'Luto por suicídio é diferente de todos os outros', diz psicóloga

Quando tinha 10 anos, Karina Okajima Fukumitsu descobriu o que era suicídio da pior forma.

Chegando da escola, percebeu o silêncio em casa e viu uma porta trancada: a do quarto materno. Começava ali uma saga que ela e a irmã, dois anos mais velha, precisaram encarar sem qualquer preparo. Foram 18 internações da mãe na UTI depois de tentativas frustradas de se matar, que marcariam a vida da família para sempre.

Hoje com 51 anos e formada em psicologia, Fukumitsu enfrenta outro desafio enorme, o de levantar o véu de silêncio sobre o tema. Como suicidologista, ela ajuda pessoas que vivem o luto por suicídio de um parente ou amigo. Criou uma associação — a Se Tem Vida, Tem Jeito — e implementa ações em escolas marcadas pelo trauma.

— Sempre acreditei que o luto por suicídio é diferente de todos os outros — diz.

A experiência com a mãe — que morreu anos depois, de doença cardíaca — inspirou uma longa carreira dedicada ao tema. Hoje a pós-doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) coordena uma pós-graduação em suicidologia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), apresenta o podcast "Se tem vida, tem jeito” e comanda a associação com mesmo nome. 

A seguir, a especialista explica como funciona a pósvenção, termo para designar o acolhimento desse luto revestido de culpa e tabu.

 

Amigos e família

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ato de um suicida deixa rastros profundos em cinco a seis pessoas no seu entorno. Porém, uma pesquisa da organização americana National Action Alliance for Suicide Prevention traz um número mais impressionante: 115 impactados. Desses, 53 afirmam que a vida foi interrompida por um curto período. Outras 11 relataram que o ato teve um efeito devastador em sua existência.

Pesquisadores dizem que os próprios enlutados entram nos grupos de vulnerabilidade depois do trauma, por conta de sentimentos de impotência e falta de sentido.

 

O manto do silêncio

Nos círculos sociais daqueles que se matam, a culpa e a vergonha são sentimentos comuns. Há ainda a ocultação. Eles acreditam que não se referir ao ato (às vezes sequer mencionar o nome da vítima) ajuda a driblar o sofrimento. O trabalho de pósvenção vai na direção contrária, de abrir espaços para que os sentimentos apareçam.

— O sofrimento tamponado provoca um efeito panela de pressão. Um dos antídotos para o luto é a revolta. Costumo perguntar ao enlutado onde está seu poder de indignação para comunicar o que está fazendo mal — afirma.

Outro erro é achar que é possível voltar a ser quem se era antes daquela morte. Como qualquer evento traumático, o suicídio deixa marcas. E retomar a produtividade para “tapar esse buraco” apenas adia a confrontação dessas chagas.

 

Relação com transtornos

Segundo uma crença difundida, 90% dos casos de suicídio são evitáveis. Para Fukumitsu, esse lugar-comum é um erro de interpretação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que uma das formas de se prevenir o ato é ampliar o acesso à saúde, e que grande parte dos suicidas sofre de transtornos mentais. É verdade, mas apenas em parte.

— Há uma relação, e tratar transtornos mentais reduz a chance de alguém tentar o suicídio. Mas dizer que ele é evitável é uma onipotência que cria um sentimento de culpa enorme nos enlutados. Se poderiam ter evitado aquilo, por que não o fizeram? Precisamos tentar evitar simplificações — alerta.

 

Os quatro Ds

A Associação Brasileira de Psiquiatria lista quatro Ds como as principais causas da tentativa de suicídio: desespero, desamparo, desesperança e depressão.

A frase mais famosa sobre o tema foi cunhada pelo psicólogo americano Edwin Shneidman: “O suicídio é uma solução permanente para um problema temporário”. Fukumitsu gosta de definir o ato como fruto de “um tsunami existencial, o ápice do processo de morrência”. Na sua visão, o quadro é complexo e multifatorial, nem sempre associado a transtornos.

— São processos autodestrutivos que podem acontecer com qualquer um se não estivermos vigilantes — diz.

Portanto, pensar em eventos como bullying, demissão ou término de relacionamento em termos de “culpados” é reducionista.

