Seja por motivos religiosos ou em busca de um descanso do trabalho, o mês de junho é bastante esperado por causa da celebração de Corpus Christi. Em 2023, a data católica cai no dia 8 e, apesar de não ser feriado oficial, o ponto facultativo tem bastante adesão nacional.

Além dessa e de outras datas religiosas, o mês junho traz no calendário dezenas de dias mundiais ou nacionais para serem lembrados. Destacam-se o Dia Mundial do Meio Ambiente (05) e alguns eventos relacionados como o Dia Mundial dos Oceanos (08/06) e o Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertificação (17/06). No Brasil, o dia 1º abre a Semana Nacional do Meio Ambiente, quando se realiza uma série de eventos no país sobre o tema.
No dia 21 de junho, ocorre o Solstício de Inverno no Hemisfério Sul, também conhecido como o “dia mais curto do ano”. O frio e a escassez de chuvas costumam ser companheiros da chegada do inverno, aumentando as preocupações com doenças respiratórias.
Na saúde, há o Dia Mundial do Doador de Sangue (14/06). E na luta por direitos humanos, celebra-se o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil (12/06) e o Dia Mundial dos Refugiados.
Entre as datas históricas de destaque, completam-se 60 anos desde que, em 16 junho de 1963, a cosmonauta soviética Valentina Vladimírovna Tereshkova concretizou o feito de se tornar a primeira mulher a viajar ao espaço. Nessa mesma data, morria o compositor carioca Lamartine Babo. Foi dele a autoria de célebres hinos nacionais, como o Hino do Botafogo, Vasco da Gama, do Fluminense, Flamengo, além de ter criado catálogo rico de músicas populares.
Recentemente, o Reino Unido teve a coroação de um novo rei, Charles III, o mais velho monarca a receber a coroa. Mas o começo de junho redireciona os holofotes para os 70 anos da coroação da mãe de Charles, a Rainha Elizabeth II, que recebeu a coroa aos 27 anos, em 2 de junho 1953.
Confira a relação completa* de datas do Hoje é Dia do mês de junho de 2023
Nascimento do compositor e violonista baiano Nicanor Teixeira (95 anos)
Primeira publicação do jornal Correio Braziliense (215 anos)
Dia Internacional do Leite - criado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, para reconhecer a importância do leite como alimento global
Início da Semana Nacional do Meio Ambiente
Coroação da Rainha Elizabeth II (70 anos)
Dia Internacional da Prostituta - comemorado para marcar a data de 2 de junho de 1975, em que cerca de 150 trabalhadoras sexuais entraram para a história ao ocuparem a Igreja de São Nizier na cidade francesa de Lyón, exigindo que o trabalho prestado por elas fosse considerado tão útil à França como outro ofício qualquer
Primeira irradiação do Programa Acontece Cada Uma, na Rádio Nacional (74 anos)
Morte do saxofonista, arranjador e compositor João Theodoro Meirelles, o J. T. Meirelles (15 anos) - um dos principais nomes do estilo samba-jazz, fusão dos gêneros musicais samba e jazz, que surgiu no Brasil na década de 1960
Nascimento do compositor fluminense Arlindo Marques Junior (55 anos)
Nascimento do empresário paulista Antônio Ermírio de Moraes (95 anos) - presidente do grupo Votorantim
Morte do escritor e aventureiro veneziano Giacomo Casanova (225 anos)
Nascimento do líder cangaceiro pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (125 anos)
Dia Internacional das Crianças Vítimas Inocentes de Agressão - comemoração instituída pela ONU na sua Resolução E-08/07 de 19 de agosto de 1982, que conta com o apoio da UNICEF
Nascimento do poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca (125 anos)
Nascimento do economista britânico John Maynard Keynes (140 anos) - suas ideias mudaram fundamentalmente a teoria e prática da macroeconomia, bem como as políticas econômicas instituídas pelos governos
Nascimento do general mexicano José Doroteo Arango, o Pancho Villa (145 anos) - foi um dos mais conhecidos generais e comandantes da Revolução Mexicana
Nascimento do cantor, compositor e ator mineiro Ivo José Curi, o Ivon Curi (95 anos)
Dia Mundial do Meio Ambiente - comemoração internacional, que foi instituída pela 27ª sessão da Assembleia Geral da ONU na Resolução Nº 2994 de 15 de dezembro de 1972
Início da transmissão, na Rádio Nacional, de "Em busca da felicidade" (82 anos) - primeira novela radiofônica veiculada no país. Em 2018, O roteiro recebeu a certificação da UNESCO, pelo Programa Memória do Mundo
Morte do político estadunidense Robert Francis Kennedy, o Bobby Kennedy (55 anos) - o senador foi assassinado em um hotel em Los Angeles
Fundação do Museu Nacional (205 anos) - mais antiga instituição científica do Brasil e o maior museu de história natural e antropológica da América Latina; foi criado por Dom João VI e, inicialmente, foi sediado no Campo de Sant'Anna com o nome de Museu Real; foi incorporado à Universidade do Brasil em 1946 e integra atualmente a estrutura acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Nascimento do cantor estadunidense Prince Rogers Nelson, o Prince (65 anos)
Dia Nacional da Liberdade de Imprensa
Dia Mundial dos Oceanos - comemoração estabelecida em 1992 durante a "Eco92" ou "Cimeira da Terra" ou "Conferência do Rio" sobre Meio Ambiente, com o fim de enfatizar a importância de todos os produtos fornecidos pelo Oceano Atlântico, Oceano Pacífico, Oceano Antártico, Oceano Índico e Oceano Ártico
Morte do imperador romano Nero Cláudio César Augusto Germânico, o Nero (1955 anos)
Dia Nacional de Anchieta - comemorado por brasileiros, conforme decreto Nº 55.588 de 18 de janeiro de 1965 e Lei Nº 5.196 de 24 de dezembro de 1966, que deverá ser celebrado nas escolas primárias e médias do Brasil com palestras alusivas à vida e à obra de Anchieta
Dia Internacional dos Arquivos - comemorado para marcar a data da criação do Conselho Internacional dos Arquivos, que foi instituído pela UNESCO em 9 de junho de 1948, quando se aproveita a data da celebração para se promover o valor das instituições de arquivos no serviço da pesquisa, da cultura, da memória, e da transparência
Ocorre o lançamento à Marte do robô geológico Spirit (20 anos)
Inicia-se a Copa do Mundo FIFA, na França (25 anos)
Dia Mundial dos Alcoólicos Anônimos - comemorado para marcar aquela que é tradicionalmente tida como a data da fundação do grupo de Auto-ajuda de homens e mulheres que partilham entre si sua dependência das bebidas alcoólicas, ocorrida na cidade estadunidense de Akron OH-EUA em 10 de junho de 1935
Morte do arquiteto paulista Francisco de Paula Ramos de Azevedo (95 anos) - projetou, entre outras obras, o Teatro Municipal de São Paulo, O Mercado Municipal de São Paulo, a Casa das Rosas e a Pinacoteca do Estado de São Paulo
Nascimento da professora e pesquisadora Helena Theodoro - redatora, produtora e apresentadora de diversos programas educativos e culturais da Rádio MEC (80 anos)
Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil - comemoração instituída em 2002 pela Organização Internacional do Trabalho
Dia dos Namorados - comemoração extraoficial do Brasil desde 1948, que surgiu a partir de uma campanha publicitária encomendada pela extinta rede de Lojas de Departamentos "Exposição Clipper" de São Paulo
Nascimento do poeta português Fernando Pessoa (135 anos)
