Bolsonaro está oficialmente eleito Presidente do Brasil
A vitória de Bolsonaro é a maior mudança de rumo na política brasileira desde a redemocratização, em 1985. Representa a volta dos militares ao centro do poder e a ascensão da “nova direita”, liberal na economia e conservadora nos costumes.
Jair Bolsonaro (PSL) é o novo presidente do Brasil. A vitória de Bolsonaro não é apenas uma derrota do PT – partido vitorioso nas últimas quatro eleições presidenciais, desde 2002. Ele representa a chegada ao poder da “nova direita” brasileira (também chamada por muitos de extrema-direita): liberal na economia e conservadora nos costumes.
Trata-se da maior mudança de rumo na política brasileira desde o fim da ditadura e a redemocratização, em 1985. Essa percepção é reforçada pela volta dos militares ao centro da política. Bolsonaro, um admirador do regime militar (1964-1985), é capitão da reserva; seu vice é o general Hamilton Mourão; e o futuro governo possivelmente terá vários outros oficiais das Forças Armadas em seu primeiro escalão.
Há controvérsia, dependendo da ideologia de quem faz a análise, se o Brasil teve governos efetivamente de direita desde a redemocratização. A esquerda costuma colocar no outro lado do espectro ideológico os governos de José Sarney (1985-1990), Fernando Collor (1990-1992), Itamar Franco (1992-1994), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Michel Temer (2016-2018). Muitos analistas dizem que esses foram governos centristas – pois, embora tenham adotado políticas de direita, não abriram mão de uma boa dose de intervencionismo econômico e de estatismo. E há, dentro da nova direita, quem diga que esses governos foram de esquerda.
Um dos elementos para definir a posição de um governo no espectro político-ideológico é a economia. Bolsonaro se converteu ao liberalismo às vésperas da campanha eleitoral, apesar de ter tido posições nacional-desenvolvimentistas (associadas à esquerda) em matéria econômica durante toda a sua trajetória como deputado federal. Mas agora ele promete “tirar o Estado do cangote do produtor”. Seu futuro ministro da Economia, o ultraliberal Paulo Guedes, defende privatizar estatais num ritmo nunca antes visto.
A grande novidade do governo de Bolsonaro, nesse sentido, tende a ser a introdução do conservadorismo de costumes nas políticas públicas, numa reação à agenda “progressista” associada à esquerda. O conservadorismo é uma pauta de direita que não era articulada como agora e que tampouco teve um governo deliberadamente favorável a ela desde a redemocratização.
Bolsonaro conseguiu captar um sentimento popular de rejeição ao “progressismo” da esquerda – associado a pautas como a defesa do direito ao aborto, a valorização de minorias, a ampliação dos direitos dos homossexuais, a defesa da teoria de que os gêneros masculino e feminino são construções sociais e não imposições da natureza (a chamada ideologia de gênero), a defesa dos direitos humanos (vistos pela nova direita como uma defesa de criminosos).
Por Fernando Martins (Gazeta do Povo)
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