Guaraniaçu - Mês de Janeiro foi o mês da Saúde Mental, continue cuidando e coloque em prática as dicas. Saiba mais com a Psicóloga Eliane Racoski
O Janeiro Branco é uma campanha que convida as pessoas a refletirem sobre a saúde mental. O objetivo é colocar esse tema em evidência, promovendo a conscientização sobre a importância da prevenção ao adoecimento emocional, algo que gera impactos preocupantes em nossa sociedade.
Já a nível institucional, a proposta é bem objetiva, de acordo com o manifesto da campanha: “sensibilizar as mídias, as instituições sociais, públicas e privadas, e os poderes constituídos, públicos e privados, em relação à importância de projetos estratégicos, políticas públicas, recursos financeiros, espaços sociais e iniciativas socioculturais empenhadas(os) em valorizar e em atender as demandas individuais e coletivas, direta ou indiretamente, relacionadas aos universos da Saúde Mental”.
Em outras palavras, reforça a importância de uma mudança de comportamento e mentalidade em vários níveis da nossa sociedade. A urgência do debate em torno do tema é real, como mostram os dados de pesquisas realizadas em todo o mundo. Veremos um pouco mais sobre isso no próximo tópico.
O panorama da saúde mental no Brasil
A questão que motivou a criação da campanha é bem simples (e muito séria): as pessoas estão adoecendo em quantidade e ritmo preocupantes. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em torno de 12 milhões de brasileiros sofrem de depressão. O número é equivalente a 5,8% da população, colocando o país em segundo lugar no ranking americano (atrás apenas dos Estados Unidos).
Estamos falando de uma doença mental que, segundo o estudo, pode alcançar de 20% a 25% das pessoas no Brasil. A ansiedade, por sua vez, afeta quase 20 milhões de brasileiros (cerca de 9,3% da população). Isso inclui o transtorno obsessivo-compulsivo, problemas de fobia, estresse pós-traumático e até mesmo ataques de pânico.
Já o suicídio é apontado pelo Ministério da Saúde como a quarta maior causa de mortes de jovens no país. São números expressivos e que, muitas vezes, ultrapassam outros indicadores relacionados à saúde e ao bem-estar da população.
Um dos problemas que a campanha Janeiro Branco busca combater, no entanto, é justamente a falta de conhecimento sobre o tema, além de outros obstáculos que dificultam a discussão.
Um diálogo necessário:
Historicamente, a saúde mental foi tratada como um tabu na maior parte do mundo. Por mais que os últimos dois séculos tenham trazido grandes avanços nos estudos da Psicologia e da Medicina, o tema demorou para ser abordado como uma questão social. No Brasil, por exemplo, a Reforma Psiquiátrica, que é um grande marco em relação a isso, só ocorreu em 2001 — e ainda enfrenta problemas.
Um deles é o fato de que, culturalmente, muita gente não compreende a subjetividade humana como um possível alvo de transtornos e até mesmo doenças. Por falta de conhecimento ou diversos outros motivos, parte das pessoas não tem o hábito de conversar sobre isso, por medo de se expor ou de demonstrar uma suposta fraqueza.
Hoje, entretanto, é consenso que a saúde emocional é tão importante quanto a “física” — na verdade, ambas estão profundamente atreladas. O nosso organismo pode ser observado por uma perspectiva biológica ou psicológica, mas isso não significa que esses aspectos estão separados.
Isso deixa muito claro que o Janeiro Branco desempenha um papel fundamental ao colocar o assunto em evidência. Depressão, ansiedade e outros transtornos emocionais devem ser discutidos mais abertamente para que possam ser prevenidos e devidamente tratados.
Os objetivos específicos do Janeiro Branco
A campanha estabelece 5 objetivos específicos que norteiam suas atividades. Veja quais são eles:
1. Tornar o mês de Janeiro um marco
Para começar, é preciso fomentar o diálogo. Então, a campanha se propõe a fazer do primeiro mês do ano um período de reflexão, debate, planejamento e proposição de ações em prol da saúde mental. Isso significa criar um marco temporal, a fim de que as pessoas se lembrem do combate ao adoecimento emocional e levem o assunto para seus grupos de amigos e familiares.
2. Chamar a atenção para o tema
Tendo estabelecido um período de ação, o programa almeja chamar a atenção sobre o assunto. Isso envolve, basicamente, levar informação e promover o debate do tema em diversos aspectos: do que se trata, quais as principais doenças, de que forma elas afetam as pessoas, como lidar com elas, onde buscar apoio etc.