Morte do arquiteto e urbanista brasileiro nascido na França Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro Lima Costa, o Lúcio Costa (25 anos) - criador do projeto do Plano Piloto de Brasília
Fundação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (215 anos)
Dia de Santo Antônio
Morte do cantor e compositor carioca José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão (15 anos)
Nascimento do guerrilheiro, político, jornalista, escritor e médico argentino Ernesto Guevara de la Serna, o "Che" Guevara (95 anos)
Inicia-se a Copa do Mundo FIFA, na Rússia (05 anos)
Dia Mundial do Doador de Sangue
Primeira irradiação do programa infantil Clube Juvenil Toddy, na Rádio Nacional (72 anos)
Morte do técnico em eletrônica, artesão e instrumentista baiano Adolfo Antônio Nascimento, o Dodô (45 anos) - um dos inventores do trio elétrico do carnaval baiano, juntamente com Osmar Macedo
Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa - comemoração instituída em 2006 pela Rede Internacional de Prevenção de Abusos contra Idosos, que conta com o apoio da Organização Mundial de Saúde
Morte do compositor carioca Lamartine Babo (60 anos)
Nascimento do matemático e cosmólogo russo Alexander Friedmann (135 anos) - um dos "pais" da teoria de expansão do universo e do Big Bang, juntamente com Georges Lemaître e George Gamov
Cosmonauta soviética Valentina Vladimírovna Tereshkova tornou-se a primeira mulher a viajar ao espaço (60 anos)
Fundação da Ford Motor Company (120 anos)
Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertificação - comemoração instituída pela Resolução A/RES/49/115 de 30 de janeiro de 1995 da Assembléia Geral da ONU para marcar a data da adoção da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, que foi estabelecida na cidade francesa de Paris em 17 de junho de 1994
Navio Kasato Maru aporta Santos com primeiros imigrantes japoneses (115 anos)
Dia Nacional da Imigração Japonesa - comemorado por brasileiros, conforme Lei Nº 11.142 de 25 de julho de 2005, para marcar a data da chegada ao Brasil do navio japonês, Kasato-Maru, que aportou na cidade brasileira de Santos-SP em 18 de junho de 1908
Dia do Orgulho Autista - comemorado para marcar a data da criação da "Aspies/Autistas para a Liberdade", que foi constituída em 18 de junho de 2004 e que converteu-se na 1ª instituição mundial a utilizar o termo "orgulho" relacionado ao autismo, com o fim de educar o público em geral sobre o desconhecimento das questões relacionadas com o autismo
Nascimento do cantor fluminense Sidney Magalhães, o Sidney Magal (70 anos)
Nascimento do matemático, físico, inventor, filósofo e teólogo católico francês Blaise Pascal (400 anos) - o desenvolvimento de Pascal da teoria da probabilidade foi a sua contribuição mais influente para a matemática. Na literatura, Pascal é considerado um dos autores mais importantes do período clássico francês e é lido hoje como um dos maiores mestres da prosa francesa
Criação do personagem Garfield, por Jim Davis (45 anos)
Dia do Cinema Brasileiro - comemorado no Brasil, para marcar a data da 1ª filmagem da baía da Guanabara, que foi realizada em 19 de junho de 1898 com uma câmera Lumière pelo primeiro cineasta brasileiro, Afonso Segreto, a partir do navio francês, "Brèsil", quando ele retornava de uma viagem à Europa, onde fora para buscar equipamentos de filmagem
Morte da cantora carioca Aracy de Almeida (35 anos) - atuou na Rádio Nacional
Dia Mundial dos Refugiados - comemoração instituída pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados na Resolução 55/76 de 2000, para marcar a data do aniversário da Convenção de Genebra de 1951, que foi que entrou em vigor em 1974, definindo o refugiado como toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar a esse país
Nascimento do escritor, jornalista e diplomata maranhense José Pereira da Graça Aranha, o Graça Aranha (155 anos) - um dos autores organizadores da semana de arte moderna de 1922
Solstício de Inverno no Hemisfério Sul
Dia Mundial do Skate
Nascimento da cantora, compositora e atriz estadunidense Cynthia Ann Stephanie Lauper-Thornton, a Cyndi Lauper (70 anos)
Nascimento do ator fluminense Antônio Carlos de Sousa Pereira, o Tonico Pereira (75 anos)
Dia Mundial do Fusca
Morte do cantor goiano Luís José da Costa, o Leandro da dupla sertaneja Leandro e Leonardo (25 anos)
Inauguração da Rádio Nacional FM de Brasília (46 anos)
Morte da antropóloga e professora universitária paulista Ruth Vilaça Correia Leite Cardoso, a Ruth Cardoso (15 anos) - ex-primeira dama do Brasil entre 1995 e 2003
Dia de São João
Nascimento do cantor pop britânico Georgios Kyriacos Panayiotou, o George Michael (60 anos)
Morte da cantora e compositora mineira Sílvia Maria Vieira Peixoto Araújo, a Sylvinha Araújo (15 anos)
Estreia de Rogério Ceni como goleiro do time profissional do São Paulo Futebol Clube (30 anos)
Nascimento do ex-presidente chileno Salvador Allende (115 anos) - foi deposto por um golpe de estado liderado por seu chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet
Passeata dos Cem Mil (55 anos)
Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas - comemoração que foi instituída pela Assembleia Geral da ONU na sua Resolução Nº 42/112 de 7 de dezembro de 1987, e que está oficializada no Brasil pelo Decreto DNN8091 de 28 de maio de 1999, através do qual se criou a "Semana Nacional Antidrogas" de brasileiros
Dia Internacional das Nações Unidas em apoio às Vítimas de Tortura - comemoração instituída pela ONU na sua Resolução Nº 52/149 de 12 de dezembro de 1997, para marcar a data de 26 de junho de 1987, em que entrou em vigor nos países-membros signatários a "Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes"
Nascimento do escritor, diplomata e médico mineiro João Guimarães Rosa (115 anos)
Nascimento do cantor, compositor e percussionista pernambucano Otto Maximiliano Pereira de Cordeiro Ferreira, o Otto (55 anos)
Dia Internacional do Orgulho LGBT - comemoração para marcar a data do "Incidente de Stonewall" de 28 de junho de 1969, quando frequentadores do bar Stonewall Inn em Greenwich Village, reagiram pela primeira vez na cidade norte-americana de Nova Iorque, contra as constantes ações policiais ali ocorridas para prender travestis mais provocantes e todos os que vestissem mais de três peças do sexo oposto
Nascimento do ator carioca Pedro Paulo Rangel (75 anos)
Entronização do pontificado do religioso italiano Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montinido, o Papa Paulo VI (45 anos)
Brasil conquista primeiro título de Copa do Mundo (65 anos)
Dia de São Pedro
Lançamento do Programa "Garimpo", na Rádio Nacional AM RJ (13 anos)
Morte do comunicador de rádio e televisão pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha (35 anos)
Morte do padre católico, cientista e inventor gaúcho Roberto Landell de Moura (95 anos) - mais conhecido pelo seu pioneirismo na ciência da telecomunicação, tendo desenvolvido uma série de pesquisas e experimentos que o colocam como um dos primeiros a conseguir a transmissão de som e sinais telegráficos sem fio por meio de ondas eletromagnéticas, o que daria origem ao telefone e ao rádio
Por - Agência Brasil
Os brasileiros que fumam destinam cerca de 8% da renda familiar per capita (por indivíduo), mensalmente, para a compra de cigarros industrializados.
