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'Pistola na cintura e diesel, pai': como funcionava esquema bilionário do PCC que envolvia postos e a Faria Lima

'Pistola na cintura e diesel, pai': como funcionava esquema bilionário do PCC que envolvia postos e a Faria Lima

Mensagens obtidas pela Polícia Federal revelam como uma quadrilha ligada ao PCC se antecipava a fiscalizações e estruturava um esquema bilionário no setor de combustíveis. Em uma das conversas, o suspeito Thiago Augusto de Carvalho Ramos escreveu:

 "Pistola na cintura e diesel, pai, a imagem do posteiro é essa aí". Em outro momento, completou: "Já tá tudo parado, né? Que a gente sabia que ia começar".

A investigação, cujo desdobramento revelado pelo Fantástico, mostrou que o grupo não apenas adulterava gasolina e etanol, mas também usava usinas, distribuidoras, postos, fintech e até fundos de investimento da Faria Lima para lavar dinheiro. A Receita Federal estima que a facção controlava cerca de 1,2 mil postos no país.

 

As sete etapas do esquema

1. Porto de Paranaguá (PR): o ponto de partida era a importação clandestina de produtos químicos como metanol e nafta. Substâncias que deveriam abastecer indústrias químicas eram desviadas para adulterar combustíveis. Segundo especialistas, o metanol é altamente tóxico e pode causar perda de visão e falência de órgãos.

2. Usinas de etanol: a quadrilha comprou ao menos cinco usinas endividadas no interior de São Paulo. Além de abastecer a rede criminosa, elas serviam para lavar dinheiro. Em algumas operações, a cana foi paga até 43% acima da média do mercado.

3. Distribuidoras: empresas como a Duvale, em Jardinópolis (SP), foram usadas para dar escala ao esquema. Sem faturamento até 2019, a companhia saltou para quase R\$ 800 milhões em 2021. Parte do dinheiro foi transferida diretamente para o empresário Rafael Renard Gineste, preso ao tentar fugir de lancha em Santa Catarina.

4. Transportadoras: caminhões da G8 Log, ligada a Mohamed Hussein Murad, conhecido como Primo, levavam combustível adulterado. Ao mesmo tempo, o empresário publicava posts motivacionais nas redes sociais da transportadora.

5. Postos de combustíveis: a rede criminosa chegou a 1,2 mil estabelecimentos no Brasil. Em alguns, fiscais da Agência Nacional do Petróleo (ANP) encontraram até 50% de metanol na gasolina e 90% no etanol — fraudes que aumentavam o lucro do grupo e causavam prejuízo aos consumidores.

6. Fintechs: o dinheiro circulava em contas chamadas “bolsão”, que dificultavam o rastreamento. A BK Instituição de Pagamento, com sede em Barueri (SP), movimentou R\$ 46 bilhões em cinco anos.

7. Fundos de investimento na Faria Lima: o dinheiro sujo chegava ao centro financeiro de São Paulo. Gestoras administravam 42 fundos ligados ao esquema, somando R$ 30 bilhões já bloqueados pela Justiça. Segundo a força-tarefa, administradoras e fintechs criaram, na prática, “um verdadeiro paraíso fiscal” dentro do país.

 

Investigações em curso

Parte dos suspeitos segue foragida, entre eles Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, apontado como o maior adulterador de combustível do país. Em nota, a defesa dele negou qualquer envolvimento com o PCC.

Promotores e investigadores afirmam que a megaoperação marcou um recado ao crime organizado: "A sociedade brasileira acordou e o Estado pôde mostrar que não é mais possível se tolerar um crime organizado venha desafiar a sociedade, a desafiar o povo brasileiro", disse um dos integrantes da força-tarefa.

 

Infográfico explica caminho do dinheiro no esquema do PCC. — Foto: Arte/g1

 

Infográfico explica caminho do dinheiro no esquema do PCC. — Foto: Arte/g1

 

 

 

 

 

 

Por - G1

SICREDI 02