Entenda como a promessa de 100 mil novos empregos em setor industrial do Paraguai pode refletir no Paraná

O plano paraguaio para criar 100 mil empregos na indústria maquiladora – conhecida no Brasil como indústrias de transformação – pode aumentar o volume de produtos movimentados na fronteira, principalmente na região de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, ocasionando reflexos econômicos.
A cidade paranaense faz limite com Cidade de Leste, capital do estado de Alto Paraná onde há a maior concentração de industrias maquiladoras do Paraguai.
“O que a gente imagina é que aumenta a circulação de mercadorias e, com a circulação de mercadoria, também aumenta a circulação de pessoas”, afirma o professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e pesquisador da região de fronteira Micael Alvino da Silva.
A movimentação na região deve aumentar ainda mais com a inauguração da segunda ponte entre Brasil e Paraguai.
A Ponte da Integração foi construída sobre o Rio Paraná e liga foz do Iguaçu ao município de Presidente Franco, vizinho de Cidade de Leste, onde fica localizada a Ponte Internacional da Amizade.
A ponte está pronta, mas ainda não pode ser usada por falta de acesso.
“A gente fala que a segunda ponte não vai afetar o fluxo de turistas, porque os caminhões ficam parados na BR-277 durante o dia; só atravessam à noite. Com o término das obras, tanto no lado brasileiro quanto no lado paraguaio, isso vai dar uma perspectiva de fluxo contínuo do produto. De entrada e saída do produto, tanto paraguaio quanto brasileiro”, afirmou o economista Gilson Oliveira.
Características da indústria maquiladora
Oliveira explica que a indústria maquiladora, da forma como funciona hoje no Paraguai, foi criada em 1997. A ideia central é atrair multinacionais para a produção de produtos destinados à exportação.
As maquiladoras montam e processam produtos com matéria prima paraguaia, ou trazidas de outros países, a um custo menor, devido a uma série de benefícios.
Dados da Câmara de Empresas Maquiladoras do Paraguai (Cemap) mostram que, em 2022, o setor movimentou mais de R$ 5 bilhões em exportações, com crescimento de 20% na comparação com 2021.
Do total produzido no país, 78% são destinados ao próprio Mercosul, com o Brasil sendo o maior mercado, representando 62%.
“Tem espaço gigantesco no Paraguai para atrair indústrias, principalmente brasileiras, em relação à perspectiva que o Brasil tem de crescimento... E essa perspectiva vai transformar o Brasil em um parceiro mais forte", avalia Oliveira.
O economista afirma que há grande perspectiva de que o Paraguai expanda ainda mais o setor, impulsionando as exportações ao Mercosul.
"Querendo ou não, o governo brasileiro retomou as negociações do Mercosul, trazendo mais expectativa de comércio pros países da região. O Paraguai está absorvendo isso”, afirma.
Veja algumas características da indústria maquiladora paraguaia:
- governo faz um mapeamento e as cidades criam áreas industriais para atrair empresas;
- empresas recebem isenção fiscal;
- legislação trabalhista tem menos encargos, e profissionais trabalham mais horas com salários menores;
- municípios doam terreno para a empresa ser instalada;
- governo oferece redução de custo de energia elétrica;
- apenas 10% do que é produzido podem ser comercializados no Paraguai; o restante é exportado;
- apenas filiais das empresas multinacionais podem aderir ao modelo, a sede não pode ser o Paraguai.
Geração de empregos
O Paraguai tem atualmente 278 empresas operando no regime de maquila. Elas geram 22 mil empregos diretos no país.
O anúncio do novo presidente, Santiago Peña, é criar cerca de cem mil postos de trabalho em cinco anos. Peña vem defendendo a criação de emprego como uma das principais bandeiras para retomar o crescimento do país.
Tanto Micael Alvino da Silva, quanto Gilson Oliveira, acreditam que essa geração de emprego, caso se concretize, deve ficar restrita à população paraguaia.
Em especial, pelos salários pagos e pelas diferenças das legislações trabalhistas uma vez que a paraguaia é considerada mais frágil.
"Se essa meta for cumprida, parece-me que ela atinge mais as pessoas paraguaias que residem nessa região. Esse tipo de trabalhador em maquila, ele é um trabalhador paraguaio, ele não é um trabalhador brasileiro. Diferentemente do micro centro, que é aquela parte de Cidade de Leste que se vende produtos da China e de outras partes do mundo. Ali a gente vê uma concentração grande de vendedores brasileiros", afirmou Silva.
Conexão pela Ponte da Amizade
Micael explicou que a relação estabelecida na região por Brasil e Paraguai teve como principal fator a inauguração da Ponte da Amizade, em 1957.
A via facilitou, por exemplo, a movimentação de produtos vindos do Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná, para a capital Assunção, assim como para o comércio de Cidade do Leste, que desde os anos 1960 já contava com comercialização efetiva de produtos importados da Ásia.
“Esse comércio fronteiriço foi pensado através dessa rota entre Paranaguá e Assunção após a construção da Ponte da Amizade que tinha como objetivo interligar portos e cidades. [...] Cidade do Leste desde então é uma cidade muito pensada para o público brasileiro", destacou.
Entre as facilidades para brasileiros que compram produtos na região está, por exemplo, a isenção do pagamento do Imposto Sobre Valor Agregado (IVA).
Nas etiquetas de produtos comercializados no lado paraguaio da fronteira a diferença vem já vem calculada, isso porque o imposto só é cobrado para cidadãos do país, estrangeiros são isentos do pagamento da taxa desde 2005.
A regra vale para cidades da fronteira e para ter o benefício é necessário apresentar o RG ou o passaporte.
Recentemente também as principais lojas de shoppings em Cidade do Leste, conhecida pelo turismo de compras, passaram a aceitar pagamento via Pix.
Por - G1