‘Se ele quiser morrer o problema é dele’, diz atendente do Samu de Curitiba em ligação;
Uma funcionária do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Curitiba foi afastada pela prefeitura por dificultar o atendimento a um homem ferido na cabeça, no sábado (5). "Se ele quiser morrer o problema é dele", diz ela.
Na ligação feita pelo empresário Valdecir Mikuska, que encontrou o homem caído em um canteiro central de uma via, ela afirma que era preciso autorização do ferido para que fosse enviada uma ambulância até a Avenida Santa Bernadete, entre os bairros Fanny e Lindóia.
O áudio, segundo ele, foi gravado por meio de um aplicativo de celular.
Atendente: Samu, bom dia!
Valdecir: Bom dia!
Atendente: Quem está falando?
Valdecir: É o Valdecir.
Atendente: O que está acontecendo?
Valdecir: Tem um rapaz caído aqui no canteiro da Avenida Santa Bernadete, com a cabeça sangrando.
Atendente: O senhor conhece ele?
Valdecir: Não
Atendente: O senhor perguntou se ele quer ajuda?
Valdecir: Não, não perguntei.
Atendente: Tá, mas tem que perguntar senhor, porque às vezes ele não quer.
Valdecir: Mas deixa morrer ali?
Atendente: Se ele quiser sim.
Valdecir: Mas que tipo né.
Atendente: Tem que perguntar para ele, porque a gente não pode pegar ele a força. Se chegar aí e ele não quiser, a ambulância faz o quê?
Valdecir: Mas e se morre o caboclo ali?
Atendente: Senhor, se ele não quiser e se quiser morrer aí o problema é dele. O senhor tem que perguntar se ele quer atendimento.
Valdecir: Mas se ele nem responde por ele. Vou ver se ele consegue, só um minuto.
Valdecir: oi, oi?
O empresário conta que no tempo em que foi tentar conversar com o homem caído, para perguntar se ele queria ajuda, a ligação caiu ou foi desligada.
“É um ser humano, como é que vou deixar ali caído, né? Eu estava com o meu sobrinho, pedi para ele ligar novamente e insistir no atendimento. Ficamos uns 20 minutos esperando o Samu, dei um bolinho que tinha no carro, água e lavamos um pouco do rosto”, explica.
Segundo ele, o homem era um venezuelano, que aparentava ter entre 35 e 40 anos, e contou ter sido alvo de agressões. Na segunda ligação, a atendente pegou as informações básicas e passou para um médico conversar com o empresário.
Conforme a assessoria da prefeitura, a vítima foi atendida na ambulância e liberada, pois não havia necessidade de encaminhamento para um hospital.
Em nota, a prefeitura disse que o atendimento não foi correto e que medidas administrativas serão tomadas para apurar o caso.
A secretária municipal de Saúde Márcia Cecília Huçulak afirma que a funcionária foi afastada do cargo e responderá a um processo interno.
"Determinei a instauração de um processo administrativo. Ela [atendente] vai poder se manifestar, vai se constituir uma comissão e essa comissão vai determinar se é o caso de dar uma advertência, ou uma suspensão, ou uma exoneração. É essa comissão que vai avaliar o caso e determinar a medida imposta contra essa funcionária", afirmou.
Leia o posicionamento da prefeitura na íntegra:
“O primeiro atendimento do Samu não foi o correto. A Secretaria Municipal da Saúde informa que retirou a atendente do plantão, por não atender os protocolos do Samu. Ela também irá responder a processo administrativo.
A Prefeitura lamenta o episódio e pede desculpas ao cidadão que fez a ligação para ajudar a pessoa que estava precisando de atendimento.
A atitude da funcionária foi incorreta porque cobrou escolhas de uma pessoa inconsciente.
O protocolo de atendimento do Samu prevê que se tenha o maior número de informações possíveis da pessoa que será atendida. Se está ferida, qual o tipo de ferimento, se está consciente, se consegue falar e explicar como está se sentindo.
Essas informações são decisivas para saber que tipo de ambulância será enviada ao local.” (Com G1)
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