Com 5G, Brasil se consolida como arena para eSports
Na década passada, antes da pandemia, o Brasil atraiu a atenção do mundo como palco de competições mundiais como Copa do Mundo, Olimpíadas e Paraolimpíadas. Agora, um novo tipo de evento esportivo aquece a retomada: os campeonatos presenciais de eSports.
A chegada do 5G, a nova geração de internet móvel, há pouco mais de um mês, aumenta o otimismo do setor de jogos eletrônicos no país e reforça a vocação brasileira para transformar experiências virtuais em grandes celebrações reais.
Em 2021, a indústria de games faturou mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,1 bilhões) no país, alta de 14,5% em relação ao ano anterior, segundo levantamento da consultoria especializada NewZoo. A expectativa do setor, com o 5G chegando em quase todas as capitais até outubro, é de um avanço ainda maior neste ano.
Maior parte dos participantes ainda é do sexo masculino. — Foto: Infoglobo
Pesquisa recente da International Data Corporation (IDC) projeta que o setor como um todo alcance US$ 2,2 bilhões em faturamento até o fim de 2022, impulsionado pela internet móvel de altíssima velocidade e baixa latência (demora entre o envio e o recebimento de uma informação) e o aumento das competições virtuais e presenciais no país, que atraem grandes audiências nas arenas e on-line e movimentam serviços, turismo e patrocínios com orçamentos milionários.
5G promete revolução
Luciano Saboia, gerente de Pesquisa e Consultoria de Telecomunicações da IDC Brasil, diz que o 5G deve revolucionar a maneira como os usuários e competidores usam consoles tradicionais como Playstation e Xbox. Na visão do especialista, os dispositivos móveis vão ganhar mais espaço nos grandes campeonatos on-line:
— Aqueles que acompanham e comentam vídeo streaming, que é a transmissão (das partidas), vão ser potencializados pelo 5G. Na era do 3G ou 4G, tanto para quem transmite quanto para quem assiste, era inviável fazer isso sem interferências ou perda de sinal de internet. Isso deve demorar um pouco.
O potencial tecnológico e o espaço disponível em arenas estão fazendo do Brasil o mais novo polo de competições de eSports no mundo, apontam os agentes do setor. Já existe um calendário consolidado, que só cresce.
No ano passado, a final do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL), da Riot Games, a principal competição do jogo eletrônico no país, teve como cenários o Morro da Urca e o Pão de Açúcar, no Rio, atraindo milhares de jogadores e aficionados para a cidade.
Modelos da Samsung, Apple, Motorola, Xiaomi e Realme já tem a frequência de 3,5 GHz que suporta a 5G
A Wild Tour Brasil, um circuito esportivo do jogo Wild Rift (versão mobile do League of Legends), por exemplo, reuniu cerca de 5 mil pessoas em Belo Horizonte, em abril deste ano.
Em junho, o Chance Qualifier de Valorant, um jogo de tiro do gênero FPS (first person shooting), teve parte de sua primeira edição internacional realizada em São Paulo, mas ainda sem público presencial por causa das restrições da Covid-19.
Outro evento estreante promete ser ainda maior, a final do campeonato de Counter Strike: Global Offensivemar (CS:GO), um game de tiro. Está marcada para novembro na Jeunesse Arena, no Rio.
Os ingressos estão esgotados e a estimativa é de 52 mil pessoas divididas entre os quatro dias do evento. Um mês antes, no mesmo lugar, 24 equipes devem buscar o título mundial do Intel Extreme Masters (IEM CS GO Major League), com premiação de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,1 milhões).
Mascote anima plateia da segunda etapa do CBLOL 2022: campeonatos de games atraem milhares de pessoas — Foto: Divulgação/Cesar Galeão
Carlos Antunes, líder de eSports da Riot Games no Brasil, uma das principais desenvolvedoras de jogos do mundo, diz que o mercado brasileiro de esportes eletrônicos tem se dividido em duas camadas: eventos (envolvendo público consumidor, criação de conteúdo e patrocínios) e campeonatos com grandes embates de equipes que atraem turistas, público pagante, empresas terceirizadas e ainda mobilizam a economia das cidades que sediam.
Para ele, o país tem vocação para desenvolver essa nova indústria de entretenimento.
— O Brasil está lotado de arenas, com grandes espaços e uma logística de organização de eventos muito bem definida, como a do Rock in Rio e do carnaval — diz o empresário, destacando que Rio e São Paulo, que recebem a maior parte dos torneios de eSports, também concentram a maior parte do público consumidor de games.
Um levantamento do Atacado dos Jogos, empresa com mais de 20 anos de experiência no comércio de games, mostra que a Região Sudeste é a mais engajada no comércio eletrônico de games. São Paulo é o estado que mais compra jogos on-line, com 60% das vendas, seguido por Rio (30%).
As demais regiões do país respondem por apenas 10% desse mercado.
Chegada do 5G é vista como mais um impulsionador para segmento. — Foto: Divulgação
Até 2019, um evento de jogos eletrônicos de grande porte custava entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões. Agora, no atual contexto inflacionário, a retomada tem vindo com orçamentos de 10% a 15% mais caros, estima Antunes:
— Precisamos de, pelo menos, 200 pessoas envolvidas nos eventos, entre transmissão, palco, atendentes, apresentadores e materiais eletrônicos. No setor de logística, são cerca de cem funcionários de empresas terceirizadas.
Maioria masculina
André Abreu tem apenas 18 anos, mas já é um jogador profissional de Counter-Strike. O jovem atleta competiu pelo time da Fúria em países como EUA, Polônia, Suécia, México, Alemanha, Romênia, Bélgica e Sérvia. Neste ano, jogará o IEM CS GO Major League no Brasil, o que dará um sabor especial: o público.
— O campeonato mundial aqui é bom para criar laços com a torcida brasileira, que é enorme. A expectativa é fazer um espetáculo bonito para quem torce por nós — diz o ciberatleta.
Entre os jogadores, a grande maioria é masculina. Mas os games também crescem entre o público feminino. Izaa, como é conhecida a capitã do time feminino de CS da Fúria, conta que, neste ano, dois campeonatos femininos vão ocorrer no país.
O Brasil Game Show (BGS), em outubro, será em formato presencial. Também está previsto o CS Masters, de 31 de outubro a 13 de novembro.
— O cenário gamer cresceu muito, em relação a times, salário. Infelizmente a disparidade de gênero ainda é muito grande, mas está melhorando aos poucos. Vamos jogar um torneio na Espanha que terá a mesma premiação para homens e mulheres — comemora, ansiosa para os próximos campeonatos.
Por - O Globo