Brasil começa o ano com oferta reduzida de trigo
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O ano de 2025 começa com desafios para o mercado de trigo no Brasil. A disponibilidade do cereal no mercado interno se apresenta em nível reduzido, reflexo da menor produção no segundo semestre de 2024, aponta relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA - ESALQ USP) relativo ao mês de janeiro.
A produção de trigo no Brasil caiu 2,6% em comparação com o ano anterior, com a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de uma colheita de 7,89 milhões de toneladas em 2024. A queda foi influenciada pela redução na área cultivada, que encolheu 11,9%, para 3,06 milhões de hectares. No entanto, a produtividade aumentou 10,6%, atingindo 2,58 toneladas por hectare, compensando parcialmente a perda de área.
Com essa redução da oferta interna, o Brasil deverá continuar a depender das importações para suprir a demanda interna, que deve chegar a 11,9 milhões de toneladas. Mesmo considerando os estoques iniciais, a previsão é que o déficit interno fique em torno de 3,5 milhões de toneladas, o que mantêm o mercado aquecido e impulsiona as compras externas.
A Argentina, maior exportadora de trigo para o Brasil, pode aliviar a oferta externa, já que o governo argentino reduziu os impostos sobre exportações de 12% para 9,5% até 30 de junho de 2025. No entanto, a concorrência com outros países será mais acirrada diante do aumento das compras de trigo argentino pela China, movimento que não era observado desde os anos 1990, aponta o relatório.
No cenário global, a China deve se tornar a quarta maior importadora de trigo, com uma expectativa de 10,5 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Além disso, a política de exportação dos Estados Unidos pode ser alterada com o governo Donald Trump, o que pode afetar as transações no mercado internacional.
Preços
No mercado mundial, a safra de trigo da Argentina deve registrar 18,6 milhões de toneladas, um aumento de 23% em relação ao ciclo 2023/24. No cenário global, o USDA projeta uma produção mundial de 793,2 milhões de toneladas para a safra 2024/25, com um leve aumento de 0,3% em relação ao ano anterior.
Contudo, alguns dos principais produtores, como a Rússia, União Europeia, Turquia e Ucrânia, devem enfrentar quedas na produção, de 10,9%, 10,2%, 9,5% e 0,4%, respectivamente. Isso pode resultar em uma oferta global mais restrita e maior pressão sobre os preços.
O consumo mundial também deve crescer, mas a uma taxa modesta de 0,5%, atingindo 801,9 milhões de toneladas. Com isso, os estoques finais de trigo devem cair 3,2%, ficando em 258,8 milhões de toneladas, o nível mais baixo desde a safra 2015/16. Esse cenário pode reduzir a relação de estoque e consumo mundial para 32,4%, impactando a dinâmica do mercado internacional. Além disso, as transações de trigo no comércio global devem ser as mais baixas desde a safra 2021/22, com um volume de 212,3 milhões de toneladas.
Os preços internacionais, portanto, devem continuar pressionados, com destaque para os maiores exportadores: Estados Unidos, Canadá, Austrália, Argentina e Cazaquistão. No entanto, as importações estarão mais distribuídas entre diversos países. Essa dinâmica pode influenciar os preços das farinhas no Brasil, que devem sofrer aumento, especialmente no primeiro trimestre de 2025, devido ao impacto das compras externas e da paridade de importação.
Rentabilidade para o produtor
Em contrapartida, a relação custo/benefício para o produtor tende a melhorar, pois os custos operacionais não subiram com a mesma intensidade dos preços do cereal, gerando uma rentabilidade maior para quem continuar apostando na cultura.
No Brasil, a rentabilidade do trigo variou conforme a região. Dados da equipe de custos agrícolas do Cepea revelam que, apesar dos custos mais elevados em algumas áreas, os preços de comercialização do cereal registraram aumentos significativos, entre 30% e 34%, em comparação com o ano anterior.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o custo operacional aumentou 8,5% na cidade de Carazinho. Na cidade de Xanxerê (SC), a alta foi de 5,5%. Em outras regiões, como o Oeste do Paraná e Guarapuava (PR), os custos aumentaram em menor intensidade, respectivamente 2% e 0,7%. No entanto, o impacto no custo/benefício variou: em Xanxerê, por exemplo, a receita ainda ficou abaixo do custo, enquanto nas outras regiões, a receita líquida foi positiva, com taxa entre 15% e 25%.
A possibilidade de aumento da área com trigo no Brasil também está atrelada ao preço atrativo e à boa rentabilidade, mas a cultura enfrenta desafios climáticos, principalmente no Sul e Sudeste do país, que podem limitar os investimentos, aponta o Cepea.
No Cerrado, a área cultivada com trigo deve crescer a um ritmo superior ao do Sul e Sudeste, embora essa região ainda represente uma fatia pequena da oferta nacional. Os Estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais têm ampliado a produção de trigo irrigado, tornando-se relevantes para a oferta interna.
Por Globo Rural