A OMS lista três características do comportamento suicida:

  • a ambivalência, quando a pessoa não quer morrer mas quer matar o que está provocando o sofrimento;
  • a impulsividade, quando a pessoa tem o rompante de atuar sobre o desespero;
  • o pensamento enrijecido, característico das pessoas de extremos ("tudo ou nada", "nunca ou sempre", "vida ou morte"), que sempre querem fazer as coisas sempre do próprio jeito.

 

Grupos vulneráveis

Além dos transtornos mentais como a depressão, sofrer outros tipos de marginalização social põe alguns grupos em posição de atenção nas estatísticas de suicídio. Pessoas LBTQIAP+, negros, indígenas, vítimas de abuso sexual e emocional, dependentes químicos, todos têm risco aumentado para processos autodestrutivos.

— Eu não falo em minorias, prefiro dizer que são grupos de vulnerabilidade, pessoas que de alguma forma se sentem ofendidos e marcados — diz a psicóloga.

Em uma das definições usadas por Fukumitsu, o suicídio é o "ato de comunicação, de uma dor sentida e não consentida". Portanto, o caminho para diminuir esse abismo social das pessoas vulnerabilizadas é oferecer canais de fala e escuta.

 

 

Numa das tentativas frustradas da mãe de se matar, a futura psicóloga entreouviu um enfermeiro aconselhar a paciente a “tentar da próxima vez de um jeito mais efetivo” para não dar mais trabalho às equipes.

Depois, já formada, vivia com medo de que um paciente manifestasse esse desejo.

— Eu não tinha recebido nenhuma habilitação na faculdade para conduzir o manejo de uma pessoa em intenso sofrimento existencial, que é como percebo o suicídio. Fui galgando a vida acadêmica para poder hoje coordenar uma pós-graduação em suicidologia. Queria mudar esse cenário — conta.

 

Estigmas

Quando decidiu se especializar em suicidologia, Fukumitsu notou que havia resistência no meio acadêmico.

— Diziam que eu ia mexer num vespeiro, que ninguém queria falar disso — lembra.

Hoje, no seu canal do YouTube, ela abre espaço para levar a discussão para mais gente, mas dificilmente consegue monetizar os vídeos por conta do tema considerado espinhoso. Os simpósios que promove também não costumam ter patrocínio.

Parte do tabu em torno do tema tem a ver com a ideia consagrada de morte como o único evento das nossas vidas que somos incapazes de controlar, explica:

— Todo mundo nasce sabendo que um dia vai morrer. É como se a gente tivesse uma senha, sem a informação de quando ela vai ser chamada. O suicida é aquele que fura a fila. Isso provoca muita raiva e indignação.

 

Grupos de apoio

Desde 2019, o Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, promove encontros de enlutados por suicídio mediados por profissionais de saúde. As sessões acontecem toda última terça-feira do mês, por videoconferência. São cerca de 130 inscritos por evento.

 

Trabalho com escolas

O trabalho da psicóloga hoje inclui a assistência a escolas onde houve episódios de suicídio. Um dos ensinamentos de Fukumitsu é que qualquer iniciativa de evidenciar a vítima com homenagens deve se enquadrar em um contexto maior de abordagens sobre o luto por qualquer causa. Chamar atenção para aquela morte isoladamente traz o risco de romantizar o ato.

 

Efeito Werther

Em 1774, o escritor alemão Johann Wolfgang Goethe publicou "Os sofrimentos do jovem Werther", sobre um homem que se mata por viver um amor impossível. O livro supostamente motivou uma onda de atos inspirados na trama pela Europa, um fenômeno que é referido até hoje como "efeito Werther". A tese é de que o suicídio pode provocar uma onda de contágio, uma crença que faz com que a comunicação de casos pela imprensa ainda seja tratada com cuidado.

Para a especialista, a cautela se justifica. Porém, não deve se transformar em silenciamento:

— O problema não é falar, é como falar. É o tipo de notícia que a gente tem que ser cuidadoso. Você pode dizer que foi suicídio, mas não precisa revelar o método. Nunca vai publicar uma foto, entrevistar os vizinhos. Em que isso vai ajudar alguém? O enlutado vai ficar com aquela marca — explica a psicóloga, acrescentando que a possibilidade de "contágio" acontece quando existe uma espetacularização do caso — Pode afetar aqueles que já estão muito sensíveis, machucados, vulneráveis, que podem pensar "bom, quem sabe eu seja visto agora".