3. Aproveitar a simbologia do Ano-Novo
Se a virada do ano é um momento de reflexão e planejamento, o Janeiro Branco assume como meta inserir nesse debate a questão da saúde mental. Com as pessoas mais dispostas a refletir sobre as próprias vidas, o momento é mais propício para a abordagem do assunto.
4. Espalhar a mensagem pelas instituições
A mídia e as instituições (públicas e privadas) são grandes meios para a comunicação de mensagens desse tipo. Além disso, como detalharemos mais à frente, elas são diretamente afetadas por essas questões — em especial no ambiente de trabalho. Então, faz parte dos objetivos da campanha conquistar o engajamento de instituições de todos os tamanhos e setores.
5. Fomentar uma cultura da saúde mental
Contribuir para a formação de uma sociedade que valorize a saúde mental é também uma questão central na campanha. Isso fortalece o autocuidado entre as pessoas — e, consequentemente, impulsiona a criação de políticas públicas para ajudar a população.
Os princípios básicos e o impacto dessa campanha
A participação das instituições na campanha deve seguir as seguintes premissas:
As ações não devem ter fins lucrativos;
Nenhum tipo de valor pode ser cobrado, nem mesmo simbólico;
O tema não deve ser usado para publicidade da empresa;
A produção de materiais pode ser buscada por meio de doações de gráficas e outras empresas;
Palestras e demais ações devem ser financiadas pelos próprios palestrantes ou pelas instituições que promovem o evento;
A campanha é gratuita, pública, democrática, descentralizada e sem relação com qualquer entidade específica;
O projeto está sempre em construção e aceita todo tipo de colaboração.
É interessante notar o potencial dessa iniciativa. Ao colocar o tema em evidência e fomentar o debate, as pessoas passam a assumir a importância do assunto e discuti-lo em casa e no ambiente de trabalho. Em consequência, há um potencial de ação muito maior, fortalecendo a luta por políticas públicas e, principalmente, fazendo com que elas ajudem a si mesmas e umas às outras.
E se tem um lugar que isso deve ser discutido é no ambiente de trabalho.
A saúde mental do trabalhador brasileiro
Problemas de natureza emocional afetam diretamente o desempenho dos trabalhadores. Como mostra um estudofeito pela Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda, transtornos mentais e comportamentais são a terceira maior causa de afastamentos nas empresas. Entre 2012 e 2016, cerca de 9% dos casos de aposentadoria por invalidez ou acesso ao auxílio-doença foram decorrentes desses quadros.
Outro dado importante chama a atenção: cerca de 92% das pessoas que adquirem o auxílio relatam que os problemas não estão relacionados com o trabalho. Em outras palavras, o trabalhador está enfrentando dificuldades para cuidar da saúde mental no seu dia a dia — e isso afeta diretamente o desempenho na empresa.
O mesmo estudo aponta, ainda, que 31% dos auxílios-doença não ligados a acidentes são decorrentes de depressão. Vale lembrar que o impacto real tende a ser bem maior. Afinal, como destacamos, trata-se de um assunto que muitas vezes passa despercebido, já que os diagnósticos só alcançam as pessoas que acessam o serviço médico.
Se pensarmos que boa parte dos trabalhadores pode não compreender a natureza dos seus problemas emocionais, a situação se mostra ainda mais preocupante. Por isso, é fundamental que as empresas colaborem para a propagação da campanha.
Existem diversos fatores psicossociais que influenciam o desempenho dos trabalhadores. Grosso modo, estamos falando das interações entre o meio ambiente e as condições de trabalho. Idade, estado civil, gênero, escolaridade e estilo de vida são alguns deles — e todos interferem na qualidade de vida do trabalhador.
No entanto, muito pode ser feito para desenvolver um ambiente mais saudável para aqueles que vestem a camisa da empresa.
Os 5 passos para incentivar a evolução da saúde mental nas empresas
Organizações em posição de liderança devem assumir o papel de levar essa mensagem às pessoas com as quais têm contato no dia a dia. Então, conheça algumas estratégias para colocar esse plano em prática na sua empresa.
1. Crie uma campanha de marketing interno
Os cuidados com a saúde mental devem fazer parte de um planejamento mais amplo de gestão de pessoas. Nesse sentido, a abordagem do assunto pode começar por uma campanha de comunicação no próprio ambiente corporativo.
Cartazes, e-mails informativos, quadros de avisos e outros materiais podem ser criados para levar a mensagem até os trabalhadores. Entretanto, isso exige a preparação das pessoas que serão responsáveis por lidar com as demandas que podem surgir — o que nos leva ao segundo passo.