O gasto mensal chega a quase 10% da renda entre os fumantes na faixa etária de 15 a 24 anos, atingindo 11% entre aqueles com ensino fundamental incompleto. Os dados constam de pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que será apresentada nesta quarta-feira (31), na sede da instituição, no Rio de Janeiro, durante o lançamento da campanha "Precisamos de comida, não tabaco”, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A campanha marca o Dia Mundial sem Tabaco, comemorado em 31 de maio. A sondagem teve por base dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019.
“De maneira geral, a variação maior ocorre no rendimento e não tanto no gasto. Para pessoas que têm escolaridade mais baixa, que moram em estados ou regiões em que a renda média é menor, o gasto com cigarro acaba tendo uma contribuição relativa maior”, destacou, em entrevista à Agência Brasil, o médico André Szklo, um dos autores do estudo, realizado pela Divisão de Pesquisa Populacional do Inca. Por isso, entre os fumantes de baixa escolaridade, o comprometimento do gasto com cigarro, em função da renda domiciliar per capita do domicílio onde reside, é maior do que entre fumantes que tenham escolaridade mais elevada.
A mesma coisa ocorre em regiões do país. No Norte e Nordeste, onde a renda média é menor, comparada com o Sudeste e Sul, o comprometimento do gasto com o cigarro acaba sendo maior também, indicou Szklo. Por sexo, o percentual alcança 8% para os homens e 7% para as mulheres.
Por regiões
As regiões Norte e Nordeste concentram os maiores gastos com o tabagismo, sendo o Acre o estado com o maior comprometimento de renda (14%), seguido por Alagoas (12%), Ceará, Pará e Tocantins (11% cada). Na Região Sul, Paraná e Rio Grande do Sul registram 8% de gastos com cigarros e Santa Catarina, 7%. No Sudeste, Rio de Janeiro e Minas Gerais apresentam gastos em torno também de 8%, enquanto São Paulo e Espírito Santo atingem 7%. Os menores índices de comprometimento de renda, em contrapartida, aparecem na Região Centro-Oeste, com Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal mostrando gastos de 6% cada. Mato Grosso e Goiás alcançam 9% cada.
André Szklo informou que essa contribuição é derivada de duas variáveis: quanto a pessoa está gastando em média, naquele mês, com cigarro, e o rendimento médio dos domicílios daqueles estados onde há um morador fumante. “Não necessariamente vai ser o mesmo (gasto) para todos os estados. Porque tem a relação de quanto você gasta e o rendimento médio do domicílio daquele estado, per capita’. Por exemplo, quando se nota que Mato Grosso do Sul tem contribuição menor, isso pode ser em função tanto de um rendimento maior domiciliar entre as famílias que têm pelo menos um fumante, como também um gasto proporcional menor desse fumante de Mato Grosso do Sul, não necessariamente porque ele está comprando menos cigarro, mas também pelo preço que está pagando pelo produto.
Preço mais barato
O pesquisador do Inca lembrou que Mato Grosso do Sul faz fronteira com o Paraguai, porta de entrada importante para cigarros que não pagam imposto, os chamados ilegais, cujo preço é menor do que o do produto legal. Depois do Paraguai, o Brasil é o país que tem o cigarro mais barato das Américas. “Desde 2017 que a gente tem uma queda real, isto é, já descontada a inflação, do preço do cigarro legal brasileiro. É um cigarro muito barato”. No gasto analisado pelo Inca, está incluído o gasto com cigarro legal e ilegal.
Como se consome um cigarro muito barato no Brasil, André Szklo disse que isso leva a pessoa a não parar de fumar e, também, que adolescentes e jovens, principalmente, acabem sendo motivados e conduzidos a começar a fumar, estimulados pelo preço muito baixo. O pesquisador alertou que o gasto com cigarro que está comprometendo a renda domiciliar poderia ser aproveitado de outra forma, como no consumo de alimentos saudáveis ou investindo em atividades de lazer, físicas, esportivas, de prevenção de uma série de doenças. Mas, ao contrário, ele está sendo direcionado para o consumo de cigarros.
A recomendação é que é preciso voltar a criar barreira, defendeu Szklo. “E essa barreira para o gasto com cigarro é voltar a aumentar o preço”. Na avaliação do pesquisador do Inca, aumentar as alíquotas que incidem sobre os produtos finais do tabaco e, consequentemente, sobre o preço final do cigarro, é a medida mais efetiva de saúde pública e controle do tabaco, para reduzir a iniciação e estimular a suspensão desse hábito. “Se a gente voltar a aumentar o preço do cigarro, os fumantes vão acabar gastando menos, porque vão parar de fumar”.
SUS
O estudo do Inca destaca a importância de ser criado de fato um imposto específico para produtos derivados do tabaco, de forma que se possa voltar a ter aumento de preço. Os recursos desse imposto devem ser canalizados para o Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, para tratamento de doenças relacionadas ao uso do tabaco. “O custo do tabagismo para o país representa muito mais do que é arrecadado em termos de impostos pela indústria do tabaco”. Segundo Szklo, a arrecadação chega a 10% do custo estimado de R$ 125 milhões por ano.
O médico do Inca insistiu que o estudo é um alerta para que se volte a aumentar o preço do cigarro, a fim de que os gastos dos brasileiros com a compra do produto deixem de ser feitos. “Para que os fumantes parem de fumar ou nem comecem a fumar e, com isso, a gente possa reduzir a iniquidade na distribuição de fumantes na população e, também, em termos de desfechos de saúde. Porque é exatamente nas populações de menor renda, nos estados mais pobres, entre as famílias de menor escolaridade, que o cigarro acaba comprometendo mais o rendimento domiciliar per capita".
Szklo reforçou que se os integrantes desses domicílios pararem de fumar ou nem começarem a fumar, esse dinheiro que hoje é gasto com cigarro poderá ser canalizado para outras ações de promoção da saúde das pessoas, além da compra de alimentos, que é o tema deste ano do Dia Mundial sem Tabaco.
A pesquisa mostra que se a pessoa não estiver gastando com tabaco, ela pode usar o dinheiro para comprar comida, sem cair, porém, na interferência da indústria de alimentos ultraprocessados, mas dando preferência a alimentos saudáveis. “Obviamente, se tiver menor consumo de tabaco, vai ter mais comida no prato do brasileiro, porque a pessoa pode destinar também uma parte da área empregada atualmente no cultivo de folhas de tabaco para alimentos como arroz e feijão, entre outros. O estudo alerta para que o país continue avançando no combate ao tabagismo”.
Ações
A campanha da OMS é liderada no Brasil pelo Inca. Ela destaca a importância de ações que incentivem a produção de alimentos sustentáveis em substituição ao cultivo do tabaco, além da diversificação da produção, da proteção do meio ambiente e da melhoria da saúde dos trabalhadores envolvidos com essa cultura.