 

Pergunta em aberto

No trabalho de pósvenção, a psicóloga costuma dizer aos enlutados que "a verdade vai embora com aquele que se matou". O resto é elucubração de quem fica.

— O suicídio nos coloca num lugar de impotência. Faz com que a gente olhe pra nossa própria falta de sentido. Vivemos numa sociedade em que temos que saber tudo, dar conta de tudo. Como você vai lidar com o não saber? Todo mundo acha que sabe o motivo da morte por suicídio, mas isso é desrespeitoso — define.

No seu próprio trabalho, aprendeu a lidar com as limitações do que é capaz de mudar:

— Uns anos atrás descobri que a terminologia do salva vidas mudou. Hoje ele é chamado de guarda vidas. Essa é a metáfora que eu quero adotar na minha postura como suicidologista. Eu não vou salvar ninguém, vou ser guardiã da vida. Quero levar esperança, buscar uma linguagem de respeito.

 

 

 

 

 

 

Por - O Globo

Saiba quais são tipos de depressão e riscos que acarretam

Incluída no rol dos transtornos mentais, a depressão é uma doença psiquiátrica comum, que se caracteriza por tristeza persistente e falta de interesse em realizar atividades que antes eram consideradas divertidas.

A depressão pode afetar pessoas de todas as idades, desde bebês a idosos. Entre os tipos mais comuns da doença estão a depressão maior, a bipolar, a pós-parto, os transtornos depressivos induzidos por outras substâncias ou medicamentos, entre outras. A distimia, por exemplo, é um tipo de depressão crônica e incapacitante, que apresenta sintomas leves a moderados de tristeza, sensação de vazio ou infelicidade.

“Todas precisam de acompanhamento médico adequado pois, se não tratadas, essas doenças podem levar ao suicídio”, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antonio Geraldo da Silva. A campanha Setembro Amarelo, realizada anualmente neste mês pela ABP, chama a atenção sobre a depressão e os perigos que ela pode causar.

“Praticamente, todos os casos de suicídio são relacionados aos transtornos mentais, principalmente os não diagnosticados ou tratados incorretamente. Dessa forma, a maior parte dos episódios fatais poderia ter sido evitada com as informações corretas sobre saúde mental e doenças psiquiátricas”.

O doutor Antonio Geraldo Silva esclareceu que, devido à sua alta prevalência, a depressão é a doença mais associada ao suicídio. “Não só durante a campanha Setembro Amarelo®️, como em todos os meses, a ABP cumpre sua principal missão, que é disseminar conteúdos relevantes sobre saúde mental para a sociedade, atuando na conscientização da sua importância e na prevenção das doenças mentais”.

Fatores de risco

Segundo informou o especialista, alguns fatores de risco podem levar uma pessoa à depressão. “Existem diversos fatores que podem ser considerados gatilhos e causam impacto no desenvolvimento de uma doença mental, como causas genéticas, que chamamos de genótipo, e os fatores ambientais, os fenótipos. São duas características que, quando combinadas, determinam se a pessoa desenvolverá ou não qualquer tipo de doença”. Silva explicou que o ambiente no qual o indivíduo está inserido e seu comportamento também contribuem para o desenvolvimento de doenças mentais como, por exemplo, conflitos familiares, dificuldades financeiras, problemas no relacionamento, a influência da mídia e das redes sociais. Essas situações podem ser fatores potencializadores para o surgimento de uma doença mental. “Sendo assim, isso também tem impacto no comportamento suicida”, disse o psiquiatra.

Além dos fatores ambientais e genéticos, o presidente da ABP lembrou que outros fatores podem impedir o diagnóstico precoce das doenças mentais e, consequentemente, causar impacto na prevenção do suicídio, levando ao aumento de casos, como o estigma e o tabu relacionados ao assunto. “Esses são aspectos importantes que impactam negativamente nos portadores de doenças mentais e no comportamento suicida”. “Praticamente, 100% das pessoas que tentam ou cometem suicídio têm alguma doença psiquiátrica,  diagnosticada ou não. As doenças mais relacionadas ao suicídio, além da depressão, são transtorno bipolar, transtornos relacionados ao uso e abuso de álcool e drogas, transtorno de personalidade e esquizofrenia.

