Cerca de 62 mil internações de idosos foram registradas nos primeiros quatro meses deste ano no Brasil, após episódios de queda. Além disso, os atendimentos ambulatoriais - sem necessidade de internação - passaram de 67 mil.
Ao longo de todo o ano de 2024, houve mais de 344 mil atendimentos ou hospitalizações. Ao mesmo tempo, 13.385 idosos não resistiram aos ferimentos causados por quedas.
Os dados do Ministério da Saúde mostram a dimensão do problema e reforçam o alerta deste dia 24 de junho, escolhido como Dia Mundial de Prevenção de Quedas pela Organização Mundial da Saúde - OMS.
“As quedas representam um risco muito mais grave para pessoas idosas porque, além da maior fragilidade óssea, com maior propensão a fraturas, como as de quadril, o tempo de recuperação é mais longo e, muitas vezes, pode comprometer de forma definitiva a mobilidade, a independência e a qualidade de vida”, explica a especialista em gerontologia Nubia Queiroz.
Fratura do quadril
Uma das consequências frequentes mais preocupantes das quedas é a fratura no quadril, pois, além da lesão óssea, pode levar a complicações como infecções, trombose e pneumonia, elevando o risco de mortalidade, alerta o presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico (SBTO), Robinson Esteves.
Além dos efeitos físicos, muitos idosos ficam com medo de cair novamente após um episódio e, por isso, passam a reduzir suas atividades físicas e sociais, acrescenta Núbia. Segundo essa especialista, os exercícios físicos são grandes aliados da prevenção às quedas por favorecer o equilíbrio, a força muscular e a flexibilidade.
Núbia também ressalta a importância de adaptar o ambiente doméstico conforme a idade vai aumentando: “retirar tapetes soltos, instalar barras de apoio em banheiros, melhorar a iluminação e eliminar obstáculos nos caminhos”.
Também é essencial manter acompanhamento médico e ter cuidado redobrado com medicamentos que podem causar tonturas ou outros efeitos semelhantes.
Muitas famílias também têm recorrido a serviços de teleassistência, como os sistemas de botão de emergência que o idoso pode acionar caso tenha alguma emergência.
Pedidos de ajuda
A médica coordena a Central de Atendimento 24 horas da empresa TeleHelp e diz que - de janeiro a maio deste ano - as quedas se tornaram a principal ocorrência registrada entre os pacientes. Os pedidos de ajuda subiram de 16% para 23%. Os dados da empresa mostram ainda que a maior parte dos acidentes ocorre no quarto ou no banheiro.
Ela acrescenta que essas ferramentas são uma opção para que os idosos não precisem mudar suas rotinas por causa do risco de quedas. “A autonomia e a independência são fundamentais para o envelhecimento saudável, pois influenciam diretamente o bem-estar emocional, a autoestima e a qualidade de vida”, complementa a especialista em gerontologia.
O presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico, Robinson Esteves, alerta que nenhum episódio de queda entre idosos pode ser minimizado.
“As quedas em idosos representam um dos maiores desafios para a saúde pública atualmente, em razão das graves consequências para a qualidade de vida dessa população. Mesmo quando a queda parece simples, os riscos de complicações são altos, principalmente entre os mais velhos. Por isso, todo cuidado é pouco, tanto na prevenção quanto no atendimento imediato”, salienta.
Esteves recomenda que mesmo os casos aparentemente leves devem ser monitorados e o idoso deve ser levado ao serviço de saúde caso apresente hematomas, dificuldade de movimentação ou dores. Episódios com perda de consciência ou suspeita de fratura exigem socorro médico imediato.
por - Agência Brasil
A partir desta segunda-feira (23), farmácias e drogarias começam a reter receitas de medicamentos agonistas GLP-1, popularmente conhecidos como canetas emagrecedoras.
A categoria inclui a semaglutida, a liraglutida, a dulaglutida, a exenatida, a tirzepatida e a lixisenatida.
A decisão por um controle mais rigoroso na prescrição e na dispensação desse tipo de medicamento foi tomada pela diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril e entrou em vigor 60 dias após a publicação no Diário Oficial da União.
Em nota, a agência informou que a medida tem como objetivo proteger a saúde da população brasileira, “especialmente porque foi observado um número elevado de eventos adversos relacionados ao uso desses medicamentos fora das indicações aprovadas pela Anvisa”.
A análise, segundo a agência, se baseou em dados de notificação do VigiMed, sistema disponibilizado pela Anvisa para que cidadãos, profissionais de saúde, detentores de registro de medicamentos e patrocinadores de estudos possam reportar suspeitas de eventos adversos relacionados a medicamentos e vacinas.
