Policiais rodoviários do Paraná são investigados por exigirem propina de motoristas e facilitarem saques de cargas

11 policiais militares, sendo 7 pertencentes ao batalhão de Polícia Rodoviária da Polícia Militar do Paraná (PM), são suspeitos de exigirem propina de motoristas e ajudarem em saques e desvios de cargas de veículos acidentados.
Eles foram alvo de uma operação deflagrada nesta terça-feira (3) pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Guarapuava, da região central do Paraná, que também investiga outras 9 pessoas e 3 empresas pelos furtos e desvios de cargas.
A operação foi chamada de "Rota 466" porque, segundo o Gaeco, as investigações focam em ações criminosas realizadas pelos policiais na PR-466, rodovia que liga Guarapuava a Pitanga.
De acordo com o promotor Pedro Papaiz, os policiais investigados são das cidades de Guarapuava, Pitanga, Ponta Grossa, Laranjeiras do Sul e Manoel Ribas.
Ele explica que o foco inicial foram os policiais militares lotados no posto rodoviário estadual que fica próximo ao distrito de Palmeirinha. No entanto, durante as investigações foram descobertas conexões entre outros policiais e saqueadores, afirma Papaiz. Saiba mais sobre o esquema criminoso mais abaixo.
"O que a gente notou foi que os policiais ali lotados acabaram mercantilizando o posto; eles estavam usando as suas funções para enriquecer licitamente", aponta o promotor.
Durante a operação, foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão em Guarapuava, São José dos Pinhais, Prudentópolis, Pitanga, Laranjeiras do Sul, Ponta Grossa, Mauá da Serra, Cascavel, Pinhão e Manoel Ribas.
Duas pessoas foram presas em flagrante por posse ilegal de armas/munições.
Entre os itens apreendidos, estão cerca de R$ 37 mil em espécie, dois veículos, celulares, armas registradas e não registradas e outros itens.
Os nomes dos suspeitos não foram revelados.
Segundo o promotor do Gaeco, três suspeitos estão na reserva e oito são policiais na ativa. Por enquanto, eles foram afastados das ruas e alocados em serviços administrativos da PM.
Em nota, a assessoria de comunicação da Polícia Militar do Paraná ressaltou que a Corregedoria da corporação prestou apoio à operação do Gaeco e ressaltou que as diligências incluíram buscas nas residências e locais de trabalho dos investigados, bem como o afastamento cautelar de suas funções públicas.
"Procedimentos administrativos e criminais foram instaurados para a apuração rigorosa dos fatos, garantindo aos envolvidos o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, conforme preconiza o devido processo legal. A PMPR reitera seu compromisso institucional com a legalidade, moralidade e transparência, e segue firme de na identificação e repressão de condutas incompatíveis com os valores da corporação", afirma a nota.
Como funcionava o esquema criminoso, segundo o Gaeco
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/h/Z/F5Kl0bTR6y51AtHts9CA/whatsapp-image-2025-06-03-at-10.13.49.jpeg)
29 mandados de busca e apreensão foram cumpridos pelo Gaeco nesta terça (3) — Foto: Gaeco
O promotor Pedro Papaiz, do Gaeco, explica que as investigações apontaram que os policiais abordavam, "sistematicamente", condutores que eram flagrados em alguma infração administrativa de trânsito e exigiam propina para que eles não fosse feita a autuação e aplicada multa.
Segundo ele, centenas de transações financeiras suspeitas foram identificadas e cerca de 50 pessoas foram ouvidas. As investigações iniciaram há cerca de dois anos e já identificaram mais de 30 crimes cometidos, diz Papaiz.
"A gente identificou que essas propinas eram pagas majoritariamente por meio de pix, em nome de um 'laranja' residente no distrito da Palmeirinha. Esse laranja foi alvo de buscas também, e com ele apreendemos agendas. A gente já tinha o afastamento do sigilo financeiro dele, demonstrando que recebia essa propina e repassava pros policiais", complementa o promotor.
De acordo com ele, os policiais também se associaram com pessoas envolvidas com furto, desvio e receptação de cargas tombadas.
"Teve uma situação que um caminhão tombou na mesma rodovia, na PR-466, e os policiais chegaram ao local. Esses saqueadores chegaram depois dos policiais, e os policiais permitiram que a carga fosse furtada embaixo do nariz deles - quando era o dever deles proteger o patrimônio da pessoa que tinha seu caminhão tombado. E esses saqueadores, depois, vieram a oferecer pro dono da carga a recompra do que já era dele", exemplifica Papaiz.
O promotor afirma, ainda, que os saqueadores faziam transferências financeiras para os policiais e justifica que as investigações foram feitas em conjunto porque envolviam "basicamente os mesmos policiais".
Agora, após as buscas e apreensões, os suspeitos serão interrogados.
Por - G1