2. Treine as equipes
Temas como a gestão de saúdee a própria promoção da segurança no trabalho devem fazer parte da cultura da empresa. Para isso, é fundamental que a equipe de RH e os envolvidos na comunicação interna passem por treinamentos de capacitação. É importante ter em mente que eles não estarão assumindo o papel de especialistas, mas devem entender a relevância do tema para levar essa mensagem.
Além disso, ao longo de uma campanha de conscientização, o ideal é que as intervenções possam ir além das mensagens publicadas. Oferecer treinamentos ou pequenos eventos informais para discutir o assunto com os funcionários é um bom caminho para que o processo ocorra com mais naturalidade.
Mostrar dados que demonstrem o impacto da depressão nas empresas, por exemplo, ajuda a engajar a equipe de RH nessa missão. Abordar os fatores psicossociais do ambiente de trabalho e discuti-los abertamente é outra forma de criar engajamento em torno do tema.
3. Crie canais de comunicação
Um passo importante para que os funcionários possam lidar com o assunto mais abertamente é oferecer canais de atendimento àqueles que possam ter dúvidas ou estejam passando por um momento difícil. Um ponto deve ficar muito claro na abordagem da saúde mental: as pessoas não devem ser expostas, ainda que um dos objetivos da empresa seja abrir o diálogo sobre o tema.
Esse é um aspecto a ser tratado nos treinamentos. Por um lado, a empresa deve desmistificar o assunto, mostrando aos funcionários como o sofrimento emocional afeta negativamente a vida da pessoa e incentivá-la a buscar ajuda. Por outro lado, ela deve encontrar um espaço que preserve sua intimidade, se quiser procurar ajuda sem que o caso seja exposto aos colegas de trabalho.
Crie um telefone ou e-mail específico para que os funcionários possam tirar dúvidas, pedir orientações ou mesmo solicitar encaminhamento para um profissional (psicólogo ou psiquiatra). Assim, a empresa atua nas duas frentes: conscientização e apoio.
4. Crie campanhas de mudança de comportamento
Uma cultura de autocuidado deve partir de uma premissa fundamental: quando o assunto é saúde, a melhor forma de solucionar problemas é se prevenindo. Entretanto, um grande obstáculo para o trabalhador é que, muitas vezes, ele não sabe como. Por isso, crie campanhas para estimular mudanças de comportamento que auxiliem nesse processo.
Incentivar a prática de atividades físicas é uma boa forma de começar. Algumas empresas estabelecem parcerias com academias, clubes e outros locais que oferecem exercício físico orientado, por exemplo, concedendo descontos para os funcionários ou criando programas especiais. Somado a isso, vale a pena destacar o papel da alimentação e do sono.
Estamos falando dos três pilares da saúde (física e mental): boa alimentação, sono de qualidade e atividades físicas em dia.
5. Crie ambientes (e momentos) tranquilos na empresa
Estudos apontam que descansar por alguns minutos em intervalos regulares ajuda a manter (ou mesmo aumentar) a produtividade no trabalho. Cientes disso, diversas empresas já investem na política de fomentar pausas de 10 ou 15 minutos a cada 1 ou 2 horas de trabalho. Não se trata de criar regras, mas de sugerir a ideia aos próprios funcionários e deixar que eles administrem o próprio tempo.
Para que o efeito seja ainda mais benéfico, crie ambientes tranquilos no local de trabalho, onde as pessoas possam ir para relaxar por alguns minutos. Salas de café, jardins (externos e internos) e até mesmo espaços com videogames estão entre as opções mais populares nas organizações.
Vale destacar que o incentivo à leitura também cria uma relação de valorização mútua entre a empresa e seus funcionários. Quando o profissional consegue fazer uma pausa de alguns minutos para ler, ele pode se desligar dos problemas e depois voltar mais revigorado para solucioná-los. É essa a premissa por trás dos estudos sobre a importância dos breves descansos — e os resultados são satisfatórios.
Além de criar hábitos mais saudáveis que preservem sua saúde mental, o funcionário melhora sua autoestima e, consequentemente, passa a valorizar ainda mais a empresa onde ele trabalha.
A importância de se apoiar causas como o Janeiro Branco
A campanha Janeiro Branco, como detalhamos, tem uma proposta que ultrapassa o diálogo individual — ela busca envolver instituições públicas e privadas dos mais variados setores. O objetivo é alcançar todos os tipos de organização que compõem nossa sociedade, fomentando esse debate tão importante.
