Porco Moura: como o Paraná salvou a raça de carne sinônimo de maciez e suculência

O Paraná é vice-líder na produção de suínos no Brasil, com uma produção de 12,4 milhões de porcos em 2024, atingindo a sua maior participação no setor, com 21,5%.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam a força e a expertise da produção paranaense, que não fica limitada apenas à industrial. O Estado é referência na criação da raça nativa brasileira Moura, com carne e aspecto similares aos melhores cortes bovinos, com maciez, suculência e sabor únicos.

Cerca de 74% da produção brasileira da raça fica no Estado, de acordo com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). A instituição conta com o Projeto Porco Moura, de resgate e estímulo à criação da raça, criado em 1985 e encerrado no início dos anos 2000, mas que foi retomado em 2014. Esse incentivo é fundamental para manter viva não só a produção, mas também a tradição e a importância que ela teve na história do Paraná e do Brasil.

Em 2014, foram estimados 625 animais remanescentes da raça no Sul do País. Novos levantamentos mostram que em 2024 foram calculados aproximadamente 3.500 porcos Moura distribuídos nos três estados, dos quais mais de 2.600 no Paraná. Rebanhos desses animais já foram identificados em diversas regiões, com presença em pelo menos 21 municípios paranaenses.

HISTÓRIA – Os primeiros porcos domésticos que chegaram ao Brasil foram trazidos pelos portugueses, logo no início da colonização, por volta dos anos 1530. “Eles traziam não só do continente, mas também das ilhas colonizadas anteriormente, que possuíam uma genética mais antiga do que a registrada na Europa. No caminho, paravam nesses lugares para se abastecer e traziam, entre outras coisas, animais”, explica o professor da UFPR e coordenador do Projeto Porco Moura, Marson Bruck Warpechowski.

A origem do Moura é ligada às missões jesuíticas espanholas na América, sobretudo na região do que hoje é o Rio Grande do Sul. A raça foi essencial, por exemplo, na iluminação pública do País antes da industrialização. Isso porque a banha do porco era utilizada como combustível para as lamparinas e diversos outros usos além do culinário.

“O Sul sempre foi relevante na produção de suínos. O porco Moura foi importante durante o Ciclo da Banha, perdendo imediatamente essa importância com a Revolução Verde, com a instalação de fábricas de óleo vegetal e a mudança de objetivo da suinocultura, de banha para carne”, acrescenta o professor.

Com a industrialização e o ganho de escala, além da busca por animais de rápido ganho de peso e baixa gordura acumulada, as raças crioulas como a Moura perderam espaço, uma vez que sua produção é mais cara e demanda mais tempo. Somado à chegada da peste suína africana ao Brasil no final dos anos 1970, quase deixou de existir com o extermínio de criações inteiras.

Foi em 1985, já praticamente extinta, que uma luz foi acesa com a criação do Projeto Porco Moura pelo professor da UFPR Narcizo Marques da Silva. Era o primeiro passo para o resgate da raça, registrada por ele em 1990 no PigBook, mantido pela Associação Brasileira de Criadores de Suíno (ABCS). “A origem da raça é o Rio Grande do Sul, mas foi o Paraná que a salvou, se transformando em seu maior produtor”, destaca Warpechowski.

A Moura foi a segunda raça brasileira registrada desde a criação da ABCS, em 1955. A primeira foi a Piau, em 1989, em um projeto semelhante ao da UFPR desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A associação é responsável pelo registro genealógico de raças de porcos no Brasil. Atualmente novas entidades estão sendo formadas, entre elas a Associação dos Criadores de Porco Moura do Paraná (ACPM-PR), que reúne mais de 30 produtores dos três estados do Sul.

PORCO

Os produtores brasileiros estão trabalhando na possibilidade de o porco Moura ser chancelado com o selo de Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).


DIFERENÇAS – Criar um porco Moura é um processo totalmente diferente da criação de um suíno industrial, e isso ajuda a explicar por que a produção em larga escala preferiu investir no segundo tipo.

Uma das principais diferenças diz respeito à alimentação. Enquanto que o porco industrial é alimentado apenas com rações concentradas, o Moura se alimenta do que está disponível na natureza. Essa alimentação variada inclui frutas, tubérculos, verduras, legumes e sementes. “Na origem da raça, esses rebanhos eram criados aproveitando os alimentos locais nativos de cada região e ocasionalmente recebiam suplementos baseado no resto de culturas que o homem possuía, mas com pouca influência dele sobre o ambiente onde eram criados”, destaca.