Durante evento alusivo ao Dia Mundial sem Tabaco, o Inca exibirá estratégias que visam à redução do consumo. O órgão do Ministério da Saúde receberá, na ocasião, prêmio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em reconhecimento às ações que contribuem para a diminuição do consumo de produtos de tabaco no país. Em parceria com as secretarias estadual e municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o Inca promove ainda ação na Praça da Cruz Vermelha, região central da capital fluminense, destinada à sensibilização de tabagistas para que parem de fumar. Serão distribuídos materiais informativos à população.
Por - Agência Brasil
A solução de conflitos "menos graves" no ambiente escolar é medida que pode contribuir para evitar futuros ataques violentos.
A avaliação é da socióloga Valéria Cristina de Oliveira, pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ela, é preciso dar voz aos alunos que são vítimas de microviolências no cotidiano, sejam elas praticadas por profissionais adultos ou por colegas.

"Mesmo que não seja um evento de violência grave hoje, ele pode se desdobrar no futuro em outro de violência grave em decorrência do silenciamento", disse nessa segunda-feira (29), durante debate com transmissão online que reuniu pesquisadores da UFMG de diferentes áreas. Eles apresentaram dados de variados estudos e fizeram uma discussão sobre o tema "Por uma cultura da paz: combate à violência na educação e à desinformação".
Segundo um dos levantamentos mencionados, divulgado na semana passada pela organização não governamental Instituto Sou da Paz, ocorreram no país 24 ataques a escolas nos últimos 22 anos. Mais da metade desses episódios, no entanto, estão concentrados nos últimos quatro anos. Na maioria deles, os agressores são alunos ou ex-alunos com média de idade de 16 anos.
Um dos casos que tiveram forte repercussão neste ano ocorreu em março, quando uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, em São Paulo. O crime foi cometido por um de seus alunos, de 13 anos. Nos últimos anos, episódios similares que geraram grande comoção no país também foram promovidos por estudantes ou ex-estudantes, como os registrados em Aracruz (ES) no ano passado e em Suzano (SP) em 2019.
Um estudo recente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) traçou o perfil mais frequente entre os autores dos ataques: homens jovens brancos, geralmente com baixa autoestima e sem popularidade na escola. Também foi observado que muitos deles tinham indícios de transtornos mentais não diagnosticados ou sem o devido acompanhamento. São quadros que podem se desenvolver ou se agravar pela dificuldade de relacionamento nas escolas, o que pode ocorrer, por exemplo, com os que são alvos de bullying.
Valéria integra o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) e o Núcleo de Pesquisas em Desigualdades Escolares (Nupede), dois grupos científicos da UFMG que fazem investigações sobre o assunto. "O acúmulo de pequenas violências repercute em dificuldades na convivência. A deterioração do tecido social pode ser a consequência negativa de vários eventos menos graves", reitera.
Segundo um estudo desenvolvido pelo Crisp em 2012, em escolas estaduais de todas as regiões de Minas Gerais, 48% dos estudantes adolescentes declaravam ter sido vítimas de bullying, 20% de ter sofrido agressão física e 40% de ter sido roubado ou furtado nos últimos 12 meses. Além disso, mais de 30% disseram ter sido alvo de violência verbal de colegas ou professores.
Não são raros os casos envolvendo essas agressões com emprego de arma de fogo e com mais vítimas, em que ocorreram outras situações menos graves anteriormente, pouco administradas ou sem que houvesse alguma administração dos conflitos. "Isso ocorre, entre outras coisas, porque não tivemos a oportunidade de ouvir e escutar os principais alvos dessas pequenas agressões. O perfil desses agressores tende a convergir para alguém que tenha inserção social limitada na escola, que tenha sido vítima de bullying, que sofra exclusão de alguma natureza", diz Valéria.
Soluções
No fim do ano passado, 11 pesquisadores de universidades de diversos estados do país elaboraram um documento propondo estratégias concretas para a ação governamental. Coordenado pelo professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, eles ressaltaram que os casos deviam ser classificados como extremismo de direita, pois a maioria deles envolve cooptação de adolescentes por grupos neonazistas que se apoiam na ideia de supremacia branca e masculina e os estimulam a realizar os ataques. A presença de símbolos associados a ideologias de extrema-direita tem sido recorrente nesses episódios violentos.
De acordo com o documento, esses grupos disseminam um discurso que valoriza o preconceito, a discriminação, o uso de força e de armas de fogo, encorajando direta e indiretamente atos agressivos e violentos. "É necessário compreender que o processo de cooptação pela extrema-direita se dá por meio de interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto com frequência ao conteúdo extremista difundido em aplicativos de mensagens, jogos, fóruns de discussão e redes sociais", registram os pesquisadores. Segundo eles, medidas só serão eficazes se considerarem esse cenário.
Em uma busca pela palavra "escola" no site da Câmara dos Deputados, Valéria encontrou 312 projetos de lei apresentados em 2023. Chamou a atenção o grande volume de propostas que datam do dia 5 de abril, quando um ataque a uma creche em Blumenau (SC) resultou na morte de quatro crianças. A legenda com mais proposições é o Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro. Em seguida aparecem o União Brasil e o Progressistas (PP), que compuseram a base de apoio durante o governo do ex-presidente.
"Nem todos esses projetos estão ligados à questão da violência nas escolas, mas a coincidência entre o pico de apresentações e a data do ataque nos mostra que esses eventos foram extremamente relevantes para que houvesse um movimento político justamente daqueles grupos que têm sido apontados como associados a discursos que estimulam comportamentos violentos. E a maior parte dos projetos de lei sugere intervenções no campo da segurança. Há muitas propostas de uso de detectores de metais, implantação de câmeras, presença de policiais no espaço escolar. São estratégias de intervenção que não são necessariamente eficazes", diz a pesquisadora da UFMG.
Soluções dessa natureza vêm sendo criticadas por diversos especialistas, que observam que o aumento do aparato de segurança nas escolas não resolveu o problema nos Estados Unidos, onde os episódios acontecem há mais tempo e com mais frequência. Valéria cita estudos em que fatores como violências prévias, rejeição pelos pares e clima escolar negativo são associados aos casos. "Ter mais dispositivos de segurança pública não contornam isso", diz.
Entre suas sugestões para enfrentar o atual cenário está a construção de canais de comunicação para escuta e acolhimento das vítimas de conflitos escolares, maior foco no aprendizado de todos e não na punição disciplinar, atenção aos princípios de equidade e de justiça e desenvolvimento de políticas de saúde e assistência para atendimento integral da comunidade e promoção da saúde mental. Ela também defende maior restrição no acesso a armas de fogo e investigação de denúncias da atuação de grupos que estimulam a violência nas redes sociais.
Valéria afirma que é preciso criar novos mecanismos para registrar os casos de conflitos e de violência nas escolas, que permitam ampliar o monitoramento e a discussão de soluções, já que apenas os episódios mais graves aparecem nos registros policiais. Em um mapeamento das ocorrências registradas pela Guarda Municipal de Belo Horizonte em 2015, os eventos mais frequentes em escolas municipais foram dano ao patrimônio, vias de fato e ameaças.
Desinformação
Durante o debate, a pesquisadora Geane Carvalho Alzamora, vinculada ao Departamento de Comunicação da UFMG, observou que a circulação da desinformação e dos discursos de ódio precisam ser enfrentados com um letramento midiático. Segundo ela, pesquisas com jovens já revelaram a dificuldade de muitos em conseguir diferenciar um texto com informações verdadeiras de outro com fake news.
