Nunca fomos tão ansiosos, dizem por aí.
Não sabemos se isso é verdade, mas é um fato que os números da ansiedade no Brasil são alarmantes: 9,3% da nossa população sofre com o chamado transtorno de ansiedade, doença psiquiátrica que afeta a saúde mental.
Você pode estar pensando agora: “espera, será que eu estou dentro dessa estatística?”. Afinal, você provavelmente já deve ter se sentido alguma vez ansioso, antecipando alguma situação. Isso ocorre porque a ansiedade é um sentimento comum e natural do ser humano. Quando excessiva é que ela se torna um problema classificado até pelos manuais médicos. Entenda melhor essa diferença e como lidar com o lado patológico dessa sensação:
O que é a ansiedade?
“Ansiedade é uma reação normal do nosso corpo, ela sinaliza que devemos nos defender, nos preocupar ou até mesmo fugir de alguma situação incomum”, explica a psiquiatra Jéssica Martani,
observership em neurociências pela Universidade de Columbia
em Nova York (EUA) e pós-graduada em psiquiatria pelo Instituto Superior de Medicina e em endocrinologia pela Faculdade CENBRAP.
Antecipar-se ante a uma ameaça é fundamental e trouxe o ser humano até onde estamos hoje. Mas essa preocupação merece atenção quando começa a ser provocada por gatilhos pequenos e situações que normalmente não precisariam de uma reação desse tamanho. Sabe quando se usa uma bazuca para atacar uma mosquinha? Existem momentos em que a pessoa ansiosa nem sabe explicar por que exatamente está se sentindo assim.
Quando falamos em condição psiquiátrica diagnosticada, temos o transtorno de ansiedade generalizada (CID F41. 1), o quadro mais comum nas ansiedades patológicas. “Ele é caracterizado por preocupações excessivas, sensação de que algo ruim vai acontecer, dentre outros. Tudo isso numa duração constante de em torno de seis meses”, descreve Martani. Já o transtorno de pânico (CID F41. 0) é outro quadro comum de ansiedade marcado por crises que ocorrem abruptamente e incapacitante naquele momento.
Causas da ansiedade
MuNão se sabe ao certo quais são as causas dos transtornos de ansiedade. A ciência hoje trabalha com a ideia de que seja um problema de origem multifatorial, ou seja, existem diversos pontos envolvidos e certamente nem todos são conhecidos. No entanto, há algumas teorias, como:
Desequilíbrio das monoaminas
Muitos especialistas acreditam que possa haver uma desregulação de alguns neurotransmissores cerebrais, como a serotonina, a noradrenalida e a dopamina. Neurotransmissores são as substâncias que levam mensagens de um neurônio ao outro e estão intimamente relacionados ao nosso humor e sentimentos.
“Essas substâncias, dentre outras, como glutamato, poderiam estar associadas a uma hiperreatividade do Sistema Nervoso Central, ocasionando um sistema de luta e fuga que se dispara múltiplas vezes com gatilhos desproporcionais e reações com duração e intensidades muito superiores ao que as desencadeou”, descreve Martani.
Nossa atual sociedade e as tecnologias
Outro ponto é que, se estamos falando do tal “mal do século”, então isso está certamente relacionado ao estilo de vida atual. “Vivemos numa sociedade que proporciona a ansiedade: estamos em meio a tecnologia tão rápida que nosso cérebro é incapaz de processar tanta informação, nos sentimos cada vez mais soterrados, correndo contra o tempo, tentando digerir novos conteúdos e essa sufocação de estímulos nos faz sentir pressionados”, descreve Martani. E nossa, só de ler já dá um cansaço, né?
Além disso, percebemos uma maior individualização na sociedade atual, que vem aliada a uma grande competição do ‘eu’ com os ‘outros’. “Observamos cada vez mais o estilo narcisista de sempre ‘ter mais’ e ‘ser melhor’ do que o outro. Toda essa junção de pressão, aceleração e falta de acolhimento nos deixa cada vez mais angustiados e acelerados correndo para buscar algo que já nem sabemos o que é”, resume a psiquiatra. Parece familiar?
A infância também influencia
Não podemos esquecer que muitos dos sofrimentos psíquicos que o adulto sofre provavelmente tem um pézinho na infância. Martani explica que a ansiedade é muito comum em pessoas que cresceram em lares com muitas situações estressante, como brigas sem motivo entre os pais, reações negativas aleatórias dos cuidadores com aquela criança. “Isso as deixava em estado constante de alerta sem saber quando o gatilho estressor pode chegar”, arremata.
Outro ponto é ter tido pais ansiosos, já que é comum que os pequenos imitem suas figuras paternas, assumindo também esse tipo de comportamento por achar que é o natural. Mas lembre-se: você pode não ter vivido nada assim e ainda ser ansioso! Há uma relação, mas não é 100% causa e efeito!
Ainda, existem muitos outros fatores que podem estar relacionados, como genética, ter passado por alguma situação traumática ou relacionamento abusivo, por exemplo. Cada paciente é único e pode ter razões diferentes para apresentar um mesmo problema.
Mulheres estão mais expostas
Estatísticas mostram que as mulheres também tem mais chances de apresentar transtorno de ansiedades do que os homens: a prevalência é de 30,5% para elas, contra 19,2% para eles. Cientistas estudam se há questões genéticas ou hormonais nessa maior probabilidade, mas é possível pensar em alguns motivos ambientais e sociais para isso.
Quando pensamos no papel social da mulher, vemos uma cobrança muito grande e um acúmulo de papéis: mãe, filha, esposa, funcionária, dona de casa. Existe também o fenômeno da carga mental, já que cabe à mulher o planejamento mental das tarefas e necessidades da casa e do cuidado com os filhos, enquanto os maridos apenas “ajudam”, não participando efetivamente da parte mental e da preocupação que elas sentem com esses pontos.
