprovação científica.
"O Tylenol é causa do autismo? Mentira! Não existe nenhum estudo que comprove uma relação entre o paracetamol e o Tylenol com o autismo. Esse tipo de mentira coloca a sua vida e a vida do seu bebê em risco. A Organização Mundial de Saúde, a Anvisa, as principais agências internacionais de proteção à saúde, já deixaram claro: o paracetamol é medicação segura. Aliás, o autismo foi diagnosticado e identificado muito antes de existir paracetamol."
Repercussão mundial
Após a declaração de Trump, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma nota relatando que “atualmente não há evidências científicas conclusivas que confirmem” a ligação do autismo e o paracetamol na gravidez. Na nota, a OMS também citou que nenhuma das muitas pesquisas sobre o assunto encontrou associação consistente.
A Agência de Medicamentos da União Europeia também disse que “atualmente não há novas evidências que exijam alterações nas recomendações atuais de uso” do medicamento pela instituição.
Apesar disso, a FDA dos Estados Unidos, agência reguladora equivalente à Anvisa no Brasil, anunciou ter começado o processo para modificar a bula do paracetamol no país, para refletir as supostas evidências, e informou que emitiu alerta para médicos dos Estados Unidos sobre o medicamento.
No Brasil, a Anvisa informa que o paracetamol é classificado em norma como medicamento de baixo risco e, por isso, faz parte da lista de produtos que não exigem receita médica. De acordo com a agência, a liberação de medicamentos no país segue "critérios técnicos e científicos rigorosos” para garantir qualidade, segurança e eficácia. Mesmo assim, esse tipo de remédio passa por monitoramento.
Por - Agência Brasil
O Ministério da Saúde emitiu uma nota oficial nesta terça-feira (23) para reforçar que o paracetamol, um fármaco de propriedades analgésica e antipirética (redução da febre), é seguro, eficaz e não está relacionado a ocorrência de autismo. A manifestação ocorre um dia depois de o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, ter feito essa correlação, sem apresentar provas, em uma declaração à imprensa.

A desinformação disseminada por Trump também foi negada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelas agências de saúde da União Europeia e do Reino Unido.
"A saúde não pode ser alvo de atos irresponsáveis. A atuação de lideranças políticas na criação de informações deturpadas pode gerar consequências desastrosas para a saúde pública, como vimos na pandemia de Covid-19, com mais de 700 mil vidas perdidas no Brasil", disse o Ministério da Saúde, em nota.
"O anúncio de que autismo é causado pelo uso de paracetamol na gestação pode causar pânico e prejuízo para a saúde de mães e filhos, inclusive com a recusa de tratamento em casos de febre e dor, além do desrespeito às pessoas que vivem com Transtorno do Espectro Autista e suas famílias",
De acordo com o Ministério da Saúde, "o transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades".
Na nota, a pasta diz que busca reverter os prejuízos causados pelo negacionismo no Brasil, "que impactou na adesão da população às vacinas em um país que já foi referência mundial neste tema".
Por - Agência Brasil
Há cerca de duas semanas, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), um órgão colegiado responsável pela fiscalização das políticas públicas de saúde no Brasil, aprovou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas com Doenças Reumáticas.

Formalizada por meio da Resolução 777, a política oferece orientações sobre como os entes federativos devem proceder em relação aos pacientes de doenças reumáticas, buscando melhorar a qualidade de vida e reduzir os custos sociais e econômicos envolvidos nos cuidados a essas doenças. a nova política também fornece diretrizes e protocolos sobre o tratamento das doenças reumáticas, descrevendo as melhores linhas de cuidado para o paciente.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), José Eduardo Martinez, a aprovação dessa política “abre uma oportunidade para que seja criado um modelo que possa ser aplicado no Brasil inteiro”.
“Esse plano dá base para um plano de trabalho. Ele não resolve o problema do paciente reumático, mas estabelece uma forma de melhorar o atendimento do paciente. Esse é um passo inicial que eu acho muito importante”, disse à Agência Brasil, durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, que aconteceu de 17 e 20 de setembro em Salvador.
Segundo André Hayata, coordenador da Comissão de Políticas Públicas e Relações Institucionais da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), que participou da construção do documento, as discussões envolvendo essa política acontecem há muitos anos, mas tiveram que ser interrompidas durante a pandemia do novo coronavírus, sendo retomadas a partir de 2023.
“Fizemos diversas reuniões com várias secretarias do Ministério da Saúde e com associações de pacientes. Escutamos o lado Executivo, o lado Legislativo, o lado Judiciário e, a partir dessa escuta ativa, relacionamos quais eram as dores, até onde cada secretaria teria sua responsabilidade, e não deixamos nenhuma população de fora. Foram ouvidos os povos originários e quilombolas, os presidiários e os pacientes em situação vulnerável. E aí desenhamos e escrevemos junto com o conselho toda a jornada do paciente, do acesso à atenção primária até à atenção especializada”, explicou.
O objetivo dessa política, ressaltou o coordenador, “era desenhar tudo que está envolvido na atenção integral aos pacientes com doença reumática” e que envolve desde ações de acesso ao tratamento e a medicamentos, assunto de grande importância para os pacientes, como também de acesso do paciente a um médico especialista.
