Um novo estudo de pesquisadores canadenses analisou os resultados de 13 pesquisas anteriores, com dados de 101 países, e reforçou os perigos do álcool para a saúde mental e sua contribuição para casos extremos de autoagressão.
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil neste Setembro Amarelo apontam a necessidade de acolhimento e escuta de pessoas que atravessam questões de saúde mental e situações de sofrimento, além de uma perspectiva de redução de danos para a diminuição da ingestão de álcool e políticas públicas que desestimulem esse consumo. 

Os pesquisadores apontam que, nos países estudados, cada litro no consumo médio de álcool nas populações está associado a um crescimento de 3,59% na taxa de mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes, segundo meta-análise publicada em uma das revistas da Associação Médica Americana.
A pesquisa defende que essas mortes podem ser evitadas “por meio de uma combinação de intervenções em nível individual e populacional”, e que os dados podem ajudar a formular políticas públicas de prevenção, relacionadas ao consumo de álcool.
A psiquiatra Alessandra Dielh, integrante do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas, também investigou o tema durante o seu mestrado. Ao entrevistar pessoas internadas após uma tentativa de suicídio, ela identificou que 21% delas ingeriram álcool antes da autoagressão.
“Muitas delas não eram alcoolistas, propriamente ditas, mas o consumo de álcool era como um disparador para a tentativa. E entre aqueles que realmente têm dependência, essa associação também foi significativa”, complementa.
De acordo com a diretora da Associação Brasileira de Psiquiatria, Miriam Gorender, isso demonstra a amplitude dos efeitos danosos do álcool sobre a saúde mental:
“Não é só a dependência em si, mas o próprio uso agudo do álcool vai agindo ao longo do tempo, e o que ele corrói não volta. Ele provoca sequelas e um sem número de complicações, incluindo a alteração do funcionamento cerebral".
"Um efeito fundamental do álcool é que ele é um depressor do sistema nervoso central. Se a pessoa tem alguma tendência à depressão e faz uso abusivo do álcool, aumenta o risco de desencadear uma depressão. Se a pessoa já tiver depressão, então, ela vai piorar”, explica a psiquiatra.
No entanto, Miriam explica que muitas pessoas são enganadas pelo efeito estimulante e relaxante inicial do álcool e demoram a perceber os efeitos do rebote.
Onde buscar ajuda
Pessoas que estejam sofrendo com ideações suicidas ou outras emoções desafiadoras ou que tenham problemas decorrentes do consumo de álcool podem procurar ajuda nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e Unidades Básicas de Saúde.
Em situações de emergência, também é possível pedir ajuda nas Unidades de Pronto Atendimento e hospitais, ou acionando o SAMU 192.
Além disso, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional para a prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, pelo número 188, e também pela internet, no site cvv.org.br.
Tratamento e apoio
Luciana* foi diagnosticada com TDAH com 9 anos, mas só começou a se tratar na vida adulta. Até conseguir encontrar uma combinação adequada de medicamentos e terapias, acostumou-se a recorrer ao álcool para aliviar “a cabeça acelerada, a ansiedade generalizada, os pensamentos obsessivos”. Decidiu mudar esse padrão quando se tornou mãe, há quatros anos, e se viu “entrando em alcoolismo significativo”.
“Ficava muito pior quando estava bebendo muito, porque, no dia seguinte, a serotonina cai. Principalmente durante episódios de depressão ou do próprio burnout [esgotamento provocado pelo trabalho], beber aliviava na hora, mas eu tinha tantas situações de ansiedade [depois], que a ideação suicida vinha forte. Agora que acertei a medicação e faço tratamento e terapia para o TDAH, as ideações desapareceram. Acho que era muito pelo sofrimento do TDAH e das comorbidades, mas a bebida contibuía bastante. Hoje em dia, estou bem”, ela relata.
Já Gabriela* só entendeu totalmente esse efeito quando decidiu reduzir seu consumo de álcool. Ela conta que, dos 18 aos 26 anos, bebia muito em festas, bares e reuniões com amigos, mas achava que a “ressaca moral” que sentia nos dias seguintes era resultado das ações que tomava, quando o álcool cortava sua inibição. Então, começou a se relacionar com uma pessoa que bebia pouco, e acabou sendo influenciada por ele.