Antonio Geraldo da Silva afirmou que a pessoa diagnosticada com depressão precisa ter uma rede de apoio de familiares ou amigos. “A família e os amigos são fundamentais na busca por ajuda e no apoio ao tratamento. Muitas vezes, são os primeiros a perceber que há algo de diferente e apontar a necessidade de buscar auxílio psiquiátrico”. Os sintomas depressivos variam de pessoa para pessoa, mas os mais comuns são tristeza, fadiga, distúrbios de sono, alterações no peso, baixa autoestima, perda de energia, dificuldade de concentração, redução de interesse em atividades anteriormente prazerosas e no contato com pessoas, ideias suicidas.

Buscando auxílio

É sempre bom ressaltar que somente um médico ou profissional da área de saúde pode diagnosticar corretamente a depressão. O presidente da ABP ressaltou que uma vez que se nota prejuízo no comportamento do indivíduo, ou seja, quando os sintomas começam a atrapalhar a vida da pessoa, é hora de buscar um psiquiatra para avaliar o quadro. “Ansiedade e tristeza são características normais do ser humano mas, a partir do momento em que nos impedem de sair de casa, trabalhar, levar uma vida social ativa, nos relacionar com outras pessoas, devemos procurar auxílio”.

Para ajudar uma pessoa depressiva, deve-se orientá-la a buscar cuidados, um tratamento especializado para a doença. “Se a pessoa tem sintomas depressivos, ela precisa e merece procurar ajuda com um médico psiquiatra, que vai indicar e oferecer o melhor tratamento possível”.

O médico lembrou também que os quadros depressivos precisam ser tratados com cuidado e urgência. “Não podemos deixar a doença envelhecer. Se a pessoa está mostrando que tem os sintomas, devemos ajudá-la a procurar um médico para fazer o diagnóstico, entender qual tipo de ajuda ela vai precisar e iniciar o tratamento imediatamente”.

A pesquisa Vigitel Brasil, realizada em 2021 e publicada este ano pelo Ministério da Saúde, incluiu pela primeira vez a depressão. O levantamento mostrou que 11,3% dos cidadãos brasileiros receberam diagnóstico da doença, o que corresponde a cerca de 23 milhões de pessoas, quase o dobro do número divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, que indicava a existência de 12 milhões de brasileiros com depressão. Considerando que nem toda a população tem acesso aos serviços de saúde mental, Antonio Geraldo da Silva destacou que muitas pessoas podem viver com depressão sem conhecer o diagnóstico. “E isso é muito grave. Devido à alta prevalência, a depressão é a doença mais associada ao suicídio”, reiterou. A própria OMS considera que a depressão é a terceira doença mais incapacitante e, diante do envelhecimento da população e das mudanças globais, existem perspectivas de que será a doença mais incapacitante até 2030.

Crianças e jovens

A psiquiatra Janine Veiga disse que a depressão infantil é semelhante à do adulto e que os sintomas são iguais, em maior ou menor grau. A doença pode ocorrer, por exemplo, por predisposição genética; por traumas advindos de situações de abuso; por convívio familiar conflituoso; por eventos estressantes, entre outras razões.

“Se não tratada a depressão, o jovem pode envolver-se com uso de drogas, apresentar dificuldade no relacionamento social e há o risco de agravamento da doença, que pode até chegar ao suicídio”, alertou. Janine recomendou que os pais devem ficar atentos a mudanças de comportamento dos filhos, como alteração do sono, padrão alimentar, irritabilidade, queda no rendimento escolar, choro fácil, desânimo, entre outros.

Pandemia

A psicóloga da Fundação São Francisco Xavier Gabriela Pinheiro Reis afirmou que as consequências da pandemia de covid-19 têm se revelado preocupantes para a saúde mental da população. O Relatório Mundial de Saúde Mental de 2022, divulgado pela OMS, revelou que apenas no primeiro ano da pandemia 53 milhões de pessoas desenvolveram depressão e 76 milhões tiveram ansiedade, com alta de 28% e 26% de incidência desses transtornos, respectivamente.

De acordo com a OMS, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre indivíduos com idade entre 15 e 29 anos. “O suicídio é um tema sensível e uma triste realidade na sociedade. A campanha Setembro Amarelo tem fundamental importância na conscientização sobre o assunto e na promoção da informação correta e, principalmente, para incentivar as pessoas que estejam passando por momentos difíceis a buscarem ajuda”, comentou Gabriela.