“A importância é que agora a gente tem um documento nacional. Agora foi desenhado como vai ser a atenção do paciente em cada município. Alguns estados brasileiros já têm essa política, mas era algo muito pontual e a gente precisava de uma coisa que tivesse um peso nacional”, disse Hayata à Agência Brasil.
Um dos pontos pensado dentro dessa política, de acordo com Hayata, foi a escassez de médicos reumatologistas e de especialistas em algumas partes do país.
“Hoje existe uma concentração de especialistas nas capitais e um vazio gigantesco de especialistas em determinadas regiões. Então, pensamos em como a gente poderia viabilizar o atendimento desses pacientes para que não tenham que viajar tanto [do interior para as capitais, em busca de especialistas]. Pensamos no uso da telemedicina. Conversamos com a secretaria do Ministério [da Saúde] responsável por Saúde Digital. E já existe um programa de acesso a teleconsultas em regiões onde não tem especialistas. Isso está descrito nessa política também. A gente também desenhou nessa política que o paciente que está na atenção secundária pode ser contrarreferenciado na atenção primária, e além disso, analisamos como o médico especialista vai treinar os médicos da atenção primária e agentes comunitários [para esse atendimento]”, explicou.
Com a aprovação da nova política por resolução no último dia 11 de setembro, a expectativa é que esse documento seja pactuado com o Ministério da Saúde, podendo ser discutido e implementado em toda a saúde pública brasileira.
“Ainda temos um longo caminho. Um longo caminho. Ele ainda precisa entrar na pauta de dotação orçamentária, que deve estabelecer quem vai custear cada parte. E depois ainda tem a implementação disso”, disse.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou que "a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas com Doenças Reumáticas, recentemente aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, está em análise no Ministério".
Por meio de nota, a pasta ressaltou que "já instituiu a Política Nacional de Atenção Especializada em Saúde (Portaria GM/MS nº 1.604/2023), que contempla o cuidado a essas pessoas [com doenças reumáticas]".
Além disso, destacou que "o SUS também dispõe de diversos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para o manejo de condições como artrite reumatoide, espondiloartrites, lúpus eritematoso sistêmico e osteoporose".
Doenças reumáticas
As doenças reumáticas afetam aproximadamente 7% da população brasileira, sendo uma das principais causas de afastamento do trabalho e de aposentadoria precoce.
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, mais de 15 milhões de brasileiros sofrem com alguma doença reumática, tais como osteoartrite, mais conhecida como artrose, fibromialgia, osteoporose, gota, tendinite, bursite e artrite reumatoide, entre os mais de 100 tipos existentes dessa doença.
As doenças reumáticas são aquelas que acometem o aparelho locomotor, ou seja, ossos, articulações, cartilagens, músculos, tendões e ligamentos. Algumas dessas doenças também podem comprometer outras partes do corpo humano como rins, coração e pulmão.
A aposentada Antonieta Muniz Alves dos Santos, 57 anos de idade, que vive em Salvador, é uma das afetadas pela doença. Ela tem lúpus há 43 anos.
“Eu tive um diagnóstico de lúpus demorado. Levou 2 anos para eu ter esse diagnóstico. E o lúpus, como todos nós sabemos, é uma doença autoimune. Ela pode acometer vários órgãos, que pode ser o fígado, o rim, o coração, a visão, a audição. E no meu caso, eu tive o comprometimento da visão e da audição. Eu tenho lúpus cutâneo”, explicou à Agência Brasil, ao participar do 10º Encontro Nacional de Pacientes, também realizado em Salvador, ao mesmo tempo que o Congresso Brasileiro de Reumatologia.
“No início, isso me afetou muito. Eu sentia muitas dores articulares. Cheguei a um momento em que não conseguia nem andar, precisava engatinhar pela casa porque era muito inchaço e muitas dores nas mão, nos pés e no corpo todo. Mas atualmente meu lúpus está estável. Como os médicos dizem, eu acho que dependendo da idade e do tempo, o lúpus vai se estabilizando. Atualmente, eu não sinto tanto as dores assim. Sinto dores mais por outros problemas, agora em decorrência da idade, como artrose e artrite, que também são doenças reumáticas”, disse.
Angélica Santos da Nova, 50 anos, de Feira de Santana, na Bahia, também tem lúpus.
“O meu é o lúpus sistêmico. Eu descobri lúpus há 24 anos. Foi difícil o diagnóstico. No passado, a ciência não tinha a expansão que tem hoje. Os médicos não tinham conhecimento, foi muito, muito difícil. E para chegar a esse diagnóstico, eu passei quase 30 dias internada. Teve uma vez em que em um único mês eu precisei ir 17 vezes ao médico”, disse.
Foi só após ouvir o conselho de uma amiga, que ela decidiu procurar uma reumatologista para descobrir o que tinha.
“Quando ela [a médica] me deu o diagnóstico, já fiquei aliviada. Fiquei um pouquinho triste também, já que essa doença não tem cura, mas ela tem tratamento. Se você manter corretamente [o tratamento], você vive bem. E é assim que eu venho fazendo”, disse.
Por - Agência Brasil


























