Semana do Conhecimento tem atividades práticas com alunos
O quadrado perfeito da estrutura física da Escola de Formação dos Bombeiros, tal qual um Mondrian (pintor neerlandês modernista), é o que ajuda a explicar a dimensão do projeto que está sendo executado dentro da Academia Policial Militar do Guatupê, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
Esse é o prédio que marca o início de um novo ciclo de desenvolvimento para a formação dos bombeiros paranaenses e que encerra uma trajetória iniciada há 56 anos a apenas 17 quilômetros dali, nos mananciais de Piraquara.
A nova Escola Superior de Bombeiro Militar foi concebida entre o final da década passada e o começo desta e já atingiu 75,2% de conclusão das obras, com previsão de entrega civil para dezembro deste ano e de início efetivo de funcionamento para o segundo semestre de 2021, com a aquisição de todo o mobiliário e os equipamentos dos laboratórios.
Essa estrutura tem capacidade para atender 300 alunos simultaneamente nos cursos de formação, especialização e aperfeiçoamento da corporação, tais como formação de praças (soldados), habilitação de sargentos, formação de socorristas, guarda-vidas, especialização em resgate veicular, salvamento em altura, espaços confinados, estruturas colapsadas, operações de combate a incêndios urbanos e florestais, aperfeiçoamento de sargentos, além da formação habitual de oficiais (voltadas à gestão e controle da instituição).
Será a grande faculdade dos homens e mulheres voltados ao serviço de prevenir e socorrer a população nos acidentes, incêndios e resgates, em qualquer tipo de terreno ou horário. A meta é ultrapassar 1.500 alunos por ano.
“Os bombeiros paranaenses atendem com muita precisão o Estado e outras unidades da federação, quando demandados. Estamos investindo ainda mais em preparo, treinamento. Essas pessoas colocam as suas vidas à disposição para salvar os paranaenses”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior. “Essa nova escola vai formar as próximas gerações. É um ativo que vai perdurar por décadas”.
A Escola Superior Bombeiro Militar permitirá atualização diária dos procedimentos e preparação adequada para manuseio dos equipamentos disponíveis no mercado para auxiliar o dia a dia das tropas. “É uma obra maravilhosa. É nessa escola que teremos treinamento e atualização das novas tecnologias que são incorporadas periodicamente pelo Corpo de Bombeiros. Compramos equipamentos da Suécia, da Noruega, da Inglaterra. E vamos manter essa evolução porque as tropas do Paraná são referências nacionais”, destaca o secretário estadual da Segurança Pública, Romulo Marinho Soares.
“É um sonho antigo ter uma escola moderna, apta ao que desejamos. Estamos pensando nos profissionais do futuro. Teremos formação tradicional e especializada, que não termina nunca. Estamos sempre aperfeiçoando os processos ao longo da carreira”, acrescenta o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Paraná, coronel Samuel Prestes. “O bombeiro é um profissional versátil, do controle de segurança das construções a crises humanitárias como a pandemia. Esse nível só é alcançado com muito treinamento”.
ESCOLA – A lista de mínimos detalhes do quadrado perfeito é extensa e passa pelas mãos do tenente-coronel Gerson Gross, subcomandante da Academia Policial Militar do Guatupê. Personagem de voz mansa, protagonista desta transformação. A estrutura tem mais de 6,5 mil metros quadrados de área construída em um terreno de mais de 13 mil metros quadrados e foi licitada a um valor de R$ 17 milhões, mas será entregue por cerca de R$ 20 milhões com os aditivos contratuais para contemplar todas as necessidades do Corpo de Bombeiros, financiados com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O tópico número um é o formato. O prédio tem esse estilo de quartel fechado para que bombeiros e policiais militares mantenham rotinas independentes, apesar da proximidade e convívio diários. O pátio interno, usado para formaturas, é vazado. Ao redor estão os corredores, muitos deles com vidros, todos conectados entre si e protegidos das intempéries do tempo, marca registrada pela proximidade com a serra do mar.
Os pisos da entrada e dos fundos têm doses extras de concreto para suportar o peso dos caminhões e skylifts (viaturas utilizadas pelo Corpo de Bombeiros), assim como o asfalto da rua que dá acesso ao pátio externo de treinamento construída entre os limites do terreno e a Alameda Ministro Aramis Athayde. As estruturas de prevenção contra incêndio ficaram expostas na construção de propósito para auxiliar o treinamento, principalmente na área da caixa d’água, com objetivo de “usar a escola como ambiente de aula prática” e evitar visitas a outros imóveis.
O prédio também tem tubulações com gás natural para atender tanto a cozinha como todos os espaços destinados a simulações de incêndios, em um convênio firmado com a Compagás. As salas de aula têm configurações inteligentes. Elas contam com paredes removíveis no que seria o meio, podendo atender 30 ou 60 alunos, por exemplo, dependendo da demanda do curso.