Outro diferencial é justamente o ambiente em que são criados. Enquanto que em uma granja industrial eles são confinados, em ambientes coletivos, o Moura é criado em sistemas extensivos e semi-extensivos, ao ar livre. Isso fez com que a raça se aproveitasse da adaptação genética, em relação às condições de clima e alimentos locais, que moldaram essa raça emblemática da região Sul do Brasil.

São essas condições que fazem com que a carne do porco Moura seja apreciada por quem consome. Com maior marmoreio (gordura intramuscular que se acumula entre as fibras da carne) na comparação com uma raça industrial, ela conta com uma coloração vermelho intenso, que lembra cortes bovinos de maior qualidade.

O tempo de produção também difere bastante de uma raça para outra. O período máximo de engorda de um pouco industrial é de até 150 dias, enquanto que o tempo mínimo do Moura no sistema ao ar livre é de 300 dias. Seu teor de gordura é maior, com espessura de 3 cm a 5 cm, enquanto que o industrial a espessura do toucinho é de 0,5 cm a 1,5 cm. O Moura também possui maior resistência, maior quantidade de pelo (longos, espessos, rajados e escuros) e adaptados ao sol e ao frio do Sul do País.

Como a produção acontece em maior tempo e em menor quantidade, a dificuldade encontrada pelos produtores é na hora do abate do animal. Os frigoríficos são preparados para o trabalho em escala industrial, de grandes quantidades. Quando um porco Moura chega nesta etapa, o custo com transporte e logística é muito maior. “Temos uma legislação, uma norma sanitária de controle de qualidade que se aplica aos abatedouros em larga escala. Quanto maior, mais fácil, quanto menor, mais difícil, e às vezes impossível”, comenta.

OPORTUNIDADES – Como o tempo de produção é cerca de duas vezes maior que raças industriais, o desafio do Moura é encontrar formas de se manter atrativo para o produtor e atrair o mercado consumidor. “Podemos não só salvar da extinção, mas trabalhar características de interesse comercial para que possamos colocá-la no mercado como uma raça comercialmente útil”, ressalta o professor.

Um dos caminhos são os produtos gourmets, por meio da charcutaria. “Eu posso ter itens muito diferentes uns dos outros, gerando produtos com alto valor, e isso se torna economicamente interessante”, complementa. Hoje a carne Moura está disponível em diversos restaurantes de Curitiba e também em açougues e mercados, inclusive com rastreabilidade. Entre as possibilidades de cortes estão: prime rib, ancho steak, t-bone, paleta, bochecha, costela, pernil, entre outras.

O objetivo é de que, no futuro, seja possível seguir os passos de outros países quanto à produção de raças não industriais. “A Espanha é um dos maiores e melhores produtores industriais de suínos do mundo. Porém, eles também são o maior do mundo na produção de porcos em sistema extensivo de alto valor agregado. O presunto ibérico, por exemplo, tem grande importância na composição do PIB espanhol, com o rebanho usado para isso em torno de um terço do rebanho de porcos industriais”, lembra.

Os produtores brasileiros também estão trabalhando na possibilidade de o porco Moura ser chancelado com o selo de Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Com os trabalhos iniciados em 2018, os produtores buscam agora a criação de uma marca coletiva, essencial para conquistar o registro de IG.

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Cerca de 74% da produção brasileira da raça fica no Estado, de acordo com a Universidade Federal do Paraná (UFPR).


LEGISLAÇÃO – Visando dar maior segurança e estabelecendo normas para a produção, a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) está no estágio final de produção de uma portaria para a criação de porcos no sistema de campo aberto, como no caso da raça Moura.

O objetivo é garantir condições de biosseguridade a esse tipo de produção, a exemplo do que já é exigido de granjas e produtores comerciais. “Biosseguridade são ferramentas tanto físicas como procedimentais para evitar a entrada ou acabar com doenças. É uma forma de proteger sanitariamente o nosso rebanho. Quando você exige isso, dificulta-se a disseminação de doenças, fazendo com que os produtores e a cadeia fiquem menos expostos aos riscos sanitários”, explica o chefe da Divisão de Sanidade dos Suínos da Adapar, João Humberto Teotônio de Castro.

“O Paraná é o segundo maior produtor de suínos do País. Quando você tutela uma área que não tinha exigência, você também está tutelando a que tem. Se nós temos a suinocultura como um sistema importante economicamente, criando exigências e melhorando os status sanitários da mesma espécie em uma outra forma de produção, você protege todo o sistema”, acrescenta.