Na avaliação da psicóloga, as doenças mentais precisam ser encaradas sem preconceito. “Não é frescura. Depressão, bipolaridade e ansiedade são doenças que devem ser diagnosticadas e tratadas o quanto antes”.

Bem me Quer

A campanha Bem Me Quer, Bem Me Quero: Cuidar da sua saúde mental é um exercício diário”, realizada pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), visa a conscientizar a população sobre depressão, ansiedade e prevenção ao suicídio por meio da valorização do autocuidado e do equilíbrio na rotina.

Para a associação, algumas atitudes podem fazer a diferença e contribuir para a saúde mental, como não ficar o tempo todo conectado na internet, estabelecer horários, evitar bebidas cafeinadas em excesso e optar por uma alimentação equilibrada.

A presidente da Abrata, Marta Axthelm, chamou a atenção para o fato de que a autocobrança para dar conta de tantos papéis, principalmente no caso das mulheres, que são profissionais, mães, parceiras, amigas, no dia a dia, pode ser um gatilho para a depressão. “É essencial reduzir o tempo de acesso às redes sociais, principalmente no período da noite. No caso da depressão, a condição pode apresentar muito sono, mas tem o outro lado, que é a insônia”.

Segundo Marta, a depressão costuma a apresentar sinais que não são percebidos pelo paciente, na maioria das vezes. No caso do suicídio, quem pensa em tirar a própria vida quase sempre dá sinais, mas boa parte das pessoas que estão ao seu redor não consegue identificá-los. “Por isso, o Setembro Amarelo é tão importante para debater esses temas. Mais uma vez, reforçamos nosso papel de promover iniciativas que despertam a conscientização do autocuidado em prol da saúde mental e que também estimulam a população a olhar ao redor para identificar que alguém próximo precisa de ajuda”, concluiu a presidente da Abrata. : conheça

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por - Agência Brasil

Maior constrangimento por excesso de peso ocorre no ambiente familiar

Oito em cada dez pessoas com obesidade já sentiram algum tipo de constrangimento em razão do excesso de peso, sendo que a maioria afirma ser vítima de discriminação pelo menos uma vez ao mês.

Levantamento sobre obesidade e gordofobia, realizado pela internet com 3.621 pessoas, das quais 88% tinham excesso de peso, revela que, para 72% dos entrevistados, o ambiente familiar é o mais hostil em relação a episódios de constrangimento por conta do peso.

Feita em fevereiro deste ano pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a pesquisa identificou que, depois do ambiente familiar, os locais onde pessoas com obesidade sentem mais preconceito são lojas e comércio em geral (65,5%), seguido por situações de discriminação no médico (60,4%) e no trabalho (50,7%).

A endocrinologista Maria Edna de Melo, coordenadora do Departamento de Obesidade da SBEM, disse que o constrangimento e o preconceito não atingem somente as pessoas obesas. “Quase 70% das pessoas com sobrepeso já relatam ter constrangimento relacionado ao peso. E, à medida que vai aumentando o grau da obesidade, isso vai ficando mais frequente“.

Para a médica, o que chamou mais atenção na sondagem foi que o principal local de preconceito é a própria casa do paciente. “Embora no colégio e no trabalho ocorram situações de constrangimento, é dentro de casa que o preconceito é mais frequente. No dia a dia, quando a gente conversa com os pacientes, isso é bem nítido”.

Dados do Ministério da Saúde informam que, no Brasil, o excesso de peso acomete mais de 60% da população, sendo que cerca de 20% dos adultos já estão com obesidade.

Para minimizar o grande impacto dessa doença na saúde dos brasileiros, a endocrinologista aposta na ampliação do conhecimento sobre o tema e na oferta do cuidado adequado.

“A pessoas precisam entender a obesidade como uma doença, entender que não é escolha, que as pessoas que têm obesidade buscam, diariamente, melhorar sua alimentação, tentar melhorar sua saúde. Para a população com obesidade, em geral, essa é uma tentativa de todo dia. Se não fosse uma doença, seria fácil. Mas não é. Fica muito difícil controlar o impulso pela comida, porque tem comida em todo lugar”, afirma a médica.

