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Em meio a tensão com EUA, Maduro canta música pacifista de John Lennon

Em meio a tensão com EUA, Maduro canta música pacifista de John Lennon

Em um gesto calculado para as câmeras, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, cantou publicamente "Imagine", de John Lennon, durante um ato político no sábado (15). A performance, porém, contrasta com os relatos de violações de direitos humanos amplamente documentados contra seu governo e ocorre no momento de maior tensão militar com os Estados Unidos em anos.

Enquanto Maduro balançava os braços e fazia o símbolo da paz, o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, se posicionava no Caribe, a poucas centenas de quilômetros da costa venezuelana. A movimentação é parte da operação "Lança do Sul", anunciada pelo Pentágono para combater o narcotráfico, mas que o regime chavista classifica como um prelúdio para invasão.

Analistas veem o recurso ao clássico pacifista como uma manobra de diplomacia pública para tentar reposicionar Maduro no cenário internacional, de agressor para vítima. O objetivo é angariar simpatia global e isolar os EUA, cujo presidente, Donald Trump, declarou já ter tomado uma decisão sobre possíveis ações militares, sem dar detalhes.

No entanto, a imagem do "Maduro pacifista" colide com investigações da ONU e do Tribunal Penal Internacional (TPI), que apontam seu governo pela prática sistemática de crimes contra a humanidade, incluindo tortura, detenções arbitrárias e violência sexual contra opositores políticos. Relatos de vítimas incluem choques elétricos nos genitais e ameaças de crucificação.

Por trás do discurso de paz, a Venezuela mantém uma mobilização militar permanente há três meses. Maduro utilizou o mesmo evento para jurar os "Comitês Bolivarianos de Base", estruturas civis armadas com a tarefa declarada de "defender a pátria de qualquer ameaça externa".

A escalada é tratada com seriedade por Washington, que recentemente classificou o cartel de Los Soles – supostamente liderado por figuras do alto escalão chavista – como uma organização terrorista, abrindo um novo leque legal para operações militares.

Enquanto "Imagine" ecoava em Caracas, a retórica em ambos os lados se mantém hostil. O apelo de Maduro soa menos como um chamado à coexistência e mais como um escudo estratégico, tentando desarmar diplomaticamente uma potência militar cujo poderio naval agora está ancorado à sua porta.

 

 

SICREDI 02