"Noventa por cento dos fumantes iniciaram seu consumo antes dos 19 anos de idade, fase em que o indivíduo ainda está em transição, em construção da sua própria personalidade", comenta o psicólogo e coach João Alexandre Borba. Apesar de o fumante, na maioria das vezes, sentir-se mal na primeira tentativa, ele insiste em aprender a fumar, já que, por meio desse ato, ele sente que poderá integrar-se ao grupo de amigos, parecer mais velho, ter status, etc. "Muitos fumantes afirmam que insistiram no cigarro por achar que fumar era bonito – e depois não conseguiram mais largar", exalta Borba.
Uma das grandes questões que o cigarro traz é que quando tocamos nesse assunto, logo pensamos na nicotina, substância psicoativa, estimulante do sistema nervoso central. Porém, a dependência psicológica, menos citada, também atua com bastante força e de forma complexa.
O cigarro traz consigo uma expectativa positiva, que foi criada e reforçada principalmente pela propaganda, cinema e mídia durante anos. "Dessa forma, ele passa a fazer parte da vida do fumante, que enxerga no cigarro um auxílio para enfrentar a vida. Quando adolescente, o fumante acredita que só pode enfrentar a vida com o cigarro ao seu lado. O cigarro pode ter sido útil em um momento de fragilidade, porém com o tempo estabeleceu-se a dependência física e psicológica, e o fumante fica preso nessa armadilha", ressalta Borba. Ele diz ainda que nesses casos o fumante sofre sem o cigarro, não se conhece mais sem ele, não sabe mais distinguir que características são suas e quais as provocadas pelo uso do cigarro.
Apesar de todos saberem o mal causado pelo cigarro, não são todos os fumantes que desejam deixar o vício. "Muitas pessoas quando pensam em parar de fumar sentem-se tristes por ter que dizer adeus ao cigarro. É como se eles estivessem dando adeus a um hábito que lhes faz bem, já que o cigarro potencializa o prazer," diz Borba.
Muitas pessoas atribuem seu potencial de realização ao cigarro, acreditando que só poderão realizar suas atividades se fumarem. Sem o cigarro, sentem-se incapazes. "Obviamente, a capacidade de realizar determinada tarefa é da pessoa, mas ela a atribui ao cigarro. Por isso, o fumante acredita que só pode escrever, criar, ter uma atividade mental ou relacionar-se, se fumar".
Por outro lado, o cigarro também pode servir como "bode expiatório" pelo fumante, que acredita não ser aceito em um grupo porque fuma, e, dessa forma, deposita todos os seus fracassos no cigarro – claro, de forma também errônea.
Borba salienta que, tanto quanto a dependência física, a psicológica precisa ser tratada. "Mas sempre ressalto: não adianta tratar uma pessoa que não tem vontade de parar de fumar. Agora, se ela tem esse desejo, o auxílio psicoterápico pode ser uma grande ajuda para resolver a questão", conclui. (Com Bonde)