Ela destacou ainda a necessidade de se entender a complexidade do problema e respeitar as pessoas com essa condição. Segundo a especialista, as pessoas têm uma visão muito fechada quando o tema é obesidade. “Todo mundo acha que é só fechar a boca e fazer uma caminhada e as pessoas já têm certeza que sabem tudo a respeito do assunto. Falta humildade para as pessoas estudarem o assunto e empatia para entender que não é um defeito da pessoa nem é falta de vontade”, indicou.

Respeito

A pesquisa mostra também que, quanto maior é o grau de obesidade, maior a frequência de pessoas que sofrem algum constrangimento diário: 27% das pessoas com grau 3 de obesidade relataram sofrer constrangimentos todos os dias. “Para algumas pessoas, isso acontece diariamente. Isso é muito ruim, porque piora a obesidade. A pessoa se estressa, se angustia e acaba comendo mais”. A isso se soma, muitas vezes, o fator genético, reiterou.

Para o Dia de Luta contra a Gordofobia, lembrado neste sábado (10), a endocrinologista ressalta a necessidade de respeito. “A gente precisa respeitar as pessoas independente do seu corpo. Tem que respeitar independente de qualquer coisa. Se é condição da pessoa, não é da nossa conta. Não é a gente que tem que se meter, mas é a própria pessoa que tem de tomar as providências quando e se achar que deve”.

“Com empatia, a gente ajuda. Não adianta ser não gordofóbico. Tem que ser antigordofóbico”, completou.

Preconceito

Para Maria Edna de Melo, o preconceito pode ser um dos fatores que contribui para piorar a obesidade. Quase 30% das pessoas com sobrepeso dizem acreditar serem culpadas por aquela condição e não buscam ajuda profissional.

“Na realidade, a obesidade é uma doença que sofre influência de diversos fatores como genética, estilo de vida, estresse, existência de outras doenças associadas, alguns tratamentos medicamentosos, além do tipo de alimentação que aquela pessoa segue. Não é uma escolha individual, mas consequência de uma confluência de fatores”, ressaltou.

A sondagem mostra ainda que 81% das pessoas com obesidade já tentaram perder peso de alguma forma, sendo que 68% o fizeram com ajuda especializada, seja de médicos, nutricionista ou demais especialistas da saúde, e 32% por conta própria.

Dos que tentaram por contra própria, mais da metade (63%) investiu no combo dieta e atividade física. Dentre as pessoas que afirmaram ter tentado perder peso por conta própria, pelo menos 18% declararam ter feito uso de medicamentos sem acompanhamento médico e de artifícios arriscados como substitutos de refeição (‘shakes’), produtos ou medicamentos vendidos na internet, fitoterápicos e chás.

Para Maria Edna, esses números mostram que as pessoas ainda têm resistência a buscar ajuda especializada. Mas, segundo ela, a obesidade, como qualquer outra doença, precisa de tratamento.

O levantamento identificou que apenas 13% das pessoas procuraram ajuda para perder peso no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que 62% delas declararam que não se sentiram confortáveis e acolhidos no atendimento, o que ocorreu com mais frequência entre aqueles com maior grau de obesidade.

“Isso ressalta outro dado preocupante, que é o preconceito que a pessoa com obesidade sente ao procurar ajuda médica. Precisamos de profissionais mais bem preparados e prontos para atender a essa demanda”, alertou a endocrinologista.

Uma pessoa apresenta diagnóstico de obesidade quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é maior ou igual a 30 kg/m2. A faixa normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. O IMC é calculado dividindo o peso (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros).

Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade é um dos principais fatores de risco para várias doenças não transmissíveis, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer.

O Dia de Luta Contra a Gordofobia (10/09) foi criado em substituição ao “Dia do Gordo” que, durante muito tempo, foi visto de forma pejorativa. Nos últimos anos, entretanto, a data foi abraçada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia para conscientizar a sociedade sobre a importância do respeito à pessoa com obesidade.

 

 

 

 

 

 

Por - Agência Brasil

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Covid longa: primeiro teste de sangue para diagnosticar quadro é aprovado

O primeiro teste de sangue para auxiliar no diagnóstico da síndrome da Covid longa – persistência dos sintomas ligados ao novo coronavírus após três meses da infecção aguda – foi aprovado pela União Europeia.

A empresa IncellDx, dos Estados Unidos, responsável pelo desenvolvimento do exame, espera levá-lo ao mercado nos países do bloco ainda em setembro. O aval foi dado após análises de estudos que indicaram precisão superior a 90% para identificar o quadro.