“Aí, eu comecei a pensar: se agora eu estou tendo um pouco mais de controle, bebendo menos, não tendo comportamento de risco, e mesmo assim eu continuo no outro dia me sentindo esse lixo, alguma coisa está errada, né?”.
O estranhamento a levou a procurar uma nova psiquiatra, que atualizou o diagnóstico de Gabriela, de uma depressão combinada com ansiedade, para o distúrbio bipolar tipo 2. O diagnóstico esclareceu porque ela não conseguia parar de beber depois de dar o primeiro gole e também porque se descontrolava quando estava alcoolizada.
Junto com esse diagnóstico, veio uma decisão radical: “Eu entendi que eu teria que parar de beber. A partir do momento que você tem ciência de que aquilo te faz mal psicologicamente, fisicamente, financeiramente, moralmente, de todas as formas, você precisa fazer uma escolha, porque o álcool não é uma necessidade. Você não precisa beber pra estar vivo.
"Antes, eu achava que eu precisava beber pra estar feliz, pra estar entre as pessoas que eu gosto, pra aproveitar a vida. Hoje, eu entendo que eu não preciso do álcool pra isso.”
A psicóloga Maria Carolina Roseiro, membro do Conselho Federal de Psicologia, reforça que a onipresença do álcool nas situações de celebração e o contexto social dificultam escolhas mais saudáveis, como as feitas por Gabriela.
“A gente vive em uma cultura que valoriza muito o álcool, que é muito permissiva com o álcool, mas, ao mesmo tempo, tem barreiras morais que dificultam as buscar informação adequada, conversar com os profissionais de saúde de forma aberta sobre o consumo de álcool e confiar no profissional da saúde”.
Redução de danos
A história de Adriana* com o álcool é permeada por essas armadilhas sociais. Ela conta que começou a beber mais a partir dos 30 anos, especialmente depois de se mudar para um estado rural em outro país, “onde a bebida era a principal diversão". Adriana passou a viver rodeada de pessoas que também ingeriam grande quantidade de álcool e "não via outro jeito de socializar a não ser bebendo”.
Em 2012, veio a primeira tentativa de parar de beber, abandonada pouco depois por pressão dos amigos. Em 2020, após um divórcio e em meio ao isolamento social da pandemia, o problema se agravou. “Eu consumia tranquilamente três garrafas de vinho por noite, e depois ficava com uma depressão, com um sentimento de culpa. Eu falava pra mim mesma: 'você bebeu em casa, não fez nada de errado', mas, mesmo assim, ficava deprimidíssima, uma tristeza infinita”.
De lá pra cá, sua relação com o álcool tem variado da sobriedade total ao consumo esporádico de um drink ou uma taça de vinho em situações bastante especiais e planejadas.
“Tem todo um trabalho que eu preciso fazer pra não beber. Eu penso: Eu quero me sentir assim de novo? O que vai acontecer daqui a oito, dez horas? Eu preciso disso? Eu quero viver tudo aquilo de novo?”, conta Adriana.
Por causa dessa influência social e cultural, o Conselho Federal de Psicologia defende a redução de danos no consumo do álcool, afirma a conselheira Maria Carolina Roseiro.
A psicóloga explica que a abstinência obrigatória pode afastar dos serviços de saúde muitas pessoas que não reconhecem ter problemas decorrentes do consumo de álcool, ou que não se sentem capazes de parar de beber.
“É uma intervenção pensando o contexto de vida dessa pessoa, para promover qualidade de vida, numa ideia mais ampliada de saúde. Então, a redução de danos vai observar como estão as relações familiares, que lugar essa substância ocupa na dinâmica social dessa pessoa, como é a história de vida dela, o que tem no contexto social e cultura que agrava a situação, para a gente conseguir intervir melhor, tanto em quem vai interromper o uso quanto em quem não quer interromper o uso”
Controle do consumo de álcool
No último relatório global publicado sobre álcool, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atribuiu a essa droga 18% das mortes autoprovocadas ocorridas em 2019, o que representa mais de 203 mil pessoas em todo o mundo.
Um dos principais estudos brasileiros sobre o tema, feito em 2002, analisou dados de 15 mil pessoas que morreram por suicídio e mostrou que quase 97% delas tinham algum diagnóstico de transtorno mental, sendo a depressão o mais frequente, seguida pelas condições relacionadas ao uso de substâncias psicoativas, principalmente o álcool.