"Não basta desmentir. Não se combate desinformação com verdade. Se combate desinformação com educação", diz ela. Geane avalia, porém, que as instituições de ensino precisam de uma estratégia para lidar com esse desafio. "Não é uma questão de educar as pessoas para usar os meios. Precisamos entender o que os jovens estão fazendo com os meios. A escola hoje passa alheia a esse problema".
O professor da Faculdade de Direito da UFMG, Fernando Jayme, defendeu o tratamento dos conflitos escolares por uma perspectiva de justiça restaurativa. Ele avaliou que o sistema punitivo é falho e que é preciso apostar no diálogo e na mediação dentro das instituições de ensino.
"Isso passa pelo reempoderamento das escolas. A violência e a desinformação vêm deixando a escola muito vulnerável. A escola é um ambiente que acolhe a diversidade e é um território de interações humanas tensionadas pelas diferentes individualidades. Os conflitos representam janelas de oportunidades para ressignificar relações, transformando-as, restaurando-as, reparando-as".
Por - Agência Brasil
A operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás (MP-GO), revelou a existência de esquemas de manipulação de resultados de partidas de futebol para favorecer apostadores que contavam com a participação de jogadores das Séries A e B do Campeonato Brasileiro.

Para entender um pouco mais sobre este esquema fraudulento, a Agência Brasil conversou com o professor da pós-graduação em Direito Desportivo da PUC-PR Tiago Horta, que é membro do Comitê de Defesa do Jogo Limpo do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Durante a entrevista o especialista em integridade esportiva afirma que a decisão do Governo Federal de regulamentar o mercado de apostas esportivas no país é positiva, mas não é o bastante. É fundamental estabelecer, em todo o território nacional, um sistema de integridade forte.
Além disso, o pesquisador entende que as consequências dos escândalos revelados através da Operação Penalidade Máxima são devastadoras e que, para amenizar um pouco os estragos causados, as punições devem ser exemplares, para que a indústria do futebol não caia em descrédito.
Agência Brasil: Em dezembro de 2018 foi publicada a LEI Nº 13.756, que liberou a atuação das Casas de Apostas esportivas no Brasil. Dessa data até hoje, como se constituiu o universo das apostas esportivas no Brasil?
Tiago Horta: A lei 3.756 de 2018 surgiu no sentido de tentar integrar o Brasil ao que estava acontecendo no contexto internacional. As apostas já eram uma realidade em grande parte do mundo, inclusive no Brasil. Era um mercado em crescimento, mas que até então ficava meio obscuro. A própria lei de contravenções penais já mencionava a questão das apostas, proibindo que sites desta natureza fossem hospedados no Brasil.
Porém, essa legislação abriu uma brecha para que esses sites operassem a partir de fora do Brasil, o cenário que se mantém em sua maioria até hoje. A lei legaliza a questão das apostas de cotas fixas esportivas, mas fica faltando uma regulamentação. Porém, o Governo anterior não teve interesse de mexer com o tema e essa realidade acabou se prolongando até os dias de hoje.
A lei trouxe algumas situações interessantes. Por exemplo, na questão dos patrocínios ela abriu uma espécie de caixa de Pandora. Antes tínhamos alguns ensaios de algumas empresas que tentavam ingressar no esporte, anunciando na TV, com tentativas de anúncio em manga da camisa de um clube, mas tudo de forma discreta. Não se falava ainda que era site de apostas, usavam outro tipo de nomenclatura. Mas, a partir de 2018, eles se sentiram à vontade para isso, o que levou a que hoje, no futebol brasileiro, praticamente todos os grandes clubes das Séries A e B tenham algum tipo de patrocínio de sites de apostas. Os anúncios nas emissoras de TV também são muito presentes. Essa foi uma das principais consequências da falta de regulamentação.
A falta de regulamentação levou à falta de limites na questão dos patrocínios. Qual o limite do patrocínio em relação ao uso de atletas? O mercado busca no momento uma espécie de autorregulamentação, propondo que atletas com menos de 25 não sejam mais utilizados. O mesmo acontece com a possibilidade de atletas firmarem parcerias privadas com sites de apostas. Não existe um regramento que libere ou proíba. O desafio é muito grande nesse sentido. É necessário realmente ser verificada essa situação, para que, a partir da regulamentação, tenhamos, ao menos, um conhecimento das regras. A partir daí as autoridades poderão cobrar o cumprimento delas.
No meu entendimento a regulamentação não é a solução final para manter a integridade do esporte, mas penso que a regulamentação pode ser um dos fatores que ajudarão na construção de um sistema forte de integridade.
Agência Brasil: Muitas pessoas ainda não compreendem como se dão as apostas investigadas. De forma sintética, quais as modalidades de apostas oferecidas? E qual a razão de as apostas em cartões amarelos ganharem protagonismo nas investigações conduzidas pelo Ministério Público?
Tiago Horta: O mercado de apostas ainda está engatinhando no Brasil. Ganhou força nos últimos quatro anos. Então, ainda é tudo parte de um grande aprendizado. Os mercados relacionados a um evento esportivo são variados. Você tem, por exemplo, o mercado de resultados, de quem vai vencer a partida, que é similar à loteria esportiva. Além disso, há o mercado de gols, de quantos gols serão marcados no jogo. Existem variações desses mercados, relacionadas aos tempos do primeiro e do segundo tempo de um jogo: Quem vai ganhar no primeiro tempo? Quem vai ganhar no segundo tempo? Esses seriam os mercados mais populares, nos quais há mais liquidez, mais dinheiro correndo. Porém, há outros mercados que geram interesse dos apostadores, como o de quem vai marcar o gol, ou de cartões amarelos, de escanteios. Há pessoas que se interessam em apostar nesses mercados secundários, pois acreditam que, eventualmente, pode ser mais vantajoso.
Sobre a questão dos cartões amarelos, entendo que ela ganhou relevância porque, no entendimento dos manipuladores, para manipular o resultado final de uma partida é necessário cooptar um grupo de atletas. Dentro dessa noção de fraudes é importante saber que os manipuladores nem sempre conseguem alcançar êxito em suas tentativas.
Aí entra a questão dos cartões. Para fraudar uma situação de cartão amarelo basta cooptar um único atleta. Esse acordo é mais pontual, acaba sendo mais fácil de ser alcançado. Além disso, esses atletas se sentem constrangidos de manipular o resultado de uma partida, o resultado final de um jogo. Mas quando os aliciadores propõem uma fraude em uma situação de cartão, muitas vezes eles conseguem convencer os atletas, afirmando que aquela é uma situação que não gerará um grande dano ao resultado da partida.
O grande problema é que, a partir do momento no qual o atleta aceita isso pela primeira vez, ele está na mão do aliciador. Então dificilmente conseguirá sair disso. Ele fica suscetível a receber ameaças e chantagens. Por isso a educação é algo tão importante. Os atletas precisam aprender sobre o risco de ingressarem nisso e da importância de refutarem qualquer proposta neste sentido.
Agência Brasil: Algo que chama a atenção de muitas pessoas é o envolvimento de jogadores das Séries A e B nestes crimes, isto porque há a percepção de que estes atletas possuem bons vencimentos. O que explica este envolvimento?