Assim, mulheres possuem muito mais preocupações relacionadas ao machismo, como o medo de assédio, síndrome da impostora no campo profissional e amoroso, pressão estética, salários menores versus produtos mais caros para seus cuidados, medo de engravidar fora de um relacionamento estável, preocupação com o fim da idade reprodutiva, entre outros. Fora a exposição à violência doméstica, de quem elas compõem a maioria das vítimas. Só de pensar já bate uma ansiedade, não?
Sintomas da ansiedade
Quando estamos ansiosos, há toda uma alteração hormonal no nosso corpo. Lembra que já citamos o instinto de luta ou fuga? Para conseguir atacar ou correr, o corpo precisa estar preparado para liberar um hormônio chamado cortisol. Nesse caso, ocorrem as seguintes reações que vemos em um momento de ansiedade extrema:
- Taquicardia: o coração se acelera para conseguir dar conta do esforço de correr ou de brigar;
- Respiração acelerada: começamos a respirar mais rapidamente para dar conta de oxigenar o sangue mais rapidamente e levarmos mais oxigênio ao cérebro, melhorando a cognição;
- Pupilas dilatadas: permitindo que você enxergue melhor o ambiente para encontrar oportunidades para se esconder;
- Tensão muscular: é o sistema locomotor ficando preparado para se mover rapidamente;
- Sudorese: com tanto esforço, há aumento do calor corporal e o suor é uma resposta automática de resfriamento.
No entanto, o maior problema é quando o corpo fica em um estado de alerta por tempo demais, no caso de uma ansiedade patológica. “Alguns estudos demonstram aumento de risco para doenças cardiovasculares, agravamento de diabete, há diversas doenças dermatológicas ligadas ao estresse crônico, não é incomum aumento de queda de cabelo, perda de libido e baixa da imunidade propiciando mais predisposição para doenças infecções”, enumera Martani. Nesses casos a pessoa pode apresentar sintomas como:
- Preocupação excessiva;
- Pensamentos de que algo ruim acontecerá;
- Pessimismo;
- Alterações do sono;
- Sensação de aceleração;
- Culpa;
- Cansaço;
- Taquicardia;
- Falta de ar;
- Tensão muscular;
- Angústia.
Por isso, é sempre importante buscar ajuda médica e psicológica quando se sente esse tipo de sintoma. Os efeitos a longo prazo podem ser bastante prejudiciais à saúde.
Sintomas de uma crise de ansiedade
As crises são características de transtornos de ansiedade, como a síndrome do pânico. Nelas, a pessoa sente uma série de sintomas incapacitantes, ficando desesperadas, o que muitas vezes as insere em um círculo vicioso. Confira os principais sintomas de uma crise de ansiedade:
- Palpitações e aceleração cardíaco;
- Dormência e formigamento;
- Falta de ar ou aceleração da respiração;
- Dores no estômago e diarreia;
- Sensação de irrealidade;
- Medo de morrer ou enlouquecer.
No momento de uma crise de ansiedade e mesmo depois dela, existem uma série de cuidados que o próprio ansioso pode fazer sozinho para se ajudar. Confira a seguir alguns deles.
Como aliviar a ansiedade
A ansiedade patológica é uma condição médica e é muito importante buscar ajuda de um psiquiatra e apoio psicológico. Isso alertado, vale saber que existem medidas que você pode tomar para reduzir essas sensações ruins quando elas ocorrem no dia a dia. Mas, antes de tudo, é importante você se conhecer: o que engatilha suas crises e o que ajuda a contê-las. “Não há uma receita de bolo, é necessário muito autoconhecimento para entender qual é a técnica que vai ajudar cada indivíduo em cada situação”, alerta Martani. Veja algumas sugestões a seguir:
Atividade física
Correr, nadar, pedalar… Você escolhe! O importante é mexer bem o corpo. “A prática de exercícios físicos ajuda a liberar as endorfinas, deixando o nosso dia diferente. Com isso, a disposição aumenta, melhora a qualidade do sono e reduz o estresse, pois é um momento de autocuidado e tudo isso ajuda na nossa autoconfiança”, enumera a psiquiatra. Incluí-la na sua rotina pode ajudar a reduzir as crises de ansiedade, afinal além do lado hormonal, esse tipo de atividade pede a atenção no aqui e no agora, e como diz o pessoal no Instagram: “onde o corpo cansa, a mente descansa”.
Meditação
Muitas vezes a ansiedade está relacionada à preocupação com o futuro. Logo, nada melhor do que uma atividade que prioriza o presente! “A meditação é um treino para a mente, com ela é possível mudar o foco, estar atento aos pensamentos e controlar a respiração. Isso tudo ajuda a combater o estresse”, comenta Martani.
E você não é precisa necessariamente sentar em uma almofadinha de pernas cruzadas e fechar os olhos: existem práticas de atenção plena que podem ser feitas em situações cotidianas, como o banho ou lavando a louça. Basta concentrar-se naquilo que você está fazendo, como a sensação da água na pele, os processos que cada etapa pede, focando no presente. Tentar fazer isso durante uma crise de ansiedade pode ajudar a atingir um estado de tranquilidade.
Controle da respiração
Lembra que um dos sintomas da ansiedade é a falta de ar e o aumento da frequência respiratória. Durante uma crise sua respiração pode ficar curta e rápida, então tentar torná-la mais longa e pausada pode ajudar seu corpo a reduzir essa velocidade. “Um corpo que antes estava em estado de alerta, após a respiração começa a voltar ao seu centro, percebendo não haver necessidade de hiperreagir, pois não há nenhum gatilho estressor”, conclui Martani.