A portaria da Adapar é a primeira do gênero no Brasil e foi construída em parceria com a UFPR e a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Entre as novidades estão regras quanto à quantidade de animais considerados para subsistência (de consumo próprio do produtor), cuidados necessários ao ar livre e dimensões de espaço para criação, além de exigências em termos de cuidados de higiene, isolamento e registro de informações indispensáveis.

“É uma Parceria Público-Privada, digamos assim, com conversas com a cadeia produtiva, os produtores do porco Moura, e estamos criando essa norma para proteger a própria cadeia. É uma forma de tentar blindar o sistema, profissionalizar. Quando você cria uma legislação, você organiza toda a cadeia produtiva”, finaliza Teotônio.

“É impossível ter a mesma qualidade do sistema em termos de bem-estar animal e sanidade, com manejo adequado dos animais e do ambiente, se eu tiver uma grande criação, então está sendo colocado um limite na quantidade de animais. Outra novidade interessante que nunca foi tratada no Brasil é colocar um limite de tamanho para o que se considera criação de subsistência”, salienta Warpechowski.

A previsão de publicação da normativa é para o final de abril, pouco antes da Semana Estadual dos Porcos Crioulos, instituída pela lei 22.193/24 no final de 2024 e comemorada na terceira semana do mês de maio. O objetivo é celebrar e incentivar a criação de porcos crioulos no Estado, incluindo o Moura. Também em 2024, a raça foi transformada em Patrimônio Histórico, Cultural e Genético do Paraná, por meio da lei 22.197/24.

 

 

 

 

 

 

Por - AEN

 Governo abre consulta popular para definir prioridades no orçamento de 2026

A população paranaense já pode ajudar a elaborar o orçamento do Estado para 2026. A Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa) dá início à pesquisa popular para que os cidadãos ajudem a escolher as áreas e programas prioritários que vão fazer parte do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) do ano que vem. A secretaria disponibilizou um formulário online para que as pessoas façam as suas sugestões.

Essa é a primeira vez que a consulta pública é feita desta forma pela internet. A página ficará disponível até o dia 7 de abril e qualquer pessoa poderá preencher e participar.

De acordo com o secretário da Fazenda, Norberto Ortigara, a criação desse documento colaborativo online é uma forma de ampliar a democratização do orçamento de 2026, permitindo que qualquer cidadão opine sobre o tema. “É uma solução simples que dá voz ao cidadão de todas as regiões do Paraná. Assim, independente de onde ele mora, será possível fazer sugestões e indicar o caminho que o Estado deve tomar no orçamento do próximo ano”, afirma.

Como o próprio nome indica, o PLDO delimita as metas e prioridades do Poder Executivo para o próximo ano fiscal e serve como guia para a elaboração do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA). Por isso mesmo, a participação popular é fundamental, pois é o momento para que o cidadão aponte aquilo que considera prioritário. 

Para isso, o formulário se debruça sobre cinco eixos estratégicos: Eficiência Administrativa; Infraestrutura e Mobilidade; Desenvolvimento Econômico Sustentável; Inclusão Social, Direitos Humanos e Cidadania; e Direitos Básicos e Bem-estar. Em cada um deles, os participantes poderão escolher as opções que acham mais relevantes para o desenvolvimento do Estado, além de poder fazer outras sugestões relacionadas. 

PRÓXIMOS PASSOS – A consulta online é uma forma de ampliar a participação popular na construção da PLDO, mas não substitui as demais etapas que tradicionalmente ocorrem na elaboração do projeto de lei. Tanto que, no próximo dia 10 de abril, a Secretaria da Fazenda realiza uma audiência pública para retomar a discussão sobre a composição do orçamento de 2026.

A audiência será realizada de forma online pelo YouTube (o link será disponibilizado em breve) da Sefa, uma oportunidade para que a população que não participou dessa primeira etapa da consulta seja ouvida antes do encaminhamento do documento para a Assembleia Legislativa no dia 15 de abril. Também é o momento para aprofundar os debates e tirar dúvidas. “A participação popular torna a LDO mais transparente e queremos estimular mais e mais o paranaense a fazer parte das discussões que vão construir o amanhã do nosso Estado”, acrescenta Ortigara.