Tiago Horta: A grande questão é que, quando estamos lidando com atletas, temos que lembrar que estamos lidando com pessoas, não com máquinas. A questão dos vencimentos mostra muito isso. Há dois fatores que considero muito importantes aqui. O primeiro é que não há uma uniformidade de salários baixos ou altos. O Flamengo, por exemplo, tem uma faixa de vencimentos, enquanto o elenco do Cuiabá tem outro. São muito discrepantes as realidades salariais e, dentro dos próprios elencos, também há atletas que recebem salários muito diferentes uns dos outros.
O segundo fator é que os atletas estão inseridos em um contexto familiar, de amigos. Esses atletas, às vezes para ajudar algum conhecido ou de alguma forma influenciados, podem ser levados a praticarem esse tipo de fraude. Essas fraudes de cartão amarelo acontecerão mesmo nos campeonatos mais importantes, aqueles que terão liquidez nos mercados de cartões, que terão dinheiro suficiente correndo para que se justifique a prática dessas fraudes. Muito dificilmente jogos de Séries C ou D oferecerão esse tipo de mercado, pois não movimentarão dinheiro suficiente para que as apostas possam acontecer nesses mercados sem levantar maiores suspeitas.
Agência Brasil: Na sua avaliação, quais os prejuízos que o clima de desconfiança causado pela revelação de esquemas de fraudes traz para o futebol brasileiro?
Tiago Horta: Entendo que a situação é devastadora. O mal tem que ser cortado pela raiz. Os exemplos punitivos devem ser exemplares, não se pode passar a mão na cabeça do atleta num momento como este, pois todo o ambiente é colocado em risco, toda a indústria do futebol fica ameaçada. Basta notar a perplexidade das pessoas nos últimos dias, a preocupação e o sentimento de desconfiança que aumentou de forma absurda. O futebol, o esporte como um todo, tem dois pilares fundamentais: a credibilidade e a imprevisibilidade. Esses dois pilares têm de ficar de pé, para o bem de toda a indústria esportiva (patrocínio, contratos de atletas, contratos de TV, etc). Caso um desses pilares seja quebrado, o sistema inteiro vem abaixo.
Penso que os tribunais esportivos estão com uma postura lenta em relação ao que tem sido noticiado pela imprensa. Além disso, há a denúncia do Ministério Público de Goiás que nomeia vários jogadores. A partir do momento em que há um jogador sobre o qual paira uma suspeita de participação em um esquema fraudulento, é totalmente inviável que esse jogador continue atuando. Não é cercear o direito de defesa de ninguém, mas todos esses jogadores deveriam ser suspensos preventivamente, não podendo atuar até que os fatos sejam plenamente esclarecidos. Isso tudo porque todo um sistema está em risco e não podemos considerar que a simples presunção de inocência desses atletas seja mais importante do que todo um sistema. Temos que manter a credibilidade e a imprevisibilidade. Essa deve ser a prioridade número um. Posteriormente esses atletas terão a possibilidade de se defenderem, e aqueles que conseguirem provar sua inocência devem voltar a jogar. Já os demais, penso que não devem.
Agência Brasil: Que ações podem ser tomadas (por CBF, Governo, etc) para evitar estes crimes? A regulamentação das apostas pode ser um caminho?
Tiago Horta: Todos têm um papel no combate à manipulação de resultados. Porém, devemos ter clareza de que não vamos acabar com a manipulação de resultados, mas devemos tomar uma série de medidas para prevenir a ocorrência e saber de que forma atuar quando os casos vierem à tona. E essa atuação deve ser assertiva. Principalmente no âmbito esportivo, existe muita dúvida em relação ao que fazer, de que forma agir. Nesta questão os diferentes atores relacionados ao setor de apostas esportivas têm que trabalhar juntos, cada um dentro do seu âmbito de atuação: as autoridades públicas, a CBF, as demais federações esportivas, os clubes e também as empresas privadas, que podem contribuir com soluções de compliance (para garantir que as regras sejam seguidas), de monitoramentos de sites de apostas, com canais de oferecimento de canais de denúncia e com produção de investigações privadas. Existem várias ferramentas. Isso tudo tem que ser estruturado dentro de um sistema. Não adianta achar que uma ação isolada das autoridades públicas resolverá o problema, ou somente uma ação das entidades esportivas.
O trabalho de prevenção talvez seja o fator mais importante. Fazendo um bom trabalho de prevenção se evita a participação, a entrada, de grande parte desses atletas e árbitros em esquemas de manipulação de resultados. É um trabalho que deve ser liderado pelas entidades esportivas tanto de administração do desporto (federações, CBF) como pelas entidades de prática desportiva (que são os clubes). Todos eles têm que trabalhar em âmbito nacional. Não adianta achar que o poder público fará isso sozinho. Mas isso também demanda investimento das entidades esportivas, que muitas vezes se omitem de tomar as providências necessárias, pois afirmam que será caro. Mas elas devem compreender que é necessário cumprir sua parte, enquanto o poder público atuará da forma que está atuando agora, nos casos nos quais a educação não conseguiu gerar a consciência nas pessoas envolvidas (atletas, árbitros, dirigentes) de que não deveriam praticar fraudes.
Hoje não temos um ambiente construído para um trabalho preventivo, e todas as demais iniciativas de combate ao problema não estão consideradas dentro de um sistema. Uma federação, por exemplo, pode contratar um sistema de monitoramento para detectar as fraudes, e eles não sabem dar sequência a essa iniciativa. O que fazer com essa informação agora? A prevenção e o combate passam pela construção de sistemas estruturados de integridade. Não adianta achar que uma iniciativa isolada e construída de qualquer forma resolverá o problema.
Por - Agência Brasil
Quando deixou Araioses, no Maranhão, de ônibus e percorreu mais de 2 mil quilômetros até Brasília, em 2017, Maria de Fátima Santos, então com 18 anos de idade, sonhava engatar em uma profissão no comércio e voltar aos estudos. Aos 15 anos, Maria de Fátima tinha abandonado a escola, no quinto ano fundamental, para ajudar em casa.

Ela trabalhava no interior maranhense como diarista. Os livros não tinham espaço, nem eram prioridade na rotina da jovem. Hoje, em Brasília, a escola é só um sonho distante. Atualmente, perto dos 25 anos de idade, ela vive da coleta de objetos no lixo de condomínios para conseguir algum recurso, pagar o aluguel e mandar ao menos R$ 50 para a mãe, que ficou em Araioses.
Da escola, Maria de Fátima diz que sente falta das aulas de matemática. “Eu gostava e iria me ajudar na minha vida hoje.”
Deixar a escola em plena juventude não é raro no Brasil, conforme aponta uma pesquisa realizada pelo Sesi/Senai (Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. Depois dos 16 anos, apenas 15% estão em salas de aula.
”Os dados são fortes. Só 15% da população atualmente estuda. É claro que, na idade escolar, o número sobe para 53%”, afirmou o diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi.
Das pessoas que não estudam, 57% disseram que abandonaram a sala de aula porque não tinham condições. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (47%) para interrupção dos estudos.
“Um número muito alto de pessoas deixa de estudar por falta de interesse na escola que, muitas vezes, não tem elementos de atratividade para os jovens e certamente esses números se agravaram durante a pandemia”, afirmou Lucchesi.
O levantamento mostrou que apenas 38% das pessoas com mais de 16 anos de idade que atualmente não estudam alcançaram a escolaridade que gostariam.
Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixar de estudar é a gravidez ou o nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez ou pela chegada de um filho é maior entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional, de 7%.