Olhando da entrada principal é como se um tour pelo local começasse pelo auditório, que é uma das arestas do quadrado. À direita estão o departamento administrativo e a cozinha com refeitório, em dois pavimentos, e à esquerda nove salas de aula e seis laboratórios, em dois pavimentos. Do lado oposto do auditório, em quatro pavimentos, estão perfilados os dormitórios dos alunos, com intimidade protegida por uma cortina de concreto vazado, que separa o pátio dos quartos.
A estrutura completa contém um auditório para 250 pessoas, área administrativa (comando e coordenação), refeitório com cozinha, alojamento para 127 pessoas, nove salas de aula e seis laboratórios voltados para aperfeiçoamento da profissão e incentivo à pesquisa. Eles serão usados para aulas práticas de atendimento pré-hospitalar (Siate), salvamento terrestre, salvamento aquático, física, química, hidráulica e combate a incêndios.
O projeto dos laboratórios foi inspirado em pesquisas de campo de bombeiros paranaenses na Escola Superior de Bombeiros de São Paulo e nas unidades irmãs no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Brasília. Todos têm acessos ao pátio externo de treinamento e uma conta com almoxarifado para depósito dos equipamentos de cada área temática, como compressores para encher cilindros, roupas de mergulho, equipamentos de combate a incêndios, de busca e salvamento, entre outros.
A ideia é permitir acesso facilitado de uma viatura e ao mesmo tempo disponibilizar aulas em áreas cobertas, por exemplo. “As áreas especializadas terão amplo espaço para treinamento, para instrução operacional. Dá para simular acidentes com produtos perigosos, químicos, vazamento de gases, caminhões-tanque em chamas. A ideia é simular a realidade”, afirma o tenente-coronel Gross. “Na hora da ação real é preciso entender o sistema de comando e controle de uma ocorrência, como estabelecer as chamadas zonas quente, morna e fria ou como estabelecer qual a prioridade no atendimento. Por isso precisávamos de espaço”.
Os alojamentos têm banheiros coletivos e pequenas áreas de convivência com copas e espaços para estudo, além de quartos exclusivos para instrutores do Interior ou de fora do Estado que ministram aulas especializadas. O prédio também tem uma lavanderia com tanques e máquinas de lavar para auxiliar o dia a dia daqueles que ficam em regime de internato. Há, ainda, vestiários para atender aos alunos que moram em Curitiba e Região.
O refeitório é um espaço que lembra uma praça de alimentação de um shopping: espaçoso, bem iluminado e devidamente separado, respeitando as particularidades da carreira militar, com áreas destinadas aos praças (cabos e soldados), sargentos e oficiais. A cozinha terá duas grandes bancadas de preparo e cozimento e é subdividida em espaços internos que atendem a todos os critérios sanitários estabelecidos pela Vigilância em Saúde. O prédio é todo climatizado.
A obra começou a ser executada em janeiro de 2018. Com cerca de 75% concluída, ainda restam a pintura externa e interna, colocação de parte dos pisos das salas de aula e alojamentos, acabamentos, pavimentação da rua lateral que precisou ser criada e paisagismo. Esse é o imbróglio que está sendo desatado agora na Secretaria de Infraestrutura e Logística.
MUDANÇA – O Centro de Ensino e Instrução em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, durou exatos 56 anos. Ela foi criada em 28 de novembro de 1964, logo depois do trágico episódio conhecido como Paraná em Flagelo, que foi uma sequência de incêndios florestais que dizimou 10% do território do Estado, queimou oito mil imóveis e matou 110 pessoas. Mais de 120 cidades foram afetadas no Norte Pioneiro, Centro-Sul e Campos Gerais. Nesta escola, durante este tempo, pelo menos dez mil bombeiros se formaram ou foram especializados, incluindo integrantes de corporações de outros estados da federação.
A área nos Mananciais da Serra foi repassada ao Corpo de Bombeiros em 1964 onde foi instalado inicialmente o primeiro campo de adestramento. O espaço, nos arredores de Curitiba, passou a denominar-se Campo de Adestramento Presidente Carlos Cavalcanti de Albuquerque. Depois mudou para Centro de Ensino e Instrução – CEI, em 1976 e em 2009 ganhou o sobrenome original, Centro de Ensino e Instrução Presidente Carlos Cavalcanti de Albuquerque. O gesto foi um resgate histórico em homenagem ao Presidente da Província do Paraná que criou o Corpo de Bombeiros, em 1912.
O prédio foi desativado em março deste ano, quando foi cedido definitivamente para treinamentos das forças especiais da Polícia Militar (Bope, Rone e COE). Ainda restam no local os contêineres para instrução de combate a incêndio, que continuam a ser utilizados.
O CEI estava instalado numa área com 82,2 mil metros quadrados, mas somente 45 metros quadrados eram passíveis de construção, pois estava situada em área de preservação permanente, como parte da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio Iraí, ao lado da Rodovia João Leopoldo Jacomel. Esse espaço foi uma antiga casa de bombas de uma estação da Sanepar. Ou seja, havia muita dificuldade para fazer qualquer investimento pela necessidade de proteção desse pilar de sustentação ambiental.