Alimentação balanceada
Sabemos que muitas vezes a alimentação é usada como escape, pois alimentos ricos em carboidratos simples costumam causar uma sensação de satisfação rápida ao engatilharem a liberação dopamina, ajudando a controlar os outros neurotransmissores mais ansiosos. No entanto, essa é uma ajuda apenas momentânea, infelizmente.
Dá para usar a alimentação em nosso favor de forma mais efetiva, com a boa e velha fórmula da alimentação saudável: vegetais coloridos, proteínas magras, carboidratos complexos, gorduras poli e monoinsaturadas. Martani também indica alimentos específicos relacionados ao bem-estar e calmaria, como alface, espinafre, farelo de aveia, abacate, maracujá, cacau, banana e peixes ricos em ômega-3.
Sono em dia
Martani explica que quem tem insônia também apresenta maior probabilidade de ter ansiedade e depressão, já que durante a noite muitos mecanismos importantes para nossa saúde física e mental são executados pelo corpo. Para evitar a insônia, ela ensina algumas medidas de higiene do sono, como:
- Ter uma rotina, como dormir e acordar nos mesmos horários;
- Evitar comidas pesadas a noite;
- Evitar usar eletrônicos uma ou duas horas antes de dormir;
- Reduzir as luzes a noite;
- Procurar atividades mais tranquilas antes de dormir, como ler um livro;
- Não realizar atividade física intensa a noite.
Se seu sono anda ruim e essas dicas não adiantarem, é muito importante buscar por um médico!
E a ansiedade no trabalho?
O trabalho é um dos locais com mais gatilhos para a ansiedade. A psiquiatra nos lembra da importância do diálogo nas relações nesse ambiente. Além dessa dica, a profissional recomenda:
- Evitar ser multitarefas, executando uma demanda por vez;
- Organizar seus afazeres e negociar os prazos;
- Tomar cuidado e comunicar excesso de trabalho;
- Buscar mais equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Sabemos que falar em equilíbrio no trabalho é complexo: muitos ambientes podem ser tóxicos e estabelecer relações baseadas na sobrecarga e na competição entre os colegas, gerando uma alta carga de ansiedade. E mudar de trabalho não é tão simples, pois temos contas a pagar e pessoas para sustentar. Nesses casos, é importante buscar ajuda com a equipe de RH ou, caso seja algo cultural da empresa, buscar formas de lidar com esse ambiente enquanto você não consegue sair da empresa.
Tratamento para a ansiedade
Uma vez que a ansiedade patológica é diagnosticada, o tratamento não envolve apenas medicamentos. “A primeira via é a melhora da qualidade de vida, que inclui psicoterapia, exercícios físicos, diversão, entre outros. Paralelamente a isso temos que cuidar do corpo: mudar a alimentação, fazer exames para ver como estão as vitaminas, hormônios e etc., e, se necessário, o uso de algumas medicações, geralmente antidepressivos”, lista Martani. A seguir, entenderemos melhor cada um desses pilares.
Medicamentos
Normalmente os medicamentos são usados para ajustar algum desequilíbrio na química cerebral que predispõe a pessoa com ansiedade a ter reações exacerbadas aos mais simples gatilhos. Podem ser usados dois tipos de medicamentos:
- Ansiolíticos
Esses medicamentos ajudam a reduzir essas reações excessivas, podendo ser usados durante uma crise de ansiedade, por exemplo. O uso, no entanto, deve ser bem orientado pelo médico, que pode indicar o uso pontual ou continuo, a depender do caso.
- Antidepressivos
Apesar do nome, esses medicamentos ajudam em casos de preocupação excessiva, insônia, taquicardia, sensação de que algo ruim acontecerá, sensação de hipervigilância, dentre outros. Sua indicação também deve ser feita por um médico.
- Medicamentos para dormir
A insônia, como já dissemos, é muito amiga da ansiedade, “pois é um cérebro que não desliga, está sempre em alerta”, completa Martani. Quando os antidepressivos não atuam na insônia, pode ser que o médico precise de um medicamento para dormir, mas depende de cada paciente.
Lembrando que, quando falamos de transtornos psicológicos, é normal que os medicamentos demorem a fazer efeito ou que eles ajam de formas diferentes em você do que em outros pacientes. Um período de adaptação e experimentação é necessário e normal, para que o médico encontre as melhores opções para você.
Psicoterapia
Fazer terapia com um psicólogo é de suma importância para conviver melhor com a ansiedade e a praticar o já mencionado autoconhecimento. “Além das técnicas que o paciente aprende na terapia, o processo também ajuda com novas sinapses em cada novo aprendizado”, anima-se a psiquiatra! Durante as sessões de análise, você consegue identificar traços de personalidade que ajudam a aumentar seu quadro, identifica gatilhos e entende porque eles são estressores para você e com isso vai lidando melhor com as situações, de forma menos ansiosa.
Mudanças no estilo de vida
Mesmo tomando remédio e fazendo terapia, é fundamental implementar mudanças no seu estilo de vida, como praticar atividades físicas, alimentar-se melhor, ir dormir cedo e não se privar de sono. “Podemos dar a melhor medicação do mundo, mas se a pessoa continuar em um estilo de vida tóxico, a doença irá continuar a se manifestar”, finaliza a especialista.
Saúde mental é fundamental e não pode ser deixada de lado! Outro problema muito grave e comum entre as mulheres é a depressão e vale a pena saber o que é, como identificar e tratar essa doença.
Por Nathalie Ayres
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou alerta sobre uso de produtos para trançar e modelar cabelos comercializados no país.
