30 milhões de brasileiros preferem viver sozinhos e são mais felizes, diz pesquisador
Viver sozinho pode ser a tendência do século XXI. Após se debruçar sobre dados do último CENSO do IBGE e a experiência de mais de 25 anos de consultório, o psicanalista e escritor Geraldo Peçanha de Almeida desenvolveu uma ampla pesquisa que está tomando forma em seu último livro.
“É possível ser feliz sozinho” é uma análise comportamental desta geração a partir de uma abordagem estatística sobre o crescimento da população brasileira que optou por viver sem companhia. “É uma opção de vida que se cristalizou no Brasil nos últimos 50 anos e provavelmente em outras partes do mundo. A tia solteirona vivendo sozinha na casa dos pais lá nos anos 70 é hoje a idosa que vive sozinha, viaja, consome, gasta em lazer e tem boa qualidade de vida”, afirma.
As conclusões do pesquisador estão baseadas em dados. Em 10 anos, o número de pessoas que vivem sozinhas no Brasil saltou de 10,4% para 14,6% da população, segundo o IBGE. Os dados são um recorte de 2005 para 2015 e também mostram que a maior parte (44,3%) dos que vivem sem companhia são idosos.
Ao contrário do que se possa imaginar, boa parte dessas pessoas (48%) decidiu morar só por vontade própria e 72% acreditam que viver sozinho dá mais liberdades para gastar dinheiro. Eles se sentem mais independentes (25%), livres (23%) e com maior privacidade (50%). Apenas 1% se sente abandonado, 3% triste e 10% reclama do peso da solidão.
Com números tão otimistas sobre a vida particular, o pesquisador acredita que o caminho é sem volta. “Quem escolhe viver assim dificilmente mudará de ideia”, afirma. O problema, segundo o escritor, são de ordem prática. Pessoas que envelhecem sozinhas acabam carentes de companhia para realizar atividades corriqueiras, como ajuda em eventuais procedimentos médicos e solução de entraves burocráticos e não há previsão de políticas públicas para essa realidade.
Apesar do aumento desse estilo de vida no Brasil, na visão do escritor ainda existe uma norma de comportamento que reprime a vida solitária, o que ele classifica como “unofobia”. “O estereótipo de vida compartilhada e principalmente de felicidade compartilhada faz com que não se aceite, enquanto sociedade, o direito de escolher a solidão como um caminho possível e feliz”, analisa. “Neste novo cenário, os “homo solus” são felizes sem filhos, sem casamento, sem familiares”.
O que parece triste para alguns é a opção de quase 30% dos brasileiros adultos. A vida religiosa e o mercado de bens e serviços também acompanhou essa mudança de comportamento, permitindo que produtos antes desenvolvido em “tamanho família” fossem adaptados para quem é único. “Eles depositam sua fé em crenças menos rígidas e que não cobram o estabelecimento de uma família; eles compartilham o transporte, a hospedagem e preferem moradias mais compactas”, comenta Almeida. (Com Banda B)
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