Mas, ao contrário do programa inspirado no livro homônimo de Luis Fernando Veríssimo, de 77 anos, ainda existe muita gente querendo casar.
Por mais que os índices mostrem que as pessoas estão se divorciando mais - foram mais de 341 mil separações em 2012 -, uma parcela ainda considerável mantém a vontade de oficializar seu romance, seja no cartório ou em uma cerimônia religiosa. O desejo de juntar as escovas sempre persiste. Mas de onde vem esse anseio de expor essa união à sociedade?
Segundo a psicóloga Neide Nicoletti, da clínica Psicólogos da Mooca em SP, essa foi a forma que as pessoas encontraram de se sentirem seguras. "Quando formalizamos algo, estamos dando credibilidade. Fechamos negócios com papéis, escrituras para casas, cartórios, firmas registradas. Precisamos de documentos provando que estamos seguros", explica ela.
Mas o casamento também cria uma sensação de insegurança, pois, independente do amor ou da paixão que nos move, casar não é apenas mudar de status, mas de vida. É trazer para o seu cotidiano alguém totalmente diferente, com uma criação, manias e crenças de certo e errado que podem ser radicalmente distintas das nossas.
Até por isso, é bom se perguntar antes de pensar em compartilhar a gaveta de roupas íntimas: eu conheço, de fato, a pessoa com quem pretendo me casar? Essa é a pessoa ideal para compartilhar casa, família, dinheiro e ter uma vida em comum?
Às vezes o casamento se dá no momento de paixão avassaladora, quando achamos que encontramos a tampa de nossa panela, e só depois é que nos damos conta de que as coisas não eram bem como imaginávamos.
"É preciso considerar que casar não é viver com um príncipe ou com uma princesinha encantada, mas com uma pessoa real, única, com um passado e uma família diferentes do que se está acostumado", explica a psicóloga.
E Veríssimo sabia muito bem disso ao escrever cada um dos 50 textos de sua coletânea lançada agora em janeiro. Mas, apesar do que o título possa sugerir, as histórias pouco têm de autobiográfico, já que o autor está casado há 50 anos com a mesma mulher. Mas qual será seu segredo?
Para dar certo existe uma fórmula muito inteligente a seguir: não projetar no outro aquilo que esperamos dele ou aspectos pessoais dos quais nos orgulhamos. "Irritamo-nos com nossos desejos não realizados, com as diferenças, com as frustrações de não sermos atendidos nas nossas necessidades, com a triste realidade de nunca podermos mudar o outro", conta Neide. E aí, vai-se pelo cano todo o amor.
Para que a felicidade se instale no lar dos recém-casados (e dos não tão recém-casados também), é preciso que cada uma das partes não perca sua individualidade, mas saiba compartilhar sua vida com o outro. É necessário aceitar seu par como ele é, manter o diálogo saudável, o sexo ativo e o amor sendo demonstrado. Se tudo isso estiver em dia, ficará muito mais fácil lidar com os problemas e não acabar virando o exemplo de um conto de Veríssimo.
* Serviço: Psicólogos da Mooca
Por Juliany Bernardo (MBPress) via Vila Mulher