Além disso, dados da OMS e do Ministério da Saúde mostram a dimensão do problema do álcool no Brasil. Em 2019, a quantidade de álcool consumida por pessoa foi 7,7 litros, bem acima da média mundial de 5,5 litros. Além disso, o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, identificou que mais de 20% dos adultos do país faziam uso abusivo de álcool no Brasil em 2023.
O Brasil tem como meta reduzir essa proporção para 17% até 2030. Para a psiquiatra Alessandra Dielh, isso depende de decisões políticas difíceis.
“A gente tem uma indústria do álcool muito poderosa, que interfere nas políticas públicas brasileiras. A gente não tem mais propaganda de destilados em rede de TV aberta, mas a cerveja entra como se nem fosse alcoólica, e ocupa grande parte da programação com propagandas muito bem feitas. As políticas públicas têm que atingir essa população que já adoeceu, mas elas precisam mirar também na redução de demanda, através de prevenção universal para todos”
De acordo com a diretora da Associação Brasileira de Psiquiatria, Miriam Gondenberg, há exemplos no mundo de estratégias bem sucedidas que podem ser seguidas.
“Alguns anos atrás, a Rússia fez uma campanha muito interessante para reduzir o consumo de álcool, com aumento da taxação, que fez a bebida ficar mais cara, e com intervenções na propaganda também. E a Rússia tem um consumo de álcool muito alto. Durante esse período, as taxas de suicídio caíram significativamente. Quando a campanha terminou, elas voltaram a crescer”, ela acrescenta.
As duas especialistas também enfatizam que é preciso aumentar o controle do consumo entre os adolescentes, que continua acontecendo, apesar da legislação proibir a venda e a entrega de bebidas para este público.
“Nós, brasileiros, não conseguimos regulamentar isso ainda. Conseguimos botar na lei, mas não conseguimos fazer, o que se diz com uma palavrinha em inglês, que se chama enforcement (a capacidade do poder público de fazer uma lei ser cumprida). O adolescente no Brasil compra bebida com muita facilidade. E o adolescente tem o cérebro ainda em desenvolvimento, é um período extremamente precioso, que se diz na psiquiatria, que está ocorrendo a sintonia fina do nosso cérebro”, destaca Alessandra Diehl
Por - Agência Brasil
Alarmadas com os casos de intoxicação, no estado de São Paulo, por ingestão de metanol em bebidas adulteradas, a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) e a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO) publicaram notas com alertas sobre a situação. 

A Abrade manifestou sua "profunda preocupação e solidariedade às vítimas e familiares" após a confirmação dos casos de intoxicação, que incluem duas mortes, por ingestão de metanol misturado a bebidas adulteradas.
"[A entidade] atua fortemente no combate ao mercado ilegal de bebidas, na orientação sobre o cumprimento das exigências técnicas e regulatórias do setor e na promoção do consumo responsável."
Segundo a associação, que acompanha operações de combate à comercialização de produtos ilícitos, apenas em 2025, o volume de apreensões foi superior a 160 mil produtos falsificados, além de insumos e equipamentos.
"A Abrabe reitera o compromisso com a proteção do consumidor e com a defesa do mercado legal, seguro e responsável e seguirá contribuindo com os Governos Federal e Estadual para proteção da população", diz a nota.
Cegueira
Já a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia fez um alerta sobre os riscos de o consumo de metanol causar neuropatia óptica, "uma doença grave que pode causar perda de visão irreversível", descreve a nota enviada à Agência Brasil.
Segundo a associação, entre 12 horas e 24 horas após o consumo, podem surgir sintomas de intoxicação como "dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e, principalmente, visão turva repentina ou até cegueira."
De acordo com a ABNO, o diagnóstico deve ser feito a partir da história clínica do paciente e por exames de sangue e de imagem.
O tratamento deve ser imediato e com uso de antídotos (como o etanol venoso), bicarbonato para corrigir a acidez no sangue, vitaminas (ácido fólico/folínico) e, nos casos mais graves, hemodiálise para remover o veneno.
Entenda
Nos últimos 25 dias, nove pessoas apresentaram intoxicação após o consumo de bebida alcoólica adulterada com metanol. Duas pessoas morreram.
A situação crítica levou a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP) a publicarem uma nota técnica com recomendações urgentes aos estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas no estado de São Paulo.