Preparo
O levantamento revela também que a maioria dos jovens acima dos 16 anos de idade considera que a maioria dos que têm ensino médio ou ensino superior considera-se pouco preparada ou despreparada para o mercado de trabalho.
O levantamento foi realizado com uma amostra de 2.007 cidadãos com idade a partir de 16 anos, nas 27 unidades da federação. As entrevistas foram feitas entre 8 e 12 de dezembro do ano passado.
Entre as pessoas que responderam a pesquisa, 23% disseram que a alfabetização deveria ser prioridade para o governo, seguida pela instituição de creches (16%) e pela ênfase no ensino médio (15%).
A educação pública é vista como boa ou ótima por 30% da população, índice que sobe para 50% quando se fala de educação privada.
Entre os fatores para aumentar a qualidade, os mais citados são o aumento do salário dos professores, mais capacitação deles e melhores condições das escolas.
Avaliação
Pelo menos 23% das pessoas ouvidas na pesquisa avaliaram a educação pública como ruim ou péssima e só 30% a consideraram ótima ou boa. A educação privada é avaliada como boa ou ótima por 50% dos entrevistados.
Para Rafael, Lucchesi, a pesquisa traz uma dura reflexão sobre a necessidade de aumentar a qualidade da educação e também a atratividade da escola e, “como resultado geral, melhorar a produtividade das pessoas na sociedade”.
Por -Agência Brasil
Primeiro, poderia parecer uma divisão. Quatro crianças, irmãos consanguíneos, que viviam em um mesmo abrigo na cidade de Patos (MG), souberam que seriam adotados por três famílias diferentes de Brasília. O que parecia divisão, na verdade, era uma multiplicação. 

Os três casais se prepararam, refletiram e aprenderam que, para adotar, o fundamental era pensar nas crianças, em primeiro lugar, e respeitar os vínculos afetivos entre elas.
Mesmo sem ter relação prévia de amizade, os casais uniram-se, somaram-se em sentimentos, a partir de um centro de apoio à adoção (chamado Aconchego, na capital federal), e chegaram à conclusão de que, para ser de verdade e tudo funcionar, deveriam formar uma “família grande” e nunca mais se deixarem.
O grande dia em que os documentos estavam prontos está guardado no calendário como a data mais especial: 13 de maio de 2016. Contam de cabeça: lá se vão mais de sete anos. O dia é considerado um novo nascimento para crianças e os adultos, que ouviram desde o começo as palavras que sonharam: “mãe”, “pai". Sete anos depois, eles todos têm uma certeza: esta é uma história de aprendizado, que não pode ser romantizada ou idealizada, mas que é feita de amor.
Eles já perderam as contas de festas, almoços e encontros em fins de semana. Lá se vão, por exemplo, sete festas de Natal antecipadas para reunir os irmãos. Os adultos passaram também a ter uma relação fraterna. “Hoje, as outras mães são como minhas irmãs”, afirma Denise Mazzuchelli, que é psicóloga e tem 39 anos de idade. Foi com ela e com o marido Alison que ficaram duas das crianças.
A mais velha tinha nove anos (hoje tem 16), e o mais novo, perto dos três anos (prestes a comemorar os 10). “Foi uma mudança muito grande para eles e para nós também. Éramos eu e meu marido e, de repente, a gente tinha dois filhos com idades distantes. Fomos nos conhecendo e foi uma conquista mútua”, diz Denise. Diante da novidade, a mãe entende que a adaptação à nova vida foi “muito boa”.
“Acho que a gente deu muita sorte também em relação às outras famílias que adotaram. Embora sejamos diferentes, temos valores primordiais muito semelhantes. São pessoas que realmente entraram na minha vida e que eu não quero jamais que saiam. Hoje são minha família”, garante Denise.
Ela enfatiza que os pretendentes à adoção devem ter preparo psicológico adequado. O desejo deles por adotar surgiu porque Denise atuava como psicóloga voluntária no grupo de apoio à adoção Aconchego. Ao conhecer outras histórias, pensou com o marido que adotar faria parte da vida deles. Depois, tiveram uma terceira filha biológica. “O processo de adoção, eu entendo, não deve durar menos do que uma gestação porque necessita que a criança tenha o melhor acolhimento possível”.
Distância curta
Um baque na vida de Denise foi quando o pai, no ano passado adoeceu e morreu, há dois meses. Isso fez com que o núcleo dela mudasse, ao menos temporariamente, para Uberlândia (MG), a pouco mais de 400 quilômetros de Brasília. “Mas estamos todos tão ligados que as outras famílias com os irmãos biológicos dos meus filhos vêm para cá com frequência. Não estamos tão próximos quanto antes, na mesma cidade”.
Para tomar essa decisão de mudar, foi preciso conversar muito com as outras mães e crianças. “E todos me deram apoio. Somos uma família”. Em Minas Gerais, atua também como psicóloga voluntária em outra organização não governamental (a ONG Pontos de Amor).
Plano antigo
Como uma “irmã” de Denise, Bianca Tinoco, de 44 anos, que é servidora pública, recorda que ela e o marido Lúcio tinham o plano antigo de serem pais. Entraram na fila da adoção, e o grupo de apoio com encontros mensais de acolhimento foi fundamental para que se conscientizassem e se fortalecessem, inclusive em relação à ideia de adotar uma criança mais velha.
“Minha filha tinha sete anos. Hoje tem 14. Desde então, somos essa família que tinha 12 pessoas e agora tem 13. Hoje é muito tranquilo. Nós temos conexão”. Essa identificação se deu durante todo o período de convivência anterior, por vídeos. “Falávamos do nosso modo de vida, da nossa casa. Era realmente para se apresentar a criança tentando não gerar tanta expectativa”. O casal também tem um filho biológico, dois anos mais novo.
Denise lembrou que, depois, foram autorizados a mandar alguns presentes e as crianças se prepararam para encontrar os pais. “Foi um período bacana e também de muita ansiedade durante um mês”. No dia 13 de maio, em que houve a autorização da guarda provisória, os três casais foram buscar os filhos. “Foi um encontro de encantamento. A gente brinca, eu e meu marido, que ganhamos uma família de 13 pessoas”. Aprenderam a exercer o papel de educação, orientar e chamar atenção sem constrangimentos. A garota gosta de estudar e de esportes.
“A gente acredita que a adoção vem antes da filiação. O filho adotivo não tem nada diferente de um filho biológico”, afirma o pai Lúcio Pereira, de 44 anos, que é jornalista. Ele entende que a maternidade e a paternidade não devem ser idealizadas e, por isso, é tão importante um grupo de apoio para os pretendentes à adoção.
A forma como ocorreu a adoção da filha dele, que gerou uma relação mais próxima com outras famílias, foi possível graças a um sentimento de fraternidade entre eles. Entre os filhos, afirma, foram sendo fortalecidos, passo a passo, confiança, carinho e respeito.
Novidade
A professora Lilian Ribeiro, 41 anos, e o marido Normando, de 50, são o outro casal dessa parceria de três famílias. “Temos uma relação de muita resiliência, muita partilha entre nós, os pais, de aprendizado e amor”, diz a mãe. A chegada da filha foi um presente para eles. “Mas, além dela, trouxe pra gente também uma grande família. Eu sempre fui muito unida com os meus irmãos e queria muito que a minha filha não fosse privada do convívio com os irmãos biológicos”. A garota tem um irmão também adolescente dentro de casa. E essa relação de amor é uma novidade para a filha.
