Às vésperas do Natal, Cartão Comida Boa garante comida na mesa da população paranaense
Para ter comida para o Natal, a dona de casa Gisele de Lima Inglês, de 40 anos, estava fazendo uma rifa com uma cesta que ganhou de uma amiga.
Ela vive com o marido e o filho de três anos nos fundos da casa da sogra, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba. A única renda da família vem dos bicos que o marido faz, que diminuíram nos últimos tempos.
“Ele agora está trabalhando em uma chácara dois dias por semana. Antes era de segunda a sexta, mas foi tirado uns dias. O dinheiro do serviço dele só paga luz e água, em casa está faltando tudo, inclusive comida para o meu filho”, conta Gisele. “Está tudo muito caro, a gente vai no mercado e só compra o básico para a criança. Carne, ixe… meu marido vê e já diz que não tem como levar. A gente só tem alguma coisa porque a igreja ajuda, levam cesta básica, os amigos ajudam bastante”.
A três dias da ceia de Natal, um alento para a família: Gisele recebeu uma ligação do Centro de Assistência Social (Cras) do Jardim Meliane para retirar o Cartão Comida Boa que veio em seu nome, e foi buscá-lo nesta terça-feira (21). O recém-lançado programa de transferência de renda do Governo do Estado vai beneficiar 90 mil famílias paranaenses em situação de pobreza e extrema pobreza que não têm acesso ao Auxílio Brasil, do governo federal.
A primeira parcela de R$ 80 já veio como crédito no cartão, podendo ser utilizada imediatamente pelas famílias. As demais, serão carregadas automaticamente todo dia 25 de cada mês. O Cartão Comida Boa torna permanente o auxílio que foi pago de forma emergencial por três meses em 2020, na fase mais restritiva da pandemia de Covid-19.
As compras de alimentos, produtos de higiene e outros itens de necessidade básica podem ser feitas em qualquer estabelecimento comercial cadastrado, desde pequenas vendas de bairro até os grandes supermercados.
Gisele, por exemplo, vai fazer uma lista para planejar bem a primeira compra. “Quero comprar carne, mas tem que ver qual é a mais barata, para não gastar tudo nisso. Também preciso de algumas coisas para o meu filho, bolacha, iogurte, as frutas que ele gosta”, planeja a dona de casa.
DISTRIBUIÇÃO – A Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho iniciou na semana passada a entrega dos cartões aos 399 municípios paranaenses, que são responsáveis pela distribuição às famílias inscritas do Cadastro Único para Programas Sociais. Até o momento, quase 32 mil pessoas já estão com seu cartão em mãos e começaram a usar o benefício.
Em Campo Largo, os 766 cartões chegaram na tarde de sexta-feira (17), já separados entre os usuários de cada um dos Cras da cidade. No mesmo dia, os assistentes sociais começaram a ligar para as famílias, para iniciar a distribuição na segunda-feira (20). A ideia é que sejam todos entregues antes de iniciar o recesso de fim de ano.
“Na primeira vez, o Cartão Comida Boa já foi um grande benefício para a população, em um período de calamidade extrema. Agora, esses R$ 80 de suplementação de renda é de uma importância enorme, vem em um momento propício, que é o Natal, quando as pessoas enfrentam tanta dificuldade”, afirma Márcia Fernanda Botelho, secretária municipal de Desenvolvimento Social de Campo Largo.
SEGURANÇA ALIMENTAR – Para ela, o programa do Governo do Estado beneficia principalmente as pessoas em situação de insegurança alimentar. “São famílias em altíssima vulnerabilidade, que agora contam com essa complementação de renda que vai proporcionar a segurança alimentar, uma nutrição melhor e a possibilidade de comprar o que não vem em uma cesta básica, como carne, ovos e verduras”, explica.
É o caso de Rosi Aparecida Andrade, de 46 anos. Há cerca de um ano, ela deixou de receber o auxílio-doença do INSS e, desde então, ter uma refeição completa deixou de ser uma certeza. Ela vive de doações e das verduras que planta no terreno de casa, que fica nos fundos da casa do pai.
“O benefício foi cortado em dezembro do ano passado e desde então estou sem renda, vivo de doação, ajuda do pessoal, dos amigos e aqui do Cras”, diz.
“Carne nem pensar, só como o básico mesmo: arroz, feijão, macarrão e uma saladinha que consigo plantar em um pedacinho do terreno, e é isso. O básico do básico, para não ficar sem nada”, conta. “O cartão vai ajudar bastante, porque pode diversificar um pouco e dá para se manter. O bom é saber que vai ter todo mês, vou poder planejar a compra. E receber perto do Natal fez uma boa diferença, porque sem isso eu não teria nada”.
Receber o Cartão Comida Boa foi tambémum ótimo presente de Natal para Rafael Ferreira, 27 anos,e Bianca de Oliveira, de 28. Pais de duas meninas, uma de cinco anos e outra com quase dois, o casal trabalha aos fins de semana no Morro do Cal, um atrativo turístico que fica no Interior de Campo Largo. O local ficará fechado no final do ano, o que acaba comprometendo a renda dos dois.
“Como não vai abrir por dois finais de semana, ficamos sem receber. Já demos entrada no Auxílio Brasil, mas ainda não tivemos resposta. Enquanto isso, recebemos o Cartão Comida Boa, que já ajuda, principalmente agora no Natal, vai dar para comprar alguma coisa para as crianças que a gente não tinha planejado porque ia ficar sem trabalhar”, conta Bianca.
Por - AEN