De acordo com a Anvisa, supostamente esses produtos estariam “ocasionando cegueira temporária, entre outros efeitos indesejáveis”.
A agência cita casos de ardência nos olhos, lacrimejamento intenso, coceira, vermelhidão, inchaço ocular e dor de cabeça. “Segundo diagnóstico médico, em um dos casos, o paciente apresentou lesão grave nos olhos. Há ainda relatos de demora na recuperação da visão de consumidores com prazos de até 15 dias”.
O alerta foi emitido na última terça dia 13. A Anvisa ressaltou ser de fundamental importância que quaisquer efeitos indesejáveis à saúde supostamente relacionados ao uso desses produtos, e de outros cosméticos, sejam registrados.
“Há links específicos para registro por parte de cidadãos e profissionais que manejam produtos cosméticos e empresas e profissionais de saúde”.
Efeito grave
Um efeito indesejável grave é uma reação adversa inesperada e prejudicial à saúde humana, que leva à incapacidade funcional temporária ou permanente, invalidez, hospitalização, anomalias congênitas, risco imediato à vida ou morte.
Com Agência Brasil
“Não espere até sentir na pele”. É com este alerta que a Sociedade Brasileira de Dermatologia lançou a campanha anual do Dezembro Laranja sobre a prevenção ao câncer de pele.
Ao longo de todo mês, estão previstas várias atividades. Entre elas, mutirões gratuitos para identificar casos novos da doença. Os atendimentos serão realizados no próximo sábado (3), das 9h às 15h. Ao todo, serão aproximadamente 100 postos cadastrados e espalhados pelo Brasil. Informações sobre os locais de atendimento presencial podem ser encontradas no site da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Além dos mutirões, durante todo o mês, a campanha reforça a necessidade de a população buscar atendimento regular de um dermatologista que possa checar de tempos em tempos se a pele apresenta alguma lesão suspeita.
Renato Marchiori Bakos, coordenador do Departamento de Oncologia Cutânea da Sociedade Brasileira de Dermatologia, relata que, mesmo com diâmetros assimétricos, que vão mudando de tamanho, além de terem cores variando entre claras e escuras, essas lesões, muitas vezes, não são perceptíveis por estarem na sua fase inicial.
O especialista destaca que essas lesões, que caracterizam o câncer de pele, são fruto do acúmulo de exposição aos raios solares ao longo da vida, especialmente na forma que causa a vermelhidão ou queimaduras solares.
“Está provado que, quanto mais intensidade de sol em fases iniciais da vida, maior o risco no futuro de ter a doença. Não é o sol do verão passado que causa do câncer de pele. É o acumulo de exposições intensas e queimaduras, aquela vermelhidão, descascar a pele, porque essa reação acaba danificando lentamente o DNA das células cutâneas e leva a alguma mutação que adiante vai virar um câncer.”
Para evitar a doença, o especialista dá dicas como uso do protetor solar.
“Evitar as cargas excessivas de radiação ultravioleta escolhendo horários mais adequados para atividades ao ar livre. Evitar, especialmente, o horário das 9h às 15h. Se estiver ao sol no período de intensidade, procure lugares com sombra, uso de camisetas e chapéus. Em áreas descobertas, é importante usar o protetor ou filtro solar, reaplicado a cada 2 horas, com fator de proteção 30 ou mais.”
Uma colaboração nacional - formada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de outras 25 instituições do Brasil, com apoio da London School of Hygiene & Tropical Medicine - avaliou os impactos na saúde dos bebês da infecção de gestantes por zika.
Publicado no The Lancet Regional Health - Americas no último dia 28, o estudo revelou que aproximadamente um terço dos filhos de mães infectadas durante a gravidez apresentou, nos primeiros anos de vida, anormalidades consistentes com a Síndrome da Zika Congênita (SZC).
Segundo a Fiocruz, essa foi a pesquisa sobre o tema que contou a maior quantidade de participantes, conseguindo detectar com mais clareza a relação entre o vírus zika e possíveis distúrbios congênitos. A necessidade dessa avaliação surgiu após uma epidemia de microcefalia no Brasil, em 2015, mas as amostras pequenas, a alta variabilidade entre as estimativas e a limitação dos dados de vigilância limitavam a possibilidade de calcular os riscos.
“As manifestações da síndrome envolvem deficiências neurológicas funcionais, anormalidades de neuroimagem, alterações auditivas e visuais e microcefalia. Tais disfunções aparecem mais frequentemente de forma isolada do que em combinação, com menos de 0,1% das crianças expostas apresentando duas delas simultaneamente”, disse a fundação.
Gestações
Os resultados foram encontrados a partir da análise combinada de dados de 13 estudos que investigam os resultados pediátricos em gestações afetadas pelo vírus zika durante a epidemia de 2015-2017 no Brasil. Esses dados abrangem todas as quatro regiões do país afetadas pela epidemia neste período, com infecção pré-natal confirmada em laboratório por testes genéticos e avaliação dos potenciais efeitos adversos em nível individual.
Segundo o pesquisador Ricardo Arraes de Alencar Ximenes, da Universidade de Pernambuco e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que liderou o estudo, esse trabalho dá uma contribuição fundamental para a compreensão das consequências para a saúde da infecção pelo vírus zika durante a gravidez, pois reúne dados individuais de crianças nascidas de 1.548 gestantes residentes em diferentes regiões do país que tiveram o diagnóstico confirmado de infecção pelo vírus zika durante a gravidez, permitindo uma estimativa mais precisa dos riscos
Microcefalia
Em relação à microcefalia, condição neurológica em que a cabeça do bebê é menor do que o esperado para sua idade e sexo, uma a cada 25 crianças nascidas de mães infectadas pelo vírus zika durante a gravidez apresentou a disfunção no nascimento ou durante o acompanhamento.