Em uma análise comparativa, o sistema de farmacovigilância, de acordo com a agência, sinalizou “muito mais eventos adversos relacionados ao uso fora das indicações aprovadas pela Anvisa no Brasil do que os dados globais”.
Ao apresentar seu voto, em abril, o diretor-presidente substituto da Anvisa, Rômison Rodrigues Mota, destacou que o incentivo ao uso de canetas emagrecedoras apenas com finalidade estética, acompanhado de promessas e depoimentos de rápida perda de peso e sem o devido acompanhamento médico, coloca em risco a saúde dos usuários:
“Estamos falando de medicamentos novos, cujo perfil de segurança a longo prazo ainda não é totalmente conhecido. Por isso, é fundamental o monitoramento e a vigilância. O uso sem avaliação, prescrição e acompanhamento por profissionais habilitados, de acordo com as indicações autorizadas, pode aumentar os riscos e os potenciais danos à saúde.”
Entenda
Com a decisão da diretoria colegiada da Anvisa, a prescrição de medicamentos agonistas GLP-1, incluindo Ozempic, Mounjaro e Wegovy, deve ser feita em duas vias, e a venda só pode ocorrer com a retenção da receita nas farmácias e drogarias, assim como acontece com antibióticos.
A validade das receitas será de até 90 dias a partir da data de emissão, período durante o qual poderão ser utilizadas pelo paciente.
Farmácias e drogarias, por sua vez, devem incluir, no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), a escrituração da movimentação de compra e venda dos medicamentos.
Segundo a agência, a decisão não altera o direito do profissional médico de prescrever os medicamentos para finalidades diferentes das descritas na bula.
A prática, conhecida como uso off label, ocorre quando o médico entende que, para determinado paciente, os benefícios do tratamento superam os riscos.
“É uma decisão tomada com responsabilidade pelo médico e sempre com o devido esclarecimento ao paciente, garantindo que ele esteja bem-informado sobre o procedimento”, destacou a Anvisa.
Uso indiscriminado
A retenção do receituário de canetas emagrecedoras já era defendida por entidades da área da saúde, incluindo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Sociedade Brasileira de Diabetes e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.
Em nota aberta, as entidades citam que o uso indiscriminado desse tipo de medicamento gera preocupações quanto à saúde da população e ao acesso de pacientes que realmente necessitam desse tipo de tratamento.
“A venda de agonistas de GLP-1 sem receita médica, apesar de irregular, é frequente. A legislação vigente exige receita médica para a dispensação destes medicamentos, porém não a retenção da mesma pelas farmácias. Essa lacuna facilita o acesso indiscriminado e a automedicação, expondo indivíduos a riscos desnecessários”, destacou o documento.
Por - Agência Brasil
Apesar das coberturas vacinais no Brasil estarem em rota de recuperação, as diferenças entre estados e municípios e os esquemas incompletos ainda são desafios que ameaçam a saúde pública brasileira.
Essas são as principais conclusões do Anuário VacinaBR, produzido pelo Instituto Questão de Ciência (IQC), em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A publicação mostra que, em 2023, nenhuma vacina infantil do calendário nacional atingiu a meta de cobertura em todos os estados. O destaque negativo ficou com os imunizantes que protegem contra a poliomielite, meningococo C, varicela e Haemophilus influenzae tipo B – nesses casos, nenhum estado vacinou 95% do público-alvo, porcentagem necessária para evitar a transmissão dessas doenças.
Além disso, apenas 1.784 municípios, ou menos de 32% dos mais de 5.570 existentes no Brasil, conseguiram cumprir a meta de cobertura para quatro vacinas considerados prioritárias: pentavalente, poliomioliete, pneumo-10 e tríplice viral. O melhor desempenho foi o do Ceará, onde 59% das cidades imunizaram o público-alvo. No Acre, porém, apenas 5% dos municípios alcançaram a marca.
"Saúde é competência concorrente da União, dos estados e dos municípios. O problema da imunização não pode ser atacado de maneira uniforme, porque a gente vive em um país de dimensões continentais que tem desafios muito específicos. E a gente viu, no Anuário, que às vezes tem municípios adjacentes, com condições muito parecidas, mas com taxas de imunização muito diferentes", alerta o diretor executivo do IQC e organizador do Anuário VacinaBR, Paulo Almeida.
