Conheça o Cystisoma, o crustáceo transparente e com olhos gigantes
O fundo oceano é interesse para muita gente, e grande parte isso vem do mistério quanto aos seres que lá habitam. As profundezas escuras da zona crepuscular oceânica, por exemplo, são o lar de um crustáceo semelhante a um camarão do tamanho de um punho com olhos ridiculamente grandes: o Cystisoma.
A maior parte da cabeça do animal é ocupada pelos olhos, o que é melhor ainda para enxergar no escuro. “Quanto maior o olho, maior a probabilidade de captar quaisquer fótons que estejam por aí”, disse Karen Osborn, pesquisadora do Smithsonian Institution em Washington DC, ao The Guardian.
Um grande desafio para os animais que vivem em águas profundas (no caso do Cystisoma, entre 200 e 900 metros de profundidade), é ver sem ser visto por predadores. “É basicamente como brincar de esconde-esconde em um campo de futebol”, explicou Karen. “Não há nada para se esconder atrás.”
Os olhos são especialmente difíceis de esconder, já que as retinas sempre devem conter pigmentos escuros que absorvem fótons. Os predadores então podem distingui-los na fraca iluminação da zona crepuscular ou nos feixes de seus próprios holofotes bioluminescentes.
Mas o Cystisoma disfarça seus olhos enormes de uma forma única. Em vez de concentrar os pigmentos em uma pequena área, segundo Karen, eles espalham sua retina em uma fina folha de minúsculos pontos avermelhados, que são pequenos demais para a maioria dos animais enxergar.
A maioria do resto de seu corpo é transparente, o que ajuda no esconde-esconde pela sobrevivência. Quando os cientistas os pegam em redes de arrasto e os esvaziam em um balde de água do mar, eles aparecem como espaços vazios do tamanho de uma palma entre outros animais. “Você realmente não consegue ver essas coisas até tirá-las da água”, disse Karen.
A maioria dos órgãos internos do crustáceo é cristalino, graças à maneira muito ordenada e estruturada de seus tecidos. “A única coisa com a qual eles não conseguem se dar muito bem é com o intestino”, Karen explicou.
A estrutura dourada visível aos olhos é o órgão digestivo. Mesmo assim, o órgão é empilhado no alto do corpo e de forma reta, a fim de criar a menor sombra possível, enquanto o Cystisoma flutua em sua posição horizontal usual.
Esses crustáceos se tornam ainda mais difíceis de detectar debaixo d'água, uma vez reduzida a luz refletida em seus corpos transparentes, como Karen e seus colegas descobriram em 2016.
Visto sob um microscópio eletrônico, partes do exoesqueleto do Cystisoma são cobertas por pequenas protuberâncias, que Karen compara a um carpete peludo. Outras partes são cobertas por uma única camada de formas esféricas, que os cientistas imaginam serem colônias de uma forma desconhecida de bactéria.
O tapete nanoscópico e as esferas tornam a luz 100 vezes mais provável de passar direto pelo Cystisoma, em vez de refletir no olho de um predador que passa. “Funciona exatamente da mesma maneira que um revestimento antirreflexo em uma lente de câmera”, disse Karen.
As pernas do crustáceo, em particular, se beneficiam da cobertura antirreflexo e das articulações cobertas por esferas, porque, caso contrário, elas capturariam facilmente a luz enquanto se agitam e se contorcem.
“Esses caras são mestres absolutos da camuflagem transparente no meio da água”, categoriza a pesquisadora.
Mas o que acontece quando o Cystisoma quase invisível realmente quer ser encontrado? Afinal de contas, esses crustáceos também precisam acasalar para se reproduzir.
Uma pista de como os parceiros se encontram está nas grandes antenas do macho Cystisoma, cobertas de estruturas que detectam produtos químicos na água ao redor. Segundo Karen, eles as utilizam para cheirar, literalmente, uns aos outros.
Por - Casa e Jardim