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Estudantes da Unioeste se mobilizam após suicídio de colega

Estudantes da Unioeste se mobilizam após suicídio de colega

Diversos acadêmicos da Unioeste utilizaram as redes sociais não apenas para lamentar a morte de uma estudante do curso de Medicina, que tirou a própria vida na sexta dia 20, mas também para relatar problemas relacionados à saúde mental, causados pela sobrecarga de conteúdo imposta por professores, e à pressão em excesso destes docentes.

 

Uma acadêmica procurou a reportagem do portal CATVE.com para relatar a incidência de diversos casos de depressão de alunos. Segundo ela, o sistema de nota e as provas rígidas estão desgastando a saúde mental dos universitários da instituição.

 

Ainda conforme a estudante, muitos professores "não se importam com os alunos". Ela afirma que a muitos dos docentes "se sentem lisonjeados" do fato de suas disciplinas serem consideradas as mais difíceis.

 

Outra aluna fez uma postagem nas redes sociais e comentou que diversos acadêmicos desistem da faculdade, pois as aulas se tornaram verdadeiros "pesadelos".

 

"Nesses dois anos e meio eu vi amigos desistirem do curso porque estavam há dias sem tomar banho porque não poderiam perder tempo com algo que não fosse estudar Recebi ligações de amigos no meio da noite dizendo que estavam se mutilando e iam cometer suicídio", postou a acadêmica.

 

Até às 23h deste domingo dia 22, a postagem tinha mais de 1,8 mil comentários, além de 5.200 compartilhamentos.

 

Inúmeros comentários foram feitos nas postagens que viralizaram nas redes sociais. Em um destes comentários, um estudante afirmou que já passou por situações semelhantes "Fazem de tudo para você desistir", disse.

 

Veja o relato na íntegra da estudante de enfermagem Taynah de Lara

 

A todos que tenham algum tipo de vínculo com a UNIOESTE:


Nessa semana eu e alguns amigos comentamos sobre a importância de cada um escrever um texto a respeito da trajetória acadêmica, já que chegamos a marca de 50% do curso concluído, onde abordasse todas as dificuldades e enfrentamentos que passamos durante esses dois anos e meio. Porém, ontem me deparei com uma notícia demasiadamente triste: o suicídio da aluna de medicina da UNIOESTE no último dia do semestre.


Não cabe a mim ou a nós julgar os motivos que levaram ela a tomar essa decisão contra sua própria vida, mas eu posso com toda a certeza do mundo, dizer que conheço um pouco da dor que a feriu.


No primeiro ano da faculdade, nos primeiros meses de aula, ouvi de um professor que se eu não tivesse pelo menos 4 horas do meu dia reservado pra revisar a matéria então que eu nem continuasse a faculdade (que já era integral). Não preciso dizer o impacto desse dizer na vida de quem tinha que trabalhar à noite toda pra sustentar a família na esperança de conseguir um diploma no final de 5 anos (com sorte), né?


Depois disso, eu vi professores se vangloriando na sala de aula porque reprovaram uma turma inteira, e é claro que o problema não era o professor ou a metodologia, era a turma...


Também vi 7 pessoas da minha sala passarem sem exame em determinada matéria, que procuramos o colegiado do curso e a professora incansavelmente para tentarmos encontrar uma saída para as médias 2,0 que a turma não conseguia aumentar mesmo com grupos de estudo e um ajudando o outro durante semanas antes das avaliações. Nessa matéria estão matriculados hoje cerca de 60 alunos, e adivinhem? A turma "nova" também tem os mesmos resultados, mas o problema JAMAIS é o professor (não esqueçam!).


Nesses dois anos e meio eu vi amigos desistirem do curso porque estavam há dias sem tomar banho porque não poderiam perder tempo com algo que não fosse estudar. Vi amigos desistirem do curso porque alguns professores pegavam tanto no pé que frequentar as aulas era um pesadelo. Vi amigos desistirem do curso porque precisaram escolher entre a sua saúde mental e a faculdade. Recebi ligações de amigos no meio da noite dizendo que estavam se mutilando e iam cometer suicídio. Li no spotted incontáveis pedidos de socorro. Vi amigos desistirem do curso porque com uma reprovação e consequentemente um ano a mais na faculdade, não teriam como se sustentar. Vi dezenas de amigos procurarem ajuda psicológica no campus (inclusive eu) e não encontrando porque ESTÁ LOTADO! Vi amigos contarem no Facebook que quando pediram ajuda pra um professor de sua confiança ouviram que "quem tem depressão mesmo não vai pra festas". Ouvi professores falarem que quem sai e tem vida noturna certamente não será um bom profissional. Ouvi esses mesmos professores dizerem que quando fizeram faculdade o mesmo acontecia com eles e "ninguém morreu". Ouvi também que os jovens estão assim por falta de Deus e mais milhares de coisas que ouço diariamente dentro do campus e tento não absorver (tanto).


É muito difícil escrever sobre isso porque estou no meio de um tratamento para ansiedade e crises de pânico, que foram desencadeadas e intensificadas pela rotina que eu tinha ano passado onde eu me culpava quando ouvia música no trajeto até em casa no qual eu com certeza deveria estar estudando. Cheguei num ponto onde eu simplesmente atingi o limite de estresse que meu corpo é capaz de aguentar. Não dormia, não comia, não conseguia parar de tremer e estar calma era algo fora da minha realidade. Hoje me sinto melhor, tendo clonazepam, fluoxetina e alprazolam do lado da cama, pra quem quiser ver, mas a única coisa que meus professores são capazes de enxergar é se meu histórico acadêmico está impecável.


Ontem foi a Julia, amanhã será o João, depois a Maria, mas são VOCÊS quem puxam suas cordas.
- Taynah I. C. de Lara, estudante de Enfermagem - UNIOESTE, Cascavel - PR (Com Catve)

 

 

 

SICREDI 02