Leia a nota aqui.
Por - AgÊncia Brasil
Doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, chamadas arboviroses, representam uma preocupação crescente para a saúde materno-infantil no Brasil.

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) - publicado recentemente sobre saúde pública na revista Nature Communications - analisou mais de 6,9 milhões de nascidos vivos no país entre 2015 e 2020. Ele revelou que a infecção por esses vírus durante a gravidez está associada a maiores riscos de complicações no parto e para os recém-nascidos, incluindo parto prematuro, baixo peso ao nascer e até morte neonatal.
A pesquisa - conduzida por cientistas do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Fiocruz Bahia) - indica que a infecção por arboviroses durante a gestação elevou o risco de parto prematuro, baixo escore de Apgar (avaliação rápida realizada após o nascimento para verificar a adaptação à vida fora do útero) e óbito neonatal.
Anomalias
A dengue, além de estar ligada ao parto antes do tempo e ao baixo peso, também mostrou associação com alterações estruturais e funcionais no desenvolvimento do feto, chamadas de anomalias congênitas.
No caso da zika, os efeitos adversos foram ainda mais amplos, com destaque para a má-formação congênita, cujo risco foi mais que duplicado entre bebês de mães infectadas.
O pesquisador Thiago Cerqueira-Silva avaliou, no entanto, que os padrões de risco variam entre o vírus e o período da infecção.
Risco de morte
“O estudo fornece evidências robustas e detalhadas que desmistificam a ideia de que apenas a zika é uma grande ameaça na gravidez. Demonstramos que a chikungunya e a dengue também têm consequências graves, como o aumento do risco de morte neonatal e anomalias congênitas. Essa informação é crucial para direcionar a atenção clínica e de saúde pública”, explicou.
O pesquisador esclareceu que o estudo traz novas evidências sobre os impactos das infecções por arbovírus na gestação, indicando períodos de maior vulnerabilidade em cada trimestre. A variação do risco sugere que diferentes mecanismos biológicos atuam em cada fase, o que reforça a importância da vigilância e da prevenção ao longo de toda a gravidez.
Prevenção
Para Thiago, os resultados do estudo deixam claro que é preciso fortalecer as medidas de prevenção durante a gestação. Isso não apenas protege a saúde das mães, mas também ajuda a evitar consequências que podem marcar a vida dessas crianças por muitos anos.
Em comunidades vulnerabilizadas, a maior exposição ao mosquito transmissor aumenta o risco de infecção e os efeitos durante a gravidez tendem a ser mais severos. Além disso, o peso financeiro no cuidado de crianças com anomalias congênitas ou complicações neonatais recai de forma desigual sobre famílias com baixa renda.
Diante desse cenário, o pesquisador defende a urgência de ampliar a cobertura vacinal contra dengue, e adicionar a vacinação contra chikungunya na política nacional de imunização.
Deve-se “garantir que as vacinas existentes (dengue e chikungunya) sejam oferecidas gratuitamente e com ampla cobertura, independentemente de sua condição socioeconômica. Além disso, campanhas educacionais informando sobre os riscos associados à dengue e à chikungunya durante a gestação são necessárias, uma vez que atualmente apenas os impactos negativos da zika são bem difundidos”, finalizou.
por - Agência Brasil
Desde 2003, Fernando Henrique dos Santos, 42 anos, sofre com fortes dores, principalmente na coluna.
Em 2018, após receber um diagnóstico de artrite reumatoide - uma doença inflamatória crônica que pode afetar várias articulações – ele foi afastado do trabalho. Em uma de suas últimas consultas médicas realizadas neste ano, no entanto, seu diagnóstico foi alterado para espondilite anquilosante, uma forma de artrite inflamatória que afeta principalmente a coluna vertebral.

Por causa desses diagnósticos, Santos precisa tomar um medicamento chamado infliximabe, que é aplicado a cada oito semanas por meio de uma infusão - e que é de alto custo. O medicamento ele consegue de forma gratuita na cidade onde mora. Porém, o tratamento é mais complicado.
Morador de Guarulhos, na Grande São Paulo, Santos precisava ir até a cidade de Mogi das Cruzes, também na região metropolitana de São Paulo, para que o medicamento pudesse ser aplicado com segurança. Esse serviço era oferecido pelo laboratório que fabricava o remédio e que tinha um acordo com o governo estadual.