Segundo a Fiocruz, na maioria dos casos, a condição era detectável próximo ao momento do nascimento, mas algumas crianças nascidas com perímetro cefálico normal desenvolveram a microcefalia nos anos seguintes.
De acordo com a pesquisa, o risco de filhos de mães infectadas por zika na gestação apresentarem microcefalia foi de 2,6% no nascimento ou quando avaliados pela primeira vez, aumentando para 4% nos primeiros anos pré-escolares. Esse risco foi relativamente consistente nos diferentes locais de estudo, sem apresentar variação relativa às condições socioeconômicas ou área geográfica.
Conforme a Fiocruz, a realização de estudos adicionais com tempo de acompanhamento mais longo é apontada pela equipe de pesquisadores como o futuro do estudo publicado. Os possíveis caminhos para investigação incluem a avaliação do risco de hospitalização e morte para crianças com microcefalia à medida que envelhecem e, naquelas sem microcefalia, averiguar os riscos de outras complicações, como aquelas ligadas ao desenvolvimento comportamental ou neuropsicomotor.
Por - Agência Brasil
Atingir o compromisso global de encerrar a pandemia de aids até 2030 passa pelo combate às desigualdades e estigmas que acompanham essa emergência de saúde pública desde o seu surgimento, há 41 anos, destaca o relatório Desigualdades Perigosas, divulgado esta semana pelo Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) para marcar o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado hoje (1°).
Especialistas e ativistas reforçam que, mesmo com o avanço dos medicamentos disponíveis, a discriminação contra grupos vulneráves e pessoas que vivem com HIV reduz o acesso à saúde, impede o diagnóstico precoce e causa mortes por aids que poderiam ser evitadas com tratamento.
Em mensagem divulgada para marcar a data de combate à doença, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que o mundo ainda está distante de eliminar a Aids até 2030 e afirmou que as desigualdades perpetuam a pandemia da doença.
"São necessárias melhores legislações e a implantação de políticas e práticas voltadas para eliminar o estigma e a discriminação que afetam as pessoas que vivem com HIV, sobretudo aquelas em situação de vulnerabilidade. Todas as pessoas têm o direito de ser respeitadas e incluídas", disse.
Segundo o Unaids, 38,4 milhões de pessoas viviam com HIV em todo o mundo em 2021. Esse número é maior que a população do Canadá ou que a soma de todos os habitantes dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Brasil, o número de pessoas vivendo com HIV passava de 900 mil no ano passado, de acordo com o Ministério da Saúde, e, desse total, cerca de 77% tratavam a infecção com antiretrovirais. A efetividade do tratamento disponível gratuitamente no país é reiterada pelo percentual de 94% de pessoas com carga viral indetectável entre as que fazem uso dos medicamentos contra o HIV. Quando o paciente em tratamento atinge esse nível de carga viral, ele deixa de transmitir o HIV em relações sexuais.
Desde o início da pandemia de Aids, em 1980, até dezembro de 2020, o Brasil já teve mais de 1 milhão de casos da doença, que causaram 360 mil mortes. A taxa de detecção vem caindo no Brasil desde o ano de 2012, quando houve 22 casos para cada 100 mil habitantes. Em 2020, essa proporção havia chegado a 14,1 por 100 mil, o que também pode estar relacionado à subnotificação causada pela pandemia de covid-19.
HIV ou Aids?
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um agente infeccioso que pode entrar no corpo humano por meio do sexo vaginal, oral e anal sem camisinha; por meio do uso de seringas e outros objetos cortantes ou perfurantes contaminados; pela transfusão de sangue contaminado; e da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, o parto e a amamentação, se não for realizado o tratamento preventivo. Quando se instala no corpo humano, esse vírus tem um tempo prolongado de incubação, que pode durar vários anos, e sua atividade ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo. Se essa infecção não for detectada e controlada a tempo com o uso de antirretrovirais, o HIV pode enfraquecer as defesas do corpo humano a ponto de causar a Síndrome da Imunodeficiência Humana (aids). Portanto, a sigla HIV se refere ao vírus, e a sigla Aids, à doença causada pelo agravamento da infecção pelo HIV.
O uso de preservativos masculinos e femininos e gel lubrificante estão entre as principais ações preventivas contra o HIV. Também já estão disponíveis a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que consiste no uso de antirretrovirais para prevenir a infecção caso a pessoa venha a ser exposta ao vírus, e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que pode impedir a infecção caso seja administrada até 72 horas após a exposição. Mesmo no caso de haver uso dessas profilaxias, a camisinha continua importante, pois previne também outras infecções sexualmente transmissíveis, como a sífilis e as hepatites virais.
Ao menos 30 dias após uma possível exposição ao HIV, é fundamental fazer um teste para a detecção do vírus, exame que pode ser realizado em unidades da rede pública e nos centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). O diagnóstico precoce da infecção e o início rápido do tratamento protegem o sistema imunológico da pessoa infectada, já que esse será o alvo do HIV quando a carga viral aumentar.
Diretor médico associado de HIV da GSK/ViiV Healthcare, Rodrigo Zili explica que os antiretrovirais usados hoje para o tratamento das pessoas que vivem com HIV são menos tóxicos para o corpo humano, causam menos efeitos colaterais e são administrados em quantidade bem menor de comprimidos. A farmacêutica é a fornecedora do Dolutegravir e outros medicamentos usados no Sistema Único de Saúde (SUS) para combater o vírus. Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os antirretrovirais a todas as pessoas que vivem com HIV e necessitam de tratamento, contando atualmente com 22 medicamentos em 38 apresentações farmacêuticas diferentes.