 

“Com tantas pessoas na Europa e em todo o mundo sofrendo de sintomas contínuos de Covid-19, sem um diagnóstico disponível para confirmar a Covid longa, estamos muito satisfeitos em receber a aprovação”, diz o CEO da IncellDx, Bruce Patterson, em comunicado.

O teste foi desenvolvido baseado em estudos publicados na revista científica Frontiers in Immunology que demonstraram marcadores inflamatórios no organismo de pacientes com sintomas por até 15 meses após a contaminação pelo Sars-CoV-2, em comparação com um grupo de pessoas saudáveis. Aqueles com os problemas pós-Covid apresentavam proteínas do coronavírus de forma persistente nos monócitos – células que fazem parte do sistema imunológico – CD14+ e CD16+, por exemplo.

 

A partir dessas informações, os pesquisadores da IncellDx desenvolveram um exame de sangue capaz de identificar esses marcadores. Para Patterson, o teste é importante uma vez que a Covid longa pode ser facilmente confundida com outros problemas de saúde. Por isso, um diagnóstico mais preciso pode auxiliar no direcionamento para melhores tratamentos e no próprio entendimento do quadro, que ainda não é completamente desvendado pelos médicos.

“A Covid longa apresenta um desafio significativo de diagnóstico e tratamento para os pacientes. Muitos dos sintomas associados ao quadro, incluindo fadiga, confusão mental, falta de ar, insônia e uma ampla gama de problemas cardiovasculares, podem ser facilmente confundidos com outras condições (...) Ter uma ferramenta eficaz – e principalmente objetiva - para diagnosticar a condição é absolutamente essencial. Um teste objetivo que possa detectar assinaturas imunológicas específicas para a Covid longa é vital para um diagnóstico eficaz e para permitir que os pacientes procurem um tratamento eficaz”, acrescenta o CEO da IncellDx.

 

De acordo com a empresa, os testes com o novo exame indicaram uma precisão superior a 90% para identificar o quadro. Embora a Covid longa ainda não tenha um tratamento específico, já que as próprias causas do quadro ainda são alvo de investigação, o exame pode oferecer respostas a pessoas que não entendem por que estão se sentindo tão cansadas ou com uma tosse contínua, por exemplo.

 

Prevalência da Covid longa

Segundo um estudo recente publicado no periódico The Lancet, metade dos pacientes hospitalizados pela Covid-19 ainda apresentavam ao menos um sintoma da doença mesmo após dois anos da infecção. As queixas mais comuns foram fadiga e falta de ar.

 

Pela facilidade na confusão dos sintomas com outros problemas de saúde – problema que o teste pode ajudar a solucionar – uma série de estudos apontam prevalências distintas da síndrome entre a população contaminada pela Covid-19, mas que não precisou ser hospitalizada.

Um dos trabalhos que apontou a maior incidência foi conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz, em Minas Gerais (Fiocruz Minas). Os pesquisadores acompanharam 646 pacientes diagnosticados com o novo coronavírus e constataram que também metade ainda apresentava sintomas por um período que ultrapassava um ano da infecção. A pesquisa foi publicada na revista científica Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene.

No período da análise, as vacinas ainda não estavam amplamente disponíveis, o que pode ter influenciado o resultado. O problema mais comum entre os pacientes foi a fadiga, relatada por 35,6% dos participantes. Já a tosse persistente apareceu logo depois, descrita por 34%, seguida pela dificuldade para respirar, por 26,5%, e pela perda de olfato ou paladar, por 20,1%.
 

Um outro trabalho, mais recente, publicado na The Lancet, estimou uma prevalência menor: uma em cada oito pessoas infectadas com a Covid-19 desenvolveu ao menos um dos sintomas da Covid longa. Conduzido por pesquisadores da Universidade de Groningen, na Holanda, o estudo teve o diferencial de ter acompanhado um amplo grupo com 76.400 adultos, e ter comparado os relatos dos contaminados com os de indivíduos que não tiveram a Covid.

 

 

 

 

 

Por - O Globo

Campanha alerta para malefícios do cigarro eletrônico

No Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado hoje (29), a Fundação do Câncer e a Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup) lançaram a campanha Cigarro eletrônico: parece inofensivo, mas não é, destinada a toda a população, mas com foco especial nos jovens.

