Um levantamento realizado pela cientista Lynn Conway, pesquisadora da Universidade de Michigan, aponta que as proporções de transexualidade na população mundial seriam de uma para cada 2,5 mil pessoas. Assim, o Brasil - com sua população de 200 milhões de pessoas - teria cerca de 80 mil transexuais.
O reconhecimento da disforia de gênero
Considerando que a disforia de gênero esteja presente em tantos lares brasileiros, é importante estar alerta para os sinais que ela apresenta. Segundo a terapeuta sexual Lelah Monteiro, a transexualidade começa a ser percebida na infância e na adolescência, por meio de questões que vão além da vontade do menino de se vestir de menina, por exemplo.
“Uma fala muito comum no consultório é ‘não me vejo nesse corpo, estou errado?’”, diz a psicóloga. Relatos de depressão e isolamento espontâneo são relacionados a pessoas que têm essa dificuldade com relação ao próprio gênero. Episódios de rejeição nos círculos sociais também fazem parte desses sinais.
Do mesmo modo, é possível perceber nas atitudes e nas escolhas feitas pelas crianças e pelos adolescentes que a sua identificação não é condizente com o seu corpo. Segundo Lelah, preferências trocadas - como meninos que gostam de brinquedos e atividades de meninas - e uma constante sensação de desajuste nos grupos em que estão inseridos são indícios desses casos.
O diálogo entre pais e filhos é ainda uma das melhores maneiras de descobrir o que se passa durante a construção da identidade de gênero dos pequenos. Durante a infância, as pessoas tendem a falar com mais facilidade e fazer mais questionamentos sobre suas aflições. Para a especialista, ouvir a criança é a primeira atitude que um adulto deve tomar.
Como lidar com as questões de gênero
Mas não basta apenas descobrir que o seu filho tem disforia de gênero. Saber como lidar com a situação e ajudar o jovem a se posicionar na sociedade são tarefas de apoio familiar. A dica de Lelah Monteiro é agir com naturalidade. O princípio é o de que todas as pessoas são diferentes e não há mal algum nisso.
Isolar a criança para que ela não sofra preconceitos externos não é a solução aconselhada pela terapeuta. As respostas para os problemas que surgirão após a descoberta da transexualidade devem vir de cada família, segundo ela. Quando a criança entende que a sua condição não é uma escolha e sabe que conta com o apoio das pessoas próximas, a rejeição externa perde força.
É fundamental que a família procure uma terapia, explica Lelah. É preciso que uma equipe multidisciplinar atenda as demandas de entendimento e aceitação do grupo familiar e ajude a encontrar os caminhos mais adequados para todos. Desde a procura por uma escola que aceite a criança até o uso de tratamentos hormonais, tudo pode ser debatido com um terapeuta.
O uso de hormônios é o caminho mais comum para realizar as mudanças que se deseja no corpo. Lelah Monteiro indica que a família encontre uma equipe médica de confiança para discutir e encontrar a terapia hormonal adequada.
A hormonalização para mudanças definitivas no corpo só pode ser feita a partir dos 16 anos. Nesse período, porém, os pelos faciais surgem e as vozes engrossam nos corpos masculinos, enquanto as meninas ganham seios e começam a menstruar. O uso de substâncias que retardem a puberdade pode ajudar para que a transição de sexo seja menos complicada.