“O tratamento hoje é muito menos tóxico. Nem se usa mais a palavra coquetel, porque não é um conjunto enorme de remédios como se tinha antigamente. E, se a pessoa descobre o HIV a tempo de não ter desenvolvido a imunodeficiência, ela tem chance muito grande de ter uma vida totalmente normal tomando remédios diariamente”, afirma o infectologista. Ele reforça que a pessoa com HIV pode ter expectativa de vida até maior do que pessoas que não foram infectadas pelo vírus. “Essa pessoa que está em tratamento está acompanhando todas as doenças praticamente. Então, ela faz check-ups periódicos, faz exames periódicos, tem aconselhamento para manter um estilo de vida saudável, e acaba podendo ter uma vida mais saudável do que alguém que não tem HIV e não faz acompanhamento médico”.
Mesmo com esses avanços no tratamento contra o HIV e a disponibilidade gratuita dos medicamentos, o acesso à saúde ainda é marcado por desigualdades, pondera Zili. “Por mais que se tenha um programa 100% público, o acesso à informação e aos serviços não é totalmente igualitário”, lembra o infectologista.
Questões sociais
O coordenador do Grupo Pela Vidda-RJ, Márcio Villard, avalia que o combate terapêutico à Aids avançou mais do que a superação dos preconceitos que afetam as pessoas que vivem com HIV. Mesmo com medicamentos menos tóxicos e uma expectativa de vida maior, questões sociais afastam pessoas com HIV de uma vida plena.
“Quando a gente fala em qualidade de vida, não pode entender somente a questão terapêutica e biomédica. É preciso também entender as questões sociais que envolvem a pessoa com HIV, porque enfrentamos ainda muitos problemas relacionados a estigmas, preconceitos e exclusão social que interferem na qualidade de vida”, afirma. "O que acontece é que o HIV sempre traz consigo uma condenação. De alguma forma, a sociedade vai te condenar, seja pelo seu estilo de vida, seja pela sua orientação sexual, seja por você pertencer a um determinado grupo da sociedade. Praticamente ninguém escapa, até uma criança que nasce com HIV vai ser estigmatizada por isso. Infelizmente, esse cenário não mudou".
O ativista explica que a estigmatização das pessoas com HIV tem raízes ligadas à LGBTfobia, já que os primeiros surtos de HIV se deram na população homossexual, bissexual e transexual nos Estados Unidos, e a imprensa da década de 80 reforçou a associação entre a população LGBTI e o HIV, chamando a aids até mesmo de câncer gay.
“Isso começou nos Estados Unidos, se espalhou pelo mundo e acabou virando um selo. Aqui no Brasil, até o ano passado, homossexuais não podiam doar sangue, independentemente de ter ou não o vírus”.
O Pela Vidda-RJ foi fundado em 1989 pelo sociólogo e ativista Hebert Daniel e atua desde então na luta por direitos das pessoas que vivem com HIV. Às 11h de hoje, o grupo vai promover ato público na Praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro, com o tema Viver com o HIV é possível. Com o preconceito, não. Entre as principais demandas atuais da população que vive com HIV, Villard conta que estão a assistência jurídica para garantir direitos previdenciários e trabalhistas. Os problemas incluem processos seletivos que eliminam candidatos que testam positivo para HIV, enquanto essa testagem é vedada por lei em qualquer exame admissional, periódico ou demissional. Fora esses direitos, as pessoas com HIV também procuram a organização não governamental para receber acolhimento afetivo.
“A maior dificuldade ainda é a questão do estigma. Quando a pessoa tem esse diagnóstico, ela tem dificuldade de lidar com ele. E, ao se colocar para a família, no trabalho e para os amigos, vai enfrentar discriminação. São raros os casos em que a pessoa consegue viver tranquilamente, independentemente de sua sorologia”.
Angústia e cura
A dificuldade de encontrar informação e acolhimento depois do diagnóstico foi o que moveu o influenciador João Geraldo Netto a compartilhar sua experiência na internet desde 2008.
"Inicialmente, eu falava de uma maneira mais oculta, não falava especificamente que eu vivia com o vírus. Mas aí eu senti a necessidade de falar sobre isso mais abertamente. Eu descobri que, falando, eu me curava de certa forma. Sentia algo muito positivo quando falava sobre os dramas, os medos que eu tinha de fazer tratamento, de morrer, de adoecer. E eu vi que aquilo era muito bem recebido. Isso foi me dando força", conta.
O jornalista acrescenta que a maioria das pessoas que entram em contato nas redes sociais está angustiada, seja porque acredita que se expôs ao risco de infecção ou porque já recebeu o diagnóstico e está tentando lidar com ele. João Geraldo acredita que o peso social do HIV afasta as pessoas do teste e do diagnóstico precoce, porque muitas não se percebem parte de um suposto grupo social que poderia ser infectado e outras preferem não saber o resultado do teste por medo.
“A questão do preconceito é algo tão forte que atrapalha de fazer o teste, de procurar ajuda e tratamento e impede que a pessoa tome o medicamento todo dia. Então, o grande problema do HIV hoje não é mais um problema clínico, é um problema social”, diz. “As pessoas que chegam ao meu canal mais angustiadas são aquelas que passaram por situação que consideram moralmente errada e acreditam que é uma punição para elas. E a pior punição que elas conseguem imaginar é uma doença como a Aids. Então, isso é muito doloroso, sabe? Porque você vê que está conversando com uma pessoa que acha que a pior coisa que pode acontecer na vida é o que você tem”.