Mesmo a vacina BCG, que protege contra formas graves de tuberculose e deve ser tomada logo após o nascimento – por isso, muitas vezes, é aplicada ainda na maternidade – só alcançou a meta de cobertura em oito unidades federativas. Em 11 estados, a taxa de imunização ficou abaixo de 80%, alcançando menos de 58% dos bebês no Espírito Santo. Dentro de todos os estados, há cidades que vacinaram 100% do público-alvo e outras que não imunizaram nem a metade.
A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabela Balallai, também destaca o protagonismo dos gestores municipais para aplicar as recomendações do Ministério da Saúde e a necessidade de seguir o planejamento estadual, conforme as realidades locais. Isabela lembra que o maior combustível para a hesitação vacinal é a baixa percepção de risco, quando as pessoas não sabem, ou não dão valor para o perigo das doenças preveníveis por vacina.
"O acesso também é um grande problema no Brasil. Temos 38 mil salas de vacinação, país nenhum tem isso. Mas se a pessoa vai ao posto e recebe uma informação errada, ela não volta. Se só funciona em horário comercial, e ela trabalha, ela não consegue levar os filhos. Se ela vai num dia, e a vacina acabou, ela não vai consegui voltar em outro dia. A falta de informação, somada à baixa percepção de risco é igual à não vacinação", acrescenta a diretora da Sbim.
Abandono
De maneira geral, as curvas de vacinação no Brasil indicam diminuição das taxas de cobertura desde 2015, com queda mais brusca em 2021 e movimento de recuperação em 2022 e 2023. Já as porcentagens de abandono, quando a pessoa recebe a primeira dose, mas não completa o esquema vacinal, mantêm-se estáveis desde 2018.
Um exemplo é a vacina tríplice viral. Em 2023, a maior parte do país vacinou entre 80 e 85% do público-alvo e apenas quatro estados atingiram a cobertura ideal na primeira dose: Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia. O índice de aplicação da segunda dose não chegou a 50% em 14 estados, e a meta não foi atingida em nenhuma unidade federativa.
A tríplice viral previne contra o sarampo, a caxumba e a rubéola e deve ser tomada aos 12 e aos 15 meses de idade (sob a forma da vacina tetraviral, que também protege contra a varicela). Todas essas doenças podem desenvolver quadros graves e até provocar a morte, especialmente em crianças pequenas.
Atualmente, há surtos de sarampo em diversos países, e cinco casos isolados foram registrados no Brasil este ano. "As pessoas precisam saber que quem não completa o esquema vacinal continua desprotegido contra aquela doença", adverte Isabela Ballalai.
O diretor executivo do IQC e organizador do Anuário VacinaBR, Paulo Almeida, afirma que é preciso reconhecer que estratégias que deram certo no passado não são suficientes para enfrentar os desafios atuais: "A campanha hoje, por exemplo, não tem o mesmo peso por muitos motivos. Um deles é que as vozes são muito difusas. Antes, havia canais oficiais de comunicação com a população. Hoje, com a internet, temos infinitos canais de comunicação; então, é mais difícil acessar pela via direta da campanha."
Almeida ressalta, porém, que há novas ferramentas disponíveis. "Lembretes por SMS, por exemplo, conseguem melhorar muito a taxa de cobertura, porque a pessoa é cutucada para ir lá no posto. Porque ela sabe que é necessário, ela até quer até fazer, mas eventualmente o ritmo de vida interfere, e ela não consegue. Ou também a conveniência, que é superimportante: ter pontos de vacinação abertos em horários em que o cuidador pode levar a criança pra se imunizar.
Isabela Ballalai também defende o uso constante das escolas como ponto de vacinação e de educação sobre vacinas.
"A escola é capaz de combater os principais pontos da hesitação vacinal. Primeiro ponto: acesso. Os responsáveis não têm que levar ninguém a lugar nenhum, a criança, ou adolescente, já está ali. Segundo: informação. Explicar para a comunidade escolar porque é importante vacinar e que está tendo campanha, porque, às vezes, as pessoas não estão nem sabendo. Terceiro: a escola pode ser o caminho para as autoridades de saúde chegarem e se comunicarem com as famílias, e saberem qual a situação vacinal delas."
Por - Agência Brasil
O Censo das Unidades Básicas de Saúde (UBS) indica que 94,6% das unidades têm acesso à internet e 97,6% utilizam prontuário eletrônico. O levantamento, realizado em mais de 44 mil UBS, aponta ainda que 77,8% delas têm computadores conectados à internet em todos os consultórios.
