Para alguns especialistas, o desajuste psicológico tem suas raízes nessa fase, pois a criança deixa de ser o foco principal das atenções. Quando ela sente falta do amor e da proteção dos pais, busca, então, compensar este evento adquirindo objetos que supostamente deveriam preencher um vazio em seu interior.
No entanto, esse sentimento é temporário e o alívio se prolonga apenas enquanto dura o prazer da conquista. Conheça um pouco mais dessa compulsão.
O que é cleptomania
Antes de mais nada, é preciso entender o que é essa doença. O psiquiatra André Kohmann define cleptomania como uma falha em resistir ao impulso de roubar objetos que não são necessários para uso pessoal ou por seu valor financeiro.
Segundo ele, esses atos geralmente são precedidos de uma sensação de tensão ou de excitação, que tende a se aliviar depois, sendo acompanhada posteriormente por culpa. “Os pacientes têm noção de que esse ato é sem sentido e errado”, explica.
Apesar de a doença se manifestar mais frequentemente na adolescência, é possível que os sintomas apareçam ainda na infância. Não são tão comuns os casos que iniciam na idade adulta. De acordo com Kohmann, mais homens que mulheres parecem ser acometidos, numa proporção de três para um.
A cleptomania deixa indícios que podem ser notados pelos pais. Um deles são os próprios objetos diferentes que a criança acaba trazendo para casa. No entanto, como essa doença pode ser acompanhada por culpa pós-ato, outra evidência pode ser a confissão do filho.
Essas características nem sempre são fácies de ser notadas, pois os objetos frequentemente são de pequeno valor. Por outro lado, existem outras condições mais comuns na infância, como Transtorno de Conduta, por exemplo, que também podem levar a furtos de mais fácil percepção.
“Esses furtos, porém, entram num contexto de ocorrerem para uso pessoal ou por seu valor, raiva ou vingança, desrespeito aos direitos do outro e dificuldade em estabelecer relações de empatia - o que não ocorre na cleptomania”, diferencia o especialista.
Tratamento multimodal
Uma avaliação com profissional de saúde mental, tal como psiquiatra da infância, é indicada caso os pais ou a escola estejam preocupados com alterações de comportamento do jovem. Segundo o psiquiatra André Kohmann, essa avaliação é importante por causa dos diagnósticos diferenciais da cleptomania, que necessitam, cada um, de um tratamento específico.
Os mais comuns são Transtorno de Conduta, episódio maníaco (eufórico) de Transtorno Bipolar, alucinações auditivas que mandam o paciente roubar - no caso de psicoses na infância -, entre outros. “Para a cleptomania, tratamento multimodal com medicação e psicoterapia costumam ajudar na maioria dos casos”, finaliza Kohmann.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 120 milhões de pessoas, em todo o mundo, sofram com algum tipo de compulsão, considerada o quarto diagnóstico psiquiátrico mais frequente nos consultórios.