Em suas postagens nas redes sociais, o influenciador comenta sobre HIV e temas do dia a dia e de sua vida pessoal, como fotos de viagens, reuniões com amigos e declarações de amor ao namorado. Em um de seus perfis, chamado Superindetectável, ele deixa a seguinte mensagem: “Respira fundo! Pela frente ainda tem muito mundo. Agora pode não estar, mas tudo pode ficar bem”.
Por - Agência Brasil
A fase aguda da pandemia da covid-19 afetou os pacientes com câncer de próstata, que não podiam parar o tratamento, mas precisavam continuar se cuidando para evitar a contaminação pelo coronavírus.
Uma das medidas implantadas com o objetivo diminuir o risco de transmissão da covid-19, foi a redução no número de sessões de radioterapia para o tratamento.
O número de sessões foi reduzido de 39 para 20 aplicações. A experiência foi tão bem-sucedida que passou a ser adotada como rotina no pós-pandemia. Ao lado de exames e tratamentos sofisticados, essa é uma das novidades do combate ao câncer de próstata, que ganha destaque durante a campanha do Novembro Azul, que segue até o próximo dia 30.
No entanto, a redução se aplica a determinados pacientes, que apresentam características específicas. “Quando o paciente não apresenta risco de complicação, o tempo de tratamento por radioterapia pode ser mais curto, com cinco sessões com maior intensidade de radiação”, esclarece a médica Mariana Bruno Siqueira, oncologista da Oncologia D’Or, com foco em uro-oncologia.
O que impede a redução de sessões, explica a médica, é o tamanho da próstata e a distância entre a próstata e o reto, que é a parte final do intestino. “As complicações que a temos mais receio são diarreia e eventualmente sangramento nas fezes. É uma decisão do médico radioterapeuta, baseado nos dados da anatomia do paciente, para definir se tem segurança de fazer em menos tempo com maior dose. Então é uma decisão para cada paciente e em conjunto com radiooncologista, que é quem vai planejar o tratamento”.
Essa é uma tendência que começou antes da pandemia da covid19, e foi intensificada e adotada de forma mais ampla e disseminada no Brasil para vários tipos de neoplasias com a chegada da pandemia, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Marcus Simões Castilho, médico radioterapeuta.
“A redução de tempo de tratamento de radioterapia é conhecida como hipofracionamento e é uma tendência em diversas patologias. Em próstata, já existe um corpo de evidência científica consolidada. Fundamental pontuar que doses maiores pressupõe maior controle de entrega e consequentemente tecnologia. Isso é uma limitação no Brasil uma vez que somente um terço dos equipamentos têm radioterapia guiada por imagem, fundamental no hipofracionamento do câncer de próstata”, explica o médico.
A SBRT realizou um Consenso de Hipofracionamento na Radioterapia no Câncer de Próstata em setembro de 2019, antes da pandemia, e publicou esse material na Revista da Associação Médica Brasileira em janeiro de 2021.
A estratégia já é consolidada para hipofracionamento moderado entre 20 e 28 frações, reduzindo o tratamento de 7 a 8 semanas para 4 a 6 semanas. “Estratégias de tratamentos em somente uma semana estão sendo adotadas, porém muito dependentes de alta tecnologia”, disse Castilho.
A radioterapia é uma modalidade terapêutica importante no cuidado das neoplasias tanto em condições malignas quanto benignas, em condições radicais e também paliativas. “Estima-se que cerca de 60% dos pacientes oncológicos irão receber radioterapia em algum momento do curso do seu tratamento”, disse a SBRT.
Além dos estudos para o hipofracionamento no tratamento de câncer de próstata, já existiam estudos garantindo a segurança para algumas situações, como, por exemplo, para pacientes com tumores de mama iniciais.
“Mas existiam algumas situações, como para pacientes com câncer de mama mais avançados, onde a adoção do hipofracionamento ainda não era consensual. Com a chegada da pandemia, o encurtamento do tratamento foi ampliado para todos os pacientes. Logo em seguida, estudos foram publicados comprovando que, realmente, todas as pacientes podiam encurtar o tratamento”, disse Castilho.
Hipofracionamento
O hipofracionamento se aplica a casos em que estudos de nível I de evidência, os mais confiáveis, confirmaram que o tratamento mais curto é igualmente eficaz e seguro para os pacientes, “incluindo próstata, pulmão, mama, reto, tratamentos paliativos de metástases ósseas, entre outros”, disse o presidente da SBRT.
A orientação sobre o hipofracionamento é a mesma para a rede pública. “Porém, em muitos casos, como para pacientes de próstata e pulmão, o hipofracionamento requer tecnologias mais avançadas, que geralmente não estão disponíveis para os pacientes do SUS, pelo déficit de financiamento do setor”, disse Castilho.
Como existe dependência de tecnologia para garantia que as doses mais elevadas estão atingindo somente a próstata, a limitação da estratégia é o uso em equipamentos que disponham de IGRT (radioterapia guiada por imagem). Segundo a entidade, cerca de um terço das máquinas no país têm a tecnologia e algumas delas estão na rede pública.
Além de melhorar a qualidade de vida do paciente, a estratégia de encurtamento amplia a oferta de vagas da radioterapia. O último censo disponível, segundo a entidade, mostra que somente 50% das máquinas necessárias para tratamento estão disponíveis, a maioria delas com mais de 10 anos de funcionamento e distribuídas de forma desigual pelo país.
O levantamento é baseado no estudo Análise das necessidades e custos globais de radioterapia por região geográfica e nível de renda.