A mãe recorda que foi também, aos poucos, que a menina foi se sentindo mais segura e se soltando. Foi entendendo que aquela ali era a casa dela e que não ficaria mais sozinha. “Eu lembro que, uma vez, ela ficou com gripe e eu cuidando dela. Ela falou assim: ‘mamãe, eu nunca fiquei assim’”. A mãe se surpreendeu: “Como assim, nunca ficou doente?
A menina respondeu: “já fiquei doente várias vezes, mas nunca fiquei assim e alguém cuidando de mim’”.
Estrutura de família
A psicóloga Soraya Pereira, presidente da Aconchego, que apoiou a decisão pela adoção de irmãos consanguíneos, defende que o primeiro passo do grupo de apoio foi trabalhar a estrutura familiar desses adultos para garantir o sentido de pertencimento às crianças.
“Ao mesmo tempo, trabalhamos com as crianças mostrando que elas precisam confiar, que elas se têm e que não vão se afastar. Elas sabem que pertencem a uma grande família”.
Segundo a psicóloga, é necessário explicar aos pais que eles passam a ter papel diário e que decisões e exemplos acontecem na intimidade de casa. “Esse amor é construído. Essa ideia de que você olha e já começa a amar é mentira. Essa construção, muitas vezes, não ocorre de imediato e demora um pouco para acontecer “. Por isso, o adulto precisa estar muito bem amparado.
“Perfeitamente possível”
Em entrevista à Agência Brasil, a professora de direito Samantha Dufner, que é pesquisadora do tema e autora do livro Famílias multifacetadas, lançado recentemente, aponta que o Estatuto da Criança e do Adolescente tem um dispositivo que recomenda a adoção de irmãos em conjunto.
No entanto, considera que, em casos assim, é difícil que uma família tenha estrutura para receber quatro pessoas de uma vez. “Nesse caso, por exemplo, é perfeitamente possível que a adoção tenha sido ajustada para que esse elo afetivo não seja perdido. Dentro da realidade brasileira, vejo com muito bons olhos que eles tenham sido adotadas dessa maneira. O foco tem que ser a criança”.
Estrutura de família
A psicóloga Soraya Pereira, presidente da Aconchego, que apoiou a decisão das famílias pela adoção de irmãos consanguíneos, defende que o primeiro passo do grupo de apoio foi trabalhar a estrutura familiar desses adultos para garantir o sentido de pertencimento às crianças.
“Ao mesmo tempo, trabalhamos com as crianças mostrando que precisam confiar, que elas se têm e que não vão se afastar. Essas crianças sabem que pertencem a uma grande família”.
De acordo com a psicóloga, é necessário explicar aos pais que eles passam a ter papel diário e que decisões e exemplos acontecem na intimidade de casa. “Esse amor é construído. Essa ideia de que você olha e já começa a amar é mentira. Essa construção, muitas vezes, não ocorre de imediato e demora um pouco“. Por isso, o adulto precisa estar muito bem amparado.
“Perfeitamente possível”
Em entrevista à Agência Brasil, a professora de direito Samantha Dufner, que é pesquisadora do tema e autora do livro Famílias multifacetadas, lançado recentemente, aponta que o Estatuto da Criança e Adolescente tem um dispositivo que recomenda a adoção de irmãos em conjunto.
Ela considera, no entanto, que é difícil que uma família tenha estrutura para receber quatro pessoas de uma vez. “Nesse caso, por exemplo, é perfeitamente possível que essa adoção tenha sido ajustada para que o elo afetivo não seja perdido. Dentro da realidade brasileira, eu vejo com muito bons olhos que eles tenham sido adotadas dessa maneira. O foco tem que ser a criança”. Ainda mais em uma realidade tão diversa como a do Brasil, conforme mostra o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), a cargo do Conselho Nacional de Justiça.
Há hoje no Brasil 4.393 crianças aptas à adoção e 33.998 pretendentes em um descompasso. A maioria deles (61,8%) aceitaria adotar uma criança e 35,8% concordariam em receber dois filhos. Acima de três crianças, apenas 2,3% dos pretendentes aceitariam.
Outro dado interessante é que de 2019 a 2022, 9.540 adoções foram feitas de apenas uma criança. Um total de 3.092 foi com um irmão, 1.540, com dois irmãos, 872 com três irmãos e 780 com mais de três.
Preconceitos
O casal de advogados Karina Berardo, de 45 anos, e Hugo Teles, de 44, adotaram dois filhos, o primeiro, um menino (hoje com 13 anos), e depois uma menina (atualmente com 12). O casal estava na fila e continuou para ter a segunda filha.
A partir da experiência da adoção, tornaram-se ativistas nesse tema e atuam como voluntários no grupo de apoio Aconchego. “Os grupos de apoio trabalham antes, durante e depois da adoção. Da situação de pretendente a quem já tem a guarda, há cursos e reuniões de orientação”, afirma a mãe.
Outra luta do casal, além do processos de adoção, é o combate ao racismo. “Não dá para a gente fingir que não existe”, diz Karina, que se revolta ao verificar situações relacionadas aos filhos.
Ela conta que as crianças já foram alvo desse tipo de crime em espaços que vão do condomínio à escola. Para sanar questões de representatividade, que não eram contempladas no ambiente educacional, os pais passaram a incentivar o conhecimento de personagens e de artistas negras.
Também enfrentou o preconceito o arquiteto carioca Ricardo Stumpf, hoje com 72 anos, que mora em Camaçari (BA). Depois de quatro filhos biológicos, ele, em um momento em que estava solteiro e de reflexão sobre a vida, soube de uma situação de vulnerabilidade de uma menina de 9 anos em Vitória da Conquista. Stumpf diz que repensou a própria vida depois de ter sido vítima de um sequestro.
“Foi depois disso que resolvi adotá-la”. Foi a descoberta de uma amizade de pai e filha. Em um período em que residiu em Brasília, afirma que presenciou episódio de racismo contra ela. Pediu demissão de um emprego e se mudou para a Bahia. Hoje, aquela menina é técnica de enfermagem e atua na saúde pública da cidade de Rio de Contas (BA). “Faço faculdade de enfermagem. Pelo que meu pai me ensinou, penso sempre que um dia vou poder cuidar dele também com minha profissão”.
Ricardo hoje tem mais motivos de felicidade e se sente rejuvenescido. Ele é casado, desde 2014, com Adriano, que é contador. O companheiro já havia manifestado o desejo de ter filho. Ricardo teve dúvidas se teria a mesma energia quando já havia passado dos 60 anos. Eles entraram na fila de adoção para adotar duas crianças, mais precisamente dois irmãos, que estavam em situação de vulnerabilidade em um abrigo na cidade de Ilhéus.
A orientação da Justiça seria que a adoção deveria ser dos dois. Isso ocorreu em 2017. O mais velho tinha quatro anos de idade. O mais novo, um ano e meio.
“Eu me questionei: será que tenho condições de criar essa criança? Eles vieram quando eu tinha 66 anos. E vi que consigo fazer tudo. Me deu mais um sentido de vida e me sinto mais disposto por causa dela”. Considerando a idade e a experiência de vida, o arquiteto descobriu que o amor era mesmo impossível de ser quantidficado.
Por - Agência Brasil



