“É feito uma infusão que tem que ser [aplicada] com a equipe especializada”, contou. Quando o contrato entre o laboratório e o governo foi rompido, ele teve que passar a fazer o procedimento em uma clínica na zona leste da capital paulista, por meio de seu convênio médico, já que o serviço não estava disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Eu estou afastado do serviço, então eu tenho essa possibilidade de estar me deslocando [entre Guarulhos e a capital paulista]. Para mim, isso não é problema. A minha maior dificuldade é o tratamento em si: pelo SUS eu não consigo [fazer o tratamento]”, disse.
Para a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a falta de centros de infusão no SUS e de protocolos para a aplicação de medicamentos coloca em risco o tratamento de doenças crônicas autoimunes e raras e a perda de medicamentos de alto custo.
Em entrevista à Agência Brasil durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado entre os dias 17 e 20 de setembro em Salvador (BA), o reumatologista Vander Fernandes, coordenador da Comissão de Centros de Terapia Assistida da entidade afirmou que, embora muitos desses medicamentos sejam ofertados gratuitamente pelo sistema público, existe hoje “um vazio entre o doente pegar o remédio e ir a algum lugar que vá atendê-lo e fazer isso com segurança”.
Muitas dessas medicações advindas de biotecnologia são de alto custo e, apesar do fornecimento pelo SUS, não há protocolos que determinem a rede de cuidados para a administração dos medicamentos, que exige atenção especial na manipulação, manutenção, armazenamento e aplicação.
“Há mais de 25 anos que o SUS incorporou esta tecnologia no seu hall de atenção farmacêutica, mas qual foi o erro desde o início? Desde que essa tecnologia de tratamento foi incorporada no SUS, entendeu-se que se tratava apenas de um remédio e colocou-se [esse medicamento] no componente especializado da assistência farmacêutica que atende os pacientes do SUS, fornecendo remédio diretamente aos pacientes. Cada um pega o seu, leva para casa e o usa. Mas isso não está certo. Estes são medicamentos que, às vezes, precisa de um soro, de uma equipe de pré-medicação para observar se não vai dar reação adversa. Alguns desses medicamentos necessitam de infusão longa, de duas a seis horas. E isso não foi contemplado em nenhum momento até hoje na história do SUS”, reforçou.
Um dos prejuízos provocados pela falta desses centros, esclareceu o reumatologista, é que alguns dos remédios exigem assistência no momento da aplicação e de um local adequado para diluição e até armazenamento, já que alguns deles necessitam permanecer em temperaturas específicas. Sem essas condições, o medicamento perde a eficácia.
“Há medicamentos que tem que ser armazenados numa determinada temperatura, em uma cadeia de frio, e que fora da temperatura, ele pode perder a sua qualidade, comprometendo então a sua eficácia e segurança”, ressaltou.
Além disso, destacou o médico, esses centros seriam fundamentais para se observar possíveis intercorrências ou reações alérgicas do paciente.
“Nossa luta é para que o Ministério da Saúde solte esse regramento [sobre os centros de terapia assistida], crie um financiamento para isso e para que os estados e municípios possam aderir a essa política, credenciar serviços e aí sim, pleitear junto ao Ministério um recurso para pagar esses prestadores porque seria necessário ter isso em todas as cidades [do país]”, disse Fernandes.
"Tem pessoas que estão com remédio na mão e não tem onde fazer [a aplicação]. Isso não tem cabimento”, reforçou.
Um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Reumatologia revelou que no Brasil existe apenas 61 centros de terapia assistida, sendo que a maioria é privada e está concentrada na Região Sudeste, principalmente em capitais e grandes cidades.
Apesar de fazerem atendimentos tanto privados quanto públicos, por meio dos programas de apoio da indústria, somente 11 deles têm algum contrato com o SUS. A estimativa é que cerca de 20 mil pacientes realizem tratamentos fornecidos pelo SUS com medicamentos imunobiológicos de aplicação infusional endovenosa, o que necessitaria de assistência especializada para o seu uso.
Em julho de 2023, a Biored Brasil, uma rede de associações de pacientes, realizou uma pesquisa com 761 pacientes que recebem medicamentos de alto custo do SUS. Esse estudo indicou que 10% desses pacientes estavam sem acesso a aplicação e 46% afirmavam que não havia centro de terapia assistida próximo ao local de residência onde poderiam fazer esta aplicação.