De acordo com o presidente do Conselho Superior da SBRT, Arthur Accioly Rosa, o cálculo de necessidade de máquinas é complexo. “Envolve fatores como distribuição epidemiológica dos casos, disponibilidade geográfica, diagnóstico - muitos pacientes morrem sem diagnóstico de câncer - ocupação das máquinas com hipofracionamento, dentre outros. A saúde suplementar tem atendido sua demanda aparentemente sem limitações. Nos cálculos de novos casos de câncer, usando a proporção de 52% de uso de radiação e mensurando o número de tratamentos no SUS, projetam-se mais de 100 mil casos que não foram irradiados em 2020. Não quer dizer que não receberam tratamentos como quimioterapia, por exemplo, mas é um dado que documenta a dificuldade de acesso”.
Na avaliação da SBRT, esquemas de radioterapia mais convenientes para os pacientes e igualmente efetivos devem ser estimulados, já que trazem benefícios clínicos, logísticos e financeiros.
A SBRT disse que tem feito vários esforços e adotado estratégias específicas para disseminar a prática do hipofracionamento no Brasil, principalmente para os pacientes do SUS. “Porém, a plena adoção do hipofracionamento no SUS depende do avanço do investimento em radioterapia, principalmente via recomposição da tabela do SUS, extremamente defasada, o que permitirá que os mais diversos serviços ao redor do país possam executar não só tratamentos mais curtos, como de maior qualidade, para todos os brasileiros”, explica o presidente da SBRT.
Prevenção
A próstata é uma glândula que só o homem tem e que produz parte do sêmen. Ela se localiza na frente do reto, abaixo da bexiga, envolvendo a parte superior da uretra. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), nos homens o câncer de próstata é o segundo mais comum, ficando atrás apenas do câncer de pele.
Os fatores de risco são a idade avançada, a partir dos 50 anos, e o histórico familiar. Os negros constituem um grupo de risco para o câncer de próstata. A alimentação saudável, o peso corporal adequado e a prática da atividade física ajudam a reduzir a incidência desse e outros tipos de câncer.
A maioria dos tumores na próstata cresce de forma lenta, não chegando a dar sinais ao longo da vida. Uma minoria cresce de maneira acelerada, espalha-se para outros órgãos (metástase) e pode levar à morte. Os sintomas iniciais são dificuldade para urinar, demora em começar e terminar em urinar, sangue na urina, diminuição do jato da urina e necessidade urinar várias vezes à noite.
O diagnóstico precoce aumenta as chances de sucesso do tratamento. Por isso, os homens com 50 anos de idade ou mais devem ir uma vez por ano ao urologista para o toque retal e o exame de sangue que identifica o antígeno prostático específico (PSA).
“Os homens com histórico familiar de câncer de próstata, e os negros, que têm maior incidência deste tipo de câncer, devem iniciar as consultas anuais aos 45 anos de idade”, recomenda a médica Rafaela Pozzobon, oncologista da Oncologia D’Or com foco em uro-oncologia.
Tratamento
Entre os exames mais recentes para detecção do câncer de próstata está o PET-CT PSMA, que une a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada (CT). O procedimento com PSMA (sigla do inglês para Antígeno de Membrana Específico para Próstata) consegue detectar mais de 90% dos casos de metástase desse tipo de câncer, permitindo um diagnóstico mais assertivo e um tratamento melhor direcionado.
“Quando a doença está restrita à próstata, o paciente é submetido à cirurgia ou radioterapia. Em caso de metástase, o tratamento é feito com hormonioterapia ou quimioterapia”, explica a médica Mariana Bruno Siqueira.
Para pacientes com câncer de próstata metastático, o tratamento mais recente é o PSMA-Lutécio 177, que foi destaque do Congresso Americano de Oncologia (Asco) de 2021. O lutécio é uma substância radioativa que, assim como um míssil teleguiado, é levado às células com PSMA, uma molécula que apresenta a expressão aumentada na superfície das células cancerígenas.
A substância radioativa danifica o DNA da célula e provoca sua morte. O tratamento demanda quatro a seis aplicações, sendo que a quimioterapia são no mínimo seis aplicações. Por ser direcionado às células cancerígenas, é melhor tolerado que a quimioterapia, dizem os especialistas.
“O PSMA-Lutécio 177 é uma partícula radioativa que vai ser introduzido no paciente pelo sangue. Então a partícula vai caminhando pelo sangue e chega aonde o câncer está, vai achar o câncer porque ele é ligado a um marcador do PSA. A partícula vai achar essas células, e pela radiação, que é carregada por esse PSMA, que é um marcador que vai achar a célula do câncer, ou seja, a célula que produz o PSA, para matar essa célula. Então ele vai, carrega essa radiação até a célula maligna, e uma vez que ela chega lá na célula, a radiação vai quebrar a fita de DNA e vai matar a célula do câncer. A radiação é pela circulação sanguínea”, explica a médica Rafaela Pozzobon.
O exame PET-CT PSMA e o tratamento PSMA-Lutécio 177 ainda não estão disponíveis pelo SUS.
Mutação
Nos últimos anos, os cientistas descobriram que o câncer de próstata, assim como o de mama, ovário e pâncreas, pode ter relação com a mutação do gene BRCA 1 e 2. “Entre 5% e 10% dos pacientes com câncer de próstata podem ter uma origem hereditária da doença, principalmente por causa da mutação genética no BRCA 2”, disse a médica Mariana Bruno Siqueira.
Em razão dessa descoberta, os médicos recomendam que homens que tiveram câncer de próstata mais agressivos ou com metástases, devam realizar testes a fim de detectar uma possível mutação do BRCA.
Em caso positivo, seus familiares podem ser aconselhados a realizar o exame também, além de adotar medidas preventivas e fazer exames periódicos para o diagnóstico precoce da doença. Existem ainda medicações específicas para os homens com a mutação do BRCA, que são usadas para controlar o câncer em cenários metastáticos.
Por - Agência Brasil