 

 

 

 

 

Por - AEN

 Neblina que baixa, sol que racha? Simepar explica como se formam os nevoeiros

Já no primeiro dia de outono um dos fenômenos mais característicos do período deu as caras: o nevoeiro, conhecido como neblina. Nessa época do ano, é comum que os dias amanheçam com pouca visibilidade. Há um ditado popular que diz “neblina que baixa, sol que racha”. Mas será que toda vez que tem neblina vai ter sol?

De acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental (Simepar), o nevoeiro é um fenômeno meteorológico caracterizado pela presença de minúsculas gotículas de água suspensas no ar, reduzindo a visibilidade a menos de um quilômetro.

“Ele ocorre devido à condensação do vapor d'água próximo à superfície terrestre, geralmente quando a temperatura do ar diminui e atinge a temperatura do ponto de orvalho – temperatura na qual o ar precisa ser resfriado, a pressão constante, para que o vapor d'água nele presente comece a se condensar, formando as gotículas”, explica Reinaldo Kneib, meteorologista do Simepar.

Se a visibilidade for maior do que um quilômetro, mas a nitidez da visão ainda estiver prejudicada por partículas de umidade, ao invés de nevoeiro, o fenômeno é chamado de névoa. Ambos são mais frequentes no outono pois o período tem características muito marcantes. “As massas de ar seco são mais estáveis. As noites são mais longas, permitindo maior resfriamento do ar, e com isso a umidade relativa do ar fica mais elevada e esse ar úmido pode atingir o ponto de orvalho”, ressalta Kneib.

Mas neblina que baixa, sol que racha? Nem sempre a neblina anuncia a chegada de um dia de sol. “Na maioria das vezes o nevoeiro se dissipa e o sol predomina. Porém, nas regiões serranas o nevoeiro, ao invés de dissipar, pode evoluir, subir e deixar o céu encoberto, mas sem a restrição de visibilidade na superfície”, explica Kneib.

TIPOS – Existem cinco tipos de nevoeiro. O primeiro é o nevoeiro de radiação, que ocorre em noites claras e sem vento, quando o solo perde calor por irradiação, como já exemplificado. É comum em áreas rurais e vales, como a Região Metropolitana de Curitiba.

O segundo é o nevoeiro de advecção, que se forma quando o ar quente e úmido passa sobre uma superfície mais fria. É comum em regiões costeiras e sobre oceanos e também é observado na região Leste do Paraná. O terceiro é o nevoeiro de evaporação (ou mistura), que ocorre quando o vapor d’água é adicionado ao ar frio, como em lagos e rios no inverno, ou sobre águas quentes em contato com o ar frio. Também pode ocorrer sobre mares e oceanos após tempestades.

O quarto é o nevoeiro de encosta (ou orográfico), quando o ar úmido é forçado a subir uma montanha ou colina. É mais comum, portanto, em regiões montanhosas. Já o quinto tipo é o frontal, que ocorre quando uma frente quente encontra uma massa de ar frio, causando condensação devido à mistura de temperaturas. Este pode se estender por áreas maiores do que os outros.

IMPACTOS – Cada tipo de nevoeiro tem suas particularidades e pode impactar diferentes setores. No Aeroporto Afonso Pena, por exemplo, vários investimentos foram feitos para que os aviões operem por aparelhos e o aeroporto não precise fechar nos frequentes dias de nevoeiro. A aeronave é conduzida por GPS até que o piloto esteja a 300 metros da pista. Caso o piloto tenha visibilidade a partir deste momento, consegue pousar.

Dirigir nas rodovias sob neblina também exige atenção redobrada e cautela pois, com visibilidade comprometida, aumentam os riscos de acidentes. O Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) recomenda algumas medidas essenciais para garantir a segurança dos motoristas nessas condições.

Em primeiro lugar, é fundamental reduzir a velocidade e manter uma distância segura do veículo à frente. O uso do farol baixo é obrigatório, já que o farol alto pode prejudicar ainda mais a visão devido ao reflexo nas partículas da névoa. Evitar o uso de luzes de neblina (a menos que seja extremamente necessário) é outra orientação importante, pois elas podem ofuscar os outros motoristas.

Também é recomendado que o condutor use o ar-condicionado ou mantenha as janelas ligeiramente abertas, para evitar o embaçamento dos vidros, e tenha cuidado com as sinalizações, já que poderá ser mais difícil de visualizá-las. Se a neblina estiver muito intensa, o BPRv sugere estacionar o veículo em um local seguro até que a visibilidade melhore. A segurança depende do comportamento responsável e da adaptação do motorista às condições da via.

 

 

 

 

 

Por - Agência Brasil

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