Mais da metade desses pacientes (55% do total) declararam pagar entre R$ 150 e R$ 200 por aplicação o que, segundo eles, causava um grande impacto à renda familiar.
Do total de pacientes entrevistados pela rede, apenas 20% declararam realizar a aplicação dos medicamentos em centros de terapia assistidas do SUS.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou que está analisando a criação de pontos para se tornarem centros de terapia intensiva. Esse processo se encontra na fase de estudos técnicos.
Por - Agência Brasil
O Ministério da Saúde lançou nesta quinta-feira (25), em São Paulo, uma campanha para estimular a doação de órgãos no país. O objetivo, diz a pasta, é tentar reverter a recusa de doação, que ainda atinge 45% das famílias brasileiras.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, esclareceu que a principal mensagem que o governo quer trazer para essas famílias é sobre a segurança e sobre a seriedade do Programa Nacional de Transplantes, que é reconhecido mundialmente. Padilha participou do lançamento da campanha no Hospital do Rim, na capital paulista.
"Quando um profissional de saúde vier conversar com a família para fazer essa doação, saiba que esse profissional de saúde tem todo o reconhecimento não só nacional, mas internacional de um programa extremamente seguro”, disse o ministro da Saúde.
“O sistema de saúde brasileiro não tem venda de órgãos, não tem tráfico de órgãos. A gente conseguiu consolidar, ao longo desses anos, um programa extremamente sólido, que faz com que essa família possa ter a absoluta segurança em nossa obra”, acrescentou ele.
Em 2019, uma reportagem da Agência Brasil já alertava que o principal motivo para a não doação de um órgão era a negativa familiar. Segundo o médico José Medina Pestana, superintendente do Hospital do Rim, isso decorre do fato de que as famílias ficam inseguras em fazer a doação quando desconhecem se essa era a vontade do ente querido que morreu.
“Não tem mais nenhuma família que desconfie de morte encefálica, isso está bem claro, já faz parte da cultura do brasileiro, que já entendeu o que é a morte encefálica. Também não tem barreira religiosa: mesmo Testemunhas de Jeová, que não aceitam a transfusão de sangue, aceitam ser doadores e aceitam ser receptores de órgãos. Também não temos nenhuma barreira cultural aqui: por alguma razão cultural, a população brasileira é bastante solidária", descartou.
"A principal razão [para a negativa da doação] – e é por isso que a campanha do Ministério da Saúde reforça isso - é que é preciso avisar à família [que você é um doador]. Quando a família nega, é porque a pessoa nunca falou em vida que queria ser doadora ou não”, acrescentou.
Política nacional
Durante o evento de lançamento da campanha que pretende estimular que as pessoas conversem com suas famílias em vida e se reconheçam como doadoras, o ministro da Saúde também assinou uma portaria que cria a Política Nacional de Doação e Transplantes. Essa foi a primeira vez que a política foi descrita em portaria específica, desde 1997, quando o sistema de doações foi criado.
A política, informa o ministério, organiza os princípios e diretrizes do Sistema Nacional de Transplantes, “reforçando a ética, a transparência, o respeito ao anonimato e a gratuidade no acesso pelo SUS”.
Um dos grandes avanços dessa política, destaca a pasta, é a regulamentação dos transplantes de intestino delgado e multivisceral, que agora foram incluídos no SUS. Com isso, pacientes que tenham falência intestinal poderão ser tratados totalmente na rede pública de saúde, desde a reabilitação intestinal até os procedimentos de pré e pós-transplante.
Outra inovação dessa política é a incorporação do uso rotineiro da membrana amniótica, tecido obtido da placenta após o parto, para pacientes queimados, em especial crianças. Esse procedimento, diz o ministério, favorece a cicatrização e reduz as dores e o risco de infecções.
“A nova política e o regulamento técnico representam um avanço importante para o Sistema Nacional de Transplantes. A redistribuição macrorregional garante que os órgãos sejam direcionados de forma mais eficiente, respeitando as malhas aéreas e assegurando que cheguem mais rapidamente aos hospitais. Isso amplia a possibilidade de transplantes em regiões que hoje realizam menos procedimentos e fortalece a equidade no acesso”, disse o ministro.