Tendo isso em mente, é interessante observar os impactos que isso gera nas empresas. Afinal, como os dados revelam, não estamos falando de uma doença específica e passageira — é um problema social que deve ser enfrentado coletivamente.
A rotina das pessoas nunca está limitada ao ambiente de trabalho. Família, casa, estudos e outras atividades sociais também exigem tempo e energia. Por isso, as pessoas nem sempre conseguem ter acesso à informação para cuidarem da própria saúde, sobretudo quando o assunto é tratado como um tabu por parte da sociedade, sendo pouco discutido.
A empresa, por sua vez, tem uma influência muito grande na sua rotina, já que é nela que ele passa boa parte do dia. Fomentando a discussão sobre a saúde mental, ela usa a confiança da instituição para evidenciar a questão. Logo, os funcionários acessam informações que nem sempre alcançam por conta própria.
O grande destaque, é claro, é a própria prevenção. A mudança de hábitos pode gerar ganhos de qualidade de vida, levando as pessoas a evitarem os problemas emocionais ou lidarem com eles de forma mais efetiva, com apoio profissional e familiar.
Os benefícios para a empresa
A dinâmica da empresa só tem a melhorar com uma gestão de pessoas que se preocupa com a saúde mental. Além de produtivo, o profissional que atinge bons níveis de bem-estar e saúde apresenta muito menos absenteísmo. Somado a isso, ele tende a enfrentar com mais naturalidade os desafios da vida e do trabalho.
Em tempos de transformação digital e muita competitividade, é importante contar com pessoas motivadas para enfrentarem novos desafios — como a mudança de cargo ou a adoção de uma nova tecnologia. Estar emocionalmente preparado para isso é um grande diferencial.
Diante disso, o fluxo de rotatividade dos profissionais diminui, o que significa menos gastos com seleção, contratação, treinamento etc. Por fim, vale destacar que há normas regulamentadoras para questões de saúde e segurança no trabalho. A falta de adequação pode levar a problemas sérios com os órgãos públicos, algo muito indesejado.
O trabalho é contínuo
Campanhas como o Janeiro Branco servem para evidenciar questões que a sociedade como um todo pode estar deixando de lado. Entretanto, elas não devem ser tratadas como um momento único para lidar com aquele assunto — o trabalho deve ser contínuo.
O ponto aqui é simples: vista a camisa do Janeiro Branco e leve essa importante mensagem para seus funcionários, trazendo benefícios para eles e para a empresa. Porém, não pare por aí. Insira temas como autocuidado e saúde mental na cultura da organização, incentivando a mensagem o ano todo.
O suporte ao trabalhador deve estar sempre à disposição. Palestras e treinamentos periódicos para resgatar o assunto também devem ter seu espaço. Eventos culturais ou de confraternização são outras iniciativas que precisam ser valorizadas.
Quanto mais essa ideia é assimilada pelas pessoas, menor será a necessidade de grandes campanhas como o Janeiro Branco. Até lá, é crucial que profissionais e organizações assumam um papel proativo na prevenção e no tratamento de doenças e transtornos de qualquer tipo. Como você viu aqui no post, todos nós só temos a ganhar com isso!
Dessa maneira devemos sempre lembrar que o início de um novo ano é sempre aquele momento em que somos incentivados a olhar para o que passou e também refazer a lista de intenções (e esperanças) para o que está por vir. Em tempos de pandemia, trazendo mudanças significativas para as nossas vidas com o isolamento social e o distanciamento das pessoas que nos fazem bem, é importante estarmos atentos ao nosso bem-estar emocional. A campanha Janeiro Branco surgiu neste mês para falar sobre a importância da construção de uma cultura da Saúde Mental na humanidade.
Esse ano vem com uma missão ainda mais forte, pois nem todas as pessoas começaram 2021 com o mesmo ânimo e empolgação de outros anos. A campanha precisou adaptar as ações presenciais e usar a tecnologia para fazer o bem, alcançando pessoas a partir de lives ou palestras online, rodas de conversa por videoconferência, tira-dúvidas virtuais, além de postagens diárias nas redes sociais. É por isso que começamos o ano apoiando a campanha Janeiro Branco, mostrando como a tecnologia e os dados podem ser relevantes para o alcance do pacto social pela saúde mental.
Essa matéria tem caráter informativo. Se você se identificou, busque ajuda profissional, procure um psicólogo.
Eliane de Fátima Bruger Racoski
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