No antigo espaço havia apenas um refeitório, quatro salas de aula (construídas em 1975), um vestiário, setor de administração, almoxarifado e um alojamento para 60 pessoas, em condições precárias de uso, apesar das muitas reformas. Em 2009 houve algumas melhorias na cozinha/refeitório e nas salas de aula. Com recursos da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), em 2012, também foram instalados climatizadores em toda a estrutura e recursos tecnológicos nas salas de aula, como telas e carteiras interativas. Mesmo assim ainda era insuficiente.
Em 2009/2010, com a implantação do Plano Estratégico de Ensino do Corpo de Bombeiros, iniciou-se a modernização do ensino profissional da corporação. O plano estabeleceu uma mudança nos currículos dos cursos de formação, de especialização e de aperfeiçoamento e, principalmente, a busca por uma estrutura digna que proporcionasse um ambiente adequado para esta tarefa. O local mais adequado para a nova construção foi a área da Academia Policial Militar do Guatupê (APMG), em São José dos Pinhais. Em 2011 foram contratados os projetos, que foram aprovados em 2013. A construção foi viabilizada em 2017 por um financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A mudança do espaço de Piraquara para a APMG ocorreu neste ano em caráter provisório. Hoje o Centro de Ensino e Instrução do Corpo de Bombeiros ocupa salas do prédio da Escola de Formação de Oficiais do Guatupê e logo ocupará o espaço definitivo da nova Escola Superior de Bombeiro Militar (ESBM). O local de implantação foi escolhido pela possibilidade de uso compartilhado da estrutura de o ginásio de esportes, piscina e demais instalações da Academia Policial Militar do Guatupê, transformando-se em um Centro de Formação na área da Segurança Pública do Estado do Paraná.
“A ideia da nova escola é proporcionar um ambiente digno e adequado para a formação e o aperfeiçoamento dos bombeiros. Eu tenho um sonho, que vem lá da concepção do projeto, que é a maior interação da corporação com a sociedade. Ainda precisamos trabalhar a questão legal, mas a ideia é que a Escola Superior Bombeiro Militar funcione também como um espaço de pesquisa na área da segurança contra incêndio e desastres. Quem sabe, no futuro possamos fornecer cursos de pós-graduação para engenheiros, arquitetos ou profissionais da segurança”, afirma Gross. “Esse projeto ajudará a fomentar o desenvolvimento do Corpo de Bombeiros e da sociedade como um todo, principalmente na área acadêmica. Queremos discutir a segurança de edificações, desde a sua concepção até o uso, proporcionar um desenvolvimento seguro e responsável nesta área ao Estado do Paraná”.
A segunda fase de implantação da ESBM já está em estudo. Uma obra de mais R$ 14 milhões para construção da área de treinamento anexa aos fundos, com duas torres e estações de combate a incêndio, simuladores, resgate em estruturas colapsadas, barracão para salvamento veicular, lago artificial para treinamento e uma nova rua interna para simulações. O estudo de viabilidade e o termo de referência já estão com a Secretaria de Segurança Pública.
“Já recebemos consultas de outros Estados, como Espírito Santo e Pará, para formar bombeiros no Paraná. É um movimento constante porque somos referência. Mas estamos esperando a conclusão desse projeto para começar a aceitar essas ofertas. Estamos criando uma estrutura que eu imaginei que não sairia do papel, pelo seu tamanho e valores envolvidos. Mas mesmo assim, acreditando no planejamento, buscamos atender a todos os requisitos legais, o que culminou a concretização desse sonho corporativo”, afirma Gross. “É um projeto que atenderá às necessidades do Corpo de Bombeiros nos próximos 50 anos”.
GUATUPÊ – A Academia Policial Militar do Guatupê existe desde 8 de março de 1971, tendo como origem a formação dos Oficiais da Polícia Militar do Paraná, tem 42 alqueires, equivalente a mais de um milhão de metros quadrados, e substituiu uma antiga granja para a criação de frango e produção de ovos, além de leite e seus derivados. Atualmente a APMG concentra a Escola de Formação, Especialização e Aperfeiçoamento de Praças, a Escola de Formação de Oficiais, O Centro de Pesquisa e Pós-graduação e o Centro de Educação Física e Desportos da Polícia Militar do Paraná. A estrutura completa conta com três alojamentos, sala administrativa, estandes de tiro, ginásio, piscina, campos de futebol e dois prédios com salas de aula.
BID – Os US$ 112 milhões captados pelo Governo do Estado junto ao BID para obras em segurança pública estão financiando 19 grandes estruturas, sendo nove delegacias e dez unidades da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. O investimento engloba, por exemplo, as Delegacias Cidadãs de Almirante Tamandaré e Colombo.
Segundo o major Ivan Ricardo Fernandes, coordenador do Núcleo de Engenharia da Secretaria de Segurança Pública e coordenador adjunto do programa Paraná Seguro-BID, a nova escola do Corpo de Bombeiros está em acordo com os critérios exigidos pelo BID em relação a constante necessidade de capacitação dos agentes de segurança pública. “Era um dos critérios desse financiamento. É uma obra fundamental para o Paraná e que será modelo para o País”, afirma. (Com AEN)