Descoberta de penas em pterossauro do Brasil resolve enigma científico
Crista fossilizada de animal encontrado no Nordeste soluciona mistério de longa data sobre a existência dessas estruturas nesses antigos seres voadores
Um time de cientistas do Brasil e de outros países analisou a crista de um pterossauro de 115 milhões de anos encontrado no Nordeste e, com isso, solucionou um mistério de décadas. Os achados foram publicados na última quarta-feira (20) na revista Nature.
O objeto de estudo foi um exemplar da espécie Tupandactylus imperator, conhecida por ter uma crista bizarra. Surpreendentemente, a parte inferior da estrutura do fóssil tinha dois tipos de penas: algumas curtas, parecidas com cabelo, e outras ramificadas e fofas.
Reconstrução artística do pterossauro Tupandactylus imperator, mostrando os tipos de penas ao longo da parte inferior da crista, composta por filamentos escuros e penas ramificadas de cores mais claras (Foto: Julio Lacerda)
Com essa constatação, um enigma foi solucionado: os pterossauros tinham, sim, penas. “As penas em nosso espécime encerram definitivamente esse debate, pois são muito claramente ramificadas ao longo de todo o seu comprimento, assim como as aves de hoje”, explica a paleontóloga Aude Cincotta, da Universidade College Cork, na Irlanda, em comunicado.
As penas do pterossauro em questão foram estudadas com microscópios eletrônicos de alta potência, que revelaram preservados grânulos do pigmento melanina chamados melanossomos. Eles têm formas diferentes de acordo com o tipo de pena, conforme revelou o estudo. “Nas aves de hoje, a cor das penas está fortemente ligada à forma do melanossoma”, conta a paleontóloga Maria McNamara, uma das líderes da pesquisa.
A investigação foi liderada por Cincotta e McNamara, junto a Pascal Godefroit, do Instituto Real Belga de Ciências Naturais. Cientistas da Bélgica e do Brasil também assinam a descoberta. Os representantes de instituições nacionais são Hebert Bruno Nascimento Campos, do Centro Universitário Maurício de Nassau, em Campina Grande (PB), e Edio-Ernst Kischlat, do Serviço Geológico do Brasil.
Professora Maria McNamara, da University College Cork, da Irlanda, segurando pequenas amostras das penas de pterossauro (Foto: UCC)
Os pesquisadores constataram que esses seres pré-históricos conseguiam também mudar de cor. “Como os tipos de penas dos pterossauros tinham diferentes formas de melanossoma, esses animais devem ter tido o maquinário genético para controlar as cores de suas penas", diz McNamara.
Essa habilidade, segundo a pesquisadora, mostra que a coloração era uma característica crítica para esses animais. As criaturas voadoras do grupo em questão viveram lado a lado com os dinossauros, entre 230 milhões e 66 milhões de anos atrás, quando foram extintas.
Cientistas e autoridades da Bélgica e do Brasil conseguiram repatriar o achado de volta ao país. Para Godefroit, é importante que fósseis cientificamente importantes como este sejam devolvidos aos seus locais de origem. “Esses fósseis podem então ser disponibilizados aos cientistas para estudos mais aprofundados e podem inspirar futuras gerações de cientistas por meio de exposições públicas que celebram nossa herança natural”, reflete.
Por - Galileu