Em entrevista à Agência Brasil, o cirurgião oncológico e diretor executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, disse que o cigarro eletrônico foi escolhido para tema da campanha deste ano porque embora sua comercialização e propaganda estejam proibidas no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, sabe-se que o produto “está difundido no meio dos jovens e é uma porta de entrada importante para o vício do tabaco”.

Segundo Maltoni, os cigarros eletrônicos vêm disfarçados em uma série de formatos, aromas e sabores, quando às vezes carregam até concentrações de nicotina muito maiores do que o cigarro convencional. Por norma, o cigarro convencional pode ter até um grama de nicotina, que é a substância que vicia, enquanto os cigarros eletrônicos chegam a ter até 7 gramas por unidade, disse o médico.

Pesquisa

De acordo com pesquisa recente do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), realizada pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), um em cada cinco jovens no Brasil, na faixa de 18 a 24 anos de idade, usa o cigarro eletrônico.

Maltoni alerta que “20% é muito alarmante”.

Trata-se de um dispositivo que está proibido no país, ressalta o médico. E, por isso, disse que o foco da campanha é trabalhar com os jovens para sensibilizá-los que, de fato, o cigarro eletrônico é uma enganação. “Ele não é inócuo, mas produz uma série de doenças e agravos”, alerta.

Uma pesquisa do Ministério da Saúde apontou que mais de 2 milhões de pessoas já usaram os chamados dispositivos eletrônicos (DEFs) para fumar, sendo a maior prevalência entre jovens na faixa etária de 18 e 24 anos. Além de chamar a atenção para o perigo dos cigarros eletrônicos, a ação objetiva destacar que a venda desses produtos é ilegal e estimular os cidadãos a denunciarem os pontos de venda desses dispositivos, não só de venda física, como bancas de jornais e tabacarias, como até pela internet.

A presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas (Anup), Elizabeth Guedes, salientou que as faculdades, centros universitários e universidades de todo o país “têm um papel social importante de esclarecimento e mobilização para que os jovens não adquiram esse hábito que pode trazer inúmeras consequências para a saúde”.

A Anup reúne 247 instituições particulares de ensino superior, atingindo 3 milhões de jovens do país.

O material da campanha pode ser baixado gratuitamente no site da Fundação do Câncer e fica disponível para divulgação em redes sociais e para impressão

por todas as universidades, sejam públicas ou particulares, ressaltou o diretor executivo da Fundação do Câncer.

A concessionária Ecoponte é também parceira da campanha e vai divulgá-la nos displays de led na Ponte Rio-Niterói.

Doenças

O médico esclareceu que o cigarro eletrônico produz grande volume de substâncias tóxicas e cancerígenas que levam a doenças importantes, como cânceres de pulmão, esôfago, boca, pâncreas, bexiga, entre outros; doenças cardiovasculares com forte relação com tabaco, entre as quais infarto e derrame cerebral; e doenças pulmonares, como enfisema.

“Essas são um pouco da abrangência dos males dos produtos decorrentes tanto do cigarro convencional, como do cigarro eletrônico, que vem travestido de aromas e sabores e formatos, como pen drive, para enganar os jovens que pode ser inócuo”, disse o cirurgião oncológico.

Maltoni lembrou ainda que o cigarro eletrônico tem mostrado um comprometimento da saúde de formas que não eram conhecidas. Nos Estados Unidos, por exemplo, foi registrada antes da pandemia da covid-19 uma síndrome denominada Evali pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que identifica lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping.

“É uma inflamação aguda dos pulmões em jovens. Esses pacientes vão para CTIs e são entubados. Há relatos de alguns jovens que são submetidos a transplante de pulmão pela destruição dos pulmões por esse processo inflamatório agudo e tem relação com o cigarro eletrônico”, disse.

Maltoni alerta para as explosões que os cigarros eletrônicos proporcionam, devido a possuírem bateria e líquidos inflamáveis, destruindo vasos da boca e dedos, além de queimaduras graves em braços e pernas.

Os DEFs contêm metal, plástico, baterias e circuitos. Além disso, os resíduos de cigarros eletrônicos não são biodegradáveis e os cartuchos ou dispositivos descartáveis geralmente se decompõem em microplásticos e produtos químicos que poluem ainda mais os cursos d’água.

 

 

 

 

 

 

Por - Agência Brasil

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