Segunda, 21 Outubro 2013 21:29

Que lições podemos tirar do Caso Fran? Entenda

Recentemente um vídeo de uma jovem de 19 anos em atos sexuais se espalhou pelas redes sociais. A moradora de Goiás seria amante do rapaz que registrou as imagens.

 

Ela teria se deixado filmar depois que o parceiro prometeu que salvaria o vídeo em uma pasta oculta de celular.

 

A delegada que investiga o "Caso Fran", Ana Elisa Martins, acredita que o vídeo erótico se espalhou depois que o autor o compartilhou com amigos pelo WhatsApp.

 

O vídeo do "caso Fran" teve repercussão nacional. A jovem registrou boletim de ocorrência no começo deste mês e está afastada do emprego. O autor das imagens deve ser chamado para prestar depoimento. Segundo a delegada, com base na Lei Maria da Penha, o crime é caracterizado como difamação e prevê pena de três meses a um ano. E em meio a críticas e manifestações de apoio à jovem, várias pessoas postaram fotos nas redes sociais fazendo um gesto de "Ok" com as mãos, o mesmo que é feito no vídeo pela menina.

 

A psicóloga clínica Marisa de Abreu pensa que a jovem não é vítima, pois autorizou a filmagem. Se não queria que algo fosse divulgado, que não registrasse. Já o psicoterapeuta clínico Elídio Almeida pensa que sim, já que ela era a parte mais frágil e exposta na história e que sua intenção em participar da filmagem foi totalmente diferente da intenção do rapaz. Mas ambos concordam que ela não previu as consequências da filmagem.

 

"A gente sabe que essa situação não é nova. Por isso, muitas pessoas já deveriam ter aprendido que esse não é um comportamento vantajoso, tanto pessoal, quanto socialmente", avalia o psicoterapeuta. "A maioria das pessoas que se envolve em situações desse tipo não pensa nas consequências dos seus comportamentos. Esse registro diz respeito apenas ao casal e guardá-lo na memória deveria ser mais que suficiente."

 

Para o especialista, os homens que fazem filmagens com essas geralmente querem mostrar ao mundo sua virilidade, poder e desempenho sexual, ainda que isso seja feito às custas da exposição de sua parceira. Outra motivação seria o reconhecimento. O homem que consegue fazer um registro desses é altamente valorizado pelos seus amigos e colegas, o que estimula cada vez mais sua ocorrência.

 

No caso das mulheres, Dr. Elídio pensa que, por algumas delas ainda se sentirem menores na relação, acreditam que, ao fazer sempre a vontade do parceiro, ainda que isso vá de encontro aos seus princípios e convicções, serão reconhecidas como especiais. Uma pessoa que está numa relação com a posição de amante pode crer que uma filmagem dessa ajuda a "fidelizar" o homem, se tornando única para ele. "Há poucos casos em que o elemento ‘chamar a atenção’ impera. Além disso, muitas delas acreditam que realmente nada daquilo se tornará público."

 

Dra. Marisa de Abreu diz que autoestima rebaixada, sexualidade um tanto exacerbada e necessidade de chocar o outro podem levar uma pessoa a se deixar filmar em momentos íntimos como esses. "Romper algumas regras (como a que determina que a intimidade deve ser preservada) pode ser muito estimulante. E saber onde está a fina linha que divide a vanguarda da depravação é algo que necessita muita avaliação e nada de comportamento impulsivo."

 

 

E a conduta do homem nessa história?

 

Se fosse um homem será que a repercussão seria diferente? "Sim! A sociedade é machista. O homem que cai numa dessa leva tapinha nas costas e é chamado de garanhão. A mulher leva tapa na cara e é chamada de nomes bem mais feios", diz Marisa. Dr. Elídio completa: "Pouco ou quase nada foi dito sobre a conduta do rapaz em filmar. É como se, culturalmente, isso fosse legítimo por parte do homem e que a inadequada na história fosse apenas a mulher. Quantas das mulheres e homens que criticaram as cenas não fizeram ou farão as mesmas coisas? Todos nós somos vítimas e algozes da nossa forma de lidar com as intimidades (próprias e alheias)."

 

Diante de tanta repercussão é preciso tirar alguma lição disso tudo. Na opinião do Dr. Elídio, vivemos numa sociedade do espetáculo e da total falta de privacidade. Por isso, é preciso pensar nas consequências e evidenciar que a vida é feita de antes, durante e depois. "Talvez se a jovem em questão tivesse pensado nos desdobramentos do seu comportamento, muito provavelmente não teria permitido que a filmagem fosse feita", diz.

 

E finaliza: "Precisamos refletir os comportamentos que nossa cultura reforça. Valorizar um homem que consegue registrar cenas de sexo com uma mulher significa dizer que estamos incentivando o autor a continuar repetindo o ato e outros a seguir o mesmo modelo. Esse tipo de registro, por si só, foge completamente à função do ato e isso já deveria sinalizar às pessoas envolvidas que, se o ato foge ao esperado, as consequências seguirão a mesma tendência."

 

* Serviço: Psicóloga clínica Marisa de Abreu.

 

Psicoterapeuta clínico Elídio Almeida.

 

 

 

 

Por Juliana Falcão (MBPress - Vila Mulher)

 

 

 

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