Para o Ministério da Saúde, os dados são resultado de ações para o fortalecimento da atenção primária à saúde, cujo orçamento passou de R$ 35,3 bilhões em 2022 para R$ 54,1 bilhões em 2024.
Em nota, a pasta informou que uma parceria com o Ministério das Comunicações prevê a contratação de serviços de internet via satélite com prioridade para atender um total de 1.191 UBS em áreas remotas até o fim de 2025.
“Com a conectividade ampliada, somada às ações do programa Agora tem Especialistas, os serviços de telessaúde serão reforçados para superar o desafio de que apenas 39% das UBS oferecem serviços de telessaúde, sendo 21% deles teleconsultoria e 13% teleconsulta”, destacou o ministério.
“As medidas do programa têm potencial para reduzir até 30% as filas de espera por consulta ou diagnóstico da rede especializada do SUS [Sistema Único de Saúde]”, completou o comunicado.
Compartilhamento de dados
O censo aborda também o compartilhamento de dados entre a atenção primária e especializada – 25,3% compartilham o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC e-SUS APS) com serviços especializados e 9,3%, com hospitais públicos.
De acordo com o levantamento, a troca de informações entre profissionais da atenção primária e especializada ocorre em 41,4% das unidades, enquanto 27,9% das UBS recebem dados sobre alta hospitalar dos pacientes.
“O Agora Tem Especialistas vai contribuir para ampliar esta integração por meio de ações como os painéis de monitoramento”, informou o ministério.
Mais Médicos
Os dados revelam que 96,1% das UBS contam com médicos nas equipes de saúde. Para a pasta, o número é resultado da convergência de duas ações: a Estratégia de Saúde da Família e o programa Mais Médicos que, atualmente, compõe mais da metade dessas equipes.
Já os médicos especialistas em saúde da família estão presentes em 28,9% das UBS.
“O Mais Médicos também contribui ao ampliar o acesso à especialização em Medicina de Família e Comunidade. Atualmente, 25 mil médicos do programa atuam nas UBS, em 4.564 municípios brasileiros (81,9 %). Em maio deste ano, houve recorde de inscrições, com 45.792 profissionais inscritos”, informou o ministério.
Saúde bucal
O levantamento indica ainda que dentistas estão presentes em 80% das UBS, enquanto 74,4% contam com equipes de saúde bucal e 82,7% possuem consultório odontológico.
Além disso, o uso de prontuário eletrônico para atendimentos odontológicos é realidade em 82,3% das UBS, sendo que 23,7% deles são compartilhados com os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO).
Reformas e estrutura
O censo identificou que 60,1% das UBS do país precisam de reformas na estrutura física. O ministério destacou que o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Saúde prevê 135 entregas até o final de 2025.
“O Ministério da Saúde disponibilizou, também por meio do Novo PAC Saúde, 10 mil combos de equipamentos para as UBS, com 18 equipamentos cada combo, para fortalecer estratégias prioritárias da pasta, como ações de vacinação, combate às arboviroses, redução da mortalidade materna e infantil, SUS Digital, Mais Médicos e Agora tem Especialistas.”
Ainda em relação à estrutura, 18,2% das UBS informaram ter sido afetadas por desastres ambientais e/ou climáticos. A pasta anunciou esta semana um aporte de R$ 1,2 milhão para ações de resposta às emergências em saúde.
O levantamento revelou ainda que 85% das unidades permanecem abertas em todos os turnos e que 91% realizam visita domiciliar.
Entenda
O Censo das Unidades Básicas de Saúde realiza um diagnóstico dos estabelecimentos de saúde da atenção primária no âmbito do SUS.
Os resultados, segundo o ministério, servem para planejar investimentos com base em características e necessidades locais, além de qualificar serviços prestados à população, acompanhar resultados e impactos das políticas públicas de saúde e fortalecer a transparência e o controle social no SUS.
A iniciativa é coordenada pelo próprio ministério e conta com a participação de órgãos como o Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (Conasems), o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Conselho Nacional de Saúde (CNS), a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Por - Agência Brasil
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgada esta semana apontou que um em cada nove adolescentes brasileiros afirma que usa cigarro eletrônico. O estudo ouviu cerca de 16 mil pessoas de 14 anos ou mais, de todas as regiões do país.
Segundo o levantamento, a quantidade de usuários jovens que usam cigarro eletrônico já é cinco vezes o total daqueles que fumam o cigarro tradicional. A pesquisa utilizou dados de 2022 a 2024 do Terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad 3). É a primeira vez que cigarros eletrônicos entram no levantamento.