Outro lançamento realizado durante o evento foi o do Programa Nacional de Qualidade na Doação de Òrgãos e Tecidos para Transplantes, chamado de Prodot. Esse programa tem o objetivo de reconhecer e valorizar as equipes que atuam dentro dos hospitais e que são as responsáveis pela identificação dos potenciais doadores. Esses profissionais terão incentivos financeiros conforme o volume de atendimento e indicadores de desempenho, incluindo o aumento das doações.
SUS é campeão em transplantes
Atualmente, o Brasil ocupa a terceira posição mundial em número absoluto de procedimentos de transplantes de órgãos, atrás apenas de Estados Unidos e China. No entanto, o país lidera em transplantes realizados integralmente por um sistema público. Só no primeiro semestre deste ano, foram realizados 14,9 mil transplantes, o maior número da série histórica. Mas esse valor poderia ser ainda maior se a recusa não fosse ainda tão grande.
Mais de 80 mil pessoas aguardam por um transplante no Brasil. Por isso, o Ministério da Saúde considera essencial sensibilizar as famílias do país sobre a importância da doação de órgãos, já que são elas que decidem pela doação ainda no hospital.
Com o mote, Doação de Órgãos. Você diz sim, o Brasil inteiro agradece. Converse com a sua família, seja um doador, a campanha começará a ser veiculada ainda neste mês de setembro, quando é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, no dia 27.
Por - Agência Brasil
O Brasil não tem registros que relacionem o uso de paracetamol durante a gravidez com casos de autismo. É o que afirmou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta quarta-feira (24), depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, citou a existência de ligação entre o uso de analgésico na gravidez e o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O caso ganhou repercussão no Brasil, sobretudo entre as mães de crianças com o diagnóstico de autismo. Pelas redes sociais ou em grupos de maternidade, relatos de preocupação e sentimento de culpa.
Para Rayanne Rodrigues, a preocupação maior foi com a “desinformação”. Estudante de Farmácia e mãe de uma criança com autismo nível dois de suporte, ela relata a empatia pelas mulheres que carregam o sentimento de culpa.
"Nós, como mães atípicas, ficamos preocupadas com o tamanho da desinformação que é repassada para frente. Uma mulher grávida já não tem um leque assim muito grande de medicamentos que pode ser tomado durante a gestação", afirmou
"Não é o meu caso, mas tem muitas mães que se culpam pelo filho ter o transtorno, ficam se perguntando o que elas fizeram de errado na gestação. E aí vem uma situação dessa e acaba culpabilizando mais ainda a mãe, sendo que nós não temos culpa. Vários fatores podem ocasionar o autismo", completou Rayanne.
Para tranquilizar a população, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, publicou nas redes sociais um recado sobre a falta de comprovação científica.
"O Tylenol é causa do autismo? Mentira! Não existe nenhum estudo que comprove uma relação entre o paracetamol e o Tylenol com o autismo. Esse tipo de mentira coloca a sua vida e a vida do seu bebê em risco. A Organização Mundial de Saúde, a Anvisa, as principais agências internacionais de proteção à saúde, já deixaram claro: o paracetamol é medicação segura. Aliás, o autismo foi diagnosticado e identificado muito antes de existir paracetamol."
Repercussão mundial
Após a declaração de Trump, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma nota relatando que “atualmente não há evidências científicas conclusivas que confirmem” a ligação do autismo e o paracetamol na gravidez. Na nota, a OMS também citou que nenhuma das muitas pesquisas sobre o assunto encontrou associação consistente.
A Agência de Medicamentos da União Europeia também disse que “atualmente não há novas evidências que exijam alterações nas recomendações atuais de uso” do medicamento pela instituição.
Apesar disso, a FDA dos Estados Unidos, agência reguladora equivalente à Anvisa no Brasil, anunciou ter começado o processo para modificar a bula do paracetamol no país, para refletir as supostas evidências, e informou que emitiu alerta para médicos dos Estados Unidos sobre o medicamento.
No Brasil, a Anvisa informa que o paracetamol é classificado em norma como medicamento de baixo risco e, por isso, faz parte da lista de produtos que não exigem receita médica. De acordo com a agência, a liberação de medicamentos no país segue "critérios técnicos e científicos rigorosos” para garantir qualidade, segurança e eficácia. Mesmo assim, esse tipo de remédio passa por monitoramento.
Por - Agência Brasil










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