Apesar de o produto ser proibido no Brasil, a coordenadora da pesquisa e professora de psiquiatria da Unifesp, Clarice Madruga, ressalta que é muito fácil comprar o aparelho pela internet, o que amplia o acesso.
Outro problema, aponta a pesquisadora, é o risco à saúde, já que a inalação de substâncias altamente tóxicas, como a nicotina, é muito maior no cigarro eletrônico, se comparado ao cigarro tradicional. Clarice lamenta o retorno do crescimento do uso de cigarro, após o sucesso de políticas antitabagistas, iniciadas na década de 1990, que tinham freado o consumo.
"A gente teve uma história gigantesca de sucesso de políticas que geraram uma queda vertiginosa no tabagismo, mas que um novo desafio quebrou completamente essa trajetória. E a gente hoje tem um índice de consumo, principalmente entre adolescentes, muito superior e que está totalmente invisível”, afirma.
Os participantes ouvidos no estudo receberam a opção de serem encaminhados para tratamento no Hospital São Paulo e no Centro de Atenção Integral em Saúde Mental da Unifesp.
Por - Agência Brasil
Antes de ser testado em humanos, um novo medicamento precisa passar por exames de toxicidade, para evitar que seus componentes intoxiquem o organismo da pessoa, a ponto de causar mais prejuízos do que benefícios.
Atualmente, os testes são feitos em animais, mas, com a biofabricação de tecidos humanos, em breve, os laboratórios poderão ter uma alternativa mais fidedigna e mais rápida.
"Quando se descobre uma nova molécula, primeiro testa-se se ela tem função, e isso geralmente é feito em células do tecido alvo. Aí, passa-se para os testes em animais, entre os quais, o de hepatotoxicidade. No entanto, esses animais não são da mesma espécie que a humana e, como as drogas estão ficando cada vez mais específicas, tais pontos vão fazendo alguma diferença", diz a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Leandra Baptista.
Leandra é fundadora da Gcell, uma startup pioneira no desenvolvimento dos biotecidos no Brasil, que foi incubada dentro da UFRJ, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O produto voltado para os testes de toxicidade é o biotecido de fígado. Como os medicamentos orais são metabolizados no fígado, esse órgão acaba se tornando um indicador primário de que alguma substância é tóxica para o organismo.
"O modelo fabricado pela Gcell tem três dimensões de células, que se auto-organizam, lembrando mais, em termos de estrutura e função, o que seria o nosso tecido humano e com uma capacidade de respostas fisiológica, muito parecida, ou até igual, à do órgão", explica a professora. Dessa forma, os efeitos percebidos no tecido 3D têm mais capacidade de demonstrar como o organismo humano responderá à molécula que está sendo testada.
Além de substituir uma das etapas dos estudos com animais, os biotecidos podem expressar resultados mais confiáveis de reações adversas ou problemas de eficácia, que só seriam notados em etapas mais avançadas das pesquisas. Também permitem a simulação de efeitos crônicos ou acumulados no longo prazo, já que é possível superdosar as substâncias in vitro.
A Gcell também está iniciando um projeto com pesquisadores franceses que deve usar os biotecidos hepáticos na pesquisa de uma nova droga contra a fibrose hepática, doença que ainda não tem cura e não pode ser revertida.
"Estamos propondo usar esse modelo de biotecido porque consegue-se estimular fibrose in vitro também. Então, seria ideal para testar se essas moléculas que os pesquisadores estão desenvolvendo realmente têm potencial antifibrótico. E isso é muito importante porque a gente não tem nenhuma molécula antifibrótica no mercado hoje, e as pessoas morrem de cirrose hepática", acrescenta Leandra.
Segundo a professora, atualmente, os lotes de biotecido hepático desenvolvidos pela Gcell passam pelos processos de validação e caracterização morfológica, expressão de biomarcadores e testes metabólicos.
"Estamos trabalhando para obter as certificações necessárias, mas já temos indústrias farmacêuticas, de biotecnologia e cosméticos interessadas nos biotecidos de fígado por conta da capacidade de avaliar hepatotoxicidade e metabolismo de compostos com precisão."
O uso de biotecidos no desenvolvimento de fármacos e outros produtos é uma tendência mundial. Um dos exemplos mais disseminados são os tecidos de pele, usados na indústria cosmética, em substituição aos testes feitos em animais. Há também modelos avançados em uso feitos com células cardíacas, pulmonares, renais e também da córnea, pâncreas e sistema nervoso central. A Gcell também já desenvolveu biotecidos de pulmão, articulações e gordura.
Por - Agência Brasil